terça-feira, 13 de dezembro de 2022

As desigualdades da riqueza acumulada em África, por adulto

No seguimento das abordagens afins apontadas para a Europa e a Ásia, iremos focar-nos nos países africanos, comparando as respetivas riquezas em 2011 e 2021. Previamente, apresentamos as grandes diferenças entre as maiores e as menores capitações de riqueza por adulto, entre os países de cada massa continental; e apresentamos essas diferenças sob a forma de relação entre a riqueza do país mais rico e a do mais pobre, para cada continente:

 

                               2011

                              2021

Europa  - Suíça/Bulgária  – 20.3 vezes

Europa, Suíça/Turquia – 35.7 vezes

América - Canadá/Guiana - 80.7 vezes          

América, EUA/Haiti – 426.4 vezes

Ásia/Oceânia - Austrália/Bangla Desh – 208,0 vezes

Ásia/Oceânia, Hong-Kong/Síria - 354,0 vezes

África – Maurícia/Burundi  - 97.1 vezes

África – Maurícia/Serra Leoa – 81.4 vezes

 

Como se pode observar acima, as diferenças são muito grandes, mesmo na Europa onde, em 2011, a riqueza média de um suíço era, “apenas”, cerca de vinte vezes superior à de um búlgaro; um valor que atinge mais de 35 vezes, em 2021, quando se compara a riqueza de um suíço e de um turco. Como se pode observar, nos outros continentes, as diferenças são muito mais acentuadas.

 

Vejamos a realidade africana quanto à riqueza por adulto. O continente é a região onde o crescimento demográfico é mais acentuado, daí se concluindo que a sua população é a mais jovem, comparativamente ao que acontece com os outros continentes.

 

Como se pode observar, as capitações mais elevadas de riqueza, recaem em dois arquipélagos; na Maurícia ($ 38729 em 2011 e $ 65001 em 2021) e nas Seychelles ($ 27001 em 2011 e $ 57619 em 2021). A localização destes arquipélagos, cuja localização se situa a leste do continente africano e, particularmente, a leste de Madagáscar, insere-se na rota entre o Cabo da Boa Esperança e a costa ocidental indiana, bem como na entrada no golfo Pérsico.  Note-se que os indicadores acima inseridos como os mais elevados de África superam os de alguns países europeus de mais baixos índices – Bulgária, Roménia, Turquia; e surgem ao nível dos indicadores da Croácia, da Eslováquia, Hungria e Polónia.

 

Para além dos arquipélagos africanos atrás referidos, em 2011, a maior capitação de riqueza pertencia à África do Sul ($ 23519 em 2011 e $ 24601, dez anos após), uma evolução que revela uma estagnação na acumulação de riqueza por adulto; o mesmo acontecendo no Lesotho, um país rodeado pelo território da própria Africa do Sul.

 

 

2011

posição

2021

posição

var anual ( %)

Africa do Sul

23519

3

24601

4

0,5

Angola

4168

15

3701

27

-1,1

Argélia

7093

13

10141

13

4,3

Benin

1441

30

2976

31

10,7

Botswana

10896

8

19388

9

7,8

Burkina Faso

969

41

1618

41

6,7

Burundi

399

49

809

48

10,3

Camarões

1938

24

3490

28

8,0

Chade

1085

36

1372

45

2,6

Comores

4633

14

6062

18

3,1

Congo, Rep.

3036

20

1841

39

-3,9

Congo, Rep. Dem.

