terça-feira, 30 de janeiro de 2024

As desigualdades regionais no comércio externo português

 As desigualdades regionais no comércio externo português

Recentemente divulgámos informação sobre o comércio externo português no capítulo da exportação; iremos, em seguida, proceder a abordagem semelhante no capítulo da importação. A exportação pode constituir, num país, uma entrada de capitais como pagamento da venda a compradores no exterior. A importação, por seu turno, corresponde exatamente ao contrário, com a saída de dinheiro do país comprador dos bens ou serviços, para pagamento a entidades externas, pela venda daqueles bens ou serviços.

A disponibilidade de dados sobre o comércio externo português permite a sua distribuição pelos diversos concelhos do país, bem como das regiões, no capítulo da exportação como no da importação; permitindo-se, assim, uma avaliação das enormes diferenças entre as regiões e os concelhos do país, mormente no capítulo demográfico.

Para os principais aglomerados estatísticos de concelhos (NUT 2), os dados são anuais e apresentados como média para o período 2011/21, no campo das importações, como no que se refere às exportações.

No capítulo das exportações, a capitação é de € 7567 por mil habitantes para o conjunto do país, um valor cerca de € 3000 inferior ao calculado indicador da importação (€ 10567); o que representa o tradicional deficit comercial do país. A exportação total média no mesmo período foi da ordem dos € 78266 M, em comparação com a importação que se cifrou em € 109291 M. A sua repartição quanto ao comércio efetuado com o conjunto dos países da membros da UE ou, exteriores à instituição, mostra proporções muito próximas; mas, como referimos, enquadram-se no quadro da grande desigualdade entre a exportação e a importação.

( € milhões)

Comércio

intra - U E

Comércio

extra - U E



Exportação

 total

70.4 %

29.6%


Importação

 total

69.5 %

30.5%


 

Para a globalidade do país, a exportação pode ser classificada como destinada para países fora da U.E. - 29.6% do total (€ 23131 M) - com o seu complemento de 70.5%, a efetuar-se no quadro comunitário (€ 33370 M). Quanto à importação, as proporções não são muito distintas – 69.5% provenientes da U.E. (€ 75921 M) e 30.5%. do espaço global não comunitário, evidenciando-se em geral, que o comércio externo português se mostra muito centrado e dependente do quadro comunitário.

O quadro seguinte revela o valor total da importação proveniente, por um lado, dos países da U.E. e, por outro, dos países fora do quadro comunitário, enquanto exportadores para Portugal. O facto de as importações vindas da U.E. serem 2.3 vezes superior às provenientes do resto do mundo, evidencia o caráter europeu do comércio português, muito afastado de outros países situados fora da Europa.

Importação

total inter-

nacional

(M euros)

% do

total

U.E (M euros)

Extra U.E.

(M euros)

Popula-

ção

(1000)

Import

per

capita (€)



Portugal

109291

  100,0

75921

33370

10343

10567


Continente

96437

88.2

66091

30346

9856

9785


Norte

24758

22.7

18393

6366

3587

6902


Alto Minho

1725

1.6

1564

162

231

7468


Cávado

2441

2.2

1905

536

417

5859


Ave

3215

2.9

1981

1235

312

10314


A M Porto

15364

14.1

11272

4091

1736

8849


Alto Tâmega

   98

0,1

88

9

84

1158


Tâmega e Sousa

1021

0.9

726

295

409

2499


Douro

210

0,2

180

30

184

1142


Terras Trás-os-Montes

685

0.6

677

7

107

6384


Centro

14511

13,3

10883

3637

2227

6515


Oeste

2000

1.8

1565

435

364

5502


Região de Aveiro

5326

4.9

3799

1527

367

14496


Região de Coimbra

1538

1.4

1023

515

437

3521


Região de Leiria

1935

1.8

1404

531

287

6747


Viseu Dão Lafões 

1804

1.7

1584

220

253

7136


Beira Baixa

172

0,2

162

10

81

2129


Médio Tejo

1092

1,0

773

320

229

4777


Beiras e S. da Estrela

643

0,6

573

70

211

3053


Área Metrop.  Lisboa

52386

47.9

33227

19158

2870

18252


Alentejo

4252

3.9

3129

1123

705

6035


Alentejo Litoral

949

0.9

283

666

96

9844


Baixo Alentejo

271

0.2

254

17

115

2359


Lezíria do Tejo

2115

1.9

1872

244

236

8970


Alto Alentejo

420

0,4

348

72

105

3994


Alentejo Central

497

0.5

372

124

152

3261


Algarve

530

0,5

458

71

467,3

1134


Reg. Aut. Açores

178

0,2

115

63

236

753


Reg. Aut. Madeira

270

0,2

210

61

251

1077


 

