Primeira parte
deste texto aqui
A velha social-democracia mostrou-se totalmente incapaz de fazer
frente à crise iniciada em 2008 e ao avanço do fascismo; a nova, também nada
veio acrescentar.
A nova social-democracia deixou as vestes leninistas sem perder
o seu amor ao capitalismo, restringindo-o ao neoliberalismo dominante; pretende
que a democracia de mercado e a apropriação do pote passam a estar legitimados
com a sua inserção no aparelho de estado e na animação parlamentar.
3 - A norma política autocrática
Em regra, os
regimes políticos atuais, de democracia de mercado, baseiam-se numa segmentação
muito clara entre a classe política e a população. Aos primeiros, compete
apresentar os candidatos a lugares de representação e aos segundos votar nos
membros da classe política, cujas organizações se apresentam como estruturas
elitistas, muito hierarquizadas e autoritárias, quer a nível interno, quer face
à população; e ocupam as instâncias estatais, sempre que
estas lhes estão disponíveis, utilizando-as para os seus fins particulares, enquanto grupo ou dos seus membros individuais.
estas lhes estão disponíveis, utilizando-as para os seus fins particulares, enquanto grupo ou dos seus membros individuais.
Numa classe
política considera-se que um eleito tem um mandato preciso no tempo mas, vago e
irrestrito em termos de atuação e decisão; e, incute-se na cultura popular que
essa representação num só sentido faz parte da natureza das coisas, até porque…
nos países vizinhos assim sucede também. Por parte da multidão dos votantes não
lhes é concedido ou é muito dificultado o direito de apresentar candidatos não
pertencentes aos partidos[1],
nem lhes é admitido retirar a representação a qualquer eleito, por muito nociva
que seja a sua atuação; e isso, admitindo que haja, de facto, uma ligação
direta do voto a um eleito individualizado, o que, por exemplo, no caso
português, não há, uma vez que se vota em listas[2],
tal como no tempo do fascismo.
Chamam a isto,
democracia representativa. Preferimos chamar a este entorse, democracia de
mercado. De facto, existem uns fornecedores (os partidos) que apresentam os
seus produtos em concorrência (nada perfeita) nos escaparates eleitorais,
restando aos consumidores (os votantes) escolher o produto mais atraente,
através do voto. Uma diferença importante face ao que acontece numa compra em
supermercado, é que não há prazo de devolução nem fórmulas de reclamação por
produto adulterado ou impróprio para consumo.
A
estanquicidade entre a multidão e a classe política contrasta com a íntima
ligação entre esta última e os meios de negócios, sobretudo do big business; os casos de corrupção, em
regra, envolvem mandarins e empresários. Toda
a gente vai conhecendo essas ligações, uma vez que os media, mesmo sendo
empresas capitalistas, não repudiam a divulgação de negócios escusos
protagonizados por mandarins, uma vez que isso eleva as receitas da
publicidade. A solidariedade entre capitalistas só acontece no seu antagonismo
face ao mundo do trabalho e à multidão em geral.
Como os
negócios têm prioridade, os efeitos da deriva neoliberal colocam dificuldades
às pessoas comuns que, afastadas de qualquer desempenho democrático, são
atraídas por narrativas escabrosas que apresentam explicações para as suas
dificuldades baseadas na presença de imigrantes ou refugiados; ou, numa
situação bem portuguesa, no racismo dirigido aos ciganos. Recusam qualquer
universalismo e humanismo, ainda que muitos se digam… cristãos.
Os principais
destinatários dessas narrativas escabrosas são pessoas com pouca instrução e
colocados em empregos precários e mal pagos – quando existem – que se sentem
ameaçados, não só por imigrantes, como pelas tecnologias exigentes de
conhecimentos que não possuem e portanto, relegados pelo neoliberalismo, para a
valeta. São uns novos ludistas em potência, incapazes de compreender a
globalização, o capitalismo e a tendência histórica para a automatização das
funções tradicionalmente exigentes de esforço humano, sempre que daí resulte
maior acumulação de capital, taxas de lucro acrescidas; são os designados nos
EUA por left behind ou deplorables, neste último caso, pela
boca de Hillary Clinton. Ameaçados, são vulneráveis aos discursos de Trumps,
Orbáns, Le Pens, arautos da construção de muros, proponentes da expulsão de
estrangeiros e do mirífico retorno das fábricas deslocalizadas para a Ásia.
Nestes grupos sociais caem bem as tiradas patrióticas que tanto podem ser um America great again, como a saída do
euro e da UE, com retorno às fronteiras, à moeda própria, consoante a margem do
Atlântico que se considere. Na linguagem adocicada das classes políticas e dos
media, estas posições designam-se por populismo; preferimos dizer que é o
fascismo que espreita à esquina.
As classes
políticas estruturam-se num efetivo bipartidarismo - eventualmente com o
recurso a um terceiro partido (por exemplo, na Alemanha, o Partido Liberal ou
Os Verdes) – cujos partidos se revezam através de eleições, onde mediaticamente
se mostram muito azedos um com o outro, para dividir e incentivar a plebe a
votar, a validar o rotativismo político.
Há já muito
tempo que referimos serem o PS e o PSD, um par de gêmeos, as duas Torres Gêmeas portuguesas, invólucros de um mesmo
produto, em rosa ou laranja, para agradar à maioria dos consumidores de voto.