608

46

1438

43

13,7

Djibouti

997

38

3755

26

27,7

Egipto

10482

9

23134

5

12,1

Eritreia

1381

32

3113

29

12,5

Etiópia

925

43

3861

25

31,7

Gabão

10335

10

18647

10

8,0

Gambia

965

42

2942

32

20,5

Ghana

3930

16

7604

17

9,3

Guiné  

1008

37

3935

24

29,0

Guiné Bissau

1117

35

1896

38

7,0

Guiné Equatorial

13007

5

24769

3

9,0

Lesotho

1603

27

1724

40

0,8

Libéria

2142

22

5259

19

14,6

Líbia

12764

6

9732

15

-2,4

 

 

2011

posição

2021

posição

var anual ( %)

Madagáscar

1453

29

2118

37

4,6

Malawi

1133

34

2378

36

11,0

Maldivas

8269

12

21459

7

16,0

Mali

1185

33

2629

34

12,2

Marrocos

10256

11

15164

11

4,8

Maurícia

38729

1

65031

1

6,8

Mauritânia

1607

26

2938

33

8,3

Moçambique

698

45

1117

46

6,0

Namíbia

11176

7

22369

6

10,0

Níger

716

44

1420

44

9,8

Nigéria

3193

18

7618

16

13,9

Quénia

3217

17

12987

12

30,4

Rep. C. Africana

457

48

980

47

11,4

Ruanda

2037

23

4179

23

10,5

S. Tomé e Pr.

1381

31

4610

21

23,4

Senegal

3054

19

5001

20

6,4

Serra Leoa

475

47

799

49

6,8

Seychelles

27001

2

57619

2

11,3

Tanzânia

1544

28

4260

22

17,6

Togo

987

40

1518

42

5,4

Tunísia

14538

4

20981

8

4,4

Uganda

996

39

2387

35

14,0

Zâmbia

2452

21

3084

30

2,6

Zimbabwe

1670

25

9791

14

48,6

Em regra, a grande maioria dos países africanos evidencia um crescimento da capitação de riqueza entre os dois momentos considerados, com as excepções a surgirem em três países. Em Angola (-1.1% por ano), a capitação de riqueza de $ 4168 em 2011 passa para $ 3701, numa revelação evidente da expedita gestão do gang MPLA, que não permite um aproveitamento pelo povo das imensas riquezas do país; sobretudo em petróleo.

Na República do Congo, a situação é pior que em Angola, com uma variação da capitação de riqueza de $ 3036 para $ 1841, no período 2011/21; o que corresponde a uma quebra anual de 3.9%.

O terceiro caso de redução da riqueza por adulto observa-se na Líbia onde o valor médio individual da capitação da riqueza por adulto, passou de $ 12764 para $ 9732. Em 2011 o país apresentava o sexto valor mais elevado no contexto africano; em 2021 era o 15º na hierarquia dos países africanos, refletindo os efeitos da intervenção militar e do saque dos países ocidentais (EUA, França, Grã-Bretanha), sedentos da riqueza líbia; e, sem recuarem perante actos bárbaros, naturalmente.

Ainda quanto à hierarquia das capitações de riqueza para os vários países há aqueles que apresentam subidas na hierarquia dos países africanos e os que se afundam nessa mesma hierarquia. Assim, podem desenhar-se dois grupos; um, onde essa variação da capitação é francamente negativa e outros, onde é claramente positiva.

No primeiro caso, os países que mais regridem, no contexto africano, na hierarquia do valor das capitações de riqueza, são; Angola (do 15º lugar em 2011 para o 27º, dez anos depois, com perda do valor absoluto da capitação; Chade (36º lugar para o 45º), República do Congo (do 20º para o 39º) e forte perda do valor da capitação; Lesotho (27º lugar passa ao 38º), Líbia (do 6º para o 15º lugar da hierarquia), Madagáscar (do 29º posto para o 37º apesar do aumento do valor absoluto); Mauritânia (do 26º para o 33º); Zâmbia (do 21º lugar em 2011 para o 30º, um decénio depois).

Inversamente, as situações de evidente melhoria da capitação de riqueza por adulto são: Djibouti (38º lugar em 2011 para o 26º, tendo em conta os rendimentos das várias bases militares ali instaladas, tendo em conta a proximidade do estratégico Bab el Mandeb); o Egipto (9º para o 5º), a Etiópia (43º para o 25º apesar dos conflitos tribais e militares), Gâmbia (42º para 32º), Guiné (37º para 24º), Maldivas (12º para o 7º), Quénia (17º para o 12º), S. Tomé (do 31º para o 21º), Tanzânia (28º lugar, para o 22º), Zâmbia (do 21º para o 30º) e, finalmente, o Zimbabwe (25º lugar para o 14º).

