O Índio e o Ocidente: Reflexos de duas visões diferentes sobre o mundo (I)
17 de março de 2025
“O homem branco possui uma qualidade que lhe fez abrir caminho: o irrespeito”
Henri Michaux
1. Preâmbulo
2. Breve apresentação do índio norte-americano e seu espaço específico
3. O Índio norte-americano e o seu relacionamento com o Imaginário
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1. Preâmbulo
Ultimamente, devido a circunstâncias precisas que o desenvolvimento das análises históricas e sociológicas tornou compreensíveis, novos olhares têm sido lançados sobre as antigas nações índias e o denominado Oeste bravio. Tem existido mesmo uma clara vontade de compreensão por parte de sectores frequentemente muito afastados do que foram e do que representaram, no seu tempo e no seu espaço próprios, figuras no entanto tão divulgadas como Tecumseh, Sitting-Bull, Geronimo ou Quanah Parker.
Multiplicam-se, nos Estados-Unidos mas também fora deles, os estudos e os ensaios sobre este e aquele aspecto da vida dos americanos autóctones, os tais que durante muito tempo foram estrangeiros no seu imenso país e que hoje, acantonados em reservas, ainda são objecto de marginalização por parte de especialistas em malabarismos sociais: se o ouro das Black Hills é hoje memória histórica e um pouco folclórica, não o são seguramente – por exemplo – determinados empreendimentos turísticos e residenciais no território Lakota, bem como a exploração petrolífera e mineira nas terras dos Navajos que sobraram.
Passam agora 340 anos sobre o envio, ao rei Afonso de Portugal, da “Carta sobre a condição dos índios do Brasil”, do padre António Vieira; trinta anos após a criação do “American Indian Mouvement”, uma entidade que contra ventos e marés tem procurado defender os índios norte-americanos da espoliação e da calúnia; e, cinco anos sobre o pedido de perdão, em nome do ocidente cristão agressor, endereçado aos Índios pelo papa Karol Woytila.
Pela permanência no tempo, da primeira; pela constância e firmeza, da segunda; e pela sensatez (ou deveria dizer pela hipocrisia arrivista e melíflua?) da terceira. E, antes de continuar - à guisa de honesta reflexão – com as breves palavras do chefe Lakota, dos oglalas, Luther Standing Bear, que nos diz numa tirada digna de Jean Giono: “As vastas e abertas planicies, as belas colinas e as águas que em meandros serpenteiam, não eram aos nossos olhos, “selvagens”. Só o homem branco via a natureza como selvagem e para ele a terra estava infestada de animais “selvagens” e de gentes “selvagens”. Para nós ela era mansa, caritativa e nós sentíamo-nos rodeados pelas bênçãos do Grande Mistério. Só se tornou para nós hostil com a chegada do homem peludo vindo do Leste, o qual nos oprime, bem como às nossas famílias que tanto amamos, com injustiças insanas e brutais. Foi quando os animais da floresta se puseram em fuga, à medida que ele se aproximava, que para nós começou o Oeste Selvagem”.
Finalmente e, uma vez que a etnografia dos índios norte-americanos é hoje uma ciência puramente histórica, talvez faça sentido reter uma frase de Jean Jaurès que reza:” Do passado, apoderemo-nos do fogo e não das cinzas”.
2. Breve apresentação do índio norte-americano e seu espaço específico
Mais ou menos a partir de 1891, passado cerca de um ano sobre o massacre de Wounded Knee, perpetrado pelo exército americano, sobre os sioux oglalas, liderados pelo chefe Big Foot, começou a falar-se em certos círculos de Leste sobre o “problema índio” remanescente. Alguns americanos mais sensíveis às condições em que as outrora poderosas nações índias eram obrigadas a viver; as contínuas tentativas de retirarem aos autóctones o resto dos territórios, transformados em reservas e que ainda estavam na sua posse, sem contudo na prática serem por eles controlados, tinham despertado em alguns – escritores, publicistas ou simples particulares – uma espécie de remorso misturado com uma boa dose de má consciência. A seu ver, haveria um triste problema índio, que consistiria em factos existentes a partir da tentativa de genocídio e no claro etnocídio praticado contra a nação índia no seu todo. Esta denominação, nação índia, era sem dúvida reflexo – atravessado por um certo humor negro involuntário, a despeito das eventuais boas intenções – dos ecos que lhes chegavam, com meio século de atraso, da aliança formada pelos cherokees, choctaws, seminoles, creeks e chikasaws e que funcionou durante algum tempo, antes dos seus membros serem definitivamente enviados para lá do Mississipi, como uma “nação doméstica” no interior da outra.
