No mundo de hoje, as ditas vantagens competitivas resultam menos dos baixos
custos salariais e muito mais da qualificação, da tecnologia e da capacidade
organizativa na produção de bens e serviços. Expliquem isso aos empresários
lusos, mais apostados em sujos favores
obtidos à custa da carga fiscal sobre o trabalho e o consumo
Sumário
1 – Ligeira introdução sobre
economia
2 – Evolução dos custos do trabalho
na Europa (2000/16)
3 - Custos laborais na Europa – abordagem
alargada e detalhada
3.1 - Indústria
3.2 - Construção
3.3 - Serviços à indústria e
comerciais
3.4 - Comércio e reparação de
veículos
3.5 - Alojamento e restauração
1 – Ligeira introdução sobre
economia
Se uma empresa funcionar com baixa
tecnologia, pouco exigente em qualificação dos trabalhadores, não terá elevada
produtividade e não poderá pagar elevados salários; e, se tiver baixos
salários, mesmo com tecnologia, certamente não terá um quadro de pessoal
estável e motivado, nem contribuirá para a existência de um poder aquisitivo
elevado da população. Se tiver baixos níveis de capitais próprios e depender em
demasia de financiamento bancário, ficará com pouca margem para investir e/ou
pagar salários condignos a trabalhadores qualificados; se os seus gestores
praticarem uma promiscuidade entre os bens familiares e os que serão afetos ao
negócio, podem ficar ricos mas, a empresa arrisca a falência; e haverá outras
combinações que não conduzem a negócios prósperos e duráveis. Em todos esses
casos, está-se muito longe da lógica austera do protestantismo escocês do
século XVIII que influenciou Adam Smith, uma lógica que, aliando a argúcia com
grande capacidade de trabalho, permitiria a acumulação de capital.
Há quem considere que um baixo custo
da mão-de-obra é, só por isso, um gerador
de mais competitividade e não é, sobretudo de modo sustentado. Os países
mais ricos, são aqueles onde os custos laborais são mais elevados, porque a essa
situação corresponde maior produtividade, um maior valor acrescentado incluído
nos bens ou serviços produzidos e ainda um mais elevado poder de compra. Se o
baixo salário fosse a grande vantagem que os tecnocratas bruxelenses enquadram
como parte das “reformas estruturais”, em Portugal, nos últimos anos,
ter-se-iam observado catadupas de investimento estrangeiro; o que não
aconteceu.
Os países ricos ou os países pobres
tendem a consolidar especializações produtivas distintas que alicerçam níveis
de vida e de preços também distintos, o que desemboca nas grandes desigualdades
existentes no planeta. Nos países com estruturas produtivas alicerçadas em tecnologias,
investimento em equipamentos e conhecimento, as altas produtividades surgem e ligam-se
a trabalhadores altamente qualificados, com salários elevados, em termos
relativos.
Onde essas estruturas não existem,
estão criadas as condições para a não vigência de altas produtividades, ou salários
elevados; e, se se formarem elevados lucros, eles resultam não tanto da
atividade económica mas, da sobre-exploração do trabalho, sobretudo menos
qualificado e muito das chamadas “externalidades”, dos favores obtidos junto
dos poderes públicos, mormente da corrupção, da garantia da existência de uma leviana gestão da punção
fiscal ou contributiva, da existência de reguladores do mercado, convenientemente estrábicos.
Nesse plano, as pessoas mais
habilitadas para laborarem em áreas exigentes de maiores qualificações, se nativos
de países onde os níveis de especialização são mais modestos, tendem a
deslocar-se, a emigrar para os mais ricos, onde essas qualificações são mais
bem remuneradas; há muitos anos isso sucede – é o brain drain. Assim, os países de acolhimento, os mais ricos,
recolhem gente qualificada, cuja formação foi paga pelas famílias e pelos
estados de rendimentos menores. Inversamente, não há fluxos significativos de
pessoas de países desenvolvidos disponíveis para aceitar níveis salariais
típicos de países menos desenvolvidos, baixos; havendo sim, aposentados, cujas
pensões lhes permitem viver nesses países, de menor custo de vida e de clima
mais aprazível.
Os custos do trabalho desempenhado
com baixo recurso a tecnologia e pouco exigente em conhecimentos por parte de
quem o executa, conduzem ao subdesenvolvimento e à pobreza e viabilizam
empresas afastadas da tendência global do capitalismo, de investimento em
capital fixo e conhecimento, para aumentar a produtividade, reduzir o custo da
produção e vencer a concorrência.
