sábado, 30 de março de 2024

A lixeira beneditina

 

A lixeira beneditina

Ei-los que partem, novos e velhos, buscar a sorte noutras paragens, de quatro em quatro anos; excepto quando o tinir das espadas obriga a fradesca remodelação, a chamada eleição, na qual nada muda de substantivo após ardente pugna na sagrado solo da lixeira; onde, por regra, não surge purga. A lixeira beneditina acolhe-os, engravatados, com direito a lugar cativo na missa diária, superiormente dirigidos por uma qualquer figura baça, cinzenta, decadente, como um conhecido traste que mandou polícias armados para defender – sem causa real - a embaixada num país distante.

Na sua maioria, trata-se de 230 paroquianos, deslocados do torrão natal, cuja sorte os destinou a rumarem à lixeira beneditina, para assumirem a suprema honra de chafurdar em prato alheio e servirem-se de inerente e vazia prestação de serviços, realizada por dezenas de serviçais. 

 

Vindos de todos os cantos da paróquia, os trastes apresentam-se, diariamente na lixeira beneditina, como uma baixa nobreza com direitos especiais, vigentes pelo menos, no âmbito de tráfico de influências. Durante quatro anos, espremem-se para ganhar relações sociais; bem como a conveniente atenção no momento de aprovação ou rejeição de propostas vindas da elite fradesca.

Com lugar cativo nas cultas vernissages televisivas, a elite frequentadora da lixeira beneditina presta-se, em tempos de carnaval eleitoral a uma luta árdua, resultante da existência de vários candidatos à gamela. Cada luso comum embebeda-se diariamente com cinco horas de imbecilidades televisivas; e, assim se consolida a homogeneização do tosco discurso vigente no seio da classe política. É um país com menos cultura ou rendimentos que se apresenta nos lugares mais baixos da hierarquia das nações europeias.

Cinzentos e engravatados, os frequentadores do grande edifício beneditino, na sua maioria, dedicam-se a permanecer com o traseiro colado à cadeira, à espera das palavras do fuhrer partidário para o ritual aplauso; ou, que um magnata paroquial, num lauto almoço, acene discretamente com um molho de notas, para a obtenção de algum favor.

Na versão mais lustrosa, a sorte chega à lixeira beneditina, sob a forma de ratazanas de pelo lustroso, prontas a ornar o bando de aves de rapina; isto é,  os chamados empresários e respetivos intermediários no acesso ao pote.

À entrada na lixeira beneditina, ei-los que chegam, bem enfarpelados para cumprir o ritual de nada dizerem de útil ou interessante. E, menos ainda, de possuírem qualquer laivo de criatividade; esperam as disposições legais da paróquia, mormente nascidas e apuradas na própria lixeira beneditina para, passados poucos anos de reverência, com o braço em baixo ou em cima, darem seguimento às solicitações dos magnatas da sua própria paróquia.

Há quem chame ao regime político emanado da beneditina lixeira, “democracia burguesa”. As burguesias tendem a gostar do empreendedorismo; porém, nunca se viu o país tão paralisado pelo baixo nível de investimento útil. E, claro que não é só no SNS; o PRR vai coxo, mas vai distribuir o dinheiro, enquanto os reformados se acomodam como podem, perante os seus estagnados rendimentos. Três em quatro famílias têm dificuldade em pagar os seus encargos.

A publicação da “Visual Capitalist” hierarquiza os países do mundo com a designação de “A Map of Global Happiness By Country in 2024” (https://www.visualcapitalist.com/a-map-of-global-happiness-by-country-in-2024/)

Entre os primeiros lugares situam-se, Finlândia, Dinamarca, Islândia, Suécia, Holanda, Noruega, Luxemburgo e Suíça com indicadores entre 7.3 e 7.1. Nessa escala mas muito mais abaixo, Portugal evidencia-se em 55º lugar com um indicador de 6.0, a par com a Hungria; todos os outros países europeus, com indicadores inferiores, situam-se no Leste.

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