segunda-feira, 20 de junho de 2022

Balofas palavras em dia de fuga para as praias

 

1 – MRS em seu esplendor no último 10 de junho

2 – A deificação de Portugal é uma elevação sem conteúdo

3 – O habitual verbo oco de MRS

4 - MRS e a arraia-miúda

5 – Periferia geográfica e de conhecimento

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1 – MRS em seu esplendor no último 10 de junho

Recentemente, por obrigação política e necessidade de manter recheado o espaço mediático, a imprensa divulgou algumas frases proferidas pelo presidente MRS no âmbito do 10 de junho. Recordamos a biografia de MRS, um PR com muito menos currículo político do que todos os seus antecessores. Um PR que, em palavreado irrelevante ganha aos seus antecessores por grande margem.

Em diversas oportunidades mostrámos a inutilidade do cargo de Presidente da República; um cargo que deveria desaparecer da Constituição. Essa entidade tutelar ainda existente, insere-se no prejuízo político, social, económico, resultante da existência de uma classe política, como corpo fechado, oligárquico e com forte pendor para o compadrio e a corrupção.

Uma figura com um cargo equiparado a MRS - o rei Carlos - achava Portugal “uma piolheira”…

Mais de cem anos depois, a piolheira veio mostrar a sua vitalidade, preenchendo a I República, abrindo o caminho para a podridão do bafiento regime de Salazar e, prosseguindo no atual e decadente regime pos-fascista… que só por brincadeira, ignorância ou estupidez, se pode chamar democrático. Basta observar, por exemplo, a ineficácia do aparelho judicial, vocacionado para o empastelamento de “casos sensíveis” como os de Ricardo Salgado, Sócrates, Pinho, Rendeiro, entre muitos outros. Em Portugal ainda se tem a ideia das grandezas de um antanho longínquo e MRS não tem visão nem a frontalidade do rei Carlos para apontar para a piolheira actual, a circular entre S. Bento e alguns escritórios de advogados.

2 – A deificação de Portugal é uma elevação sem conteúdo

As pessoas que através do tempo viveram e vivem num território que se veio a designar Portugal, construíram as suas vidas, independentemente do nome dado à circunscrição política que se designou Portugal; em tempos mais recuados, o nome dado a essa circunscrição, só tinha significado para os nobres e o clero. A noção de pertença só tinha um significado local, ao conjunto de terras e famílias que ali vivessem ou trabalhassem.

No final do século XIX, o rei português Luís I, um apaixonado pelo mar, vogava no Atlântico norte. E, ao ser avistado um barco de pesca, foi perguntado aos pescadores se eram portugueses ou espanhóis. A resposta foi liminar; “nós somos dali, da Póvoa de Varzim”, obviamente o local onde viviam com as suas famílias, sem que tivessem dado a uma macro-estrutura política nacional e abstrata, qualquer relevância. Em tempos não muito recuados, na raia seca, a Norte, as pessoas mudavam-se para o outro lado da fronteira, levando gado e alfaias, em função do peso da carga fiscal vigente; e, era a partir duma conveniência que se tomavam como portugueses ou espanhóis.

Em 1580, o povo português depois da morte do disparatado rei Sebastião e do seu tio e sucessor, viu entre os candidatos à coroa, António, prior do Crato, que não teve apoios políticos, populares ou financeiros para se impor ao poderoso Filipe II de Espanha, que viria a ser Filipe I de Portugal. O povo, aceitou com alguma indiferença a autoridade de um rei espanhol mas, com menos indiferença perante a predação da soldadesca espanhola, que não recuou quanto a saques e violências, perpetrados na ausência de um poder central. Curiosamente, Portugal não contou com o apoio da secular aliada (Inglaterra) como acontecera na crise política de 1383/85 e como acontecerá nos séculos seguintes. Nem os portugueses beneficiaram das fortes rivalidades entre a coroa inglesa e a coroa espanhola para reganhar a autonomia política; entretanto, Drake aproveitou a situação para capturar vários navios em Cascais, dado que Lisboa era um osso demasiado duro o inglês.

3 – O habitual verbo oco de MRS

Em dia de fuga para a praia - o recente dez de junho - MRS avançou com uma frase de assombrar - "É o povo português a razão de sermos Portugal".