Nenhum país desenvolvido, com
intensiva utilização de tecnologias, exigente de trabalho qualificado, pode
existir com os custos laborais vigentes em países menos desenvolvidos; porque
os mais qualificados imigrariam para países concorrentes (hoje, sem a
necessidade de deslocações “a salto”) e os qualificados de países mais pobres
não se deslocariam para lá sem vantagens significativas, face à situação nos seus
países de origem.
Perante essa impossibilidade, o
capitalismo avançado gerou a segmentação da produção em parcelas, deslocando os
componentes com um fabrico menos exigente em tecnologia para países de baixo
salário; e, com as tecnologias de informação isso tornou-se trivial e extensivo
também a áreas de serviços. Nos casos em que essa deslocalização não é fácil ou
conveniente, por motivos estratégicos, procede-se à contratação de
trabalhadores qualificados em países menos desenvolvidos, facilmente atraídos
para a migração, precisamente porque no país de destino, as suas qualificações,
sendo mais necessárias, tornam-se objeto de melhores remunerações, mesmo que,
muitas vezes, haja um desfasamento relativamente a colegas autóctones. Por
outro lado, razões históricas quanto a direitos no campo da educação, da saúde,
da habitação, na reforma, por exemplo, alicerçam uma qualidade de vida só
possível com elevados rendimentos e uma distribuição não muito recessiva, que permita
o alto poder de compra que garanta a continuidade do modelo económico e social,
com a acumulação capitalista a acontecer, sem grandes sobressaltos.
2 – Evolução dos custos do
trabalho na Europa (2000/16)
A evolução do custo médio por
assalariado é revelador, não só das grandes desigualdades existentes na Europa resultantes
da especialização produtiva, das capacidades das empresas em termos de financiamento,
equipamento, gestão, como da estrutura da predação fiscal e das capacidades dos
trabalhadores em impor as suas reivindicações.
É abissal a
diferença nos custos do trabalho entre os oito países selecionados no
gráfico que se segue e que se agravou claramente no período em observação:
essas diferenças são históricas, ainda que agravadas com a intervenção de troika, com o conveniente acordo das
correspondentes classes políticas, cujos partidos se dividem em dois grupos -
os que aplicam a receita num andamento presto
e os outros que gritam da plateia, ma non
tropo!
Fonte primária: Custo na indústria,
comércio e serviços (excepto administração pública, defesa e seg. social Fonte primária:
Eurostat
a) Se até 2008 os custos do trabalho cresciam regularmente – em Portugal de
modo muito anémico – a partir de 2012 esses níveis de crescimento abrandam
substancialmente (Alemanha e França); estagnam (Irlanda, Itália, Espanha e
Portugal) ou decaem (Grécia e Chipre). O capitalismo, enquanto canalizava
apoios públicos para colmatar o descalabro no sistema financeiro procedia a uma
global e enorme redistribuição regressiva dos rendimentos, em desfavor do
trabalho. Assim, estabilizou o custo do trabalho e, para o efeito, criou
enormes bolsas de trabalhadores no desemprego, na precariedade, na reforma
antecipada, apoiou o aumento do tempo de trabalho não pago; com a utilização de
imigrantes e refugiados fugidos da miséria ou da guerra e disponíveis para a
aceitação de baixas remunerações e poucos direitos; com a criação de enormes
contingentes de trabalhadores pobres e a transformação dos sindicatos em gestores
dos interesses estratégicos do capital.
b) Tomando o caso de Portugal como o país com o mais baixo custo laboral,
entre os selecionados, verifica-se que em 2000, o custo de um trabalhador
alemão era 2.2 vezes superior ao de um português e em 2016, 2.4 vezes; em 2004
e em 2016, o custo de um trabalhador francês era, respetivamente, 2.5 e 2.6
superiores aos seus congéneres lusos; e, nos casos da Irlanda ou da Itália a
relação entre o custo laboral de um trabalhador naqueles países em 2000, face a
um trabalhador português era de 1.8 em ambos, passando para 2.2 e 2.0,
respetivamente, em 2016.
As diferenças podem parecer pouco
significativas mas, deverá ter-se em consideração de que se trata de parâmetros
estruturais e não conjunturais; revelam tendências que se prendem com a maior
ou menor relevância de um país no contexto global, com os níveis de remuneração
do trabalho, elementos que não evoluem de modo brusco. A não ser, no contexto
de alterações políticas profundas, como aconteceu em Portugal, em 1975, onde os
trabalhadores souberam impor novas regras, aproveitando a deliquescência do
poder político, da paralisia do aparelho repressivo, na sequência da queda do
fascismo.
c) A comparação com a Espanha tem particular significado. Os custos com a mão-de-obra
em Espanha eram 29% mais elevados em 2000, 59% em 2008 mas ainda 55% acima em
2016, apesar da violenta crise financeira e dos elevados níveis de desemprego.
