Sumário
1
– O esplendor civilizacional e a colonização
2
– Depois de II Guerra, a entrada no capitalismo globalizado
3 - Caraterização social e demográfica da Ásia Central e
Oriental
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1
– O esplendor civilizacional e a colonização
Como referimos anteriormente, para uma abordagem da demografia
da Ásia, separámos a Ásia Ocidental, mais especificamente a de matriz dominante
islâmica e que vem sendo atravessada por grandes e longos conflitos, nos quais
o denominado Ocidente tem tido enormes responsabilidades. O restante território
– a Ásia Central e Oriental - abarca a grande maioria da população do
continente, isto é, cerca de 91,5% do total, em 2016; e que, sem dúvida,
constitui a área mais dinâmica, a nível global, do ponto de vista económico.
A Ásia Central e Oriental apresenta uma grande diversidade de
culturas e, na generalidade, cada país comporta uma realidade compósita, com
grande variedade étnica, linguística e religiosa.
A sua história mostra um passado recheado de elevados elementos
civilizacionais resultantes das ligações comerciais terrestres entre o mundo
persa e a Índia ou da China com a Ásia Ocidental, através de canatos turcos ou
mongóis, passando dali para o Mediterrâneo e para a Europa. Por seu turno, o
comércio marítimo no Índico tem uma duração de largos séculos, com ligações
entre a África Oriental, o Mediterrâneo, o mundo islâmico e a China e, no
âmbito do qual surgiu uma forte penetração do Islão nas Filipinas, na Malásia,
no Bangla Desh e na Indonésia.
Quando os europeus, com os portugueses à cabeça, se envolveram
nesse comércio, fizeram-no gradualmente, primeiro, através do controlo de
entrepostos costeiros (Ormuz, Goa, Jaffna, Malaca…); a que se seguiu a ocupação
territorial, nos séculos XVIII e XIX, neste caso, com papel mais relevante para
ingleses e franceses, concentrando-se os holandeses nas ilhas de Sunda (futura
Indonésia) e os espanhóis nas Filipinas e alguns arquipélagos do Pacífico Ocidental.
Os portugueses foram-se entrincheirando em Goa, Damão e Diu, sem
saber o que fazer dessa posse, até que, em 1960, a Índia decidiu acabar com
essa reminiscência colonial. Curiosamente, como demonstração de uma estreita
visão estratégica, Bombaim (actual Mumbai, capital financeira da Índia) – então
com 10000 habitantes - foi cedida ao rei inglês como dote da sua futura mulher,
uma princesa portuguesa, em 1661; depois de entregue à Companhia das Índias, em
1675 já tinha 60000 habitantes, em 1687 passou a ser sede da Companhia e hoje
tem uns 12 M de habitantes.
Essa ligação marítima direta (via Cabo da Boa Esperança) entre a
Europa, o Índico e o Oriente fez reduzir-se a importância das rotas terrestres
e veio a facilitar as conquistas russas na Ásia central e na Sibéria, dominando
os vários canatos e as tribos turcas ou mongóis, construindo Tomsk em 1604,
Irkutsk em 1661 e Vladivostok em meados do século XIX. A Inglaterra ficava
limitada na sua expansão para o interior, a partir da Índia, pelo Himalaia, o
Hindukush e a resistência dos afegãos. Por outro lado, o domínio turco do
Mediterrâneo oriental e, mormente do Mar Vermelho, contribuiu para a
preponderância da rota do Cabo como via de ligação direta entre o Oriente e a
Europa.
Só a partir do início do século XIX as potências imperiais
europeias se lançaram na ocupação da Ásia Central e Oriental. Na Índia, os
ingleses souberam manobrar as divergências entre os vários marajás para se
superiorizarem como dominantes, uma vez que nunca teriam meios para dominar,
apenas pelas armas, um território tão vasto e com tal população - 255 M, em
1881, incluindo os territórios que hoje constituem a Índia, o Paquistão, Bangla
Desh e Sri Lanka, contra os 57 M da Inglaterra que então incorporava a Irlanda[1].
A França, depois da perda da Luisiana e do Canadá -frustrando-se assim a
construção de um império na América do Norte - virou-se para África e para a
Indochina, conquistando esta última na segunda metade do seculo XIX. Os
holandeses, por seu turno, governaram desde o século XVII e até à
independência, o que se veio a designar por Indonésia. Entretanto, os EUA,
aproveitando-se da fragilidade espanhola apoderaram-se das Filipinas e de Guam
em 1898; e no ano seguinte Espanha vendeu as ilhas Carolinas, as Marianas e
Palau à Alemanha, que veio a ser despojada das mesmas pelo Japão, durante a I
Guerra. Por seu turno, o Japão, perdeu essas ilhas para os EUA com a derrota na
II Guerra.