Se no território atual de Portugal se tivesse instalado o povo túrdulo, MRS teria dito “É o povo túrdulo a razão para sermos Turdetânia”! E, claro, poder-se-iam criar umas centenas de frases patrioteiras semelhantes... Mais, existem centenas de povos inseridos num território, num estado-nação e em minoria; daí podendo surgir estranhezas como “é o povo samoiedo a razão de ser de…? É o povo rohingya a razão de ser de…? O jurista MRS conhece (e venera, como é típico de todas as classes políticas) o estado-nação mas parece desconhecer que há muitas mais nações do que as enquadradas no conceito de estado-nação[1]… uma criação do capitalismo.

Em Portugal vivem e viveram pessoas que o Estado português rotulou de portuguesas, como forma de elencar, logo à nascença, os futuros pagadores de impostos a esse mesmo Estado e, mais especificamente, à inerente classe política; ou, para exigir aos jovens a prontidão da oferta do seu corpo nas guerras entre os capitalistas, os países, as classes políticas. Tudo, sempre em nome da Pátria! E como reagiria a vasta população de pessoas com dupla nacionalidade e de imigrantes com diversas origens que pouco se ocupam com a escolha eleitoral do mandarinato partidário?

A designação Portugal surgiu no século XII como forma de delimitar os direitos dos condes de Guimarães sem que isso empolgasse a população, cujo único desejo era não ser roubada por estranhos, senhores locais ou mais longínquos. Claro, que à medida que a fronteira se foi sedimentando, a designação foi ficando referida aos territórios que tinham como suserano os descendentes de um conde vindo de França no século XI e, cujo nome vinha de um pequeno porto próximo da foz do Douro (Portucalle). Ainda no século XVII, em Espanha[2], os oficiais andavam pelas aldeias à procura de jovens a levar para as guerras, sabendo-se que muitos fugiam pelo caminho, voltando à aldeia onde eram necessários para o trabalho agrícola ou, lançando-se à aventura. O amor pátrio é muito volátil… mas muito ardente nos parasitas das classes políticas.

Tautologicamente, MRS salientou que Portugal "Ainda esteve nos momentos decisivos para poder vir a ser o que somos, desde os combates no século XVII e XVIII pela nossa independência e pela nossa restauração". A plateia dos telejornais recebeu assim mais uma dose de vacuidade.

De facto, em 1640, foi um conjunto de nobres que avançou para colocar o titubeante duque de Bragança como rei, com o povo já habituado a um rei espanhol durante 60 anos. Filipe IV de Espanha preferiu jugular a revolta dos catalães, manter os negócios com a rica Itália e não se atolar na defesa das feitorias brasileiras ou nas águas do Índico, já ocupadas por ingleses e holandeses.

A capacidade (?) estratégica da corte portuguesa no século XVII é bem evidente no conteúdo do dote da filha do rei João IV ao rei inglês e, que incluía Tânger e uma ilha insalubre e pouco interessante como… Bombaim! Foi um grande negócio para a Companhia (inglesa) das Índias, mantendo-se Portugal com Goa e dois territórios minúsculos, sem valia económica, como Damão e Diu.

Em 1960, segundo relatos fidedignos, a defesa do “estado português da Índia” consistiu na ação de fuga do navio de guerra Afonso de Albuquerque por detrás dos navios mercantes que carregavam manganésio em Pangim, sabendo-se da evidente desigualdade naval perante o antigo cruzador Missouri, vendido pelos EUA à Índia. Ao que sabemos, o Afonso de Albuquerque terminou a sua fuga, encalhado numa praia, com a tripulação e todo o contingente militar apresado pelos indianos. Salazar dizia à época que morreria de vergonha se perdesse um palmo da terra “portuguesa”; de facto, morreu, poucos anos depois mas, ao deixar-se cair numa cadeira que, afinal estava um pouco desviada para um lado…

Na sequência das guerras napoleónicas, Portugal – sem qualquer exército digno desse nome -esteve para ser repartido entre franceses, espanhóis e pelo rei da Etrúria! Valeu na situação o poder de Wellington que viria a deixar no terreno o general Beresford, interessado na não incorporação de Portugal no reino de Espanha, enquanto… a corte portuguesa beneficiava das belezas de Copacabana…

A construção do império em África não trouxe qualquer benefício para os portugueses que, entretanto haviam sido obrigados (pelos ingleses) a abandonar o tráfico atlântico de escravos, o grande feito português, com direito a ficar na História, na opinião do historiador Paul Kennedy e, a par da chegada do Gama à Índia. Um país fracamente industrializado, com um elevado grau de analfabetismo como Portugal, pouco podia retirar das riquezas das colónias africanas; quem viria a aproveitar essas riquezas seriam a petrolífera Gulf, a Diamang, dominada pela de Beers e as companhias agrícolas em Moçambique, também detidas por capitalistas estrangeiros.