O deficit comercial português face a Espanha é enorme e revela que o custo laboral
pode ser uma vantagem comercial mas, como se vê, nem sempre é determinante.
d) Chipre e Grécia, os países com níveis custos muito próximos dos portugueses
em 2000 afastaram-se particularmente até 2008 e, apesar do retrocesso
posterior, continuam acima dos valores registados para Portugal, na sequência neste
último, da estagnação daqueles custos desde 2012.
Como demonstrámos tempos atrás,
Portugal é um caso de desastre periférico no
contexto europeu e vem protagonizando uma situação periférica agravada no
restrito contexto ibérico, como os elementos atrás referidos corroboram. Os baixos custos do
trabalho correspondem (sempre) insuficientemente às propostas dementes das
instituições europeias e, só um patronato descapitalizado, dependente dos
apoios públicos e culturalmente indigente, em parceria com uma governação
complacente, decide aumentar o salário mínimo com compensações na taxa social
única que abastece a Segurança Social. Finalmente, perante tanta tentativa de aumento
da competitividade dos custos salariais em Portugal, conseguida pela ação dos
governos, pela não ação dos sindicatos, pela inação da sociedade e com o
patrocínio das instituições da UE ou do FMI, o que constitui uma perplexidade é
que os capitais estrangeiros não se atropelem para investir no país…
3 - Custos laborais na Europa –
abordagem alargada e detalhada
Consideremos uma comparação, entre
2008 e 2016, do custo horário da mão-de-obra para a generalidade da atividade
económica – indústria, construção e serviços – onde estão excluídos, a
administração pública, bem como a defesa e a segurança social obrigatória, para
todos os países da UE e incluindo ainda a Noruega. Por custo horário entende-se
o encargo patronal com o salário e as contribuições obrigatórias para a
segurança social, deduzidos de quaisquer subsídios recebidos pelo patrão.
Fonte primária: Custo na indústria,
comércio e serviços (excepto administração pública, defesa e seg. social Fonte primária:
Eurostat
a) Mantêm-se os baixos indicadores dos
países de Leste, embora alguns apresentem um crescimento, proporcionalmente
elevado, como a Estónia, a Eslováquia ou a Bulgária, que continua, no entanto,
com os valores absolutos mais baixos da UE;
b) Os países mais ricos são aqueles que apresentam maiores aumentos
distanciando-se, claramente, dos demais, excepto nos casos da Irlanda ou da
Itália, com problemas graves originados nos seus sistemas financeiros. E essa
realidade é transversal aos países adoptantes ou não do euro;
c) A Grécia é o único caso em que os custos da mão-de-obra se reduzem, em
termos absolutos no lapso de oito anos considerado, por razões que são conhecidas;
d) Portugal apresenta-se num grupo de países da orla Sul da UE que apresentam
valores aproximados – Malta, Grécia (apenas em 2016), Eslovénia e Chipre –
muito distanciados dos parâmetros dos países ricos, muito menos afetados com a
crise financeira e isentos da intervenção autoritária das instituições do
capital global (BCE, FMI, Comissão Europeia).
Procede-se em seguida a uma
avaliação dos custos com o trabalho, para alguns dos setores mais relevantes de
atividade, para todos os países da UE, incluindo ainda a Noruega. Nessa
avaliação contemplam-se os valores em euros por hora relativos a 2016 e ainda
as variações entre 2008 (ou 2012, em alguns casos) e o ano findo.