No início do século XX somente existiam na Ásia Central e
Oriental cinco países sem ocupação colonial – a China, o Japão, a Tailândia, o
Nepal e o Butão.
2
– Depois de II Guerra um novo modelo de capitalismo
Iniciamos de seguida uma mais detalhada caraterização da Ásia
Central e Oriental com algumas notas sobre a Índia, a China e o Japão, as peças
chave da geopolítica regional.
A Índia, a despeito do seu elevado nível civilizacional – ou
talvez por isso mesmo - sempre se cingiu ao seu território, com a sua enorme
diversidade étnica, linguística e religiosa, com escassa propensão
expansionista. Por outro lado, a sua posição central no Índico permitiu
ligações comerciais marítimas fáceis com a África, o Golfo Pérsico e o Mar
Vermelho, com a costa leste do golfo de Bengala e, mais adiante, com as ilhas
da Insulíndia e a China. As condições oferecidas pela existência de grandes
rios como o Indo, o Ganges e o Bramaputra, permitiu populações numerosas e a
incorporação de qualquer invasor - Alexandre, persas ou mongóis - em norma
aceites como castas governantes. Essa riqueza natural conduziu ao florescimento
da filosofia e ao surgimento de várias religiões – budismo, hinduísmo,
jainismo, sikhismo – cujas configurações incorporam uma grande tolerância
religiosa, incluindo o ateísmo; ao contrário dos atuais monoteísmos.
Quando da independência, em 1947, a separação entre muçulmanos e
não muçulmanos – há muitos séculos vivendo em conjunto - gerou a criação do
Paquistão (cujo nome aliás não tem qualquer raíz histórica) com uma origem política
animada pelos ingleses e que conduziu a massacres, deslocações de milhões de
pessoas e várias guerras entre a Índia e o Paquistão. A aberração de inspiração
britânica chegou mesmo ao ponto de se unificar sob a sigla Paquistão, povos tão
distintos como punjabis, baluques ou pashtuns do vale do Indo e bengalis, povo
do delta que une as águas do Ganges e do Bramaputra, separados por milhares de
quilómetros, só porque todos são de confissão muçulmana. Como é evidente, essa
artificialidade durou apenas 24 anos, até à separação do Bangla Desh face à
tutela de Rawalpindi.
A Índia percebeu cedo (1991), perante o declínio económico
observado no Ocidente em comparação com o dinamismo da Ásia Oriental que devia
proceder a uma inflexão estratégica - “Look
East”; por outro lado, as intervenções dos EUA e dos seus sargentos
europeus no Médio Oriente dão uma imagem pouco tranquilizadora para a
vizinhança. E daí que tivesse passado de observador a membro de pleno direito
da OCX – Organização de Cooperação de Xangai, em 2017, tal como aconteceu com o
Paquistão.
A Índia, com a China e a Rússia constituem as peças centrais da
OCX como bloco euro-asiático de oposição ao mundo ocidental, mormente da
suserania dos EUA, que entendem dominar ou condicionar o planeta através do
dólar, das imbecis tiradas de Trump e do seu poder militar, através do cordão
de bases com que os EUA envolvem o continente euro-asiático. Note-se que no OCX
estão quatro potências nucleares, cerca de metade da humanidade, enormes
recursos energéticos, uma rápida evolução económica, embora predominem regimes
de duvidosas credenciais democráticas, mesmo entendendo por democracia os
regimes de tipo ocidental, também oligárquicos e excludentes. Tendencialmente,
esses países ficarão ligados por infraestruturas de transporte, geradoras de um
maior fluxo de trocas que irão incorporar a Europa, como uma verdadeira
península asiática, em termos geográficos e demográficos.
Há muito – desde o século XIV – que a China procurava o
isolamento face ao exterior, admitindo apenas um limitado comércio com os
europeus, quando estes se aproximaram, no século XVI; a sul e a norte
rodeavam-se de estados vassalos e da Grande Muralha, enquanto os seus portos se
mantinham fechados ao comércio com o exterior. Nesse contexto, atribuíram Macau
aos portugueses, como entreposto comercial, em 1557 e, daí que nunca tivessem
considerado o território como colónia; na realidade, com a instauração da
república popular, o poder de facto em Macau cabia à China, embora houvesse um
governador português. Durante a Revolução Cultural, a ação e a propaganda
maoista estavam presentes em Macau, embora o governador fosse nomeado por um
regime português, fascista e colonialista. Só em 1999 a soberania sobre Macau
passou integralmente para a China, como uma região administrativa especial, tal
como Hong-Kong, dois anos antes.
