Não sendo a primeira presença em Portugal de Toni Negri, a sua permanência no Maria Matos, na última sexta-feira, ao final da tarde, originou uma plateia cheia.
Negri e o seu companheiro habitual Michael Hardt são grandes desconhecidos em Portugal. Nas esquerdas políticas sabe-se que existem mas, poucos terão lido os seus trabalhos – ou então, leram em “diagonal” - e, são menos ainda, aqueles que reconhecem como importantes os contributos de Negri e Hardt para a explicação da realidade destes tempos de globalização neoliberal.
Que os chefes da esquerda institucional não apreciam particularmente o pensamento “herético” de Negri, já se sabia, pois ele não cabe no seu pensamento único; para além disso, nem poderiam estar presentes pois apreciam pouco as plateias, demasiado habituados que estão aos palcos. Por outro lado, as suas várias agências ou influências, infiltrações com missões de controlo ou aviltamento dos movimentos “indignados”, também não estiveram representadas.
Existindo naquelas instâncias da “esquerda” uma forte preponderância da formatação ideológica trotskista ou stalinista, conceitos como “império”, “multidão”, “biopolítica” ou a recusa do patriarcalismo partidário, não se coadunam com a típica análise de classes, o autoritarismo estatal, ou o materialismo dialétíco.
Embora na parte final do encontro com Negri tenha sido escasso o tempo para a formulação de questões pela assistência, tivemos tempo de colocar a seguinte questão:
“O capitalismo neoliberal, através do sistema financeiro, controla os Estados, tornando-os seus instrumentos; por outro lado, as esquerdas institucionais consideram que a solução para os problemas atuais passa pelo Estado regulador e investidor. Como se compatibiliza isto?”
Negri respondeu, sinteticamente: “Será que na Europa existe esquerda?”. Na sua opinião a última emanação de uma esquerda na Europa foi nos motins de Londres, centrados em Tottenham, em 2011; aí houve esquerda, porque existiu resistência e combate frontal ao sistema.
Há algum tempo que vimos apontando para a necessidade de uma esquerda de combate, plural, nascida da interação entre a prática e o estudo; numa ação de unidade entre pessoas, com discussão democrática, baseada no consenso e sem chefias.
Para a construção dessa unidade, qualquer avanço na luta contra o sistema exige a afirmação clara de várias recusas – do capitalismo, do Estado, do modelo de representação política e de lógicas nacionalistas.
Quem quiser fazer parte desse movimento de combate anti-capitalista terá de formular de modo inequívoco uma demarcação face às instituições do sistema, mormente dos partidos e centrais sindicais que o integram, para os quais os problemas que assolam as nossas vidas são resultantes exclusivamente da crise económica, não se referindo o sistema como o verdadeiro problema. O Estado paga-lhes por essa complacência.
Sobre estes temas:
http://www.slideshare.net/durgarrai/capitalistas-e-estado-a-mesma-luta
http://www.slideshare.net/durgarrai/pensar-esquerda-sem-vacas-sagradas
http://www.slideshare.net/durgarrai/esta-esquerda-a-tranquilidade-da-direita
http://www.slideshare.net/durgarrai/para-um-novo-paradigma-poltico-a-re-criao-da-democracia
ou, todos aqui, neste blog:
http://grazia-tanta.blogspot.com/
22/1/2012
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