Porém, pode dizer-se que as suas divergências, em termos práticos, são
insanáveis; centram-se no facto de um estar no poder e o outro ambicionar estar
no seu lugar. A menor dimensão dos outros partidos não exige uma União Sagrada[3] do século XXI.
Longínquos vão
os tempos em que o BE - então ainda com alguma graça e criatividade - à
solicitação feita a um empregado de mesa ‘Traga-me um PS’, aquele respondia com
um pedido de esclarecimento: ‘Com D ou sem D?’. Hoje, o BE jamais subscreveria
tal posição pois, sem uma concertação com o PS, a sua estratégia de aproximação
ao poder seria impossível e o BE não iria além de um partido de protesto, o que
em democracia de mercado, não é uma postura de futuro; daí que necessite de
distinguir estrategicamente o PS do PSD. Inversamente, só durante algum tempo
depois de 1975, o PCP defendeu explicitamente uma maioria de esquerda (com o
PS, obviamente) sem resultados; agora, na realidade, viabilizando o governo
Costa, está a praticá-la.
No momento, em
Portugal, existe uma solução criativa, com um governo de um dos partidos de
poder - o PS, membro da amálgama Internacional Socialista – que, incapaz de,
sozinho, garantir uma maioria, recolhe o apoio parlamentar de outras duas
formações – BE e PCP, ambos de efetivo recorte social-democrata – que apoiam a
ação do governo sem nele participarem. Como dissemos no devido momento o PS é o grande beneficiário da situação, pois tem amarrados a um acordo, os partidos à sua esquerda; se
as coisas correrem mal, facilmente as responsabilidades serão imputadas aos
parceiros menores e se correrem bem, os louros estarão na cabeça de António
Costa. Esse acerto parlamentar resulta de algumas proximidades afetivas e
programáticas existentes, construídas em décadas de convívio em S. Bento,
nomeadamente, entre o PS e o BE; sobretudo quando se trata de isolar ou ferir a
direita mais conservadora (PSD e CDS).
Estar no
governo significa construir o orçamento, arrecadar as receitas do pote e
aplicar o pecúlio de acordo com as necessidades e sugestões da clientela;
significa a possibilidade de criação de estruturas e cargos a preencher pelos
membros do partido e de os usar na substituição dos mandarins colocados pelo
irmão gêmeo, saído do governo; significa aceitar ‘encomendas’ (subsídios,
preferências na distribuição de fundos comunitários, contratos, isenções,
perdões, dotações, actos legislativos, atrasos ou prescrições em processos
judiciais e favores em geral) de empresas e empresários, devidamente pagas com
a colocação de membros do partido em lugares bem remunerados, no âmbito da
fusão entre capitalistas e classe política; ou, mais singelamente, com
discretos pagamentos ao partido. Recorda-se o caso de um advogado, um tal
Preto, do PSD, apanhado com uma mala cheia de dinheiro entregue por um
empresário da construção; ou o molho de cheques de € 10000 entrados na conta do
CDS de Paulo Portas e que não mereceu qualquer atuação das instâncias do
regime.
Todas estas
possibilidades de captação de proventos e mordomias foram largamente
aproveitadas por muitos inflamados esquerdistas dos tempos de transição para a
democracia de mercado e que ingressaram no PS; são menores as transferências
para o PSD embora se tenha revelado uma, de grande notoriedade, a de Durão
Barroso.
Hoje a
mobilidade de gente das ‘esquerdas’ para os partidos do poder não é tão
frequente como nos primeiros tempos que se seguiram à ‘normalização’ de 25 de
novembro de 1975. Todos formam os seus jotinhas, futuros especialistas em
manipulação e aldrabice; e se mostrarem subserviência ao chefe, quando
crescerem terão direito a cargo de deputado, assessor, na administração pública
central ou local. Assim, a contratação no exterior, o recrutamento na
concorrência, já teve melhores dias; vão longe os tempos em que alguns grupos
entraram no PS à procura de amparo – da FSP, do MES (em duas ondas), da
Fraternidade Operária ou dos Renovadores Comunistas. Atualmente é mais usado o
recurso aos independentes que rapidamente rolam no plano inclinado para
acederem ao cartão de mandarim.
Tendo em conta
o afunilamento ideológico e programático em torno da gestão neoliberal da acumulação
capitalista e do regime de democracia de mercado, verifica-se uma aproximação
de estratégias e de táticas que, em bloco, consubstanciam um acompanhamento
daqueles partidos ditos à esquerda do PS, face à marcha deste último. Para
isso, precisam de nomear sempre o PS como sendo de esquerda; para se poderem
eles próprios afirmar-se como uma esquerda mais coerente, de maior quilate.
À medida que o
PS se mostra, há muito, fora do ideário da social-democracia tradicional, o seu
acompanhamento da deriva global, na política institucional, no sentido do
reacionarismo mais e mais evidente, os partidos à sua esquerda, por seu turno,
avançam na mesma direção e ocupam tímida e gradualmente consignas da
social-democracia. A estratégia daqueles confunde-se com táticas mediáticas de
colagem estratégica face às posições do PS; isto é, uma discussão quanto aos
detalhes de aplicação do TINA – There is
no alternative, com mais molho ou com menos molho.