São também, regionalmente muito diferenciadas, as parcelas regionais da importação nacional. O caso mais evidente corresponde ao peso da AML no total importado (47.9%) para uma população de 27.7% do total; e, por outro lado, a Região Norte, que enquadra 34.7% da população mas abrange apenas 22.7% da importação global.

Quanto à exportação, o quadro seguinte explana o seu total, bem como o peso nesse total de regiões e municípios. As regiões com maior peso nas exportações são a Área Metropolitana de Lisboa (30.4% do total), a Região Norte (34.6%), cabendo ao resto do território 35%.

 

 

Exportação

total internacional (M euros)

% do total

U.E (M euros)

Extra U.E. (M euros)

 

População

(1000)

Export  per capita (€)

Portugal

78266

100

55135

23131

10343

7567

Continente

72010

92

51937

20074

9856

7306

Norte

27055

34,6

20371

6684

3587

7543

Alto Minho

2278

2,9

1956

322

231

9861

Cávado

3272

4,2

2774

498

416,6

7854

Ave

4979

6,4

3501

1477

311,7

15974

A M Porto

13533

17,3

9830

3703

1736

7795

Alto Tâmega

74

0,1

67

7

84

875

Tâmega e Sousa

2028

2,6

1536

491,6

408,6

4963

Douro

129

0,2

82

46,9

183,9

701

Terras Trás-os-Montes

763

1

626

137,2

107,3

7111

Centro

15110

19,3

11595

3514,9

2227

6784

Oeste

1570

2

1048

522,2

363,5

4319

Região de Aveiro

5627

7,2

4512

1114,4

367,4

15316

Região de Coimbra

1990

2,5

1412

578,5

436,8

4556

Região de Leiria

2255

2,9

1791

463,3

286,8

7863

Viseu Dão Lafões 

1693

2,2

1400

293

252,8

6697

Beira Baixa

233

0,3

201

32,5

80,8

2884

Médio Tejo

1039

1,3

721

318,2

228,6

4545

Beiras e S. da Estrela

702

0,9

510

192,7

210,6

3333

Área Metrop.  Lisboa

23771

30,4

15509

8262,1

2870

8282

Alentejo

5730

7,3

4168

1560,9

704,5

8133

Alentejo Litoral

1620

2,1

1235

384,8

96,4

16805

Baixo Alentejo

1219

1,6

1031

187,5

114,9

10609

Lezíria do Tejo

1530

2

1025

504,8

235,9

6486

Alto Alentejo

497

0,6

404

93,6

104,9

4738

Alentejo Central

864

1,1

474

390,3

152,4

5669

Algarve

434

0,4

292

52,1

467,3

736

Reg. Aut. Açores

164

0,2

118

46,3

236,4

694

Reg. Aut. Madeira

357

0,5

120

237,1

250,7

1424

Observámos atrás a diferença global de € 31025 M entre a importação e a exportação o que evidencia, por concelho, as situações de deficit ou superavit comercial. Assim, relevamos as regiões onde surgem algumas das situações de superavit/deficit.

As situações de superavit comercial evidenciam-se no Norte (€ 2296 M), compreendendo, Ave (€ 1763 M), Tâmega e Sousa (€ 1007 M), Cávado (€ 831 M), Alto Minho (€ 553 M) e Terras de Trás–os-Montes (€ 78 M). Quanto aos valores de deficit, sobressai a Área Metropolitana do Porto (€ 1831 M), o Douro (€ 81 M) e, o Alto Tâmega (€ 24 M). Em termos globais, a região Norte evidencia um superavit global mais que duplo dos deficits apresentados.