3.1 - Indústria
INDÚSTRIA
|
|||||
2016 (€)
|
2008/16 (%)
|
2016 (€)
|
2008/16 (%)
|
||
UE
|
26,6
|
2,8
|
Grécia
|
15,1
|
-1,6
|
Alemanha
|
38,8
|
2,4
|
Holanda
|
36,1
|
2,2
|
Áustria
|
36,0
|
2,7
|
Hungria
|
8,3
|
1,0
|
Bélgica
|
44,2
|
2,3
|
Irlanda
|
32,5
|
1,5
|
Bulgária
|
4,2
|
8,5
|
Itália
|
27,8
|
1,9
|
Chipre
|
14,4
|
0,2
|
Letónia
|
7,5
|
3,4
|
Croácia
|
9,2
|
0,7
|
Lituânia
|
7,3
|
3,5
|
Dinamarca
|
43,9
|
3,3
|
Luxemburgo
|
31,8
|
1,4
|
Eslováquia
|
10,9
|
5,7
|
Malta
|
13,0
|
0,6
|
Eslovénia
|
16,4
|
3,4
|
Noruega
|
59,1
|
5,0
|
Espanha
|
23,3
|
1,5
|
Polónia
|
8,5
|
1,7
|
Estónia
|
10,9
|
5,9
|
Portugal
|
11,3
|
1,3
|
Finlândia
|
37,1
|
3,0
|
Rep. Checa
|
10,3
|
1,8
|
França
|
38,3
|
2,0
|
Roménia
|
5,1
|
3,8
|
Grã-Bretanha
|
26,0
|
2,3
|
Suécia
|
42,3
|
2,7
|
Fonte primária: Níveis de custo da mão-de-obra, Eurostat
a) No caso da indústria os valores dos custos do trabalho mostram bem as
profundas desigualdades no seio da UE. Em 2016, o valor mais elevado, relativo
à Bélgica, era cerca de 10.5 vezes superior ao da Bulgária, país que
apresentava o mais baixo valor;
b) Claramente acima da média da UE - € 26.6 – situam-se os países a norte dos
Pirinéus e a oeste da Áustria. Em torno da média comunitária encontram-se a
Itália e a Grã-Bretanha ou mesmo a Espanha, um pouco mais abaixo. A média da UE
revela-se como resultado da ponderação entre um conjunto de países ricos e
outro de países de baixos custos da mão-de-obra, com alguma desertificação dos
valores próximos dessa média, evidenciando o fosso existente no seio da UE; uma
estrutura muito assimétrica em que o valor médio é apenas uma referência
estatística;
c) É bem evidente o afastamento da média europeia por parte dos países mais pequenos
da orla mediterrânica ou daqueles, a Leste, aderentes da UE depois de 2004.
Como se sabe a UE foi relativamente homogénea até 1981 com a entrada da Grécia,
aumentou a sua heterogeneidade em 1986 com a entrada dos países ibéricos e,
sobretudo depois de 2004, após a desintegração do bloco de Leste e da
Jugoslávia;
d) Portugal apresenta-se numa situação pouco interessante. Apresenta, de longe,
os níveis mais baixos da faixa atlântica, aquém dos países da orla
mediterrânica e a par com alguns situados a Leste que, provavelmente se
situarão, dentro de alguns anos numa situação menos desfavorável. A ideia de
baixa estratégia existente na classe política portuguesa, na perspetiva de se
situar, em 1986 como apresentando os mais baixos custos laborais da UE,
gorou-se após a queda do Muro de Berlim; a histórica insistência na lógica dos
baixos custos salariais não enriqueceu o país, não atraiu investimento
estrangeiro qualificado, foi acompanhada por uma significativa subida relativa
dos níveis de qualificação e, aumentando o caráter periférico no seio da UE,
conduz a um Portugal que parece ser desejado como um Cancun europeu. Do
exterior, Portugal é encarado como uma periferia europeia e ibérica, para
negócios de circunstância ou refúgio para capitais mafiosos;
e) Entre 2008 e 2016, o aumento médio do custo da mão-de-obra na UE foi de
2.8%, valor ultrapassado particularmente pelos países bálticos ou balcânicos,
de adesão mais recente, que assim ganham terreno no sentido da aproximação dos
padrões médios da UE;
f) Se a realidade se coadunasse com as imbecis premissas economicistas, os
capitais e as empresas tenderiam a abandonar os locais com custos laborais mais
elevados do que a Bulgária e este país estaria com… falta de espaço e com
emigrantes a chegar de todos os lados à procura de trabalho. E, em
contrapartida, a Noruega só ficaria com as pessoas que trabalham na extração de
petróleo ou nas pescas, não deslocalizáveis, por natureza.