Numa época de feroz imperialismo como foi o século XIX, a
influência das grandes potências coloniais europeias não podia deixar a China
fora dos seus negócios, da sua rapina; quer os chineses concordassem ou não em
se abrir ao “mercado” global. Assim, os ingleses, decidiram alargar o dito
mercado, que se vinha cingindo à venda à China de ópio indiano para pagamento
da seda, do chá e da porcelana chinesa, no único porto autorizado para as
transações sino-britânicas, Cantão.
Como o consumo de ópio na China ia provocando óbvios danos na
população, o governo chinês decidiu a sua proibição. A reação inglesa fez-se
através de uma guerra facilmente ganha (1839/42) que conduziu ao tratado de
Nanquim, no qual a China se obrigou a aceitar o ópio, abrir mais quatro portos
ao seu comércio, bem como a entregar aos ingleses a ilha de Hong-Kong. Após uma
segunda guerra (1857/60) a China, perante os danos causados pelos
anglo-franceses abriu mais onze portos ao ópio e teve de aceitar legações
ocidentais e liberdade para comerciantes e missionários ocidentais. Como dizia,
René Dumont, o colonialismo impunha-se através de 3 “m” – le militaire, le missionaire, le marchant.
Esses (entre outros) chamados tratados desiguais, repartiram
áreas de influência para as potências imperiais - Inglaterra, França, Alemanha,
Rússia, Japão e EUA – numa humilhação para uma China que se considerava como o
padrão civilizacional face aos “bárbaros” estrangeiros; por outro lado, pela
sua dimensão geográfica, populacional e política - não era constituída por uma
vasta gama de senhores como a Índia - uma ocupação colonial típica seria
incomportável… como mais tarde o sentiram os japoneses.
A norte da China, a Manchúria cai sobre a influência da Rússia
e, após uma primeira guerra com o Japão (1894/95), cede Taiwan aquele e aceita
uma provisória independência da Coreia, que passará a colónia japonesa em 1910.
A sul, tradicionais vassalos do imperador chinês (Birmânia, Tailândia, Vietnam,
Laos e Cambodja) caem na órbita britânica ou francesa, enquanto a presença
alemã se observa no Shandong.
A decadência e a humilhação elevam a reação nacionalista através
da revolta dos Boxers em 1900, esmagada pelos exércitos ocidentais que se
aproveitam da situação para aumentarem as suas reivindicações económicas. O
surgimento do Kuomintang em 1905 dá expressão política ao nacionalismo e ao
repúdio pelo regime imperial, abrindo caminho para a República, em 1912.
A República, dividida pela influência de senhores da guerra,
manteve-se sob a pressão do Japão, cuja intervenção no norte da China é
acompanhada por uma grande violência, correspondente ao chauvinismo racista dos
japoneses face a chineses e coreanos; é curioso notar-se que, tendo os
japoneses uma ancestral origem na Coreia, recusem essa origem, desprezem os
coreanos e considerem que o imperador é o mais recente descendente de um filho
do … Sol.
A República conseguiu ocupar a Manchúria mas não construir um
regime estável e capaz de ombrear com os japoneses, daí surgindo a revolta do
PCC, de Mao Tse-Tung, em 1927. Em 1931 o Japão invade a Manchúria e em 1937
inicia-se uma guerra total entre os dois estados, que conduzem à ocupação
japonesa de quase todo o litoral chinês, com uma grande violência a exercer-se
sobre a população, numa guerra que só terminará com a rendição dos japoneses
perante os EUA, em 1945.
A guerra civil entre os nacionalistas de Chiang Kai-shek e os
guerrilheiros de Mao ainda duraria mais quatro anos até à derrota do primeiro,
que se refugiou em Taiwan, com todo o apoio dos EUA que, ridiculamente,
colocaram o regime de Chiang Kai-shek como membro do Conselho de Segurança da
ONU, uma situação que durou até 1971, quando finalmente reconheceram a actual
RPC.
O Japão tinha Nagasaki como único porto aberto ao comércio com
os ocidentais, no âmbito de um pendor isolacionista semelhante ao da China. No
âmbito da segunda presença de uma frota de guerra dos EUA, em 1854, o Japão
assinou a convenção de Kanagawa, segundo a qual abria os seus portos ao
comércio com os EUA; a que se seguiram posteriormente convénios semelhantes com
as potências europeias.