A movimentação
social ou popular, autónoma das instituições da democracia de mercado é parca e
só a espaços se manifesta de modo visível. Baseada em lógicas sectoriais e
demasiadas vezes com filosofias grupais ou identitárias, essa movimentação tem
sido incapaz de constituir, de modo duradouro, redes rizomáticas que integrem a
pluridisciplinaridade inerente à diversidade da vida social e susceptíveis de
gerar uma formulação política. Essa lacuna no capítulo organizativo, na criação
de redes de protesto, de produção de alternativas, verifica-se a nível de cada
estado-nação e mais ainda no capítulo de espaços plurinacionais.
No seu
essencial, a fragilidade da movimentação social, prende-se com o caráter
ofuscante das instituições da democracia de mercado, do encaminhamento das
vontades para o consumismo e o pagamento de dívidas, a fuga ao despedimento e à
precariedade, que geram condutas individualizadas, individualistas e de
desistência ou desvalorização da contestação, perante a aparente força do
inimigo; este, tem sempre pronto para utilização todo o aparelho de cada um dos
estados nacionais e, em casos mais preocupantes, apelará às instâncias
multinacionais (Comissão Europeia, Eurogrupo, BCE, FMI, NATO…) que exercem
funções de supervisão, para que o funcionamento do ‘mercado’ deslize
serenamente, na sua suposta imortalidade, omnipotência, omnisciência. O aspeto
onde o protesto ou o desencanto se revelam é a abstenção nos
concursos eleitorais, tal como o voto tomado como nulo ou em branco.
Como é
evidente, há membros de partidos que se envolvem em movimentos sociais
dispostos a dar o seu melhor, sem a monitorização dada pelo chip inerente ao
cartão partidário; e que não têm comportamentos capciosos e próprios de
polícias, como em vários casos que conhecemos.
Em muitas
situações, nos movimentos sociais, a presença de membros de partidos ou grupos
ligados ao sistema político resulta em atitudes provocatórias sob a forma de
desvios à democraticidade, manobras fracionistas, procura de inserção dos
movimentos nas estratégias partidárias, controlo de funções importantes para os
movimentos, como seja a informação; e ainda através do aliciamento com
facilidades em termos de meios logísticos, contactos com a imprensa ou
deslocações, conseguidas através do partido. Se o movimento social em que se
inseriram não estiolar em desavença e oportunismo, os elementos partidários
escolhem o momento devido para sair. Os casos do Forum Social Português em
2006, o ‘Que Se Lixe a Troika’ em 2013 e da contestação contra a Cimeira da NATO em 2010, foram exemplos desses comportamentos provocatórios, em
Portugal, nos últimos anos.
4 - A crise na área da social-democracia
europeia – Portugal, Espanha, Grécia e França
a) Portugal
Na realidade a
social-democracia em Portugal só habitou o PS nos tempos em que Willy Brandt e
Olof Palme financiavam o partido para apresentar um programa social-democrata e
progressista que constituísse uma alternativa credível às propostas do PCP; o
qual, para alguns, em terras lusas, ainda comeria criancinhas...
A leitura do
programa do primeiro governo de Mário Soares mostra um radicalismo que, nos
dias de hoje, ultrapassaria qualquer concorrente na área da ‘esquerda’,
mormente dos companheiros do PS na ‘geringonça’. O PS, obtida a calmaria nas
ruas, nas fábricas, nos quartéis e terminada a descolonização, encontrou pela
frente o descalabro financeiro que gerou a intervenção do FMI e a constituição
de um governo PS/CDS em 1977. Dois anos antes, o PS nas manifestações de rua,
gritava ‘Partido Socialista, partido marxista’! E, com o PPD/PSD e mesmo o CDS,
acompanhavam todos os grupos à sua esquerda no júbilo pelas nacionalizações.
A fachada
social-democrata do PS ficou enterrada aí e confirmada posteriormente,
sobretudo nos momentos em que lhe coube remendar as situações de crise, em
1983/85 em aliança com o PSD, em 1995 (Guterres) ou 2005 (Sócrates) ou ainda
assinando as recomendações da troika
com o irmão PSD e o primo comum, o CDS, em 2012; com os custos de austeridade e
de cortes sempre alegremente transmitidos à população assalariada. Dizia-se, em
tempos, que o PS (ou Mário Soares) havia metido o socialismo na gaveta; se
alguém, no PS, ainda souber qual é a gaveta, certamente não encontrará a chave.
A manter-se a
tradição, nas últimas eleições (2015), o PS teria tido uma vitória eleitoral
retumbante, como Sócrates ou Guterres, no seguimento do desacreditado Santana
ou do fim do cavaquismo, respetivamente; e isso apesar da boa imagem de que
António Costa usufrui depois de ter afastado o insosso Seguro que cumpriu o
interregno a ver Passos dedicado, no governo, a ir além da troika, aconselhando os jovens a emigrar. Mas não aconteceu, porque
muita gente não confiava no PS; assim, o partido aumentou a sua votação em 2015
em 184 mil votos mas, situando-se 840 mil votos aquém dos registados 10 anos
antes, na primeira eleição de Sócrates.
