domingo, 25 de dezembro de 2011

A gestão energética, a REN e as mexidas de Toto Mexia na EDP

Política energética, onde estás tu?

Os assuntos relacionados com a energia têm uma importância essencial para a vida de todos nós, muito para além da forma fragmentária e enviesada como são tratados nos media. Nestes, são realçados os méritos socratóides no lançamento de barragens, parques eólicos, metas ambiciosas para as energias renováveis (para não cumprir) e ainda os números circenses que rodeiam a actividade das empresas do sector, as suas tricas, a criação de valor accionista e os altos e baixos das cotações. Para a multidão sobra o aumento do petróleo; do preço da electricidade que já é 26% superior à média europeia, de acordo com a DG Energia, com as suas consequências a jusante; e o afamado Mibel que está em banho-maria, de onde virá a bem-aventurança energética quando os preços forem atractivos para as eléctricas espanholas, quando a compra de electricidade francesa for agilizada, quando...

A política energética em Portugal tem-se pautado pela incoerência ou mesmo pela inexistência, segundo alguns especialistas. Vejamos algumas situações que nos ocorrem para ilustrar o comportamento das máfias que detêm o poder;

  • Portugal é o país da Europa ocidental com maior dependência energética do exterior e aquele que, em contra-corrente, tem aumentado substancialmente, o seu consumo global, apesar da desindustrialização e da profícua actuação recente de um ministro do Ambiente chamado José Sócrates, conhecido como o Entulho da Serra.
  • As construções não contemplam qualquer preocupação de baixo consumo energético. Citamos, por exemplo, as fachadas de vidro; as ausências de janelas normais, a exigir ar condicionado, com o seu cortejo de doenças alérgicas; as habitações “modernas” sem a possibilidade de secagem da roupa lavada ao ar ou ao sol mas, através de um secador; a instalação de máquinas de lavar loiça para agregados familiares de 1 a 3 pessoas; o fomento da moda de ar condicionado em habitações, num país com um clima bem ameno;
  • A aposta nos grandes investimentos eólicos, hidroeléctricos ou solares que favorecem grandes empresas e as incontornáveis financiadoras dos partidos, as construtoras de obras públicas;
  • Menosprezo pelo investimento particular, autónomo e descentralizado em energias renováveis, descurando um real apoio fiscal, a investigação e a criação de entidades com reais competências na montagem de sistemas solares. Para o poder mafioso “small is not beautiful” pois interessa perpetuar rendimentos para as gigantescas empresas energéticas;
  • Gestão disparatada da mobilidade, com uso e abuso da utilização do automóvel próprio, facilitando-se a entrada e o estacionamento nas cidades, pois isso rende às construtoras de pontes, viadutos, vias pseudo-rápidas, empresas de cobrança de portagens, aluguer de estacionamento… mesmo que isso em nada favoreça a imagem dada aos turistas;
  • Abandono das veleidades de criação de sistemas de transportes públicos permitindo-se às empresas concessionárias uma gestão baseada na redução da oferta, sobretudo à noite ou em áreas menos povoadas e, em aumentos das tarifas.
  • Colocação do arremedo de politica energética a reboque dos ditames da EDP, da REN, da Galp e do restante cartel petrolífero, sem descurar os sacrossantos interesses do Ministério das Finanças na arrecadação de receitas.

Factores de irracionalidade

Citemos em seguida, alguns aspectos do poder discricionário e magestático das grandes empresas energéticas e dos governos portugueses que aquelas se subalternizam:

