quinta-feira, 6 de julho de 2017

Custos do trabalho na Europa – espelho da exploração e das desigualdades



No mundo de hoje, as ditas vantagens competitivas resultam menos dos baixos custos salariais e muito mais da qualificação, da tecnologia e da capacidade organizativa na produção de bens e serviços. Expliquem isso aos empresários lusos, mais apostados em sujos favores obtidos à custa da carga fiscal sobre o trabalho e o consumo

Sumário

1 – Ligeira introdução sobre economia
2 – Evolução dos custos do trabalho na Europa (2000/16)
3 - Custos laborais na Europa – abordagem alargada e detalhada
3.1 - Indústria
3.2 - Construção
3.3 - Serviços à indústria e comerciais
3.4 - Comércio e reparação de veículos
3.5 - Alojamento e restauração


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1 – Ligeira introdução sobre economia

Se uma empresa funcionar com baixa tecnologia, pouco exigente em qualificação dos trabalhadores, não terá elevada produtividade e não poderá pagar elevados salários; e, se tiver baixos salários, mesmo com tecnologia, certamente não terá um quadro de pessoal estável e motivado, nem contribuirá para a existência de um poder aquisitivo elevado da população. Se tiver baixos níveis de capitais próprios e depender em demasia de financiamento bancário, ficará com pouca margem para investir e/ou pagar salários condignos a trabalhadores qualificados; se os seus gestores praticarem uma promiscuidade entre os bens familiares e os que serão afetos ao negócio, podem ficar ricos mas, a empresa arrisca a falência; e haverá outras combinações que não conduzem a negócios prósperos e duráveis. Em todos esses casos, está-se muito longe da lógica austera do protestantismo escocês do século XVIII que influenciou Adam Smith, uma lógica que, aliando a argúcia com grande capacidade de trabalho, permitiria a acumulação de capital.

Há quem considere que um baixo custo da mão-de-obra é, só por isso, um gerador de mais competitividade e não é, sobretudo de modo sustentado. Os países mais ricos, são aqueles onde os custos laborais são mais elevados, porque a essa situação corresponde maior produtividade, um maior valor acrescentado incluído nos bens ou serviços produzidos e ainda um mais elevado poder de compra. Se o baixo salário fosse a grande vantagem que os tecnocratas bruxelenses enquadram como parte das “reformas estruturais”, em Portugal, nos últimos anos, ter-se-iam observado catadupas de investimento estrangeiro; o que não aconteceu. 

Os países ricos ou os países pobres tendem a consolidar especializações produtivas distintas que alicerçam níveis de vida e de preços também distintos, o que desemboca nas grandes desigualdades existentes no planeta. Nos países com estruturas produtivas alicerçadas em tecnologias, investimento em equipamentos e conhecimento, as altas produtividades surgem e ligam-se a trabalhadores altamente qualificados, com salários elevados, em termos relativos. 

Onde essas estruturas não existem, estão criadas as condições para a não vigência de altas produtividades, ou salários elevados; e, se se formarem elevados lucros, eles resultam não tanto da atividade económica mas, da sobre-exploração do trabalho, sobretudo menos qualificado e muito das chamadas “externalidades”, dos favores obtidos junto dos poderes públicos, mormente da corrupção, da garantia da existência de uma leviana gestão da punção fiscal ou contributiva, da existência de reguladores do mercado, convenientemente estrábicos. 

Nesse plano, as pessoas mais habilitadas para laborarem em áreas exigentes de maiores qualificações, se nativos de países onde os níveis de especialização são mais modestos, tendem a deslocar-se, a emigrar para os mais ricos, onde essas qualificações são mais bem remuneradas; há muitos anos isso sucede – é o brain drain. Assim, os países de acolhimento, os mais ricos, recolhem gente qualificada, cuja formação foi paga pelas famílias e pelos estados de rendimentos menores. Inversamente, não há fluxos significativos de pessoas de países desenvolvidos disponíveis para aceitar níveis salariais típicos de países menos desenvolvidos, baixos; havendo sim, aposentados, cujas pensões lhes permitem viver nesses países, de menor custo de vida e de clima mais aprazível. 