Em Portugal,
apenas existem laivos (não assumidos) de social-democracia em partidos como o
BE ou o PCP, no último, com pinturas de vincado nacionalismo. E por esse
motivo, Costa não teve problemas com a solução criativa de ‘geringonça’ pese
embora a etiqueta de ‘esquerda radical’[4]
dada àqueles partidos, rótulo que a imbecilidade de uns quantos plumitivos lhes
colocou, por mimetismo do verificado na imprensa europeia, empenhada em criar
demónios que lancem os eleitorados nos braços dos partidos mais ligados ao
sistema financeiro e às multinacionais. O caso mais caricato será a colocação
dessa etiqueta no Syriza, desgastado gestor das diretivas provenientes de
Bruxelas e Frankfurt, aplicadas aos gregos.
A aproximação
do BE ao PS já tem algum tempo. Pode citar-se o apoio à segunda candidatura
presidencial de Alegre, muito mais efetivo do que o do PS de Sócrates, para
quem uma reeleição de Cavaco não cairia mal; como se revelou no acordo entre os
dois partidos na Câmara de Lisboa, com a presidência de Costa, que rapidamente
cooptou o vereador eleito pelo BE, um tal José Sá Fernandes, advogado sem
clientes, nem brilho.
A situação
eleitoral do BE como partido é muito frágil. Sem implantação autárquica nem
sindical e, atualmente, apenas com uma deputada no Parlamento Europeu, faz da
AR o seu lugar essencial de intervenção. Em compensação, manifesta um
verdadeiro frenesi para a presença constante nos telejornais, acompanhando a
enxurrada de fait-divers, das
questões pontuais, cultivando uma relação próxima com os media. Procura
apresentar-se em consonância com o PS, total nuns casos – negociada ou
aproximativa, noutros.
É claramente
uma volátil força eleitoral, capaz de recolher votos de descontentes, sem a
capacidade organizativa do PCP, nem vocacionado para apontar radicalidade ou
desobediência, de criticar o capitalismo
(que reduzem à versão neoliberal…),
ou o papel do Estado no controlo social ou, menos ainda, capaz de defender os
práticas anti-autoritários e democráticos na organização social, um fruto das
suas componentes trotskistas e estalinistas ou, tipicamente elitistas, de gente
proveniente de camadas médias e altas da sociedade. Precisamente, no campo do
controlo social liderou, em 2012/13 um grupo fechado – Que Se Lixe a Troika[5]
- que veio a destruir o já débil movimento social, nascido à semelhança do 15M
espanhol em 2011 e com a conivência da imprensa. Tem, tradicionalmente, uma
grande focagem nas questões de género, de orientação sexual e de direitos e,
nos últimos anos – tal como o PCP – uma posição muito conservadora e irreal, de
renegociação da dívida pública.
O caso do PCP
é diferente. O PCP tem um total domínio sobre a CGTP, central sindical
dominante que, mesmo muito enfraquecida face ao passado, está presente na
Concertação Social; e gere umas dezenas de autarquias, o que lhe permite manter
um vasto e consolidado aparelho para a colocação de quadros. Assim, tem mantido
uma base eleitoral imutável mas sólida[6],
mantida a partir de uma estrutura organizativa fortemente hierarquizada, na
qual os protagonismos não são permitidos. Desde sempre se mostrou defensor da
saída da UE e da zona euro, no âmbito de uma ‘política patriótica de esquerda’
defendida antes, como depois da intervenção da troika; essa ‘política’ é uma adaptação da ‘revolução democrática e
nacional’ definida por Cunhal, em 1964, no ‘Rumo à Vitória’ onde se defendia
uma aliança das classes trabalhadoras (conduzidas pelo ‘partido da classe
operária’, bem entendido) com sectores católicos e liberais que nunca tiveram
uma relevância consistente e duradoura no combate ao regime fascista.
b)
Espanha
No estado
espanhol, a social-democracia era protagonizada historicamente pelo PSOE,
ligado a uma central sindical, a UGT, com décadas de alternância governamental
com o PP o qual, dada a ausência de uma queda abrupta do fascismo como
aconteceu em Portugal, recolhe o apoio de uma direita nacionalista e
centralista, herdeira da tradição franquista, contra as aspirações autonómicas
ou separatistas vividas, sobretudo na Catalunha, no País Basco e na Galiza.
Também
historicamente inserido na área social-democrata pode situar-se a IU, onde
pontifica o PCE[7],
com um relevo circunscrito geograficamente (Andaluzia, Madrid e País
Valenciano) e grande influência na central sindical Comisiones Obreras (CCOO).
Nas últimas eleições incluiu-se nas coligações protagonizadas pelo Podemos, onde se
também incluíram alguns movimentos autonomistas ou separatistas.
O 15M (15 de
maio), foi um conjunto de movimentações populares iniciadas em 2011, autónomas
face à política institucional, com um caráter radicalmente democrático gerado
nas ruas e em lutas concretas e específicas de uma variedade imensa. À rapidez
com que os governos do PSOE e depois do PP agiram na reestruturação do sistema
bancário – ao contrário de Portugal - correspondeu uma crise económica e social
de menor duração do que a verificada no país vizinho, excepto no capítulo do
desemprego, estruturalmente muito elevado no estado espanhol.