3.2 - Construção
CONSTRUÇÃO
|
|||||
2016 (€)
|
2008/16 (%)
|
2016 (€)
|
2008/16 (%)
|
||
UE
|
23,3
|
2,8
|
Grécia
|
11,2
|
-3,5
|
Alemanha
|
27,1
|
2,4
|
Holanda
|
34,7
|
1,8
|
Áustria
|
31,7
|
2,5
|
Hungria
|
6,0
|
-0,4
|
Bélgica
|
34,4
|
2,5
|
Irlanda
|
27,1
|
-0,3
|
Bulgária
|
3,6
|
10,0
|
Itália
|
23,4
|
0,8
|
Chipre
|
14,3
|
0,2
|
Letónia
|
7,4
|
4,3
|
Croácia
|
9,0
|
1,6
|
Lituânia
|
7,2
|
1,1
|
Dinamarca
|
39,1
|
2,2
|
Luxemburgo
|
25,2
|
2,4
|
Eslováquia
|
9,3
|
4,1
|
Malta
|
9,2
|
1,0
|
Eslovénia
|
11,6
|
0,4
|
Noruega
|
44,0
|
5,0
|
Espanha
|
20,1
|
1,5
|
Polónia
|
7,6
|
0,9
|
Estónia
|
11,6
|
3,6
|
Portugal
|
11,9
|
2,8
|
Finlândia
|
34,1
|
2,6
|
Rep. Checa
|
9,4
|
1,0
|
França
|
31,4
|
1,5
|
Roménia
|
4,3
|
2,9
|
Grã-Bretanha
|
27,9
|
2,2
|
Suécia
|
39,9
|
3,5
|
Fonte primária: Níveis de custo da
mão-de-obra, Eurostat
a) Em regra, os custos laborais na construção são inferiores aos da indústria,
observando-se as maiores diferenças na Noruega, na Alemanha e na Bélgica. A
situação inversa, ainda que sem grandes diferenciações, regista-se na
Grã-Bretanha, Estónia e Portugal, neste último caso, devido à grande atividade
relacionada com o imobiliário, na sequência da maior procura turística;
b) Também aqui se mostram as grandes desigualdades no espaço europeu. Os custos
laborais mais elevados, na Suécia, representam 11.1 vezes o custo homólogo na
Bulgária;
c) Acima do valor médio da UE (€ 23.3 em 2016) estão todos os países das orla
norte e ocidental da Europa, incluindo aí a Áustria. A Itália marca o ponto de
separação face ao resto dos países a Sul e a Leste, seguida da Espanha que, por
sua vez, se coloca a grande distância dos restantes;
d) Portugal situa-se num mesmo plano da Eslovénia e da Estónia, situando-se na
escala descendente a Roménia e a Bulgária, em último lugar;
e) No que se refere aos aumentos médios anuais no período, só um pequeno e
heterogéneo grupo de países ultrapassa o indicador para toda a UE (2.8%), com
relevo para o grande acréscimo na Bulgária. Portugal surge com um indicador
igual à média comunitária em contraste com o que se verificou para a indústria,
na qual o crescimento foi bem inferior;
f) Note-se ainda que no período tomado, os custos laborais na construção para
a Grécia, a Hungria e a Irlanda, decaíram.
3.3 - Serviços à indústria e
comerciais
Serviços à indústria e comerciais
|
|||||
2016 (€)
|
2008/16 (%)
|
2016 (€)
|
2008/16 (%)
|
||
UE
|
25,8
|
2,4
|
Grécia
|
13,8
|
-1,8
|
Alemanha
|
30,5
|
2,2
|
Holanda
|
32,5
|
1,7
|
Áustria
|
31,8
|
3,5
|
Hungria
|
8,5
|
0,3
|
Bélgica
|
40,6
|
1,7
|
Irlanda
|
28,1
|
0,8
|
Bulgária
|
4,7
|
9,3
|
Itália
|
26,9
|
0,8
|
Chipre
|
16,3
|
0,3
|
Letónia
|
8,3
|
3,2
|
Croácia
|
10,7
|
1,7
|
Lituânia
|
7,7
|
3,5
|
Dinamarca
|
43,7
|
2,5
|
Luxemburgo
|
39,7
|
2,4
|
Eslováquia
|
10,7
|
4,6
|
Malta
|
12,8
|
1,7
|
Eslovénia
|
16,6
|
1,6
|
Noruega
|
47,9
|
3,7
|
Espanha
|
20,1
|
1,1
|
Polónia
|
8,5
|
1,7
|
Estónia
|
11,5
|
5,0
|
Portugal
|
14,3
|
1,5
|
Finlândia
|
32,0
|
2,9
|
Rep. Checa
|
10,5
|
0,9
|
França
|
36,1
|
1,7
|
Roménia
|
6,0
|
3,8
|
Grã-Bretanha
|
25,9
|
3,1
|
Suécia
|
40,4
|
2,5
|
Fonte primária: Níveis de custo da
mão-de-obra, Eurostat
a) Para o conjunto da UE, os custos laborais dos serviços à indústria e
comerciais são ligeiramente inferiores aos observados para a indústria mas, uma
vez mais, a média nada diz sobre a diversidade das situações em cada país. Em
quase todos os países ricos da Europa os custos laborais na indústria são
superiores aos dos serviços, com excepção do Luxemburgo, devido ao peso que o