Os custos do trabalho desempenhado com baixo recurso a tecnologia e pouco exigente em conhecimentos por parte de quem o executa, conduzem ao subdesenvolvimento e à pobreza e viabilizam empresas afastadas da tendência global do capitalismo, de investimento em capital fixo e conhecimento, para aumentar a produtividade, reduzir o custo da produção e vencer a concorrência. 

Nenhum país desenvolvido, com intensiva utilização de tecnologias, exigente de trabalho qualificado, pode existir com os custos laborais vigentes em países menos desenvolvidos; porque os mais qualificados imigrariam para países concorrentes (hoje, sem a necessidade de deslocações “a salto”) e os qualificados de países mais pobres não se deslocariam para lá sem vantagens significativas, face à situação nos seus países de origem. 

Perante essa impossibilidade, o capitalismo avançado gerou a segmentação da produção em parcelas, deslocando os componentes com um fabrico menos exigente em tecnologia para países de baixo salário; e, com as tecnologias de informação isso tornou-se trivial e extensivo também a áreas de serviços. Nos casos em que essa deslocalização não é fácil ou conveniente, por motivos estratégicos, procede-se à contratação de trabalhadores qualificados em países menos desenvolvidos, facilmente atraídos para a migração, precisamente porque no país de destino, as suas qualificações, sendo mais necessárias, tornam-se objeto de melhores remunerações, mesmo que, muitas vezes, haja um desfasamento relativamente a colegas autóctones. Por outro lado, razões históricas quanto a direitos no campo da educação, da saúde, da habitação, na reforma, por exemplo, alicerçam uma qualidade de vida só possível com elevados rendimentos e uma distribuição não muito recessiva, que permita o alto poder de compra que garanta a continuidade do modelo económico e social, com a acumulação capitalista a acontecer, sem grandes sobressaltos.

2 – Evolução dos custos do trabalho na Europa (2000/16)

A evolução do custo médio por assalariado é revelador, não só das grandes desigualdades existentes na Europa resultantes da especialização produtiva, das capacidades das empresas em termos de financiamento, equipamento, gestão, como da estrutura da predação fiscal e das capacidades dos trabalhadores em impor as suas reivindicações.  

É abissal a diferença nos custos do trabalho entre os oito países selecionados no gráfico que se segue e que se agravou claramente no período em observação: essas diferenças são históricas, ainda que agravadas com a intervenção de troika, com o conveniente acordo das correspondentes classes políticas, cujos partidos se dividem em dois grupos - os que aplicam a receita num andamento presto e os outros que gritam da plateia, ma non tropo!


Fonte primária: Custo na indústria, comércio e serviços (excepto administração pública, defesa e seg.  social                             Fonte primária: Eurostat

a)  Se até 2008 os custos do trabalho cresciam regularmente – em Portugal de modo muito anémico – a partir de 2012 esses níveis de crescimento abrandam substancialmente (Alemanha e França); estagnam (Irlanda, Itália, Espanha e Portugal) ou decaem (Grécia e Chipre). O capitalismo, enquanto canalizava apoios públicos para colmatar o descalabro no sistema financeiro procedia a uma global e enorme redistribuição regressiva dos rendimentos, em desfavor do trabalho. Assim, estabilizou o custo do trabalho e, para o efeito, criou enormes bolsas de trabalhadores no desemprego, na precariedade, na reforma antecipada, apoiou o aumento do tempo de trabalho não pago; com a utilização de imigrantes e refugiados fugidos da miséria ou da guerra e disponíveis para a aceitação de baixas remunerações e poucos direitos; com a criação de enormes contingentes de trabalhadores pobres e a transformação dos sindicatos em gestores dos interesses estratégicos do capital.

b)  Tomando o caso de Portugal como o país com o mais baixo custo laboral, entre os selecionados, verifica-se que em 2000, o custo de um trabalhador alemão era 2.2 vezes superior ao de um português e em 2016, 2.4 vezes; em 2004 e em 2016, o custo de um trabalhador francês era, respetivamente, 2.5 e 2.6 superiores aos seus congéneres lusos; e, nos casos da Irlanda ou da Itália a relação entre o custo laboral de um trabalhador naqueles países em 2000, face a um trabalhador português era de 1.8 em ambos, passando para 2.2 e 2.0, respetivamente, em 2016.

