quarta-feira, 6 de março de 2024

Os níveis do custo da mão-de-obra na UE

  

Pretende-se com estes dados proceder a uma avaliação dos custos do trabalho entre os países da UE, para o período 2008/22.

Para o conjunto daqueles países, nada evidencia uma harmonização, uma aproximação entre os países mais ricos e os mais pobres; isto é, trata-se de uma “união” que pouco tem de União, dominando, desde o início da UE, uma diversidade acentuada para os níveis do “custo da mão-de-obra”. Aliás, a continuidade dessa designação, mantém uma segmentação social que se mantém, há mais de cem anos, em prejuízo dos trabalhadores com salários mais baixos e, maiores obrigações, por parte dos governos e das camadas possidentes.

As loas tecidas pelas classes políticas nacionais sobre a harmonização comunitária representam, na realidade, a integração das hierarquias nacionais e respetivos poderes comerciais e financeiros; e menos, os respetivos poderes políticos nacionais. O modo como as classes políticas europeias assumiram a sua subalternidade perante os EUA na questão da Ucrânia, é bem patente; ficou claro que a questão ucraniana é um negócio de cariz geopolítico e não algo em que a Europa apresente qualquer papel de liderança.

 A Europa continua a ser um palco de desigualdades, num contexto geográfico restrito, no seio de um poder comercial e financeiro essencialmente regional. E que se eleva no âmbito político e económico quando os EUA evidenciam o seu papel soberano global perante as duas grandes potências – China e Rússia.

Decidimos observar, a partir de dados do Eurostat – a estrutura de custos com o trabalho assalariado – para a grande maioria dos países europeus, mormente dos que se inserem na UE. Uma sumária observação dos custos da mão-de-obra mostra uma realidade muito diversa, em nada relacionada com as loas tecidas no sentido de uma homogeneização dos estados europeus. Pelo contrário, as enormes diferenças verificadas frisam precisamente manter as desigualdades e o estabelecimento de uma hierarquia que estabelece diferenciados níveis de riqueza, de salários, de níveis de vida. A própria UE que há muitos anos se apresentava como instrumento de homogeneização dos níveis de vida dos povos europeus, falhou completamente nesse propósito, mantendo-se a colonização económica dos pobres pelos ricos e, uma enorme diferenciação dos níveis de vida.

1 - Em 2022, os valores diários mais elevados para o preço do trabalho (superiores a € 40) evidenciam-se nos seguintes países (em €):

·           Noruega – 55.6, Luxemburgo – 50.7, Islândia – 48.4, Dinamarca - 46.8, Bélgica – 43.5, França – 40.8, Países Baixos – 40.5, Suécia – 40.1.

2 - As situações em que aqueles custos se mostram com valores entre os € 20/40 encontram-se nos países que se registam em seguida:

·           Alemanha – 39.5, Áustria – 39.0, Irlanda – 37.9, Finlândia – 35.9, Zona euro – 34.3, UE – 30.5, Itália – 29.4, Espanha – 23.5, Eslovénia – 23.1.

Os dados apurados permitem que se proceda a algumas equiparações, reveladoras das diferenciações relativas aos preços do trabalho. Assim, os custos na Noruega aproximam-se do dobro dos apurados na Itália e, os preços do trabalho na Dinamarca, duplicam os vigentes em Espanha ou na Eslovénia.

3 - São também numerosos os países com indicadores no intervalo € 10 – 20.

·           Chipre – 19.4, Rep. Checa – 16.4, Estónia – 16.4, Portugal – 16.1, Eslováquia – 15.6, Grécia – 14.5, Malta – 14,0, Lituânia – 13.1, Polónia – 12.5, Letónia – 12.2, Croácia – 12.1, Hungria – 10.

Neste grupo de países, Chipre apresenta custos do trabalho correspondentes a metade dos apurados na Alemanha ou na Áustria; e, no Luxemburgo o custo da mão-de-obra é cinco vezes superior ao vigente na Hungria (€ 10). No caso específico de Portugal, os custos da mão-de-obra são mais de três vezes inferiores aos vigentes na Noruega ou no Luxemburgo.

4 - Finalmente, os países com indicadores inferiores a € 10, são:

·          Roménia – 9.5, Sérvia – 8.8, Bulgária – 8.2

Pautando-se os custos do trabalho nos países balcânicos atrás citados cerca de sete vezes inferiores ao da Noruega, por exemplo,

Observem-se de seguida, as diferenciações registadas no período referido. Como se verá, as variações no período para os custos da mão-de-obra, revelam que a variação em 2008/12 para os países mais ricos se distingue, claramente, da observada para os mais pobres. Vejamos adiante a comparação daquelas variações.

Os países mais ricos, que apresentam custos de mão-de-obra mais elevados, são também aqueles onde o aumento da sua riqueza, no período considerado, é mais elevado. Os maiores acréscimos dos custos de mão-de-obra, no período considerado (2008/12) são; Bélgica + € 10.6; Dinamarca + € 12.2; Alemanha + € 11.6; França + € 9.6; Luxemburgo + € 18.4; Países Baixos + € 10.7; Áustria + € 12.6; Islândia + € 26.5 – que ultrapassam os valores totais dos custos da mão-de-obra vigente em vários países de menor riqueza.

Para os países menos ricos ou… mais pobres, o incremento de valores para o preço do trabalho é menor, como são mais baixos os próprios custos registados da  mão-de-obra. Assim, para os países menos ricos, os custos com a mão-de-obra apresentam os seguintes valores para 2008 e 2022, respectivamente. Para além dos elementos incluídos no quadro que se segue, evidencia-se a redução observada na Grécia e, mostra-se a situação portuguesa com uma muito baixa evolução - € 12.2 em 2008 e € 16.1 em 2022.

 

2008

2022

Variação.

Bulgária

2,6

8,2

5,6

Rep. Checa

9,2

16,4

7,2

Estónia

7,9

16,4

8,5

Grécia

16.8

14,5

-2,3

Croácia

9.2

12,1

2,9

Letónia

5.9

12,2

3,0

Lituânia

5.9

13,3

7,4

Hungria

7.8

10,7

2,9

Malta

11.4

14,0

2,6

Polónia

7.6

12,5

4,9

Roménia

4.2

9,5

5,3

Eslováquia

7.0

15,6

8,6

Sérvia

5.1  (2012)

8,8

3,7

 

Acrescentamos ainda alguns casos de parca evolução dos custos de mão-de-obra – Espanha 4.1%; Itália 4.2%; Chipre 2.7%; Portugal 3.9%, entre outros.

Para terminar, sublinhamos os casos mais marcantes na variação anual (2008/22) – Islândia (1.89%), Luxemburgo (1.31%), Áustria (0.90%), Dinamarca (0.87%), Alemanha (0.83%), Bélgica e Países Baixos (0.76%). Inversamente e, no mesmo período, referem-se casos de situações de redução no mesmo período – Grécia (-0.16%), Noruega (-0.08%) e Turquia (-0.15%).

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