Tirando as devidas lições dos procedimentos dos ocidentais na
China, o Japão modernizou muito rapidamente a sua economia, criou forças
armadas poderosas e decidiu acompanhar os ocidentais quanto a procedimentos
imperialistas. Depois de uma primeira tentativa de conquistar Taiwan a uma
China enfraquecida, o Japão, em 1872 ocupa as ilhas Ryu-Kyu, onde sobressai a
muito conhecida ilha de Okinawa, onde está instalada, desde o final da II
Guerra, uma base militar estratégica para os EUA procederem à vigilância do mar
da China.
Numa primeira guerra com a China (1894/95), o Japão apodera-se
de Taiwan e retira a Coreia da órbita chinesa. Em 1905, após ter ganho a guerra
com a Rússia, esta fica afastada temporariamente de ter influência na Manchúria
e na Coreia – rica em minerais estratégicos - que é ocupada pelo Japão em 1910,
até ao final da II Guerra. Com a derrota nesta última guerra, o Japão perdeu
para a URSS a metade sul da ilha Sacalina (conquistada em 1905 pelo Japão), bem
como as ilhas mais meridionais das Curilhas; e foi forçado a manter forças
militares limitadas, bem como a aceitar a proteção militar dos EUA. A
descoberta de reservas de petróleo nas águas territoriais dos ilhéus Senkaku
(jap)/Diaoyu (chi), a oeste das ilhas Ryu-Kyu, vem alimentando um contencioso
sino-japonês sobre a sua soberania.
O Japão, derrotado em 1945 sob o efeito do terror provocado
pelos ataques atómicos perpetrados pelos EUA, que ocuparam o país e onde mantêm
cerca de 135 instalações militares, incluindo a presença de armas atómicas;
tornou-se uma fortaleza militar norte-americana, vital para o seu controlo da
Ásia oriental, mormente face à “ameaça” chinesa. Em contrapartida, o país
desenvolveu-se como uma verdadeira potência económica, desenvolveu técnicas de
gestão como o toyotismo e o kanban, aproveitando ainda a ligação sentimental
dos trabalhadores para com as empresas onde trabalham e a aceitação de
carreiras profissionais longas e intensivas; nesse contexto, gerou empresas
poderosas de caráter global, com altas capacidades tecnológicas, como a
Mitsubishi, a Nissan, a Sony e outras. É de referir o importante papel do
Estado japonês em todo esse processo, através do seu ministério da indústria e
planeamento, o MITI.
O caso do Japão veio a reproduzir-se em outros países asiáticos
como a Coreia do Sul, Taiwan, Singapura, Malásia e Hong-Kong; neste último
caso, antes ou depois da sua incorporação na China, como região especial, no
seio da política de “um país, dois sistemas” criada por Deng Xiao-Ping. Nestes
territórios firmaram-se governos ancorados em ditaduras ou regimes musculados,
promotores de um forte investimento estatal, articulado com o recurso a
capitais estrangeiros, portadores de elevadas capacidades tecnológicas; para o
efeito procedeu-se a uma aposta decidida num ensino de qualidade, ao estudo e
desenvolvimento de tecnologias importadas, ao envio de estudantes para
universidades europeias e norte-americanas e à procura de uma relativamente equilibrada
distribuição de rendimentos. A construção naval desenvolveu-se muito na Coreia
do Sul e em Singapura; nesta, em torno da manutenção da frota norte-americana
de serviço no Vietnam, durante a guerra. Em contrapartida, a indústria naval
europeia sofreu, uma grande redução, bastando recordar para o efeito o que
aconteceu, em Portugal, com a Setenave e a Lisnave. Outras indústrias
deslocalizadas para o Oriente foram a têxtil (entretanto redirecionada para o
Bangla Desh e o Vietnam) ou as do material elétrico e da eletrónica.
O trabalho, submetido a uma grande disciplina e comparativamente
barato protagonizou, nos anos 70, os primeiros passos da deslocalização por
parte das multinacionais, cujos efeitos foram muito além da formação de lucros
elevados e do desarmamento laboral e político das organizações de trabalhadores
nos EUA e na Europa. A cultura dominante nestes mais dinâmicos países asiáticos
é de cariz confucionista, induzindo disciplina, esforço e um espírito
coletivista, elementos integrados para a produção de elevados níveis de
desenvolvimento capitalista; que mais se evidenciam perante a estagnação que
vem assolando os ocidentais, desde a Grande Recessão iniciada em 2008.