As diferenças podem parecer pouco significativas mas, deverá ter-se em consideração de que se trata de parâmetros estruturais e não conjunturais; revelam tendências que se prendem com a maior ou menor relevância de um país no contexto global, com os níveis de remuneração do trabalho, elementos que não evoluem de modo brusco. A não ser, no contexto de alterações políticas profundas, como aconteceu em Portugal, em 1975, onde os trabalhadores souberam impor novas regras, aproveitando a deliquescência do poder político, da paralisia do aparelho repressivo, na sequência da queda do fascismo.

c)  A comparação com a Espanha tem particular significado. Os custos com a mão-de-obra em Espanha eram 29% mais elevados em 2000, 59% em 2008 mas ainda 55% acima em 2016, apesar da violenta crise financeira e dos elevados níveis de desemprego. O deficit comercial português face a Espanha é enorme e revela que o custo laboral pode ser uma vantagem comercial mas, como se vê, nem sempre é determinante.

d)   Chipre e Grécia, os países com níveis custos muito próximos dos portugueses em 2000 afastaram-se particularmente até 2008 e, apesar do retrocesso posterior, continuam acima dos valores registados para Portugal, na sequência neste último, da estagnação daqueles custos desde 2012.

Como demonstrámos tempos atrás, Portugal é um caso de desastre periférico no contexto europeu e vem protagonizando uma situação periférica agravada no restrito contexto ibérico, como os elementos atrás referidos corroboram. Os baixos custos do trabalho correspondem (sempre) insuficientemente às propostas dementes das instituições europeias e, só um patronato descapitalizado, dependente dos apoios públicos e culturalmente indigente, em parceria com uma governação complacente, decide aumentar o salário mínimo com compensações na taxa social única que abastece a Segurança Social. Finalmente, perante tanta tentativa de aumento da competitividade dos custos salariais em Portugal, conseguida pela ação dos governos, pela não ação dos sindicatos, pela inação da sociedade e com o patrocínio das instituições da UE ou do FMI, o que constitui uma perplexidade é que os capitais estrangeiros não se atropelem para investir no país… 

3 - Custos laborais na Europa – abordagem alargada e detalhada

Consideremos uma comparação, entre 2008 e 2016, do custo horário da mão-de-obra para a generalidade da atividade económica – indústria, construção e serviços – onde estão excluídos, a administração pública, bem como a defesa e a segurança social obrigatória, para todos os países da UE e incluindo ainda a Noruega. Por custo horário entende-se o encargo patronal com o salário e as contribuições obrigatórias para a segurança social, deduzidos de quaisquer subsídios recebidos pelo patrão.


Fonte primária: Custo na indústria, comércio e serviços (excepto administração pública, defesa e seg.  social                             Fonte primária: Eurostat

a)  Mantêm-se os baixos indicadores dos países de Leste, embora alguns apresentem um crescimento, proporcionalmente elevado, como a Estónia, a Eslováquia ou a Bulgária, que continua, no entanto, com os valores absolutos mais baixos da UE;

b)  Os países mais ricos são aqueles que apresentam maiores aumentos distanciando-se, claramente, dos demais, excepto nos casos da Irlanda ou da Itália, com problemas graves originados nos seus sistemas financeiros. E essa realidade é transversal aos países adoptantes ou não do euro;

c)  A Grécia é o único caso em que os custos da mão-de-obra se reduzem, em termos absolutos no lapso de oito anos considerado, por razões que são conhecidas;

d)  Portugal apresenta-se num grupo de países da orla Sul da UE que apresentam valores aproximados – Malta, Grécia (apenas em 2016), Eslovénia e Chipre – muito distanciados dos parâmetros dos países ricos, muito menos afetados com a crise financeira e isentos da intervenção autoritária das instituições do capital global (BCE, FMI, Comissão Europeia).