  • Nunca houve qualquer racionalidade na montagem da rede de distribuição energética por parte da REN ou das suas antepassadas. É fácil encontrar ruas em que as linhas se cruzam como a base para a instalação de balões num arraial; é fácil encontrar uma profusão de postes espetados a esmo, com escassos metros de permeio, com fios pendurados.
  • A instalação dessa infraestrutura é delegada em empresas contratadas, por empreitada, sem uma visão de conjunto sobre a poupança de recursos, garantida que está a repercussão de custos para o consumidor;
  • Um caso concreto que conhecemos foi a extorsão praticada pela EDP que cobrou cerca de € 550 para a colocação de 16 metros de fio entre o alto de um poste e a entrada de uma vivenda, há cinco anos.
  • Essa garantia de repercussão para o consumidor tem histórias pitorescas como a que conduziu à instalação de uma central térmica a carvão em Sines, onde existe uma refinaria e, queimar fuel numa outra, em Setúbal, onde não há refinaria mas, um porto de mar onde é possível descarregar carvão. Ou a não construção de um oleoduto para abastecimento do aeroporto da Portela, a partir do Carregado, preferindo-se a utilização de dezenas de camiões diários para o efeito.
  • O modelo organizativo do sector energético tem flutuado ao sabor dos negócios privados ou das modas de gestão. Há alguns anos, a EDP subdividiu a distribuição em empresas regionais que rapidamente desapareceram, eventualmente, por sugestão do consultor que anos antes havia proposto o contrário. Custos? Que importa, o manso povo português paga!
  • Se a instalação da infraestrutura de distribuição e a continuidade da utilização do espaço público fosse paga às câmaras; e, se fosse paga a utilização de terrenos particulares a quem permitisse a passagem de linhas e a colocação de postes, a REN seria mais racional na gestão do seu património;
  • Na realidade, nem sequer em termos ambientais e paisagísticos há, qualquer sensibilidade da REN ou das câmaras para o enterramento dos cabos de passagem da energia. Ou melhor, há… se se tratar de um condomínio para gente fina.
  • Nenhuma entidade regula a proximidade entre linhas de alta ou muito alta tensão e zonas habitáveis ou o seu enterramento; como ninguém regula a passagem de linhas por cima de casas ou zonas residenciais, sabendo-se de casos de queda dos mesmos sobre habitações. As lutas dos moradores de Sintra e Silves merecem todo o nosso apoio e o necessário surgimento de réplicas.
  • O binómio REN-EDP sai caro a todos nós. Em números redondos, cada consumidor de electricidade forneceu, no primeiro semestre deste ano €42 de lucros para os accionistas da EDP e €17 para os “investidores” na REN; anualizados esses números, cada família contribui com €120 para os indigentes accionistas daquelas empresas. Um pouco demais para o mau serviço que prestam, não?
  • A REN é dirigida por um tal José Penedos,  socratóide de gabarito, há muitos anos conhecido por ser um dos principais angariadores de fundos para o partido junto dos chamados empresários. Esses óbulos são fornecidos gratuitamente? Achamos que só quem tem menos de cinco anos acredita nisso.
  • Finalmente, dizem que há um regulador dos serviços eléctricos, chamado ERSE que, para os consumidores, de nada serve, à semelhança de outros reguladores, como a Anacom, o Banco de Portugal do seráfico sacerdote Constâncio, o Instituto de Seguros de Portugal, ou a Autoridade da Concorrência do impagável Abel Mateus, que se dedicam a conciliar os interesses das empresas e do “mercado”, estando-se nas tintas para as pessoas.

A EDP e o “edp5D”

Recentemente o artista Toto Mexia, presidente da EDP, apresentou um número circense dirigido a melhorar a factura da energia de 130 000 clientes da EDP, retirados de um conjunto de 1,5 milhões que têm uma potência instalada superior a 6,9 KvA, por sua vez incluídos nos 5,8 milhões de clientes da EDP. Para melhor se aquilatar o profundo alcance social do “edp5D” refira-se que ficam excluídos da benesse todos os clientes de baixa potência instalada (leia-se, lares normais, de gente de trabalho).

Afinal o que oferece esse rótulo “edp5D”?

Quem tiver instalada uma potência de 6,9 KvA e utilize aquele programa “social” paga € 11,02 fixos (contra os habituais € 11,29) e cada kwh a €0,1097 quando antes o mesmo lhe era facturado a €0,1071. Em suma, se esse cliente da EDP consumir 50 kwh/mês poupa 14 cêntimos mas, se consumir 100 kwh/mês já só poupa 1 cêntimo !