A China, mais recentemente, vai reproduzindo o modelo referido
acima, ainda que sem imitar as democracias de mercado vigentes nos países atrás
citados; prefere proceder ao controlo social e político da sua imensa
população, com um poder muito centralizado no enorme PCC, que está presente em
todas as estruturas económicas, sociais e políticas e de onde partem ou são
validadas todas as decisões, incluindo a nova política natalista. Note-se que a
China não reproduz o modelo soviético de capitalismo de estado, permitindo o
desenvolvimento de típicas empresas privadas, a par de um aparelho de estado
tentacular que controla, sem protagonizar, a atividade económica, deixando esta
aberta à inovação, à iniciativa. Uma das peculiaridades chinesas foi a criação,
depois da chegada ao poder de Deng Xiao-Ping, de “zonas económicas especiais” para
a fixação de capitais e tecnologias estrangeiras, atraídas nomeadamente pelos
baixos preços do trabalho (ainda que superiores aos do resto do país), pelas
isenções de impostos e pela rígida disciplina instituída pelo PCC; e que
diferem, hoje, das regiões administrativas especiais, de Hong-Kong e Macau.
Note-se ainda que, exceptuando a Coreia do Sul, onde a
influência chinesa é milenar, nos restantes países referidos a população é
chinesa (Taiwan) ou, onde se verifica uma significativa presença de população
de origem cultural chinesa, relativamente endinheirada e mantida coesa enquanto
diáspora.
Os países do Centro e do Leste asiático vão construindo bases
industriais avançadas e sólidas, sistemas financeiros pujantes, mercados
internos com consumos elevados e um potencial exportador de bens e
investimentos, num género de capitalismo com forte intervenção estatal, sem ser
capitalismo de estado. Esse processo compreende diversos patamares de evolução;
a Coreia do Sul, a China e o Vietnam ou o Bangla Desh, são exemplos desses
distintos patamares. As deslocalizações iniciadas pelas multinacionais de raiz
ocidental, aceleraram e intensificaram a globalização histórica, foram
aproveitadas pelos principais países da Ásia Central e Oriental que construíram
as suas próprias estruturas produtivas, compreendendo empresas nacionais, de
capitais ocidentais, mistos ou transnacionais e que, recentemente vêm criando
fluxos de investimento em sentido contrário, como se vem observando com a
compra do Pireu pela China, do Terminal XXI em Sines, por Singapura ou o
controlo da EDP pela Three Gorges.
As deslocalizações protagonizadas pelas multinacionais ou
capitalistas ocidentais em geral vêm colocando dificuldades nos EUA e na
Europa, a braços com regiões deprimidas, populações envelhecidas, estagnação do
consumo (a base para existência do consagrado crescimento do PIB) que fazem
adivinhar um futuro sombrio, com a criação de movimentos fascizantes, sobre as
ruinas de uma esquerda inexistente ou fossilizada.
A procura de trabalho a baixo preço tende a inverter-se
geograficamente, sabendo-se que os salários médios em Portugal ou a Grécia vão-se tornando
equiparáveis aos percebidos na China, o que é algo de inimaginável, há uma
década.
Atualmente, os bancos dos EUA dedicam menos de 20% em
empréstimos às atividades produtivas e 80% para as especulativas e as bolhas
imobiliárias resultam de investimentos em busca da rendabilidade e não a
satisfação das necessidades das populações, cujos salários se não adequam aos
preços de compra/aluguer que exigem uma rendabilidade elevada perante a
estagnação relativa dos salários.
O capitalismo tende a tornar as pessoas como supérfluas. Nos
EUA, em 1948/73 a produtividade cresceu 96,7% e os salários reais 91,3%; e em
1973/2015, fruto da deslocalização, a produtividade cresceu 73,4% e os salários
11.1%. Em 1965 um diretor executivo nos EUA ganhava 20 vezes mais do que um
trabalhador e em 2013…296 vezes mais! Mais especificamente, o brilhante casal
Blair, em 20 anos acumulou uma riqueza de $ 75 M[2];
porém, mais brilhante que o dito casal, só Trump que pretende uma “America
great again” semeando sanções e armamento pelo planeta, gerando sorrisos a Xi
Jinping, como grande arquiteto da Rota da Seda que tenderá a ligar três
continentes – Ásia, Europa e África – sob a hegemonia chinesa.
3 - Caraterização demográfica da Ásia Central e Oriental
Na Ásia Central e Oriental, do ponto de vista étnico, é enorme a
variedade de povos e culturas, mesmo no seio de cada um dos estados-nação. Os
mais homogéneos são o Japão, a Coreia e a China; aqui, apesar da grande maioria
da etnia han, há 56 grupos étnicos, embora estes apenas representem 9% da
população total.