Nesse
contexto, surgiu em 2014 o Podemos, como pretenso herdeiro e coordenador das
movimentações sociais dos anos anteriores; porém, com o objetivo da perda da
autonomia e da dinâmica daquelas, atraindo muitos ativistas para a inserção na
luta eleitoral e no sistema partidário, já muito dividido, sobretudo entre as
visões unitárias e as dos defensores de maiores poderes para as comunidades
autónomas ou mesmo, para a sua independência.
O líder do
Podemos, Pablo Iglésias, mostra ter como grande objetivo a liderança da
social-democracia em Espanha, retirando dividendos das responsabilidades do
PSOE e do PP na crise financeira, que se traduziu em crise social e política. A
par com o aparecimento de um outro partido – Ciudadanos – que disputa a base
eleitoral do PP, gerou-se uma situação de grande dificuldade na constituição de
um governo de maioria. A crise que vem instabilizando o PSOE, as suas
dificuldades de ter uma liderança estável e com larga aceitação, facilitam os
desejos de Iglésias que, com uma postura senhorial, tem marginalizado no
Podemos os elementos discordantes de maior gabarito - Teresa Rodriguez ou Pablo
Echenique – ou colocando outros numa posição de menor destaque, como Monedero e
Errejón, seus antigos preferidos.
Em suma, a
área social-democrata tradicional, neoliberal e de Terceira Via (o PSOE, com os
seus partidos irmãos, de recorte regional) confronta-se com uma nova onda de
reformas sociais-democratas protagonizada pelo Podemos que se pretende
apresentar como um partido novo, com novos métodos, nova linguagem e não
infetado por escândalos de corrupção; para além de o PSOE perder apoio a favor
dos partidos autonomistas, nomeadamente na Catalunha. É cedo para se saber se o
PSOE tende para a fragmentação como o PSF de Hollande, para um apagamento como
o PASOK grego, em benefício de um partido social-democrata pintado de fresco –
o Podemos; ou, se é este que falha no seu projeto, por degenerescência ou
prejudicado por uma recuperação da capacidade política e organizativa do PSOE.
Por seu turno, um terceiro partido – a IU – também na área social-democrata,
tenderá a um maior apagamento da cena política.
c)
Grécia
Na Grécia, à
profundíssima crise económica e social correspondeu o desabar dos dois principais partidos
tradicionais, do rotativismo governativo – o Pasok e a ND – Nova Democracia,
envolvidos em casos de corrupção, nepotismo e de total incúria na governação.
Daí resultou uma dívida pública colossal, jamais pagável, apesar das enormes
perdas de rendimento da população, das privatizações e das medidas impostas
pela troika, retiradas do elenco das
‘reformas estruturais’, sempre tão vagas quanto lesivas para o mundo do
trabalho. As diferenças face a Portugal são grandes, no que respeita à dimensão
da crise e à combatividade popular a que se assistiu na Grécia e não
em Portugal onde o sistema partidário
continuou funcional, assistindo-se apenas a mais um episódio do rotativismo entre PS e PSD.
A ideia do
governo Pasok de referendar o segundo plano de resgate da troika foi recusada e originou um governo de gestão dirigido por um
homem da finança, Papademos[8]
em 2011/12. Seguiu-se um novo governo da direita (ND/Pasok/Dimar) depois de novas eleições, nas quais não votou 37.5% do eleitorado e onde o Syriza se
fixou no segundo lugar com 26.9% dos votos, a curta distância da ND de Samaras.
Finalmente, em janeiro de 2015, o Syriza chegou ao poder após novas eleições[9],
convocadas na sequência da impossibilidade do Parlamento eleger um novo
presidente da república; então, a ND e o Pasok tiveram derrotas estrondosas e
Tsipras constituiu governo em aliança com o ANEL (Gregos Independentes), um
partido nacionalista de direita, adverso à UE, governo esse que seria renovado
na sequência das eleições de setembro de 2015.
O Syriza,
constituído em 2004, é uma mescla de grupos eurocomunistas, eurocéticos,
sociais-democratas, ecologistas e outros, com o predomínio dos trotskistas do
Synapismus. A sua marcha eleitoral, associada a uma recusa de aceitação da
austeridade e das imposições da troika
sobre o povo grego gerou simpatias populares na Europa onde muitos procuraram
ver no Syriza parte de um movimento europeu de resistência ao neoliberalismo, à
oligarquia bruxelense, à troika;
movimento esse onde se incluiriam o Die Linke alemão, o BE português e o
Podemos espanhol. Contudo, sendo todos eles marcados por uma lógica hierárquica,
procuram arregimentar em seu torno o apoio popular para a luta eleitoral,
dentro do sistema, para substituírem os partidos do PPE e do S&D ou,
partilharem com eles a gestão dos interesses do capital; e jamais no sentido de
ajudarem a população a promover a sua própria libertação, para a construção de
um caminho próprio de contestação ao capitalismo, às oligarquias políticas e
económicas, ao modelo de ‘democracia representativa’ e aos seus grupos
partidários. A evolução do Syriza é paradigmática de como é capciosa e ridícula
a etiqueta de ‘esquerda radical’ colocada pela imprensa aos elementos da nova
social-democracia.