sistema financeiro tem ali. As diferenças mais nítidas observam-se na Noruega e
na Alemanha;
b) Nos restantes países, há alguns em que o padrão verificado para os mais ricos
também é aplicável, com maior realce no caso de Espanha. Na maioria dos países
mais pobres, os custos com a mão-de-obra nos serviços são ligeiramente
superiores aos observados na indústria. Portugal é o caso em que há maior
afastamento nos custos laborais nos serviços e na indústria (os primeiros são €
3 superiores. De facto, nos dealbar do capitalismo, enquanto, a Inglaterra ou a
França desenvolviam indústrias, Portugal comercializava escravos e vendia ouro
do Brasil para comprar têxteis, menosprezando a indústria ainda hoje baseada no
baixo salário. Essa longa tradição de intermediarismo comercial está bem
espelhada no negociante Oliveira de Figueira que surge nas aventuras de Tintim;
e que continua hoje nas figuras dos grãos-merceeiros que ocupam os lugares
cimeiros dos lusos ricos;
c) O espaço onde se desenvolvem as desigualdades já referidas apresenta os
casos extremos na Dinamarca e na Bulgária, uma vez que na primeira os custos
laborais nos serviços são 9.3 vezes superiores aos praticados na Bulgária;
d) O valor observado para a Grã-Bretanha é o mais baixo dos países ditos ricos
e coincide com o indicador médio da UE. Na hierarquia surge logo a seguir a
Espanha, com valores distanciados da média mas, também claramente acima do
observado para os países mais pobres;
e) Quase metade dos países apresentam um crescimento dos custos laborais nas
áreas de serviços, para o período 2008/16 superior à média comunitária, dos
quais uns pertencentes à Europa rica, sendo os restantes antigos integrantes do
bloco de Leste. Por seu turno, todos os países do Sul mostram aumentos
inferiores à média global e, no caso da Grécia, com um retrocesso. Portugal
apresenta um indicador de crescimento nitidamente inferior à média comunitária
mas, superior ao observado em Espanha ou Itália.
3.4 - Comércio e reparação de
veículos
Comércio e reparação de veículos
|
|||||
2016 (€)
|
2012/16 (%)
|
2016 (€)
|
2012/16 (%)
|
||
UE
|
21,9
|
1,4
|
Grécia
|
13,6
|
-1,9
|
Alemanha
|
27,1
|
1,2
|
Holanda
|
28,8
|
1,0
|
Áustria
|
29,6
|
3,0
|
Hungria
|
7,0
|
0,0
|
Bélgica
|
38,2
|
0,7
|
Irlanda
|
23,1
|
1,4
|
Bulgária
|
4,1
|
8,1
|
Itália
|
24,1
|
0,5
|
Chipre
|
-
|
-
|
Letónia
|
7,1
|
8,5
|
Croácia
|
8,9
|
2,1
|
Lituânia
|
6,7
|
7,2
|
Dinamarca
|
38,4
|
1,2
|
Luxemburgo
|
28,8
|
3,1
|
Eslováquia
|
9,2
|
3,4
|
Malta
|
9,5
|
0,0
|
Eslovénia
|
15,3
|
0,8
|
Noruega
|
40,5
|
-2,9
|
Espanha
|
17,7
|
-0,3
|
Polónia
|
7,0
|
3,7
|
Estónia
|
9,6
|
5,8
|
Portugal
|
12,3
|
0,2
|
Finlândia
|
31,1
|
1,8
|
Rep. Checa
|
9,4
|
0,5
|
França
|
30,4
|
0,9
|
Roménia
|
5,1
|
8,6
|
Grã-Bretanha
|
21,9
|
2,8
|
Suécia
|
38,3
|
1,2
|
Fonte primária: Níveis de custo da
mão-de-obra, Eurostat
a) Como se observou nos anteriores setores de atividade, todos os países ricos
apresentam em 2016 custos laborais superiores à média comunitária, coincidindo
com esta a Grã-Bretanha, que apresenta os mais baixos níveis entre aqueles. Num
segundo plano, surgem todos os países do Leste e do Sul, mantendo-se em nível
elevado (9.4), no âmbito da UE, a relação entre os custos mais elevados
(Dinamarca) e os mais baixos (Bulgária, como tem sido norma);
b) É observável, na generalidade, que os custos laborais no setor do comércio
e reparação automóvel são inferiores aos observados para a indústria mas que
são muito aproximados nos países mais pobres com a notável excepção do caso