Com diversas variantes, sulcado por diferentes contradições, este estado de espírito tem-se mantido até aos nossos dias.
Num lúcido ensaio publicado no início dos anos setenta, o escritor francês Claude Roy escreveu com a sua proverbial agudeza que, a seu ver, havia não um problema índio mas um problema branco, um problema ocidental que, através do tempo, se comunicou às etnias das diferentes latitudes. E isto porque, como o sublinhou noutro texto o escritor de ascendência Lakota (Sioux) Vine Deloria, o que se passou com os índios norte-americanos revela, na perfeição, o deficiente sistema societário engendrado pelo homem ocidental, cuja mentalidade cúpida é um facto, infelizmente indesmentível, ainda que camuflado sob o pretexto da evangelização ou da vontade de civilizar.
Estas opiniões, parecem equilibradas e defensáveis. Contudo, é evidente que existe, na prática, um problema índio, assim como houve um claro choque de mentalidades resolvido de forma expedita pelos que, chegados ao Novo Mundo, resolveram tomar conta de tudo, como se os índios fizessem apenas parte da paisagem ou das chamadas riquezas naturais.
Choque de mentalidades, repare-se... ou seja, choque conceptual – para além do choque físico que deu origem a conflitos sangrentos, depredações e, finalmente, claros genocídios.
Mas antes de abordarmos a maneira de viver e conceber o mundo do Índio, convirá termos uma ideia, ainda que algo sucinta e esquemática, sobre o universo em que este se movia, além dum leve voo sobre eventos históricos.
Será de considerar, desde logo, que os colonos que a partir de 1628 iniciaram de forma marcada a sistemática invasão dos territórios índios, a partir do posto avançado de Charlestown, eram membros de seitas religiosas, nomeadamente dos puritanos, cuja existência nos seus países de origem, devido a perseguições e marginalizações, se havia tornado problemática.
Desapossados dos seus haveres, chegados em situação de miséria, o que muito confrangia os índios, transportavam consigo, contudo, um terrível vírus – hábitos, preconceitos, filosofias de vida e ainda, uma vontade sistemática de reconstruírem nessa América desejada o que não tinham podido conservar na terra de origem. Em vez de aproveitarem a oportunidade que se lhes deparava de erguerem um outro modo de viver, sem constrangimentos (como muitos trappeurs franceses fizeram) reproduziram os hábitos e os tiques comunitários do Velho Mundo que tão mal os estimara e aonde os índios eram, naturalmente, corpos estranhos, perfeitamente sem lugar, a não ser que renunciassem ao seu tradicional tipo de vida para se converterem aos usos e costumes dos brancos, com a sua soma de incongruências. Além do mais, como foi logo percebido desde que Colombo pôs pé em terra, não era possível serem domesticados e só muito poucos – e mesmo esses geralmente em desespero de causa – abraçavam a religião que lhes chegava da Europa desconhecida. Assim, após terem-se dado conta da irredutibilidade índia, os colonos introduziram de pronto em 1619, em Jamestown, a escravatura negra. Quanto aos índios, que recusavam acerbamente os trabalhos forçados – e tivera-se, meridianamente, um bom exemplo com os pueblos, a contas com os espanhóis – a resposta era-lhes dada na ponta das espingardas.