Procede-se em seguida a uma avaliação dos custos com o trabalho, para alguns dos setores mais relevantes de atividade, para todos os países da UE, incluindo ainda a Noruega. Nessa avaliação contemplam-se os valores em euros por hora relativos a 2016 e ainda as variações entre 2008 (ou 2012, em alguns casos) e o ano findo.

3.1 - Indústria


INDÚSTRIA
2016 (€)
2008/16 (%)

2016 (€)
2008/16 (%)
UE
26,6
2,8
Grécia
15,1
-1,6
Alemanha
38,8
2,4
Holanda
36,1
2,2
Áustria
36,0
2,7
Hungria
8,3
1,0
Bélgica
44,2
2,3
Irlanda
32,5
1,5
Bulgária
4,2
8,5
Itália
27,8
1,9
Chipre
14,4
0,2
Letónia
7,5
3,4
Croácia
9,2
0,7
Lituânia
7,3
3,5
Dinamarca
43,9
3,3
Luxemburgo
31,8
1,4
Eslováquia
10,9
5,7
Malta
13,0
0,6
Eslovénia
16,4
3,4
Noruega
59,1
5,0
Espanha
23,3
1,5
Polónia
8,5
1,7
Estónia
10,9
5,9
Portugal
11,3
1,3
Finlândia
37,1
3,0
Rep. Checa
10,3
1,8
França
38,3
2,0
Roménia
5,1
3,8
Grã-Bretanha
26,0
2,3
Suécia
42,3
2,7
      Fonte primária: Níveis de custo da mão-de-obra, Eurostat

a) No caso da indústria os valores dos custos do trabalho mostram bem as profundas desigualdades no seio da UE. Em 2016, o valor mais elevado, relativo à Bélgica, era cerca de 10.5 vezes superior ao da Bulgária, país que apresentava o mais baixo valor;

b)  Claramente acima da média da UE - € 26.6 – situam-se os países a norte dos Pirinéus e a oeste da Áustria. Em torno da média comunitária encontram-se a Itália e a Grã-Bretanha ou mesmo a Espanha, um pouco mais abaixo. A média da UE revela-se como resultado da ponderação entre um conjunto de países ricos e outro de países de baixos custos da mão-de-obra, com alguma desertificação dos valores próximos dessa média, evidenciando o fosso existente no seio da UE; uma estrutura muito assimétrica em que o valor médio é apenas uma referência estatística;

c)  É bem evidente o afastamento da média europeia por parte dos países mais pequenos da orla mediterrânica ou daqueles, a Leste, aderentes da UE depois de 2004. Como se sabe a UE foi relativamente homogénea até 1981 com a entrada da Grécia, aumentou a sua heterogeneidade em 1986 com a entrada dos países ibéricos e, sobretudo depois de 2004, após a desintegração do bloco de Leste e da Jugoslávia;

d)  Portugal apresenta-se numa situação pouco interessante. Apresenta, de longe, os níveis mais baixos da faixa atlântica, aquém dos países da orla mediterrânica e a par com alguns situados a Leste que, provavelmente se situarão, dentro de alguns anos numa situação menos desfavorável. A ideia de baixa estratégia existente na classe política portuguesa, na perspetiva de se situar, em 1986 como apresentando os mais baixos custos laborais da UE, gorou-se após a queda do Muro de Berlim; a histórica insistência na lógica dos baixos custos salariais não enriqueceu o país, não atraiu investimento estrangeiro qualificado, foi acompanhada por uma significativa subida relativa dos níveis de qualificação e, aumentando o caráter periférico no seio da UE, conduz a um Portugal que parece ser desejado como um Cancun europeu. Do exterior, Portugal é encarado como uma periferia europeia e ibérica, para negócios de circunstância ou refúgio para capitais mafiosos;

e)  Entre 2008 e 2016, o aumento médio do custo da mão-de-obra na UE foi de 2.8%, valor ultrapassado particularmente pelos países bálticos ou balcânicos, de adesão mais recente, que assim ganham terreno no sentido da aproximação dos padrões médios da UE;

f)   Se a realidade se coadunasse com as imbecis premissas economicistas, os capitais e as empresas tenderiam a abandonar os locais com custos laborais mais elevados do que a Bulgária e este país estaria com… falta de espaço e com emigrantes a chegar de todos os lados à procura de trabalho. E, em contrapartida, a Noruega só ficaria com as pessoas que trabalham na extração de petróleo ou nas pescas, não deslocalizáveis, por natureza.