Do ponto de vista religioso, a tradição islâmica evidencia-se
nas antigas repúblicas soviéticas da Ásia Central, no Paquistão, na Malásia, no
Brunei, no Bangla Desh, nas Maldivas e na Indonésia, para além de uma numerosa
minoria na Índia ou da minoria ouighur no ocidente da China.
O budismo é maioritário na Tailândia, no Butão, em Myanmar, no
Cambodja, no Laos, em Singapura, no Sri Lanka ou na Mongólia, nesta última, ao
lado de uma grande faixa irreligiosa da população. As Filipinas e Timor-Leste
constituem os únicos casos de maioria cristã (católica), devido aos longos
períodos da colonização espanhola e portuguesa, respetivamente, iniciados no
século XVI; e, na Coreia do Sul, os cristãos (protestantes e católicos) também
são numerosos. Os hinduístas são a maioria no Nepal, nas Maurícias e na Índia,
devendo ter-se em conta a enorme população deste último país.
No Vietnam os credos locais abrangem perto de metade da
população contando-se mais de 25% de pessoas sem credos religiosos. Finalmente,
os não religiosos, ateus ou agnósticos são 2/3 dos norte-coreanos, metade dos
sul-coreanos e 42% dos chineses. No Japão apenas 30% da população se considera
com uma confissão religiosa, havendo numerosos casos de sincretismo, entre o
budismo, o xintoísmo. o taoismo e mesmo de várias versões do cristianismo.
As democracias de tipo ocidental, ou de mercado, com partidos
políticos concorrentes a eleições, observam-se na Índia, no Paquistão, no
Japão, na Tailândia, na Malásia, no Sri Lanka. Existem monarquias na Tailândia,
no Cambodja, no Butão e no Brunei. A Malásia é uma monarquia sui generis pois o rei muda todos os
cinco anos, numa rotatividade entre os reis dos nove estados federados.
Os regimes onde o predomínio de um partido-estado é manifesto,
observam-se na China, no Vietnam – onde a histórica desconfiança face à China
não impede que copie o modelo de privatizações e atração de capitais
estrangeiros - ou na Coreia do Norte. Em Singapura, apesar de ter um regime
parlamentar, o Partido de Ação Popular (PAP) vence todas as eleições desde
1959… O Myanmar também tem eleições mas o controlo da vida política e económica
cabe à forças armadas, com uma presidência da república entregue a uma laureada
com o Nobel da Paz, que se submete aos militares como se vem observando a
propósito da perseguição aos rohingyas, como a outras minorias étnicas; o que
não incomoda minimamente as grandes empresas indianas e chinesas que investem
no país, nomeadamente na construção de… uma ligação entre o Sul da China e o
Golfo de Bengala, - onde existem reservas de petróleo e gás (junto ao litoral
onde habitam os rohingyias…). Essa via permitirá à China ter uma ligação ao
Índico, vários dias de navegação mais curta do que a passagem pelo estreito de
Malaca ou pelos estreitos de Sunda ou Lombok. Essa nova infraestrutura, porém,
não beneficiará a ligação entre o Índico e o Japão ou a Coreia do Sul.
Entre as cinco repúblicas ex-soviéticas, a regra é a de regimes
autoritários, com presidentes investidos por muitos anos. O Turquemenistão e o
Cazaquistão dependem da exploração de hidrocarbonetos; o Uzbequistão, da
produção de algodão com o recurso a mão de obra compulsiva; o Tadjiquistão das
remessas de emigrantes e da produção de alumínio e o Quirguizistão de remessas
de emigrantes e da produção de ouro.
O potencial económico e demográfico centrado no Extremo Oriente
e na Ásia do Sul tende a constituir ali a região mais dinâmica do planeta,
findando o escasso período de uns 200 anos em que o domínio político e
económico se centrou nas duas margens do Atlântico Norte; o qual, em termos
demográficos, foi sempre minoritário. Como atrás se viu, a população mundial é, cada vez mais,
asiática ou africana.
Fonte
primária: UNCTAD/CNUCED
Como procedemos para os casos da Europa e da África, repartimos
os países da Ásia Central e Oriental em três áreas[3]
– Índico, Oriente e Sudeste. No primeiro caso, grosso modo, enquadrámos os
países virados para aquele oceano, quase todos tendo feito parte do britânico
Império das Índias. O segundo conjunto – Oriente – enquadra os países que
bordejam o mar da China Oriental e ainda, aqueles do interior, maioritariamente
de etnias turca ou mongol, incluídos na URSS até ao desmembramento desta. O
terceiro – Sudeste – rodeia o mar do Sul da China e a sua área é em grande
parte, insular.