Uma das características com que deparamos ao contactarmos com a Nação Índia, é a diversidade e complexidade desse mundo, num acervo poderoso e multifacetado que chega a comover-nos dado que é mester apelar para a memória. Apesar de serem relativamente poucos, se atentarmos na imensidade do território que ocupavam – segundo os estudos de ponta de Horst Hartmann, dois milhões e oitocentos mil no espaço que vai da região sonoriana até ao território subártico – os índios estavam divididos em cerca de seiscentas nações principais, subdivididas por sua vez, em milhares de tribos. Hoje tem-se como certo que teriam atravessado o Estreito de Bering, em diversas vagas, constituídas por grupos de escassas centenas, há cerca de vinte cinco mil anos, multiplicando-se depois por todo o continente. Especialistas há que os classificam por famílias linguísticas, nada menos que 21, além de 32 línguas isoladas que desafiam a classificação em qualquer daquelas 21; outros, devido a problemas que não caberá aqui invocar, mas que são efectivamente de considerar, preferem classificá-los por nações (algonquinos, mississipianos, cadoanos, ute-aztecas, etc.) ou por regiões específicas (pacífidas, centrálidas, sílvidas, márgidas…). Seja como for, assentemos em que, tal como é dito por Frank Schoell, “os índios que os colonos foram encontrar no século dezasseis e, nos que se seguiram, eram mais ou menos agricultores, mais ou menos caçadores, mais ou menos pescadores consoante os diversos imperativos do seu meio geográfico”. Podemos pois distribuí-los, de acordo com estes imperativos, por cinco zonas relativamente distintas: a zona do milho, da costa atlântica ao Mississipi e no sul entre o Mississipi e as Montanhas Rochosas; a zona do bisonte, norte e centro da região entre o Mississipi e as Montanhas Rochosas; a zona do caribu, no norte do actual Minnesota, Dakota setentrional e actual Canadá; a zona das gramíneas, Califórnia, Nevada e parte oeste do Utah; e a zona do salmão, costas da Califórnia do norte, do Oregon, de Washington e do Alasca.
Cada conjunto de nações, divididas em tribos, exprimia de maneira própria as concepções religiosas e mágicas – e de alguma maneira filosóficas – formadas a partir de tipos de vida específicos. No entanto, havia uma constante comum: o relacionamento muito profundo com a natureza, com as realidades, os fenómenos que os rodeavam e aos quais emprestavam frequentemente significados originais.
Recordemos, a talhe de foice, a rica cosmogonia dos Denes e dos Delawares, entre muitas outras possíveis. O imaginário do índio, manifestado em conceitos e objectos artísticos que tocam o surreal, tinha muito a ver com aquilo que no ocidente, principalmente a partir de meados do século dezoito, se convencionou chamar poesia.
Na segunda parte deste texto concretizaremos este ponto.
Há – e chamo a vossa atenção para este facto – dois períodos perfeitamente definidos na vida índia: o antes e o depois da chegada do homem branco.
Com a colonização, além de tribos inteiras terem sido exterminadas (chesapeaks, powhatans, tainos, mohicanos e outros, tantos outros) outras alteraram radicalmente o seu way of life: por exemplo, a introdução do cavalo – que estranhamente se extinguira no continente – efectuada pelos espanhóis -determinou a passagem da vida sedentária para o nomadismo e semi-nomadismo, com o consequente estabelecimento de novos territórios de caça e alianças precárias ou firmemente cimentadas, principalmente dos chamados índios da pradaria (Plains): lakotas (sioux) teton, oglalas e yanktonai, pawnees, cheyennes do norte e do sul, kiowas apache, comanches, arapahos, apaches do norte, etc.
Convirá referir, igualmente, que a implantação europeia se deu através de cinco nacionalidades: a implantação espanhola (primeiro na Florida, depois avançando para o norte até à Carolina, Mississipi, Oklahoma, Colorado, Novo México, Kansas; mais tarde, 1602-1603, até à costa da Califórnia); a implantação francesa no (curso do rio S. Lourenço, depois até ao Canadá – Nova França); a implantação holandesa (Delaware, Hudson, Long Island e ilha de Manhattan); a implantação sueca (estuário do Delaware, Trenton e o cabo Henlopen); a implantação inglesa (Virgínia, Massachussets, Rhode Island, etc.).
