As falsas alternativas que andam por aí são várias. Entre a austeridade e
saída do euro com desvalorização da moeda. Entre esta UE ou o encerramento
nacionalista. Entre oligarcas bruxelenses e nacionais, sempre num contexto antidemocrático.
(continuação em
breve - União dos Povos da Europa ou o nacionalismo à
solta)
1 - UE - um projeto inserido
na globalização capitalista
2 – Os alargamentos dos anos
80 e a criação da primeira periferia
3 – A queda do Muro e o
afunilamento político
4 - O dilema
alargamento/aprofundamento
5 – A desvalorização de
salários, rendimentos e direitos
5.1 – Desvalorização da moeda e as suas consequências
5.2 - Desvalorização interna
e os seus efeitos
6 – Os perigos do momento
1 - UE - um projeto inserido
na globalização capitalista
O projeto UE, sob o nome
genérico inicial de CEE, foi um elemento surgido no pós-guerra quando se
percebeu que a recuperação das destruições do conflito exigia uma concertação
na zona nobre do capitalismo dito liberal – a Europa Ocidental e os EUA.
Os EUA, sem destruições de
guerra e com perdas humanas nada comparáveis com as havidas na Europa, -
sobretudo na URSS, em termos absolutos e na Grécia, em termos relativos -
mantinha a sua estrutura produtiva incólume e precisava de a manter, para
evitar que a desmobilização desenvolvesse uma crise de desemprego, como nos
anos 30. Mesmo no contexto da Guerra Fria, seria necessário substituir parte da
produção militar pela de bens de consumo e equipamento e a desmantelada Europa
era um campo fértil para aplicação dessa política.
A Europa, em grande parte
destruída, na sua capacidade industrial, infraestruturas e equipamentos sociais,
seria um bom local para o investimento dos norte-americanos com capitais que,
de imediato voltariam à origem para pagamento de importações europeias dos EUA;
alicerçando-se assim a supremacia do dólar como moeda de reserva e para as
transações internacionais. O Plano Marshall (1947) capeou essa política e foi
completada pela criação da OECE (futura OCDE, em 1948) e pela NATO, em 1949.
Portugal, como prémio pelo apoio aos Aliados desde 1943 (…depois da viragem em
prejuízo do Eixo) recebeu $ 140 M e a Espanha franquista ficou de fora.
A concorrência inicial que o
modelo soviético exercia, como produto do papel determinante da URSS na derrota
do nazismo alimentava ideias para grandes avanços sociais em grandes partidos
de esquerda, mormente em França e Itália e obtinha a simpatia de intelectuais
de nomeada, como Sartre. A constituição da NATO dava para isso um bom
contributo, com a afirmação de uma tutela dos EUA sobre a Europa.
A futura UE foi até aos anos
80 uma fórmula decalcada do Zollverein[1],
uma união aduaneira entre países com níveis de desenvolvimento próximos e numa
área territorial concentrada. O Reino Unido, que ficara de fora do projeto
inicial devido à oposição de De Gaulle só ingressaria no grupo em 1973, com a
Irlanda e a Dinamarca.
Como projeto de agregação de
mercados, a inicial CEE tornou-se precursora dos atuais tratados TTIP[2],
CETA[3]…
negociados entre as multinacionais e os burocratas de Bruxelas ou Washington,
mantidos secretos, a despeito das imensas repercussões na desconstrução de
funções tradicionais dos estados-nação e para a vida dos povos, que se
pretendem venham a estar submetidos a instâncias oligárquicas, a uma escala
geográfica muito mais alargada e distanciada das pessoas do que as instituições
da actual UE.
A concretização daqueles
tratados apresenta-se como uma componente civil, complementar, de uma estrutura
militar nascida no pós-guerra - a NATO - onde a preponderância norte-americana
é clara. Como já foi assinado o TPP[4]
que pretende regular e controlar o comércio no Pacífico - com o isolamento da
China – fica clara a estratégia do Pentágono: a de colocar os EUA como o centro
de uma enorme área marítima e continental, entre a margem ocidental do Pacífico
e a margem oriental do Atlântico, com os BRICS excluídos e o resto do planeta,
fragmentado, submetido à pressão das multinacionais, da dívida e das guerras
inseridas na “luta contra o terrorismo”. A atualidade de Orwell é evidente.
2 – Os alargamentos dos anos 80 e a criação da primeira periferia
Com a entrada da
geograficamente excêntrica Grécia e dos países ibéricos, em 1981 e 1986,
respetivamente, surgiram países com indicadores económicos claramente
inferiores aos membros mais antigos e com eles, os programas de ajuda, os
fundos estruturais e de coesão. Esta era uma nova realidade, a coexistência num
mesmo espaço económico de áreas com grandes discrepâncias de riqueza e
rendimento; se bem que, anteriormente, a Irlanda também apresentasse algumas
distâncias face aos outros países.