português onde o trabalho na indústria é mais barato do que no comércio e
serviços de reparação automóvel, a que não será estranha a importância relativa
de setores de atividade como o têxtil ou a madeira, com remunerações bastante
baixas e o amor que os portugueses têm pelo automóvel, endividando-se
desmesuradamente para terem uma alta cilindrada. Para grande espanto dos homens
da troika quando andaram pela
paróquia lusa;
c) No contexto global em que os custos laborais neste setor são inferiores aos
verificados na indústria, destacam-se, pela sua dimensão, as diferenças na
Noruega, na Alemanha e ainda na Irlanda;
d) As variações nos custos laborais (neste caso, no período 2012/16, por
inexistência de dados para anos anteriores) para o total da UE foram de 1.4% em
média anual. Registam-se elevados incrementos no Leste, embora se deva ter em
conta os muito baixos custos relativos no ponto de partida; uma grande parte
dos países ricos apresenta valores em torno da média da UE mesmo que as
diferenças, para baixo ou para cima, possam ser assinaláveis; muito afastado da
média comunitária regista-se o reduzido crescimento dos custos laborais neste
setor nos países do Sul, havendo mesmo situações de regressão, em Espanha e na
Grécia… como na Noruega embora aqui aqueles custos sejam os mais elevados de
todos os países considerados;
e) Em Portugal, os custos laborais neste setor pouco ultrapassem a metade do
nível comunitário e o seu crescimento médio nos últimos quatro anos é
irrelevante (0.2% por ano); porventura dada a queda da venda de veículos nos
anos do programa da troika, uma
conjuntura setorial e geral pouco propiciadora de aumentos salariais.
3.5 - Alojamento e restauração
Alojamento e restauração
|
|||||
2016 (€)
|
2012/16 (%)
|
2016 (€)
|
2012/16 (%)
|
||
UE
|
15,4
|
1,4
|
Grécia
|
8,1
|
-5,9
|
Alemanha
|
17,4
|
2,5
|
Holanda
|
18,6
|
0,8
|
Áustria
|
20,5
|
6,6
|
Hungria
|
4,8
|
2,3
|
Bélgica
|
22,1
|
1,3
|
Irlanda
|
15,7
|
0,7
|
Bulgária
|
2,5
|
3,4
|
Itália
|
19,2
|
2,3
|
Chipre
|
-
|
-
|
Letónia
|
5,3
|
9,0
|
Croácia
|
8,6
|
2,6
|
Lituânia
|
4,8
|
12,5
|
Dinamarca
|
28,6
|
0,8
|
Luxemburgo
|
20,8
|
1,7
|
Eslováquia
|
6,5
|
4,0
|
Malta
|
7,9
|
0,6
|
Eslovénia
|
11,5
|
0,0
|
Noruega
|
32,1
|
-3,0
|
Espanha
|
13,9
|
0,4
|
Polónia
|
5,6
|
3,6
|
Estónia
|
7,3
|
8,8
|
Portugal
|
8,1
|
-0,3
|
Finlândia
|
24,3
|
1,6
|
Rep. Checa
|
6,2
|
2,7
|
França
|
22,9
|
0,4
|
Roménia
|
3,3
|
9,4
|
Grã-Bretanha
|
14,2
|
0,2
|
Suécia
|
25,5
|
0,2
|
Fonte primária: Níveis de custo da mão-de-obra, Eurostat
a) Os custos laborais no alojamento e na restauração são nitidamente os mais
baixos entre os setores de atividade que, dadas as possibilidades, destacámos
entre os dados fornecidos pelo Eurostat. As diferenças face aos custos na
indústria são enormes, 42.1% (€ 11.2) destes últimos para o conjunto da UE,
sendo ainda maiores para alguns dos países mais ricos da Europa, bem como na
Grécia. Portugal é o país onde a diferença face aos custos na indústria é menor
(“apenas” o correspondente a 28.3%), para além do caso da Croácia;
b) Uma vez mais os países ricos apresentam os custos laborais mais elevados,
mesmo aqueles em que o turismo tem uma relevância muito grande, como a França,
a Áustria ou a Itália. Mesmo tendo uma mesma excessiva ancoragem no turismo de
sol e praia, Espanha consegue arcar com custos laborais cerca de 72% mais
elevados do que os portugueses, o que não corresponde, minimamente às
diferenças de custo de vida mas, à tradição negreira do empresariato português.
