sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

O Jardim das Delícias: A besta feita de bosta ou a bosta em forma de besta?

Semanas atrás foi o PS, o irmão mais crescido do PSD a fazer uma gracinha através dos cornos do Pinho (sem ofensa para ninguém); agora, foi a vez do mano mais novo demonstrar as suas habilidades por intermédio do seu melhor artista, o AJJ.

Isso é o retrato do PS/PSD. Bando de biltres e incompetentes, excepto no saque que se evidencia cada vez mais às claras e de forma impune. São os processos judiciais que se abrem (contentores-Alcântara), as averiguações que não acabam (Freeport), os julgamentos que se esquecem (Casa Pia), as prescrições que silenciosamente ocorrrem (Tavares Moreira), os relatórios que se sucedem (corrupção) sem consequências, as leis coxas que se propõem para substituir leis já estropiadas (enriquecimento ilícito), a tranquilidade com que se movem corruptos, traficantes, réus de crimes graves, tão tranquila como a constituição de rápidas fortunas e a fuga de capitais.

Esse retrato do PS/PSD confunde-se com o da república cleptocrática em que se vive. Os gangs mafiosos que se apresentam para uma próxima governação de quatro anos nada de novo têm a propor, nem têm protagonistas credíveis e, carregam um rico historial de burlas e atraso económico e social, com desemprego, pobreza, etc.  Candidatam-se perante um povo, tão manso que faz parecer os carneiros animais selvagens e que caminha para mais um ciclo de roubalheira com a bonomia mansa das reses a caminho do matadouro.

No fundo, os gangs mafiosos mostram-se nervosos e preocupados com as suas incapacidades de conciliar o saque com uma pobreza e desigualdades toleráveis, num contexto de estagnação económica e endividamento elevado.

O recente caso protagonizado pelo AJJ é mais um episódio, entre outros, a vários títulos ridículos mas, trágicos e preocupantes, pois revelam o que em certos círculos se vai pensando para salvaguardar o funcionamento do sistema cleptocrático, mudando qualquer coisa para enganar os tolos. Aparecem, por vezes na praça pública, em casos como o do AJJ, emanações inábeis sobre o que se passa nesses bastidores, sobre o que congeminam, emanações essas que sugerem álcool etílico a bordo.

As leis eleitorais têm estado em discreta e permanente análise e discussão, no seio do PS/PSD. Neste momento, devem estar preocupados com o volume de abstenções e a crescente consciência do bloqueio político, que vem aumentando a audiência da esquerda institucional; tudo isso, num plano de crise económica e social endémica, sem fim à vista e perante a evidência que a integração europeia, o tratado de Lisboa e afins não trazem a bem-aventurança.

Quanto às abstenções, Carlos César levantou recentemente a hipótese do voto obrigatório. Se as pessoas não acreditarem nos partidos, o Estado destes obriga-as a acreditarem sob a ameaça de coimas, contra-ordenações, polícia à porta; os mandarins querem a legitimidade, nem que seja à força. E acautelem-se, pois as coimas podem cair sobre os herdeiros dos eleitores inscritos e já falecidos há anos, constantes nos cadernos eleitorais e que, portanto, são irredutíveis abstencionistas.

Outra via, para além da actual segmentação das votações para a AR por distritos, neutralizando os votos distritalmente minoritários e favorecendo o PS/PSD (naturalmente) é a exigência de uma determinada percentagem de votos para um partido estar representado na AR.
Na Alemanha essa percentagem é de 5% e isso afasta ou assusta todas as formações que não os principais gangs locais a CDU/CSU ou o SPD que, traduzidos para português, correspondem ao que vamos designando por PS/PSD. Na Rússia, o czar Putin e a sua Gazprom livraram-se da oposição exigindo 10%. Curiosamente, o BE e o PC, em 7 de Junho tiveram pouco mais de 10% dos sufrágios… 

Não pretendemos competir com a criatividade dos mandarins e dos escritórios de advogados pagos com dinheiros públicos para formular alternativas mas… algo estará na forja para a construção da estabilidade”, da “governabilidade”.

Foi a pensar na “governabilidade” que, meses atrás, Manuela Ferreira Leite, do fundo da sua incapacidade e ignorância política, deixou deslizar o desejo de que seria bom suspender a democracia por seis meses. Todos sabemos que a democracia é um frete que se cumpre para um ente que transitou, já com trinta e tal anos, indiferente, do fascismo para a democracia, lado a lado com o seu amigo Cavaco que a introduziu na política, depois de se ter apoderado das rédeas do PSD em 1985. Para ambos, democracia, debate, diálogo são factores litúrgicos de custo para as empresas e para a gestão pública. Nessa linha, Manuela soltou a preocupação com os 4M euros adicionais a gastar com eleições em datas distintas e compreensão com os roubos na banca, o auto-abastecimento salarial dos gestores de topo ou a titularização de que foi obreira e na qual o Estado recebeu 1700 M euros do Citygroup por troca com 9500 M euros de dívidas fiscais de empresas aos quais se adicionaram já, mais 3700 M euros. Em tempos, o seu correligionário o ultra-liberal António Borges pretendia resolver não sabemos bem o quê com o despedimento de 150000 funcionários públicos.

Neste contexto AJJ, que tem a sua própria agenda e faz o que quer, com ou sem o aval da liderança nacional do PSD, escancarou a cloaca. 