O governo
Syriza propôs à troika um apoio
financeiro de € 30000 M para pagamento em dois anos destinado ao financiamento
dos bancos gregos, com dificuldades em munir a população de moeda corrente;
algo anómalo nos tempos de hoje, havendo então, na Grécia, mais dinheiro em
circulação do que em depósitos bancários, esvaziados pelos receios de que às
limitações no levantamento se seguisse uma saída do euro. Nas instâncias da UE
leva-se muito a sério a ideia de que ‘não há almoços grátis’ e a palavra
solidariedade não consta no estreito dicionário dos economicistas; daí que a UE
apoiasse um novo empréstimo desde que acompanhado por mais medidas de
austeridade.
Procurando uma
legitimação para as suas tomadas de posição, Tsipras propôs um referendo às
propostas da troika que foram
rejeitadas com uma larga maioria de 61.3% dos votos do povo grego, consciente
de que a austeridade não resultava, que um seu acréscimo não seria solução,
sendo a chantagem da UE inaceitável. Autocraticamente, Tsipras e a maioria dos
chefes do Syriza, desrespeitaram o veredito ditado pelo povo grego no referendo
e aceitaram as exigências das instituições da UE[10],
com o apoio dos partidos da direita liberal ou conservadora. O Syriza procedeu
como é típico em todas as classes políticas – o povo só tem razão quando
subscreve as opiniões dos mandarins e os interesses corporativos que eles
defendem. Em setembro[11]
de 2015, Tsipras[12]
apresentou-se a concurso eleitoral e mantém-se, desde então, como o gerente da troika em terras helénicas.
Embora existindo
outros países com dificuldades financeiras abrangidos por programas severos de
austeridade – Portugal, Espanha, Itália, Chipre – não existiu nenhum laivo de
movimento de solidariedade ou de apoio institucional por parte daqueles países,
para mais com partidos conservadores no poder. Apesar de todas estas cedências
e compromissos, o Syriza ainda é referido na imprensa europeia como parte da
‘esquerda radical’…
Para terminar
esta abordagem sobre a Grécia, refira-se a consonância habitual entre a ND e o
Pasok, em todo o processo, a que se juntou o Syriza, depois da capitulação
deste partido perante a troika.
d)
França
Em França, a
social-democracia clássica, protagonizada pelo PSF está morta, como moribundo
parece estar o partido, depois da magistral habilidade de Hollande em o
debilitar. Tudo indica que Macron vai procurar colocar-se num mesmo plano com
Merkel para a gestão da UE, ao mesmo tempo que se focará nas ‘reformas
estruturais’ no dito mercado de trabalho, tendo também já autorizado buscas sem
intervenção judicial, pela polícia, em nome da luta contra o terrorismo, cuja
eficácia é discutível mas que constitui mais um elemento de arbitrariedade ao
serviço do poder. Macron visualiza-se como um misto de tecnocrata neoliberal e
de homem providencial que irá unir os trânsfugas do sistema partidário francês,
num serviço unificado de favorecimento do capital. Aliás, a eleição de Macron,
foi festejada discretamente por quem dela mais beneficiará.
As eleições
legislativas francesas de dia 11 dão um passo decisivo para a construção de uma
amálgama que junta mandarins de segunda, dispostos a tudo para vingar na vida,
fugidos do PSF e assanhados tecnocratas; todos considerando Macron o homem
providencial – como um novo de Gaulle – capaz de concretizar o grande sonho do
capital – maximizar os lucros e minimizar a democracia.
Na falta de
uma narrativa política transformadora e de gente fiável a concurso, a maioria
dos franceses revelou no dia 11 de junho a confiança e as esperanças com que
encararam as eleições; aumentando o nível de recusa (mais de 51% contra 42.8%
em 2012) a escolher entre os vários hipnóticos concorrentes. Aliás, no âmbito
de um sistema viciado e não democrático, quando se vota, está-se a legitimar a continuidade desse mesmo
sistema e os resultados que dele imanam.
Claro que
Macron não ficará dono de todo o terreno. Para além do bolor corrupto que emana
de Sarkozy ou Fillon e ainda da fascista Le Pen, haverá um grupo de valentes
gauleses que adoptaram a poção mágica da social-democracia, debruada pelos
ensinamentos do velho Trotsky. Referimo-nos ao France Insumise de Mélenchon,
ele próprio um membro do PSF até 2008, em nome do qual foi ministro da Educação
e que parece seguir o caminho trilhado há pouco mais de dez anos pelo Die Linke
alemão. Neste último, em 2005, fundiram-se ex-membros da nomenklatura da RDA,
com Oskar Lafontaine, ex-ministro das Finanças até 1999 e outros descontentes
saídos do SPD. O Die Linke, constitui também, há muito, a matriz de referência
do BE português.
Segundo Pablo
Iglésias no seu prólogo a um livro recente de Mélenchon ‘El Arenque de
Bismark’, o francês, como líder do Parti de Gauche fala de pátria e, nas
presidenciais de 2012 disse que, se eleito, ‘faria desfilar as forças armadas
pelos Campos Elíseos’... uma tirada militarista, certamente para impressionar
os poderes financeiros. Mais recentemente, Mélenchon mostrou o seu patriotismo
na campanha presidencial rodeando-se de tricolores tal como Mme LePen; ambos
preferem os capitalistas nacionais aos estrangeiros, para exercerem os seus
direitos de saque sobre os trabalhadores nacionais… naturalmente. Com
‘esquerdas’ assim, está aberta uma autoestrada para Macron; e sem portagens.