Há sensível diferença na forma como foram tratados os índios das diversas zonas de influência, apesar de a partir da formação dos Estados-Unidos e da Constituição de 1787 a palavra de ordem fosse retirar das mãos dos índios, mediante todos os meios possíveis, a terra que habitavam, afastando-os paulatinamente para oeste – o que descambaria no tristemente célebre conceito do destino manifesto, expressão cunhada pelo jornalista mercenário Horace Greely com as consequências funestas que se adivinham. No espaço controlado pela França e durante o tempo em que os “flentchi”, nome pelo qual as tribos índias conheciam os franceses, foram o principal contacto com os autóctones na extensão territorial à época denominada Louisiana, vasta zona entre o Mississipi e as Montanhas Rochosas, para norte até ao Oregon e às regiões meridionais do Canadá – Alberta e Colúmbia – depois vendida por tuta e meia (15 milhões de dólares…) em 1803, pelo empenhado Napoleão aos EUA, houve um clima de boa vizinhança. Conforme escreve Herbert Wendt, “embora houvesse brigas e desentendimentos, o período francês foi, de modo geral, um intermezo romântico na história da colonização da América, no seu todo rude e sanguinário(…) Os caçadores franceses, desde o início, estabeleceram relações de amizade com os índios. E eis que descobriram, maravilhados, que os homens descritos nas crónicas espanholas e inglesas como sendo sanguinários peles-vermelhas, eram na realidade homens hospitaleiros, comerciantes honestos e amigos fiéis. Os franceses percorriam campos e florestas em companhia dos indígenas, sentavam-se com eles em torno das fogueiras e, muitas vezes, tornavam-se índios. Muitos caçadores franceses procuraram ser integrados como membros das tribos índias, dançavam as suas danças guerreiras, usavam os seus mocassins, pintavam o rosto à maneira índia e casavam com squaws. Os índios, por sua vez, como disse um dia um cacique chippewa, ‘com os franceses sentimo-nos como se fôssemos uma só família’. A capacidade de adaptação dos pioneiros franceses chegava, por exemplo, ao ponto do general Frontenac não ter dúvidas em dançar em torno dos totens e das fogueiras usando o uniforme de gala cheio de condecorações, o que muito encantava a assistência”.
Tal devia-se, manifestamente, ao facto de os franceses possuírem maior abertura filosófica e social, um carácter gaulês alegre e algo rabelaisiano – leiam-se as “Mémoires d’un trappeur” do pitoresco Jean de Raimond, dito o “Cauda-de-Lontra” e ficará feita a verificação – e, por outro lado, ao especial cuidado posto por estes no seu relacionamento com os autóctones, tendo em vista os seus conflitos com a Inglaterra. No entanto, isso não os impediu de atraiçoarem, faltando à palavra dada, os guerreiros hurons aquando do cerco de Detroit, o que determinou uma inflexão decisiva na sua guerra com os iroqueses. Os índios, aliás, não tinham papas na língua, quando se tratava de responder a quem tentava evangelizá-los. Certo dia, eis como alguns hurons responderam a um missionário francês que procurava convertê-los: ”Queres discutir connosco sobre a alma e, no entanto, nem sequer sabes como capturar um castor!”.
A dominação espanhola e inglesa assumiu foros de maior crueldade e violência não só porque os seus interesses eram mais agudos (num caso a febre do ouro, noutro a febre de estabelecerem enclaves) mas também porque a mentalidade índia diferia absolutamente do fanatismo castelhano e da frieza anglo-saxónica. Panfilo de Nervaez, depois seguido por Vasquez de Coronado, que no primeiro quartel do século dezasseis atravessaram a Carolina, o Arkansas e o Arizona, perseguiam e abatiam índios inofensivos que vinham contemplar a passagem das tropas, apenas para “hacer la gracia”, ou seja, para se adestrarem em jogos marciais. A dominação inglesa foi perita em explorar e estimular as rivalidades tribais, compelindo os seus circunstanciais aliados a exterminar os rivais – o que teve pleno êxito na guerra anglo-francesa, na qual os iroqueses deram cabo de praticamente todos os hurons.
Já referimos que os mohicanos e também eries, pequots, miamis, mohawks, etc., foram dizimados através das armas convencionais e de epidemias, rapidamente disseminadas porquanto o sistema imunológico do índio não estava activado para lhes responder. E era o homem branco, com uma estranha caridade de cepa cristã, quem lhe fornecia mantas infectadas que – repare-se na requintada qualidade do cinismo – trocava frequentemente por boa quantidade de peles ou de belos produtos do solo.