O silêncio de Manuela e do chefes do PSD é de incómodo e por vários motivos. Porque não é questão que convenha levantar em tempo eleitoral, sobretudo daquela crua forma; e depois porque recorda frase com conteúdo semelhante da Balela, tempos atrás como acima referido. E assim, ficaram esperando que AJJ explicasse melhor o que disse pois, como sucede nestas emergências, os jornalistas e os cidadãos é que são burros, com interpretações ínvias e ignorância suficiente para não perceberem o alcance, a profundidade do pensamento de inspirados mandarins como o AJJ. E o tempo estival favorece o esquecimento de mais uma parvoíce saída do PS/PSD.

Aproveitamentos eleitorais

Interessante, do nosso ponto de vista, é a cegueira política do CC do PCP ao pretender aproveitar, de forma desastrada, as propostas do biltre AJJ, integrando-as no actual contexto de eleições à vista.

Na lógica jardínica, “comunista” é um termo que abrange toda a esquerda e não especificamente o PCP, que até tem sido muito cordato na sua integração no funcionamento institucional da Madeira e não tem causado qualquer desgosto ou obstáculo ao avassalador controlo do AJJ sobre a sociedade madeirense, como aliás, sublinhado pelo próprio fascistóide. E, como também tem sucedido com os governos nacionais, que pagam bem, para não ouvir o grasnar ou os insultos do imbecil.

E o PCP sabe que é assim, como sabe que não é através da forma trauliteira do AJJ que a fascização das sociedades europeias tem avançado, lentamente, na exacta medida da estagnação das economias europeias e da putrefação e formalidade da democracia de mercado. A proposta do AJJ mais parece o discurso ameaçador do polícia mau perante o preso, a que se seguirá o polícia compreensivo e apaziguador, que virá propor algo menos mau para “safar” o assustado prisioneiro.

Se a proposta do AJJ fosse, ela própria credível, para considerar e, se o semovente tivesse a mesma concepção restrita de “comunista” que a proclamada pelo CC do PCP, este  estaria a oferecer-se como mártir e a proceder como aqueles militantes islâmicos que se oferecem ao martírio para ganhar no Além os favores de um punhado de virgens.

Como se tornou rotina, o PCP gosta de apresentar os seus selos de autenticidade (imparcialmente) passados pelo próprio; e afirmar-se como o regulador oficial (um género de ASAE) do uso do título de comunista, numa visão redutora, empobrecedora que exclui todas as formas de luta por uma sociedade comunista que não detenham o atestado ou bula passada pelo CC do PCP.

No mundo do século XXI, embora isso fuja aos desejos do CC do PCP, a realidade à esquerda é plural, como aliás já o era no tempo do fascismo e, no PCP, sempre gostaram de ignorar ou menosprezar a resistência  protagonizada por anarquistas, marxistas-leninistas, maoistas, trotskistas, e socialistas de esquerda, sobretudo se, em qualquer momento das suas vidas, passaram por uma militância no PCP. Pelo contrário, gostam de fazer sobressair a resistência de um ou outro caso de cidadãos católicos, sociais-democratas ou mesmo de direita, com o espírito paternal, indulgente, de quem faz por compreender uma criança ou um tonto de aldeia; nesses casos, podem, mais facilmente, colocar-se mais à esquerda no espectro ideológico.

Para além desse quadro histórico, a situação actual em Portugal e na Europa não admite esses vanguardismos elitistas de auto-ungidos representantes da classe operária. Essas desesperadas pretensões hegemónicas acentuam-se, motivadas por extrapolações inconvenientes e embaraçosas quanto ao futuro número de deputados na AR.
A situação actual exige a convergência e a unidade da esquerda, dos militantes anti-capitalistas, dos trabalhadores e, mais abrangentemente, da multidão de vítimas do gang PS/PSD. E a falta de unidade da esquerda é um atestado de insensibilidade política da esquerda institucional que compromete mais, quem mais se afirma como dono e senhor de toda a esquerda, com direitos de patriarcado.

Do fundo da nossa insignificância, logo expressa na criação do blog em Maio de 2005, sugerimos ao CC do PCP para proceder e divulgar um estudo sério sobre as causas do estoiro do “sol na terra” (termo utilizado por Cunhal relativamente à URSS) ou à explicitação das razões da actual colagem do PCP ao capitalismo chinês.

Sugerimos também que informem os militantes porque não aplicam os estatutos e expulsam militantes como Saramago e Carlos do Carmo, apoiantes expressos de António Costa, contra a lista do PCP à Câmara de Lisboa. Se apreciássemos teorias da conspiração, perguntariamos se aqueles dois militantes não estariam a cumprir os desígnios estratégicos do partido, de criar uma “maioria de esquerda” e  chegar ao poder como muleta do PS. E, nessa linha, seria divertido verificar se haveria concorrência na concretização desse desígnio estratégico.  

Para fechar, salientamos que o PS também procurou aproveitar o silêncio “manuelino”, desejoso de mostrar credenciais de partido de esquerda, pluralista, democrático… em época de aperto eleitoral. E fê-lo através do “ideólogo” Santos Silva, que funciona como o Rosenberg de Sócrates, como sabemos, mais habilidoso em inglês técnico do que em matéria de ideologia. 

Julho 2009

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