Perante as
malfeitorias do capital financeiro global e das oligarquias europeias e
globais; perante todas as desigualdades regionais e sociais que daí resultam, a
solução será um retorno ao primado do estado-nação e à defesa das bondosas
oligarquias nacionais? Perante tal miopia, Marx voltaria a dizer que a História
se repete como farsa, a seguir a uma tragédia.
e)
Um manifesto da ‘esquerda
radical’ europeia
Para terminar,
vamos abordar, de modo sumário, um manifesto designado ‘Os desafios da esquerda na zona euro’ surgido em fevereiro, assinado por 70 pessoas[13],
na sua maioria universitários e deputados, oriundos da ‘esquerda radical’
europeia; e aos quais a plebe se deverá mostrar rendida perante tanto saber.
Fala-se nele
da necessidade de os governos de esquerda desobedecerem, o que pressupõe que os
‘radicais’ constituam governo; e reconhecem que para isso é preciso existir uma
mobilização popular que, acrescentamos nós, precisará de uma vanguarda,
naturalmente com forte presença dos signatários, de acordo com o catecismo
trotskista.
Fala-se de
socialização da banca e dos seguros sem se considerar uma alteração basilar nas
suas funções; que não deverão ser a criação irrestrita de dinheiro e a
especulação mas a gestão das poupanças, coisa que nenhum estado capitalista
fará, mesmo com ministros da ‘esquerda radical’.
Quando se
aponta para a dívida refere-se a necessidade de uma auditoria cidadã, que nunca
foi feita na Europa, apenas assomada na Grécia, antes das eleições de setembro
de 2015 e da capitulação de Tsipras. Em Portugal não houve e, muito menos,
aberta à cidadania, existindo apenas mais uma burla política, como em devido
tempo frequentemente anunciámos[14].
Por outro lado, não se pensa em enquadrar a dívida pública no capítulo prévio
da sua legitimidade, como instrumento do capital financeiro para criar uma
renda junto dos povos[15];
adoptando o pensamento típico dos banqueiros, uma dívida é sempre para pagar…
mesmo quando imposta para limpar de imparidades os balanços dos bancos.
Procede-se
também a uma proposta de criação de uma moeda nacional, não convertível e
complementar ao euro. Este, vigoraria nas transações externas, ficando por se
saber como seriam colmatados os desequilíbrios nas contas com o exterior; se
através de entrega de moeda forte, ou ouro como nos tempos do mercantilismo, ou
diluído através dos des(equilíbrios) gerados pela inflação, pela desvalorização
do trabalho para aumentar a competitividade nacional. No entanto, afirma-se…
‘que está fora de causa procurar uma saída nacionalista para a crise’…
Uma saída do
euro[16]
será, dizem, condição para romper com a austeridade e ‘lançar uma transição
ecossocialista’ seja esta o que se quiser dela entender.
Não se fala de
política fiscal comum, de harmonização salarial, na base de um salário mínimo
comum, como nada se diz em relação em relação aos gastos com a defesa que estão em perspetivas de aumento, por indicação de Trump.
Fala-se de
‘desprivatizar’ uma vez que estatizar e nacionalizar têm má reputação dado o
papel que as empresas nacionalizadas têm tido na produção de deficits, na
colocação de mandarins e corruptos partidários, como instrumentos de regimes
totalitários. Na ‘esquerda radical’ quando se diz ‘reforçar e ampliar os
serviços públicos sob controlo cidadão’ pretende-se dizer controlo pelo Estado,
sendo este, obviamente, ocupado por gente ‘séria’, elementos dos partidos da
‘esquerda’, numa reedição típica das transições para o ‘socialismo’. Se querem
ver alguém da ‘esquerda radical’ fazer um sorriso amarelo, falem-lhe de
ausência de aparelho de estado, democracia direta, autogestão.
É por estas e
muitas outras razões que Toni Negri pergunta se na Europa há alguma esquerda…
Este e outros
textos em:
[1] Num misto de ignorância ou conveniência, há quem considere, no que concerne às próximas eleições autárquicas portuguesas, um avanço substancial, o surgimento de listas de ‘independentes’. Não nos parece que seja assim e por dois motivos. Primeiro, porque na maioria dos casos, os tais independentes são pessoas com vínculos partidários mas em conflito com a direção da agremiação; isto é, são portadores do vírus autoritário e elitista que carateriza os partidos. Em segundo lugar, porque os independentes, podem resultar da agregação de um grupo de amigos, interessado em aceder ao poder para fins muito particulares, de prática de nepotismo e corrupção. Em qualquer dos casos, nada se altera no caráter autoritário, discricionário e irrevogável dos eleitos.
[2] Uma autarquia só será democrática se o elenco dos eleitos obedecer a prerrogativas como as aqui espelhadas, a título de exemplo http://grazia-tanta.blogspot.pt/2015/05/um-modelo-democratico-para-os-municipios.html
[3] União de dois partidos, na Primeira República, dirigida por António José de Almeida, para fazer face às dificuldades decorrentes da entrada na I Guerra. Houve um género de União Sagrada entre o PS, o PSD, e o CDS com a assinatura do memorando da troika
[4] O conceito é recente, como resultado do interesse suscitado, sobretudo com os resultados do Syriza nas eleições de 2012 e por autores como Franco Cazzola, Luke March ou André Freire que se cingem aos grupos participantes em eleições e não a uma abordagem da radicalidade à esquerda entre os povos europeus.
