quarta-feira, 23 de novembro de 2022

As desigualdades da riqueza acumulada na Ásia

 

As desigualdades da riqueza acumulada na Ásia

 

 

Na sequência da análise efetuada no que respeita à maioria dos países europeus, prosseguimos agora, com um vasto grupo de países asiáticos, através da exposição da variação das riquezas nacionais, por adulto, entre 2011 e 2021.

Entre os países europeus a desigualdade entre ricos e pobres é evidente, mesmo que se verifique alguma regressão; a riqueza média de um suíço era, em 2011 vinte vezes superior à de um búlgaro mas em 2021, esse indicador reduz-se “imenso” passando para 16.5 vezes a relação entre a riqueza de um suíço e de um romeno. Em detalhe, veremos adiante, os níveis de riqueza média por cada adulto e, por país. 

As desigualdades quanto à capitação da riqueza por adulto registada na Europa, por muito marcadas que sejam[1], multiplicam-se quando comparadas com outros continentes. Vejamos o que se passa na Ásia, o continente mais populoso, com maior dimensão e maior pujança económica, evidenciando as diferenças extremas; em 2011, a riqueza de um australiano era 208 vezes a de um bengali e, em 2021 a riqueza média de um habitante de Hong-Kong superava 354 vezes a de um sírio.

Conforme se pode observar (quadro abaixo), entre 2011 e 2021 verificam-se múltiplas alterações na riqueza dos países mais ricos do conjunto. Assim,  a Austrália era o país com mais elevado nível de riqueza em 2011 ($ 380 mil) seguido por Singapura ($ 270 mil); dez anos depois, Hong-Kong assume o primeiro posto ($ 553 mil), com uma pequena diferença relativamente à Austrália que surge no segundo posto. O caso de Hong-Kong revela a pujança do crescimento económico do mundo chinês e, concomitantemente, a sua relevância política.

Riqueza anual por adulto ($)

(ver quadro abaixo)

 

2011

posição

2021

posição

var anual ( %)

Ar. Saudita

36020

14

84407

12

13,4

Austrália

380395

1

550110

2

4,5

Bangla Desh

1829

37

9490

27

41,9

Brunei

45613

12

57419

15

2,6

Cambodja

2214

36

6270

33

18,3

Casaquistão

7627

24

42559

16

45,8

China

20126

17

76639

13

28,1

Coreia S

75437

11

237644

8

21,5

Emiratos A U

119339

9

122841

11

0,3

Filipinas

7981

22

14502

25

8,2

Hong-Kong

134330

8

552930

1

31,2

Índia

5295

28

15535

24

19,3

Indonésia

11881

19

18534

23

5,6

Irão

8614

21

39093

18

35,4

Israel

152330

5

273417

6

7,9

Japão

266272

3

245238

7

-0,8

Jordânia

14543

18

30814

19

11,2

Kuwait

116528

10

171348

10

4,7

Laos

4225

33

7916

29

8,7

 

 

2011

posição

2021

posição

var anual ( %)

Líbano

33526

15

75734

14

12,6

Malásia

32898

16

27078

20

-1,8

Mongólia

9653

20

7310

31

-2,4

N ZeLândia

167024

4

472153

3

18,3

Nepal

2338

35

4189

36

7,9

Oman

45390

13

40962

17

-1,0

Papua - NG

5678

26

8449

28

4,9

Paquistão

4454

32

6237

34

4,0

Qatar

143692

7

183106

9

2,7

Quirguisistão

4609

29

6276

32

3,6

Singapura

270218

2

358204

4

3,3

Síria

6490

25

1562

37

-7,6

Sri Lanka

5662

27

27040

21

37,8

Tailândia

7671

23

24638

22

22,1

Taiwan

150397

6

297864

5

9,8

Tajiquistão

2807

34

4597

35

6,4

Vietnam

4553

30

14246

26

21,3

Yemen

4499

31

7808

30

7,4

Fonte -  Global Wealth Databook 2022 - Credit Suisse

Num contexto mais global, os europeus Suíça e Luxemburgo, em 2011 e 2021 constituem os únicos casos de superação da riqueza por adulto, apresentada por qualquer país europeu ou asiático; no entanto, aqueles dois países evidenciam valores de riqueza pouco acima dos revelados para os EUA, em 2021.

As desigualdades observadas na Ásia são enormes. Em 2011, os níveis mais baixos de riqueza por adulto registavam-se no Bangla Desh ( $ 1829 por habitante), no Cambodja ($ 2214) e no Nepal ($ 2338). Dez anos depois, as situações de menor acumulação de riqueza na Ásia observam-se na Síria ($ 1532, contra $ 6490 em 2011, uma situação reveladora da guerra que abalou brutalmente o país); e, no Nepal, com $ 4189).

Um indicador sintético das desigualdades pode aferir-se a partir do número de adultos e dos respetivos graus de riqueza. Assim, em 2011, a riqueza de um adulto australiano corresponderia à soma dos haveres de 208 nepaleses; e, em 2021, o rendimento de um adulto em Hong-Kong corresponde ao rendimento de 354 sírios.