No fundo da escala das mais baixas capitações de riqueza, em 2011 colocam-se, o Burundi com $ 399 e a República Centro-Africana ($ 457); em 2021, destacam-se no fundo da tabela, com $ 799 a Serra Leoa e o Burundi, com $ 809. Essas variações – pelas suas dimensões dificilmente se podem designar como melhorias nas capitações de riqueza. De facto, mesmo essa evolução, pouco altera nas desigualdades presentes no mundo.

Um pouco de geografia política

Na Europa, há algumas potências com algum gabarito global, como a Alemanha, a França, a Grã-Bretanha ou a Itália; nenhuma, porém tem o poder da Rússia que, pela sua extensão é um país euro-asiático, como a Turquia, esta embora, numa escala muito diversa. A geografia revela que não há outros países com uma implantação em dois continentes, aceitando a geografia como ela tem vindo a ser definida desde o século XIX.

Daí resulta que, no contexto da guerra da Ucrânia, a atual e crescente presença dos EUA na Europa (que se mantém desde o final da II Guerra) reflita a menoridade política dos países europeus, pese embora a sua dimensão económica com a construção da UE; a qual, no entanto, não tem sido suficiente para uma afirmação dos países europeus como um coletivo, num quadro global. Daí, que a guerra na Ucrânia sirva para alargar e consolidar o papel hegemónico dos EUA na Europa, como que num reajustamento territorial e político da divisão da Europa que se seguiu à II Guerra e depois, ao desmantelamento da União Soviética e do Comecon em 1991. Isso sucedeu, com a evidente menoridade política do conjunto dos países europeus e de um seu agregado chamado União Europeia - um esforço falhado que se seguiu à descolonização (1).

A degradação social e política da Europa tem vindo a aumentar, claramente, com o corrente conhecimento de casos de corrupção que chegam a uma vice-presidente do parlamento europeu, chefe de um gang com negócios com o Qatar. A mafia ucraniana tem como figura de realce o presidente Zelensky, protegido por Victoria Nuland, figura grada do poder norte-americano; no caso das toscas e corruptas figuras da governação portuguesa, certamente, elas esperarão placidamente sentadas, durante anos, por decisões judiciais.

A existência de uma tal Agência Europeia de Defesa (AED) produziu recentemente aumentos das suas despesas em 6%, passando-as para 214000 milhões de euros, cabendo a cada europeu a contribuição de € 486; que, em grande parte, irão financiar a indústria militar norte-americana, sob a tutela de um tal Borrell, indivíduo que se tem mostrado muito empenhado na guerra na Ucrânia, mesmo que daí resulte a infestação da população e o envenenamento do solo e das águas. Claro que também vai morrendo gente mas… isso são danos colaterais face aos objetivos dos EUA em cimentar a sua posição de liderança das paróquias europeias.

(1)     (1) Recordemos o primeiro-ministro inglês Harold Wilson que, em 1967, decidiu abandonar a presença do Reino Unido a leste do Suez; o que, juntamente com a descolonização africana, apontava para a Grã-Bretanha como uma potência europeia e já não mundial. Thatcher, num alarde imperialista em torno das Malvinas/Falkland, não hesitou em “meter na ordem” os ditadores argentinos, em 1982. Entretanto, presentemente e, na peugada da guerra na Ucrânia é evidente uma acentuada subalternidade das potências europeias perante a suserania norte-americana.

 

Outros textos sobre a desigualdade entre os países

Europa

http://grazia-tanta.blogspot.com/2022/11/as-desigualdades-da-riqueza-acumulada.html

 

Ásia

http://grazia-tanta.blogspot.com/2022/11/as-desigualdades-da-riqueza-acumulada_23.html

Este texto em:

http://grazia-tanta.blogspot.com/

e outros textos em:

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