[5] O seu objetivo único era pugnar por eleições, em pleno período de vigência da intervenção da troika, com o PSD e o CDS no poder e o PS pouco interessado em arcar, então, com responsabilidades governativas, preferindo esperar a erosão do governo Passos; nem as oligarquias externas permitiriam essa ‘instabilidade política’. Qualquer mudança não sairia do sistema partidário; apenas de uma fortíssima mobilização social, democrática e com um programa avançado, para que o QSLT não estava mandatado pelas cúpulas partidárias - do BE e do PCP - que o enformaram; clamar por eleições foi uma jogada de diversão de conservadores que aceitam o capitalismo, a democracia de mercado e que vão beneficiando das transferências do pote. O grau de influência do BE no QSLT era muito grande, sendo seu líder, um familiar de Louçã. Terminou sob a forma de farsa como desenvolvidamente se pode observar aqui http://bilioso.blogspot.pt/2013/10/o-concerto-de-s-bento.html ehttp://bilioso.blogspot.pt/2013/04/o-qslt-e-sentenca-de-morte-politica.html
[6] Nas últimas quatro eleições para a AR recolheu 432 mil votos (2005), 446 mil (2009), 440 mil (2011) e 445 mil (2015) (ver gráfico)
[7] Têm décadas as divergências com o PCP. O PCE, no seguimento da condenação da invasão da Checoslováquia em 1968 enveredou pela defesa do eurocomunismo, secundando as posições do PCI de Enrico Berlinguer, de distanciamento face às posições políticas do PCUS; o PCP foi o único que apoiou aquela intervenção militar, entre todos os PC’s ocidentais. A pouca concertação entre os dois partidos ibéricos resulta também da posição nacionalista e de desconfiança do PCP face a Espanha, procurando sempre marcar uma posição de vincado apoio ao PCUS e à política da URSS, para evitar qualquer subalternidade face ao PCE; uma correspondência com a geopolítica tradicional portuguesa de ancorar a sua ligação ao exterior nas relações com a Inglaterra para obviar a uma influência hegemónica espanhola (http://grazia-tanta.blogspot.pt/2017/05/para-uma-breve-historia-de-uma.html ).
[8] Ferido através de uma carta armadilhada dia 25 de maio último https://www.publico.pt/2017/05/25/mundo/noticia/exprimeiro-ministro-grego-lucas-papademos-ferido-em-atentado-em-atenas-1773457
[9] Na ocasião demonstrámos a nossa solidariedade com o povo grego http://grazia-tanta.blogspot.pt/2015/02/solidariedade-com-o-povo-grego.html
[10] Sucintamente, ausência de crescimento do PIB até 2017; 2015, último ano de deficit primário; mais impostos, menos benefícios fiscais e introdução do pagamento especial por conta, cortes na defesa, reformas na segurança social, redefinição da categoria de agricultor, com redução de benefícios fiscais, privatizações para pagar a recapitalização dos bancos, maior liberalização da atividade económica e luta contra a evasão fiscal (€ 70000 M, correspondentes a 39% do PIB !)
[11] A abstenção passou para 43.4% (mais 775 mil pessoas do que em janeiro do mesmo ano), com todos os principais partidos a perderem apoio excepto os fascistas da Aurora Dourada e o Pasok, beneficiando o desacreditado Syriza do voto de quantos o preferiram face ao um retorno da direita tradicional ao poder.
[12] Entretanto (agosto) já 14 aeroportos gregos haviam sido privatizados a favor de um grupo alemão (Fraport-Slentel) apesar da promessa de Tsipras feita em janeiro de cancelar o programa de privatizações http://expresso.sapo.pt/internacional/2015-08-18-Alemanha-e-a-nova-dona-de-14-aeroportos-gregos
[13] Já em 2014, membros da classe política portuguesa (exceptuando o PCP) havia lançado com grande pompa um Manifesto dos 74 que não teve quaisquer consequências https://www.dinheirovivo.pt/economia/leia-aqui-o-manifesto-dos-74-preparar-a-reestruturacao-da-divida-para-crescer-sustentadamente/
[14] http://www.slideshare.net/durgarrai/sobre-a-ideia-enganadora-da-auditoria-dvida
http://www.slideshare.net/durgarrai/precisa-se-esprito-crtico-sobre-esta-auditoria-cidad-dvida-pblica
http://www.slideshare.net/durgarrai/dvida-pblica-entre-o-pagamos-e-depois-logo-se-v-e-o-no-pagamos-at-ver-vai-uma-grande-distncia
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2013/05/a-iac-mandou-toalha-ao-chao.html
[15] http://grazia-tanta.blogspot.pt/2016/11/a-divida-como-troca.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2016/12/como-o-sistema-financeiro-captura.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2017/01/como-o-sistema-financeiro-captura.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2017/01/como-o-sistema-financeiro-captura_14.html
[16] http://grazia-tanta.blogspot.pt/2014/07/portugal-deve-sair-do-euro-sim-ou-nao-1.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2014/08/portugal-deve-sair-do-euro-sim-ou-nao-2.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2014/09/a-nao-solucao-com-um-novo-escudo-1.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2017/05/europa-periferias-e-desastres.html
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