3.2 - Construção


CONSTRUÇÃO
2016 (€)
2008/16 (%)

2016 (€)
2008/16 (%)
UE
23,3
2,8
Grécia
11,2
-3,5
Alemanha
27,1
2,4
Holanda
34,7
1,8
Áustria
31,7
2,5
Hungria
6,0
-0,4
Bélgica
34,4
2,5
Irlanda
27,1
-0,3
Bulgária
3,6
10,0
Itália
23,4
0,8
Chipre
14,3
0,2
Letónia
7,4
4,3
Croácia
9,0
1,6
Lituânia
7,2
1,1
Dinamarca
39,1
2,2
Luxemburgo
25,2
2,4
Eslováquia
9,3
4,1
Malta
9,2
1,0
Eslovénia
11,6
0,4
Noruega
44,0
5,0
Espanha
20,1
1,5
Polónia
7,6
0,9
Estónia
11,6
3,6
Portugal
11,9
2,8
Finlândia
34,1
2,6
Rep. Checa
9,4
1,0
França
31,4
1,5
Roménia
4,3
2,9
Grã-Bretanha
27,9
2,2
Suécia
39,9
3,5
        Fonte primária: Níveis de custo da mão-de-obra, Eurostat

a)  Em regra, os custos laborais na construção são inferiores aos da indústria, observando-se as maiores diferenças na Noruega, na Alemanha e na Bélgica. A situação inversa, ainda que sem grandes diferenciações, regista-se na Grã-Bretanha, Estónia e Portugal, neste último caso, devido à grande atividade relacionada com o imobiliário, na sequência da maior procura turística;

b) Também aqui se mostram as grandes desigualdades no espaço europeu. Os custos laborais mais elevados, na Suécia, representam 11.1 vezes o custo homólogo na Bulgária;

c)  Acima do valor médio da UE (€ 23.3 em 2016) estão todos os países das orla norte e ocidental da Europa, incluindo aí a Áustria. A Itália marca o ponto de separação face ao resto dos países a Sul e a Leste, seguida da Espanha que, por sua vez, se coloca a grande distância dos restantes;

d)  Portugal situa-se num mesmo plano da Eslovénia e da Estónia, situando-se na escala descendente a Roménia e a Bulgária, em último lugar;

e) No que se refere aos aumentos médios anuais no período, só um pequeno e heterogéneo grupo de países ultrapassa o indicador para toda a UE (2.8%), com relevo para o grande acréscimo na Bulgária. Portugal surge com um indicador igual à média comunitária em contraste com o que se verificou para a indústria, na qual o crescimento foi bem inferior;

f)   Note-se ainda que no período tomado, os custos laborais na construção para a Grécia, a Hungria e a Irlanda, decaíram.

3.3 - Serviços à indústria e comerciais


Serviços à indústria e comerciais
2016 (€)
2008/16 (%)

2016 (€)
2008/16 (%)
UE
25,8
2,4
Grécia
13,8
-1,8
Alemanha
30,5
2,2
Holanda
32,5
1,7
Áustria
31,8
3,5
Hungria
8,5
0,3
Bélgica
40,6
1,7
Irlanda
28,1
0,8
Bulgária
4,7
9,3
Itália
26,9
0,8
Chipre
16,3
0,3
Letónia
8,3
3,2
Croácia
10,7
1,7
Lituânia
7,7
3,5
Dinamarca
43,7
2,5
Luxemburgo
39,7
2,4
Eslováquia
10,7
4,6
Malta
12,8
1,7
Eslovénia
16,6
1,6
Noruega
47,9
3,7
Espanha
20,1
1,1
Polónia
8,5
1,7
Estónia
11,5
5,0
Portugal
14,3
1,5
Finlândia
32,0
2,9
Rep. Checa
10,5
0,9
França
36,1
1,7
Roménia
6,0
3,8
Grã-Bretanha
25,9
3,1
Suécia
40,4
2,5
Fonte primária: Níveis de custo da mão-de-obra, Eurostat

