Estado e controlo político
O Estado é um vórtice onde cabem os negócios mais escusos, envolvendo, em regra, a intervenção dessa massa informe, nebulosa e sem escrúpulos, que é a classe política; a classe política é, precisamente, quem tem por missão a formação e a gestão do dinheiro dos impostos, bem como dos contratos a formular com os privados nacionais ou, o capital externo.
Naturalmente, se quem toma as decisões é quem delas vai beneficiar, está aberta a engrenagem do saque tributário, dos truques habilidosos, a favor da própria máquina estatal e dos meandros internos ou externos dos negócios e dos contratos que envolvem os dinheiros públicos.
O envolvimento da classe política no controlo da massa tributária constrói o afastamento total e compulsivo da população, relativamente aos fundos gerados no mundo do trabalho; esse mundo, afogado e anestesiado pelos media, constitui um sorvedouro de riqueza, desviada, através de várias formas, pelos aparelhos estatais, sindicais e mediáticos, pelos truques praticados pelo empresariato, todos zeladores dos seus próprios interesses. Muitas horas de imbecilização mediática constante pela plebe, garantem a paz no céu e na terra. Amen!
Os truques praticados pelos ditos empresários no capítulo da concentração de riqueza constituem a base das desigualdades, da sua constituição, bem demarcada pelos interesses em jogo. Daí, o afastamento geral e compulsivo da plebe, por parte do empresariato que, conjugado com o papel do Estado, traduz a manutenção ou a extensão da riqueza gerada. Neste contexto, tão adequado aos tempos que correm, falar de democracia é um insulto, pois a sua consolidação é assegurada coercivamente pelo aparelho estatal e pelas panóplias partidárias que o ocupam. Nada há de democrático nas sociedades atuais; estamos em época do saque e do poder absoluto por parte das oligarquias, políticas e empresariais.
É evidente que qualquer massa humana procura mais conhecimento, mais riqueza e mais direitos. Porém, essas três realidades apresentam ponderações distintas por parte das pessoas. Não é estranho que haja entre elas uma marcada hierarquia, com a riqueza no pódio, seguida pelos direitos e, no terceiro posto, pelo conhecimento; nos dois últimos casos, com um caráter parco e falso.
No âmbito dessa hierarquia, são as expectativas geradas que, muitas vezes, são coarctadas pelos detentores do aparelho de estado, pelas classes políticas, pelos media, pelos capitalistas. Esses direitos e expectativas oscilam, como fruto da conjuntura económica e social. E, tanto podem ser objeto da brutalidade estatal, instilada pelos grupos económicos, como podem ser o produto de ajustamentos salariais e outras medidas, susceptíveis de melhores salários e mais direitos. Estes, geralmente, não passam de artifícios para que, de facto, nada se altere, mesmo quando se reproduzem os carnavais eleitorais.
A abertura da plebe para a aceitação e concretização de expectativas geradas pelos poderes económicos e políticos, admite duas formulações de ética. Kant, pretendia que cada um adoptasse, produzisse e agisse no âmbito de uma aplicação universal maximizada, ancorada na moral. No caso de Max Weber aponta-se para uma responsabilidade ancorada numa atuação ética da responsabilidade, ligada a uma avaliação dos actos. Porém, nos tempos correntes, a ética é algo distanciado da prática corrente, desprezada pelo economicismo, o consumismo, a competição; estes, como elementos de práticas correntes ancoradas na acumulação de capital, levada ao infinito, tanto quanto possível.
Essa competição a qualquer preço ou, melhor, a um preço real, quantitativamente sempre superior, é construído, agudizado, para além das efetivas necessidades humanas, sem qualquer consideração pela evidente limitação do planeta e dos seus recursos. A grande maioria dos seres humanos é arrastada nessa volúpia, com a conveniente liderança dos capitalistas de maior gabarito; ou, com a intervenção dos militares, sempre na procura de elementos de crescente competição destrutiva. Quanto aos elementos das classes políticas, mostram-se cada vez mais isolados da plebe e, ávidos sorvedores de cargos, mordomias e rendimentos, em troca de favores e actos legislativos favoráveis aos capitalistas, aos chamados empresários.
Claro, que neste contexto, capitalistas e classes políticas mostram-se afastados das realidades, manipulando os media, no contexto de constante e profunda adulteração; ou, com a construção das realidades fictícias mais apropriadas para a dormência ou, a aceitação passiva das multidões de assalariados, precários ou não.
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