A evolução da população da Ásia Central e Oriental duplica no
período 1970/2016, no âmbito de uma grande regularidade, prevendo-se um aumento
mais contido para o período findo em 2050 – 0.45% anuais - com todas as
reservas que se possam colocar quanto a eventuais alterações políticas,
ecológicas, tecnológicas e económicas que possam acontecer, imprevisíveis ou
mais previsíveis, embora, entre as últimas, com impactos aleatórios.
Como bem se revela no gráfico abaixo, essa regularidade e esse
grau de incremento populacional deve-se sobretudo às regiões do Índico e do
Sudeste, as mesmas em que as previsões da CNUCED/UNCTAD mostram maior
crescimento. Em contrapartida, no Oriente, o crescimento populacional
apresenta-se muito mais modesto em 1970/2016 – mesmo assim, com um crescimento
muito superior ao da Europa (6% em 1970/2016 e com um retrocesso demográfico
previsto para 2050). Para o Oriente, as previsões apontam para um ligeiro retrocesso
populacional da ordem de 30 M de pessoas.
A repartição da população pelos três
grandes agregados de países revela (gráfico abaixo) que até 2010 o agregado
mais populoso era o do Oriente e que este deixou de o ser em 2016, para além de
ter perspetivas de forte quebra em 2050. Os outros dois agregados aumentam o
seu peso relativo durante o período considerado, tornando-se, presentemente o
Índico o conjunto de maior população em termos absolutos; e isso acontece a
despeito do reforço estatístico que o Oriente recebeu em 2000, com a integração
das cinco repúblicas ex-soviéticas que, naquele ano, tinham 55.6 M de pessoas,
69.8 M em 2016 e uma expectativa de atingirem 94.4 M em 2050.
Repartição da população da Ásia Central e Oriental
Para essa situação, contribuem,
certamente, as situações dos dois países mais populosos do conjunto Oriente. O
Japão tem um volume populacional quase estagnado desde 1990 e é considerado
como um país muito envelhecido, com baixa taxa de natalidade e, para mais,
pouco propenso à chegada de imigrantes. A China, como se verá adiante,
apresenta um dinamismo demográfico muito baixo, certamente ligado à política do
filho único que, entretanto, foi abandonada; e que, provavelmente, colocará em
causa a previsão feita pela ONU, para 2050.
Índico
O conjunto dos países do Índico
multiplica cerca de 2.5 vezes a sua população no período 1970/2016; é o
conjunto da Ásia Central e Oriental com maior crescimento demográfico. A sua
taxa anual de crescimento demográfico supera os 2.6% nas décadas de 80 e 90
decaindo, gradualmente depois, até atingir 0.8% no hexénio 2010/16, um
crescimento anual que é também apontado para os 34 anos seguintes, até 2050.
Convém sublinhar que a Índia
representa 76% da população total da região Índico em 1970 e 74.2% em 2016
enquanto o Paquistão – que tem a segunda maior população - no mesmo período, passa de 8% para 10.8% do
total. Isto significa que os dois países em todo esse período acrescem ligeiramente
a sua representantividade no conjunto, embora se observe uma pequena alteração
na relação entre si, a favor do Paquistão. Nas previsões para 2050 eleva-se
mais o peso do Paquistão (13.4%) em detrimento da Índia (72.5%), o que não
altera a grande desproporção entre o peso demográfico dos dois países.
Os ritmos de crescimento populacional
reduzem-se com bastante regularidade até 2016, mormente nas Maurícias e no Sri
Lanka, a partir da década de 90. Quanto ao crescimento demográfico, o Butão
destaca-se nas décadas de 80 e 90, as Maldivas durante o século XXI e o
Paquistão em quase todo o período considerado.
Quanto às perspetivas para 2050, elas
são conservadoras para a maior parte dos países, destacando-se a regressão
populacional prevista para as Maurícias e o elevado acrescimo demográfico anual
admitido para o Paquistão no período 2016/50 (1.73%). Para o conjunto da região
Índico o crescimento populacional previsto até 2050 é de 0.83%, por ano.
Oriente
Como
atrás referimos, este é o conjunto de países com menor dinamismo populacional
no período 1970/2016; isto é, a sua população apresenta “apenas” um aumento de
70%. A sua taxa anual de crescimento demográfico, reduz-se gradualmente em todo
o período considerado, face a 1970, começando por 2% anuais na década terminada
em 1980, atingindo 0.32% em 2010/16 e prevendo-se até 2050 uma quebra anual de
0.05%.