Concretizando o que atrás disse: a diferença de métodos na colonização assenta no facto de que os espanhóis eram movidos pela caça ao ouro, efectuada em tons pomposos (note-se que tinham tido uma gratificante experiência com os incas e os aztecas) dado que a corte espanhola e os seus áulicos e apoiantes, imersos em complicados jogos de interesses internacionais, necessitavam desesperadamente do metal amarelo para a sua política imediata e de curto prazo. Não podendo atingir o mítico El Dorado e as Sete Cidades de Cíbola, miragem fabulosa criada por um relato propagado pela imaginação desenfreada de um frade empreendedor e um pouco mitómano, frei Marcos de la Renta, que interpretara à sua maneira boatos que circulavam entre os aventureiros – e que haviam sido postos a correr pelos índios para lhes dispersarem a atenção e os confundirem – os espanhóis foram compelidos pelas condições hostis da região e das tribos, muito aguerridas (nas quais se destacavam os apaches) a acolher-se aos seus primeiros domínios; seriam mais tarde os mexicanos (mestiços descendentes dos invasores castelhanos) quem retomaria o afrontamento de pimas, yaquis, apaches e navajos (assim crismados pelos espanhóis), isto numa primeira fase antes da anexação americana.
No que se refere à Inglaterra, interessava-lhe efectivamente o estabelecimento de feitorias, à guisa de testas-de-ponte donde partiriam para a conquista de outros territórios visando um estacionamento perene. A consequência inevitável era o extermínio ou a férrea sujeição dos autóctones, assim que se sentiam bem escorados nos postos que proliferavam.
Quanto à França, manteve sempre uma certa distanciação em relação à América – fosse na Nova França, fosse mais tarde, na Louisiana – a imensidão territorial que o senhor de La Salle vistoriara. É bem conhecida a opinião de Voltaire, por exemplo, que considerava o Canadá uma espécie de frigorífico onde os concidadãos iam perder o seu tempo. A verdade é que, à França, interessava fundamentalmente a implantação de feitorias onde pudessem dedicar-se ao comércio das peles: quem dominava a colonização eram as “societés”, controladas por nobres e astutos negociantes.
Além disso, à coroa francesa – que na altura lançava olhares cobiçosos noutras direcções – não interessava imobilizar contingentes militares consideráveis a milhares de quilómetros de casa, policiando terras que a seu ver nenhuma falta lhe faziam. E foi este atraso mental dos monarcas gauleses que permitiu uma melhor respiração aos territórios sob o seu domínio. É também isso que explica – para além de casos decorrentes da estratégia político-militar – as cedências finais durante o violento confronto posterior com os britânicos para controle dos territórios de nordeste.
Em 1825, 1831, 1841 e 1848 iriam ocorrer certos acontecimentos-chave que definitivamente, afastariam a possibilidade das nações índias do oeste próximo e, mais tarde, longínquo, sobreviverem. Tanto mais que os índios – com uma única excepção, como já se aludiu anteriormente – nunca haviam encarado a formação de um Estado, cuja concepção moderna lhes era aliás alheia e desconhecida (hoje é manifesto que os chefes das denominadas cinco nações civilizadas tinham uma concepção de nação inteiramente diferente dos ocidentais). E essa “organização” de tipo libertário, assinale-se, foi uma das causas – senão a principal! – da fragilidade da Nação Índia frente aos hierarquizados, normalizados e metódicos invasores.
Esses acontecimentos foram:
1. A abertura do canal Erie, que escancarou sem retorno as comunicações entre o Leste e o Middlewest, estimulando ainda o desenvolvimento comercial e industrial da região dos Grandes Lagos, ou seja Buffalo, Cleveland e Chicago.
2. A invenção, por Cyrus McCormick, da ceifeira-debulhadora, de que resultou que em poucos anos, centenas de milhares de hectares, onde então pastavam milhões de bisontes e fossem transformados em campos cultivados.
3. A construção da Erie Railroad, que permitiu o desbloqueamento das passagens para Oeste.
4. Finalmente, a descoberta do ouro da Califórnia na herdade de Johannes Sutter, causou uma devastadora corrida às minas, com milhares de desenraizados e aventureiros a atravessarem as pradarias e as Montanhas Rochosas em caravanas ou, em simples bandos, depredando a flora e a fauna – abatendo indiscriminadamente bisontes, que constituíam a base da alimentação dos Plains – com os consequentes levantamentos e as guerras índias protagonizadas pelos arapahos, kiowas, cheyennes, crows, lakotas, shoshonis, flatheads, etc.
5. Porém, o ouro era então fundamental, tanto mais que em 1836 o secretário do Tesouro Richard B.Tanney, com a pronta anuência do Presidente Jackson, emitira a Circular das Espécies nos termos da qual, para a aquisição de terras, o governo só aceitava pagamento em ouro e não em notas de banco.
(continua)
grazia.tanat@gmail.com
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