a) Para o conjunto da UE, os custos laborais dos serviços à indústria e comerciais são ligeiramente inferiores aos observados para a indústria mas, uma vez mais, a média nada diz sobre a diversidade das situações em cada país. Em quase todos os países ricos da Europa os custos laborais na indústria são superiores aos dos serviços, com excepção do Luxemburgo, devido ao peso que o sistema financeiro tem ali. As diferenças mais nítidas observam-se na Noruega e na Alemanha;

b)  Nos restantes países, há alguns em que o padrão verificado para os mais ricos também é aplicável, com maior realce no caso de Espanha. Na maioria dos países mais pobres, os custos com a mão-de-obra nos serviços são ligeiramente superiores aos observados na indústria. Portugal é o caso em que há maior afastamento nos custos laborais nos serviços e na indústria (os primeiros são € 3 superiores. De facto, nos dealbar do capitalismo, enquanto, a Inglaterra ou a França desenvolviam indústrias, Portugal comercializava escravos e vendia ouro do Brasil para comprar têxteis, menosprezando a indústria ainda hoje baseada no baixo salário. Essa longa tradição de intermediarismo comercial está bem espelhada no negociante Oliveira de Figueira que surge nas aventuras de Tintim; e que continua hoje nas figuras dos grãos-merceeiros que ocupam os lugares cimeiros dos lusos ricos;

c) O espaço onde se desenvolvem as desigualdades já referidas apresenta os casos extremos na Dinamarca e na Bulgária, uma vez que na primeira os custos laborais nos serviços são 9.3 vezes superiores aos praticados na Bulgária;

d)  O valor observado para a Grã-Bretanha é o mais baixo dos países ditos ricos e coincide com o indicador médio da UE. Na hierarquia surge logo a seguir a Espanha, com valores distanciados da média mas, também claramente acima do observado para os países mais pobres;

e)  Quase metade dos países apresentam um crescimento dos custos laborais nas áreas de serviços, para o período 2008/16 superior à média comunitária, dos quais uns pertencentes à Europa rica, sendo os restantes antigos integrantes do bloco de Leste. Por seu turno, todos os países do Sul mostram aumentos inferiores à média global e, no caso da Grécia, com um retrocesso. Portugal apresenta um indicador de crescimento nitidamente inferior à média comunitária mas, superior ao observado em Espanha ou Itália.

3.4 - Comércio e reparação de veículos


Comércio e reparação de veículos
2016 (€)
2012/16 (%)

2016 (€)
2012/16 (%)
UE
21,9
1,4
Grécia
13,6
-1,9
Alemanha
27,1
1,2
Holanda
28,8
1,0
Áustria
29,6
3,0
Hungria
7,0
0,0
Bélgica
38,2
0,7
Irlanda
23,1
1,4
Bulgária
4,1
8,1
Itália
24,1
0,5
Chipre
-
-
Letónia
7,1
8,5
Croácia
8,9
2,1
Lituânia
6,7
7,2
Dinamarca
38,4
1,2
Luxemburgo
28,8
3,1
Eslováquia
9,2
3,4
Malta
9,5
0,0
Eslovénia
15,3
0,8
Noruega
40,5
-2,9
Espanha
17,7
-0,3
Polónia
7,0
3,7
Estónia
9,6
5,8
Portugal
12,3
0,2
Finlândia
31,1
1,8
Rep. Checa
9,4
0,5
França
30,4
0,9
Roménia
5,1
8,6
Grã-Bretanha
21,9
2,8
Suécia
38,3
1,2
     Fonte primária: Níveis de custo da mão-de-obra, Eurostat

a) Como se observou nos anteriores setores de atividade, todos os países ricos apresentam em 2016 custos laborais superiores à média comunitária, coincidindo com esta a Grã-Bretanha, que apresenta os mais baixos níveis entre aqueles. Num segundo plano, surgem todos os países do Leste e do Sul, mantendo-se em nível elevado (9.4), no âmbito da UE, a relação entre os custos mais elevados (Dinamarca) e os mais baixos (Bulgária, como tem sido norma);