Nos dez anos considerados houve situações de países que melhoraram substancialmente a sua posição na hierarquia dos países asiáticos.  Sublinhamos os casos do Bangla Desh, que passou da situação de mais pobre da Ásia (37º lugar em 2011) para  o 27º (2021); bem como o Casaquistão, que do 24º posto na hierarquia subiu para o 16º. Ambos quintuplicam os seus índices de riqueza por adulto embora o do Casaquistão, em 2021 esteja quase cinco vezes acima do índice do Bangla Desh.

Para além dos referidos atrás, na variação anual da riqueza por adulto, sublinhamos os casos do Sri Lanka (+37.8% por ano), Irão (+35.4%) e Hong-Kong (+31.2%); logo abaixo surge a China com uma variação anual da riqueza por adulto de 28.1%.

Entre os países onde se degradaram os valores médios anuais de riqueza por adulto, no período considerado, destacamos Japão (-0.8%), Malásia (-1.8%), Oman (-1.0%), Mongólia (-2.4%); e, particularmente, a Síria (-7.6%) que se apresenta com o mais baixo nível de riqueza, por adulto, entre todos os países considerados.

No topo da hierarquia, em 2011, surgem a Austrália, Singapura e Japão; dez anos depois, a situação é diferente, passando Hong-Kong no primeiro lugar, seguido pela Austrália e a Nova Zelândia. Note-se a evolução de Hong-Kong, que se apresentava no oitavo posto em 2011.

No que se refere à evolução decenal, os casos de maior crescimento médio anual da riqueza, revelam-se o Casaquistão e o Bangla Desh e Hong-Kong, como referido; e ainda o Sri Lanka (37.8%) e o Irão (35.4%).

Comparação entre Europa e Ásia

Entre os países europeus, a média das capitações de riqueza calculadas para o total aponta para um valor por país, de $ 175000 em 2011 e $ 232000 dez anos depois, com um crescimento no período da ordem dos 33%.

No conjunto dos países asiáticos considerados, a média das capitações de riqueza por país passou de $ 87000 em 2011 para $ 154000 em 2021, daí se deduzindo um crescimento decenal de 77%; uma evolução que evidencia a perda de importância económica da Europa comparativamente à Ásia, que tenderá a ser o motor económico do planeta; o que aliás aconteceu até à chegada dos europeus ao Índico, no século XVI.

Aquela chegada foi um sinónimo de pirataria, conquista, discriminação racial, pobreza e subdesenvolvimento, algo estranho se se considerar que a Europa é, geograficamente, apenas uma península asiática. Também se pode pensar que, geograficamente o Industão é uma península asiática; só que nela vivem 1400 milhões de pessoas… três vezes a população europeia.

A importância da Ásia para os EUA revela-se na ocupação militar do Japão e da Coreia do Sul; na existência de um protetorado em solo chinês (Formosa); na ocupação da base de Diego Garcia, depois do seu esvaziamento concedido pela Grã-Bretanha; e ainda pela constante presença militar no Golfo Persa, depois da invasão do Iraque, da ocupação do Afeganistão. E, sem esquecer o saque do petróleo líbio pelos “ocidentais”.   

Mais estranho ainda é que essa Europa não se tenha desenvolvido em torno de relações pacíficas com a Ásia (e a África) e, tenha aceitado, desde o final da II Guerra a sua subalternidade e a presença militar dos EUA no solo europeu.

Essa mesma Europa saiu das Américas no século XIX deixando o testemunho aos descendentes dos europeus e aos crioulos, a par de um subdesenvolvimento duradouro, que veio a sair da aliança dessas elites com os capitais vindos da margem norte do Rio Grande. A saída das Américas pela Europa veio a ser sucedida pela partilha da África por algumas potências europeias, campeãs do trabalho forçado e do saque das imensas riquezas do continente africano.  

A presença militar dos EUA na Europa tem mais de setenta anos e, tem sido fonte de divisões políticas, bastas vezes artificiais – como nos Balcãs, onde se destaca em artificialidade, um território chamado Kosovo (que pouco mais é do que a enorme base americana de Bondsten, cujo objeto é o controlo dos Balcãs e do Próximo Oriente. A atual guerra na Ucrânia é mais um elemento de subalternidade económica e política da Europa e, um quadro de consolidação da presença dos EUA, beneficiando da fragilidade política dos atuais dirigentes europeus; neste campo, como em outros, tudo é decidido nas margens do Potomac.

 

Este texto em:

http://grazia-tanta.blogspot.com/

e outros textos em:

http://www.slideshare.net/durgarrai/documents

https://pt.scribd.com/uploads



[1] Como divulgámos, em 2021 a riqueza registada por adulto, na Europa, balizava-se entre $ 43.7 mil ou $ 42.4 mil na Bulgária e na Roménia, respetivamente e os $ 697 mil da Suíça e os $ 657.6 mil da Suíça; e apresentando-se os EUA no ano anterior com valores da ordem dos $ 579 mil

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