Se esse consumidor tiver instalada uma potência de 20,7 KvA, paga € 30,93 fixos por mês de potência (contra €33,09 antes) mas, cada kwh fica-lhe por €0,1107 em vez dos €0,1071. Como resultado, ganha €1,44 se tiver um consumo de 200 kwh/mês e atinge a indiferença se o consumo mensal for de 600 kwh.

Quando observarem na cara de alguém um sorriso de felicidade já sabem que isso se deve à edp5D e ao seu piedoso criador que, com os seus confrades, ficaram tão babosos com a obra que usaram um avental para limparem os queixos. (ver imagem anexa)

Esta contabilidade só reduz marginalmente o custo da electricidade e não penaliza os grandes consumos dentro, aliás, das normas tradicionais da EDP que passamos a tipificar:

·         Se um consumidor usar esquemas de diferenciação dos consumos, em períodos de vazio e fora de vazio, o consumo no primeiro período tem um preço equivalente a metade da taxa normal mas, a mensalidade da taxa de potência sofre um agravamento que reduz o impacto na bolsa do consumidor;

·         Se o consumidor tiver uma forte consciência ambiental e decidir utilizar as chamadas taxas verdes da EDP, que lhe garante estar a utilizar apenas energias renováveis (não se sabe como ou quem verifica se não há aldrabice) terá de pagar mais que os energívoros comuns! Se a potência instalada for de 6,9 kvA paga €0,1179 por kwh (€0,1190 se a potência for de 20,7 kvA) pela energia verde, em vez dos comuns € 0,1071

Quem é Toto Mexia

Para fechar vamos expor alguns elementos sobre o tal António Mexia, presidente da EDP, exemplar típico de gestor globalizado, neoliberal e incompetente naquilo que é uma verdadeira gestão.

A ridícula figura (veja-se em anexo uma imagem de um avental encimado por um riso alarve) tem um currículo invejável:

  • Presidente da Galp até 2005 a sua brilhante gestão foi a responsável pela incúria que conduziu à morte de dois trabalhadores na refinaria de Matosinhos, por aligeiramento dos cuidados com a segurança;
  • É óbvio que esse nefasto acontecimento pouco significa perante o magno objectivo de criar valor para os accionistas; aliás, dois trabalhadores a menos constitui até, um modesto contributo para o “downsizing”. Como membro ilustre da Associação dos Gestores e Empresários Católicos, decerto que já foi perdoado pelo seu desleixo, com a bênção de algum supranumerário…
  • Apoiante desde a primeira hora do Compromisso Portugal, ao lado de flores tão belas como o Carrapatoso que viu uma sua dívida de € 700000 de IRS prescrever na DGCI sob o consulado do Paulo Macedo, putativo membro da venerável Opus Dei; e do Vaz Guedes da divertida carta dos 40 empresários contra a invasão espanhola, recentemente ligado a um financiamento ilegal do PSD;
  • Amigo de Santana Lopes (diz-me com quem andas…) foi nomeado por este, Ministro dos Transportes, logo a seguir à morte dos trabalhadores na refinaria. O seu mais brilhante acto foi agilizar a extensão do comboio de Coina até Setúbal, mantendo a norma das elevadas tarifas da Fertagus e aceitando que um serviço suburbano tenha frequências de percursos sub-regionais. Como a Fertagus não tinha (e continua ser ter) equipamento suficiente, a CP ofereceu-se para alugar composições no que foi impedida pelo Mexia. Que horror, uma empresa pública demonstrar as insuficiências de um privado, era o que faltava!
  • Quando Santana foi corrido de primeiro-ministro, Totó Mexia, amigo do seu amigo, reconhecido e condoído por ver Santana na miséria (o tonto conseguiu, com menos de 50 anos, reformar-se em 2005 com € 3500 mensais) ofereceu-lhe um lugar de assessor na EDP. Dadas as conhecidas qualidades de ser pensante e técnico jurista do Santana, Mexia colocou a EDP a pagar € 10000 por mês ao tontinho. Comovente acto de boa gestão.
Novembro 2007

Anexo: Imagem do Mexia com avental


Ver neste blog “Os próximos aumentos da electricidade e a política energética das máfias” em 23/11/2006

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