b)  É observável, na generalidade, que os custos laborais no setor do comércio e reparação automóvel são inferiores aos observados para a indústria mas que são muito aproximados nos países mais pobres com a notável excepção do caso português onde o trabalho na indústria é mais barato do que no comércio e serviços de reparação automóvel, a que não será estranha a importância relativa de setores de atividade como o têxtil ou a madeira, com remunerações bastante baixas e o amor que os portugueses têm pelo automóvel, endividando-se desmesuradamente para terem uma alta cilindrada. Para grande espanto dos homens da troika quando andaram pela paróquia lusa;

c)   No contexto global em que os custos laborais neste setor são inferiores aos verificados na indústria, destacam-se, pela sua dimensão, as diferenças na Noruega, na Alemanha e ainda na Irlanda;

d)  As variações nos custos laborais (neste caso, no período 2012/16, por inexistência de dados para anos anteriores) para o total da UE foram de 1.4% em média anual. Registam-se elevados incrementos no Leste, embora se deva ter em conta os muito baixos custos relativos no ponto de partida; uma grande parte dos países ricos apresenta valores em torno da média da UE mesmo que as diferenças, para baixo ou para cima, possam ser assinaláveis; muito afastado da média comunitária regista-se o reduzido crescimento dos custos laborais neste setor nos países do Sul, havendo mesmo situações de regressão, em Espanha e na Grécia… como na Noruega embora aqui aqueles custos sejam os mais elevados de todos os países considerados;

e) Em Portugal, os custos laborais neste setor pouco ultrapassem a metade do nível comunitário e o seu crescimento médio nos últimos quatro anos é irrelevante (0.2% por ano); porventura dada a queda da venda de veículos nos anos do programa da troika, uma conjuntura setorial e geral pouco propiciadora de aumentos salariais.

 3.5 - Alojamento e restauração


Alojamento e restauração
2016 (€)
2012/16 (%)

2016 (€)
2012/16 (%)
UE
15,4
1,4
Grécia
8,1
-5,9
Alemanha
17,4
2,5
Holanda
18,6
0,8
Áustria
20,5
6,6
Hungria
4,8
2,3
Bélgica
22,1
1,3
Irlanda
15,7
0,7
Bulgária
2,5
3,4
Itália
19,2
2,3
Chipre
-
-
Letónia
5,3
9,0
Croácia
8,6
2,6
Lituânia
4,8
12,5
Dinamarca
28,6
0,8
Luxemburgo
20,8
1,7
Eslováquia
6,5
4,0
Malta
7,9
0,6
Eslovénia
11,5
0,0
Noruega
32,1
-3,0
Espanha
13,9
0,4
Polónia
5,6
3,6
Estónia
7,3
8,8
Portugal
8,1
-0,3
Finlândia
24,3
1,6
Rep. Checa
6,2
2,7
França
22,9
0,4
Roménia
3,3
9,4
Grã-Bretanha
14,2
0,2
Suécia
25,5
0,2
      Fonte primária: Níveis de custo da mão-de-obra, Eurostat

a)  Os custos laborais no alojamento e na restauração são nitidamente os mais baixos entre os setores de atividade que, dadas as possibilidades, destacámos entre os dados fornecidos pelo Eurostat. As diferenças face aos custos na indústria são enormes, 42.1% (€ 11.2) destes últimos para o conjunto da UE, sendo ainda maiores para alguns dos países mais ricos da Europa, bem como na Grécia. Portugal é o país onde a diferença face aos custos na indústria é menor (“apenas” o correspondente a 28.3%), para além do caso da Croácia;

b)  Uma vez mais os países ricos apresentam os custos laborais mais elevados, mesmo aqueles em que o turismo tem uma relevância muito grande, como a França, a Áustria ou a Itália. Mesmo tendo uma mesma excessiva ancoragem no turismo de sol e praia, Espanha consegue arcar com custos laborais cerca de 72% mais elevados do que os portugueses, o que não corresponde, minimamente às diferenças de custo de vida mas, à tradição negreira do empresariato português. Na orla Sul da Europa somente em Malta os custos laborais são inferiores aos apurados para Portugal, ainda que com pouca diferença;