A grande
população da China (sem contar com as regiões administrativas de Macau e
Hong-Kong) dota o país de uma representatividade enorme no conjunto – sempre
acima dos 80% do total, seguindo-se o Japão mas, com uma representatividade
decrescente – 10.5% em 1970 contra 7.5% em 2016 e com uma quebra prevista para
6.5% em 2050.
Os
acréscimos populacionais mais robustos notam-se na Mongólia, nas décadas de 70
e 80 que passam a ser mais modestos posteriormente. Macau apresenta taxas de
crescimento demográfico elevadas, no contexto regional, a partir da década de
80, a par com o Tadjiquistão, neste caso depois da década de 2000/10, não se
dispondo de dados para períodos anteriores.
Quanto a
casos de regressão populacional, destaca-se o Japão a partir dos anos 80, ao
qual se juntam Taiwan e a Coreia do Sul, no período 2010/16. Estes três países,
bem como a China são objeto de perspetivas de redução populacional no período
posterior a 2016.
Os ritmos
de crescimento populacional previstos para 2016/50 mostram-se mais elevadas nos
países da Ásia Central e ainda, em Macau.
Sudeste
Para o
período 1970/2016 a população do conjunto de países que incluímos como Sudeste
asiático cresceu 2.3 vezes, um valor próximo do observado na região do Índico
como observámos atrás. As taxas anuais de crescimento populacional reduzem-se
paulatinamente, a partir de 2.7% na década de 70, para 1.9% nos anos finais do
século XX até aos 0.8% no hexénio fechado em 2016; um pendor que se situa perto
do estimado até 2050 (0.73% por ano).
No
capítulo dos países mais populosos da região, no Sudeste não se encontra um
domínio avassalador de um apenas, como acontece com a China no Oriente e a
Índia no Índico. O país que mais se destaca no sudeste asiático é a Indonésia
com 45.4% da população total em 1970, um valor que se reduz para 44.3% em 2016
e com uma ligeira perda prevista para 2050 (43.7%). O Vietnam posiciona-se em
segundo lugar com 17.1% em 1970 e, embora nunca reduza a sua população, cede
essa posição relativa para as Filipinas, com 14.1% do total em 1970 mas 17.5%
do total em 2016, com uma previsão de 20.6% para 2050.
O Brunei
apesar de ter uma população reduzida (423 milhares em 2016) é o país com o
maior crescimento demográfico tomando 1970 como base (3.3 vezes, nesse lapso de
46 anos). A Malásia e as Filipinas colocam-se no segundo posto da dinâmica
demográfica (2.8 vezes de aumento populacional em 1970/16). O mais baixo
crescimento demográfico observa-se nitidamente na Tailândia, cuja população
aumentou 1.9 vezes no período considerado. Um caso muito especial é o do
Cambodja que tem um retrocesso demográfico de 4.3% na década de 70, como fruto
de sangrentas disputas internas, de uma massiva fuga para a Tailândia, para lá
da guerra resultante da invasão vietnamita e da prevalência de um regime
político de dementes; porém, passou a recuperar rapidamente nas décadas
seguintes (2.3 vezes em todo o período 1970/2016).
As
previsões para 2050 colocam em Timor-Leste o crescimento demográfico mais
robusto (2.7% anuais), seguindo-se-lhe com indicadores superiores à taxa anual
de 1%, as Filipinas, o Cambodja e o Laos. A Tailândia apresenta-se, na região,
como o único caso de previsível regressão populacional enquanto o mais baixo
crescimento populacional se aponta para a rica Singapura (0.5% anuais).
Crescimento
populacional previsto para a Ásia Central e Oriental em 2050 face a 2016 (%
anual)
Este e outros textos em:
http://grazia-tanta.blogspot.com/
https://pt.scribd.com/uploads
http://www.slideshare.net/durgarrai/documents
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[1] Hoje (2016) essa desproporção é muito maior; 1700
M para o território acima referido contra 64 M da Grã-Bretanha
Oriente
– Guam, Cazaquistão, Coreia do Norte, Coreia do Sul, China (incl. Hong Kong,
Macau), Japão, Mongólia, Palau,
Quirziguistão, Taiwan, Tadjiquistão, Turquemenistão, Uzbequistão
Sudeste
– Brunei Durassalam, Cambodja, Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Tailândia,
Timor-Leste, Vietnam
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