Na orla Sul da Europa somente em Malta os custos laborais são inferiores aos
apurados para Portugal, ainda que com pouca diferença;
c) À tradição negreira referida deve juntar-se a tradição da fuga fiscal,
mesmo que atenuada com o actual registo das faturas; deve acresce-se a
precariedade laboral, não só associada à sazonalidade mas, a uma prática
induzida pelos governos, preocupados com o aumento da sagrada competitividade,
juntando-se ainda o uso dos pagamentos não declarados a trabalhadores;
d) As desigualdades nos custos laborais na área do alojamento e restauração
são maiores do que nos outros setores considerados; na Dinamarca correspondem a
cerca de 11.4 vezes aos observados na Bulgária, que são particularmente baixos;
e) A variação nos custos laborais nos quatro anos findos em 2016 mostra-se
acima da média da UE (1.4% por ano) para a maioria dos países, nomeadamente
situados a Leste, onde os valores brutos eram e continuam a ser muito baixos.
Com variações insignificantes registam-se sobretudo países ricos e alguns da
orla mediterrânica, com realce para a Grécia e Portugal onde houve redução nos
custos salariais.
3.6 - Educação, saúde, ação
social…
Educação, saúde, ação social…
|
|||||
2016 (€)
|
2008/16 (%)
|
2016 (€)
|
2008/16 (%)
|
||
UE
|
26,6
|
3,0
|
Grécia
|
15,1
|
-1,8
|
Alemanha
|
31,7
|
2,7
|
Holanda
|
37,2
|
2,3
|
Áustria
|
30,6
|
2,3
|
Hungria
|
7,3
|
-0,3
|
Bélgica
|
34,3
|
3,3
|
Irlanda
|
33,8
|
-0,4
|
Bulgária
|
4,4
|
7,9
|
Itália
|
31,3
|
1,5
|
Chipre
|
17,3
|
-4,1
|
Letónia
|
6,4
|
3,2
|
Croácia
|
10,1
|
0,3
|
Lituânia
|
6,8
|
3,0
|
Dinamarca
|
39,7
|
3,0
|
Luxemburgo
|
37,4
|
1,8
|
Eslováquia
|
9,5
|
6,7
|
Malta
|
15,5
|
4,5
|
Eslovénia
|
16,7
|
0,5
|
Noruega
|
47,6
|
3,2
|
Espanha
|
22,7
|
0,6
|
Polónia
|
9,1
|
1,2
|
Estónia
|
9,9
|
4,7
|
Portugal
|
15,4
|
0,7
|
Finlândia
|
32,1
|
3,1
|
Rep. Checa
|
9,6
|
2,0
|
França
|
33,8
|
1,5
|
Roménia
|
5,7
|
3,0
|
Grã-Bretanha
|
28,2
|
4,7
|
Suécia
|
33,3
|
2,6
|
Fonte primária: Níveis de custo da mão-de-obra,
Eurostat
a) Em termos globais, na UE, não há diferença entre os custos laborais na
educação, saúde… face aos observados para a indústria. Porém, esse indicador
pouco representa uma vez que na Escandinávia, Alemanha, França, Áustria e
Bélgica os custos laborais na indústria são significativamente superiores aos
da educação, saúde… O contrário sucede, com mais evidência no Luxemburgo ou
Portugal mas também em Itália, Chipre e Grã-Bretanha, o que revela visões
distintas de valorização social dessas atividades.
b) Em termos geográficos, o intervalo entre os custos mais elevados e os mais
baixos em números absolutos, no seio da UE, não se distancia muito do observado
para outros setores. Neste conjunto de atividades, o custo laboral mais elevado
(Dinamarca) é nove vezes superior ao registado na Bulgária. No sul da Europa,
Malta, Portugal e Grécia surgem quase a par, muito aquém de França, Itália ou
Espanha.
c) A variação média anual na UE foi de 3%, acima da taxa de inflação que se
situou em 1.6% por ano, para o mesmo período. Sublinha-se o elevado crescimento
registado na Bulgária e na Eslováquia, ao contrário de muitos dos países ricos
que se posicionam com valores aquém da média;
d) Entre os países com crescimento particularmente baixos dos custos laborais
neste setor, contam-se Portugal (0.7% anuais) e Espanha para além daqueles em
que esses custos se reduziram, com realce para Chipre (-4.1% anuais, o que
representa uma quebra brutal de quase um terço dos valores vigentes em 2008).
(continua)
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