c) À tradição negreira referida deve juntar-se a tradição da fuga fiscal, mesmo que atenuada com o actual registo das faturas; deve acresce-se a precariedade laboral, não só associada à sazonalidade mas, a uma prática induzida pelos governos, preocupados com o aumento da sagrada competitividade, juntando-se ainda o uso dos pagamentos não declarados a trabalhadores;

d)  As desigualdades nos custos laborais na área do alojamento e restauração são maiores do que nos outros setores considerados; na Dinamarca correspondem a cerca de 11.4 vezes aos observados na Bulgária, que são particularmente baixos;

e)  A variação nos custos laborais nos quatro anos findos em 2016 mostra-se acima da média da UE (1.4% por ano) para a maioria dos países, nomeadamente situados a Leste, onde os valores brutos eram e continuam a ser muito baixos. Com variações insignificantes registam-se sobretudo países ricos e alguns da orla mediterrânica, com realce para a Grécia e Portugal onde houve redução nos custos salariais.

3.6 - Educação, saúde, ação social…


Educação, saúde, ação social…
2016 (€)
2008/16 (%)

2016 (€)
2008/16 (%)
UE
26,6
3,0
Grécia
15,1
-1,8
Alemanha
31,7
2,7
Holanda
37,2
2,3
Áustria
30,6
2,3
Hungria
7,3
-0,3
Bélgica
34,3
3,3
Irlanda
33,8
-0,4
Bulgária
4,4
7,9
Itália
31,3
1,5
Chipre
17,3
-4,1
Letónia
6,4
3,2
Croácia
10,1
0,3
Lituânia
6,8
3,0
Dinamarca
39,7
3,0
Luxemburgo
37,4
1,8
Eslováquia
9,5
6,7
Malta
15,5
4,5
Eslovénia
16,7
0,5
Noruega
47,6
3,2
Espanha
22,7
0,6
Polónia
9,1
1,2
Estónia
9,9
4,7
Portugal
15,4
0,7
Finlândia
32,1
3,1
Rep. Checa
9,6
2,0
França
33,8
1,5
Roménia
5,7
3,0
Grã-Bretanha
28,2
4,7
Suécia
33,3
2,6
        Fonte primária: Níveis de custo da mão-de-obra, Eurostat

a) Em termos globais, na UE, não há diferença entre os custos laborais na educação, saúde… face aos observados para a indústria. Porém, esse indicador pouco representa uma vez que na Escandinávia, Alemanha, França, Áustria e Bélgica os custos laborais na indústria são significativamente superiores aos da educação, saúde… O contrário sucede, com mais evidência no Luxemburgo ou Portugal mas também em Itália, Chipre e Grã-Bretanha, o que revela visões distintas de valorização social dessas atividades.

b)  Em termos geográficos, o intervalo entre os custos mais elevados e os mais baixos em números absolutos, no seio da UE, não se distancia muito do observado para outros setores. Neste conjunto de atividades, o custo laboral mais elevado (Dinamarca) é nove vezes superior ao registado na Bulgária. No sul da Europa, Malta, Portugal e Grécia surgem quase a par, muito aquém de França, Itália ou Espanha.

c)  A variação média anual na UE foi de 3%, acima da taxa de inflação que se situou em 1.6% por ano, para o mesmo período. Sublinha-se o elevado crescimento registado na Bulgária e na Eslováquia, ao contrário de muitos dos países ricos que se posicionam com valores aquém da média;

d) Entre os países com crescimento particularmente baixos dos custos laborais neste setor, contam-se Portugal (0.7% anuais) e Espanha para além daqueles em que esses custos se reduziram, com realce para Chipre (-4.1% anuais, o que representa uma quebra brutal de quase um terço dos valores vigentes em 2008).

                      (continua)

Este e outros textos em:

http://grazia-tanta.blogspot.com/                             

http://www.slideshare.net/durgarrai/documents




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