Como dizia Eça de Queiroz, no início do século XX, “Portugal é apenas um sítio, pouco mais do que a Lapónia, que nem sítio é”; algo que MRS nunca assinaria por baixo! Como não gostará de Alexandre O’Neill, quando este referiu Portugal como “três sílabas de plástico, por ser mais barato” ou, “um país engravatado todo o ano / e a assoar-se na gravata por engano.” 

4 - MRS e a arraia-miúda

No evento do 10 de junho do ano corrente, MRS emitiu a seguinte mensagem; "Sem o povo, sem a arraia miúda, não teria havido o Portugal que temos".

É o que se chama uma verdade de la Palisse! Sem a população mais pobre da Europa ocidental, habituada ao trabalho duro na emigração e à obediência, o que seria do empresariato luso (cúpido e ignorante) viciado no pagamento de baixos salários e na fuga de capitais? Voltar ao tráfico de escravos não é possível e, conquistar de novo territórios em África também não. Sobram apenas empresas e outro património de estrangeiros endinheirados, a colocação de dinheiro em off-shores e o envio de um tal António Costa para entregar € 250 M a um palhaço chamado Zelensky, no palanque de um estado-nação que nunca o foi, verdadeiramente.

Indecoroso é um PR referir-se à maioria da população como arraia-miúda, num elitismo pedante e de menosprezo para com o grosso de um povo que se insere nos escalões de rendimento e de formação mais baixos da Europa.

Todos sabemos as origens sociais e políticas colonialistas de MRS e, como PR, caber-lhe-ia alguma modéstia. A distinção classista utilizada revela o à-vontade típico de alguém, com fraco currículo político e, que se acha acima do resto da população na sequência de se ter exposto, durante anos, como comentador dos fait-divers da paróquia e na promoção das novidades dos livreiros; como “aquele álbum sobre caroços de nêspera” referido por um programa humorístico da rádio.

5 – Periferia geográfica e de conhecimento

No seguimento da mudança de regime em 1974 sobraram empresas descapitalizadas e, seguiu-se o uso de dinheiros públicos para as reestruturações do tecido económico, com fusões de empresas e bancos, posteriormente privatizados e tomadas por interesses estrangeiros, em várias fases. Claro que o preço pago por descapitalizações, encerramentos, despedimentos, privatizações saiu dos bolsos da referida arraia-miúda algo que MRS olha com sobranceria e condescendência. A desestruturação social e económica de Portugal[3] colocou o país no fundo do fosso de uma Europa encolhida e submissa perante os EUA.

Claro que MRS prefere a periferia do conhecimento pois convirá que a massa populacional absorva apenas o que é filtrado pela tv. Por exemplo, em 1990 a população emigrante em Espanha correspondia a 3.7% do total, contra 18.8% no caso português; em 2019 era, respetivamente 3.1 e 25.6%... evidenciando-se assim as capacidades das camadas possidentes, de negreiros.

A triste realidade não transparece no verbo redondo, vazio, de MRS. As capacidades para uma atração de população são baixíssimas em Portugal; entre 1990/2019 a população do estado espanhol cresceu em 8.8 M de pessoas, enquanto no mesmo período e, no caso português, o acréscimo se cifrou por 326 mil.

Como Comandante Supremo das Forças Armadas, MRS referiu-se às forças militares como "o povo armado para servir Portugal". Há várias questões que contrariam o simplismo de MRS. Primeiro, porque as FA’s são compostas por profissionais e não por jovens em cumprimento de um serviço militar universal; são simples mercenários. Os militares são escolhidos e colocados em missões da NATO em África, por exemplo, como efetivas delegações dos EUA e, como seus instrumentos; e é fácil ver que as missões congeminadas pelo Pentágono não servem, minimamente os interesses e as conveniências dos residentes em Portugal, ao qual a suserania norte-americana entende ainda cobrar, para gastos militares, 2% do PIB português como aos restantes vassalos europeus.

MRS, muito ufano em mostrar serviço ao diáfano Biden, destacou as suas missões no estrangeiro: "É o povo com armas que faz e quer fazer a paz, em Moçambique, na República Centro-Africana, no Mali, no Golfo da Guiné, no Mediterrâneo, na Lituânia, na Roménia"; MRS, ter-se-á esquecido de uma menção à …Ucrânia… Acontece! E, certamente não se pergunta aos povos daqueles países se querem ser intervencionados pela NATO. A verdade é que naquele âmbito, ninguém se interessa pela opinião dos portugueses, de Portugal e, menos ainda, do seu palavroso presidente…

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