Na região Centro o superavit global é de € 599 M, num contexto em que há um relativo equilíbrio entre a exportação e a importação. Ali se incluem as áreas com saldo positivo - a Região de Coimbra (€ 452 M), a de Leiria (€ 320 M), a de Aveiro (€ 301 M), a Beira Baixa (€ 61 M), as Beiras e Serra da Estrela (€ 59 M). Quanto às situações de deficit, assinalam-se as regiões de Oeste (€ 429 M), Viseu Dão Lafões (€ 111 M) e Médio Tejo (€ 53 M). Também no Centro se verifica uma diferença substancial entre a globalidade dos superavits e as situações de deficit.

Quanto à Área Metropolitana de Lisboa há a registar um enorme deficit global de € 28615 M cujo valor se situa próximo do calculado para o total do Continente (€ 24426 M), mostrando Lisboa um deficit de € 16083 M, seguido por Oeiras (€ 8041 M). Quanto a saldos positivos, eles são raros e reduzidos na AML – Setúbal (€ 1578 M), Palmela (€ 404 M) e, com indicadores reduzidos, nos casos de Barreiro e Seixal.

O Alentejo, no seu conjunto, apresenta um superavit de (€ 1478 M), resultante do desempenho do Alentejo Litoral (€ 671 M), dos € 948 M correspondentes ao Baixo Alentejo e do excedente apresentado pelo Alentejo Central (€ 367 M) ou do Alto Alentejo (€ 77 M). A única situação de deficit no Alentejo, recai na Lezíria do Tejo (€ 586 M) que, geograficamente, não são áreas claramente alentejanas.

O Algarve mostra um deficit global de (€ 185 M), para o qual contribuem, essencialmente, Faro e Loulé, com partes quase iguais - cerca de (€ 102 M) cada um. O caso mais relevante quanto a superavit regista-se em Olhão (€ 72 M).

Quanto às Regiões Autónomas, os Açores apresentam um deficit de € 14 M, na sua grande maioria, gerado na Ribeira Grande (€ 18 M). E, por seu turno, a Madeira evidencia um superavit de € 87 M cujo resultado, é gerado no Funchal (€ 162 M), parcialmente compensado pelos deficits de Santa Cruz (€ 45 M) e Machico (€ 21 M).

Observamos, em seguida, alguns dados de caráter concelhio e, já não, por regiões. Entre os 305 concelhos existentes, registamos 109 em que as importações são superiores às exportações, daí resultando, por diferença, que os restantes se cifram em 196. Nesse contexto, é entre os 109 concelhos referidos que o deficit comercial se verifica.

Para o total dos referidos 109 concelhos onde a importação é maior do que a exportação, o valor em causa cifra-se em € 34175 M; o que corresponde a perto de um terço (64.6%) da importação total. Para esse mesmo conjunto de concelhos, a exportação, em geral, cifra-se em € 15139 M, um valor muito inferior à importação registada.

As situações mais elevadas de deficit no comércio externo cabem a municípios como Lisboa (€ 9963 M), Oeiras (€ 3775 M), Sintra (€ 990 M), Matosinhos (€ 690 M), Amadora (€ 606 M), Loures (€ 572 M), Almada (€ 325 M), Cascais (€ 305 M)... Isto é, os concelhos ou aglomerados populacionais mais densos ou, mais ricos, são os que apresentam maiores deficits.

Uma forma de medir os níveis de endividamento local consiste em relacionar o deficit comercial com a exportação emanada da produção local. Por exemplo, a importação em Vila Franca do Campo revela um valor de € 950000, enquanto a exportação se cifra em € 17000, apresentando, por conseguinte, um valor líquido da atividade comercial, neste caso, 55 vezes inferior. Casos menos extremos verificam-se em Santana (52 vezes) e ainda, Loulé, Armamar, Chamusca ou, Ponta do Sol. Entre os indicadores mais equilibrados entre exportação e importação, referimos Rio Maior (2.34%), Ourém (3.23%) e Vila Real de Santo António (3.42%).

São 195 os concelhos com valores de exportação superiores aos de importação, num total de 305; no entanto, o valor global da exportação (€ 53083 M) é inferior ao montante das importações (€ 52939 M).

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