(Por Vítor Lima, 26/02/2019)
1 – O PIB como medida de desempenho não vale nada. É muito genérico, economicista e, já nos anos 30, Kuznets, que inventou o conceito, chamava a atenção para as suas lacunas.
Por exemplo, em Portugal a economia não contabilizada vale uns 30% do dito PIB, sem contar com os serviços efetivos e essenciais que o PIB nunca contemplou; por exemplo, os trabalhos domésticos, como cozinhar, a limpeza, o cuidar das crianças, tarefas que só são medidas (quando são) se efetuadas num restaurante, com a utilização de uma empresa de limpeza ou através de um explicador com porta aberta.
2 – Para aumentarem o PIB, os avatares de Bruxelas acrescentaram como “produtivos” os serviços sexuais das prostitutas e como investimento a aquisição de cangalhada militar. Por exemplo, a compra de uma bala de canhão, é investimento, embora nada produza, quando armazenada em Tancos ou disparada algures.
3 – O drama da dívida em geral é a sua utilidade para alimentar a volúpia financeira ou as pirâmides de Ponzi que contribuem de modo decisivo para o aumento do PIB embora não satisfaçam necessidades humanas mas, apenas a engorda de especuladores e militares. Por outro lado, a dívida pública é uma forma de captura dos rendimentos futuros de uma população, endividada sem ser consultada e onerada para o seu pagamento. Em Portugal, cada indivíduo contribui, anualmente com 900 euros só com os encargos. E, pior, ninguém sabe qual a afetação real dos empréstimos contraídos pela dita República.
4 – A satisfação das necessidades de uma população é o único critério válido para que se trabalhe; e, como hoje isso não é tecnicamente difícil, logo se coloca a questão de que trabalhar hoje, tanto ou mais do que há 100 anos, quando a jornada das oito horas era meta a atingir. Adivinhem quem se apropria dos ganhos de produtividade. E adivinhem quem gera a volúpia consumista e fomenta o endividamento para a satisfazer. E observem o grau de idiotia de quantos passam horas a olhar para écrans de vários tamanhos, viciados em imagem corrida, a forma mais superficial e manipulável de obter (des)informação.
5 – Voltando à dívida. Não conhecemos na classe política quem considere a ilegitimidade da maior parte da dívida pública. Primeiro porque foi imposta e, em segundo lugar, porque não foi afeta a nada de conducente ao bem-estar da plebe. Depois, porque a sua reestruturação nada acrescenta, sobretudo dadas as baixas taxas de juro. E, em terceiro lugar, porque ninguém sequer aventa a necessidade de um downsizing brutal nos balanços do sistema financeiro global com a eliminação da dívida ilegítima, um chamado jubileu. Há alguns anos fizemos simulações de reestruturação da dívida que, exigiriam crescimentos de 6% no diáfano PIB.
É comum os ditos economistas desconhecererm as ciências sociais. E que, só uma abordagem da realidade que resulte da interação das várias ciências sociais, fornece realismo. O que se aprende na universidade é catecismo, baseado no empreendedorismo, na competitividade, na empregabilidade, na criação de valor e no crescimento do PIB.
Por exemplo, ver este artigo, “O economicismo ou o discurso do empobrecimento compulsivo” onde se encontra muito material sobre estas questões (https://grazia-tanta.blogspot.com/2015/05/o-economicismo-ou-o-discurso-do.html).
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