Os fundos comunitários foram
apresentados como capitais entrados com contrapartidas formais, meramente
burocráticas, em nome da coesão, da modernização, da integração económica, numa
lógica vagamente federalista para concretizar num tempo futuro, indeterminado.
O dito projeto europeu, porém, pouco mais tem sido que um projeto economicista
de abertura total dos mercados, de vigência das três liberdades cantadas pelo
liberalismo – de circulação de bens, de capitais e de pessoas, verticalizado e
constituinte de desigualdades. Assim. a drenagem de fundos para os países
periféricos, pode dizer-se nunca ter integrado um projeto altruísta e
solidário.
Essas verbas visaram
claramente os objetivos de criação de maior densidade nas trocas no seio da
Comunidade. As estradas, sobretudo as transfronteiriças tiveram grande
incremento, sabendo-se a priori que
na ausência de barreiras de ordem política, o chamado mercado livre favorece as
empresas mais poderosas, com maiores capacidades tecnológicas e produtividade.
As regiões mais desenvolvidas tenderão a alargar o campo para as suas
exportações e as regiões menos “competitivas” ficarão como importadoras
líquidas, com estruturas económicas desarticuladas, com maus serviços públicos,
débeis economias de proximidade e baixos salários, admitindo a polarização, em
muito poucas atividades globalmente valorizadas – minas, floresta, turismo, ou
algumas outras que se insiram nas redes logísticas das multinacionais, como
produto de deslocalizações, beneficiando de apoios estatais e de mão-de-obra
barata para o nível de especialização desejado.
Isto é sabido há muito. No caso português, a
adesão ibérica aumentou extraordinariamente as trocas com a Espanha, nos dois
sentidos, embora as diferenças de desenvolvimento fiquem espelhadas nos grandes
deficits comerciais portugueses face
a Espanha desde então; e com um muito grande relevo daquele país a nível das exportações
ou das importações[5]
portuguesas. A integração portuguesa na UE é particularmente uma integração
ibérica, após séculos de ligação política e económica preferencial com a
Grã-Bretanha ou a França, como é da mais meridiana evidência.
Há já alguns anos, num estudo do impacto da então
IP5 (Aveiro-Vilar Formoso), verificou-se que a nova estrada não conduzira a
diferenças significativas na criação de empresas antes ou depois da sua
construção. Contrariamente ao discurso da propaganda desenvolvimentista, a
estrada aumentou a facilidade de acesso do litoral à fronteira e desta ao
litoral, sendo a região da Beira pouco mais do que uns quilómetros de travessia
obrigatória, para se chegar a Vilar Formoso e daí ao resto da Europa.
Os descontos nas autoestradas que ligam o
interior desertificado ao litoral cada vez mais polarizado na Grande Lisboa e
na corda Aveiro-Porto-Braga, são um rebuçado para alegrar os pobres das
periferias. As portagens fragmentam os territórios e equivalem a rendas
perpétuas, como nos tempos feudais a favor de empresas com influência no
partido-estado, PS/PSD; constituem custos de acesso aos locais com mais
“procura”, com pagamentos à entrada/saída, sem fomentarem qualquer contributo
para que o empreendorismo desabroche nas áreas sem acessos taxados.
Tendo em conta que as transações económicas entre
litoral e interior são desequilibradas, com as últimas a funcionar
especialmente como importadoras dada a sua desertificação económica, as
portagens ajudam os exportadores das regiões mais desenvolvidas e tendem a
desertificar ainda mais as outras. Como é sabido, a lógica da rendabilidade, do
mercado, é absolutamente cega face às desigualdades sociais e territoriais,
enviando os custos desses males para os Estados que, sendo assim, para além de
garantirem os lucros aos “investidores” ainda têm de sobrecarregar a população
com impostos que pagam maus serviços públicos.
Os fundos comunitários e o
crédito abundante criaram uma outra realidade nos países periféricos absorvidos
pela Comunidade na década de 80:
· gradualmente, afirmava-se
uma forte concorrência dos países asiáticos no campo das indústrias tradicionais
dos países periféricos, mormente nos têxteis, negociadas no âmbito do GATT/OMC;
· os “investidores
estrangeiros” apossavam-se das empresas de maior quilate dos setores
industriais da periferia e incorporavam-nas em grupos mais vastos ou
multinacionais;
·
muitos capitalistas dos
países periféricos, sem capacidade tecnológica, de gestão ou de capital,
fecharam ou venderam as suas empresas, cujo produto viriam a aplicar na área
financeira e no imobiliário, em franca ascensão especulativa; os fundos
comunitários destinados à construção e melhoria de infraestruturas viárias e
sanitárias, entre outras, favoreceram os setores de obras públicas e de
construção que se tornaram sobredimensionados e cuja atividade, se travada,
teria um impacto recessivo que colocaria mal o gang governamental de serviço ao
pote;
· em Portugal, a classe
política e os governos PSD/PS, para evitar quebras na economia, envolveram-se
na deriva dos eventos – a Expo-98 e o campeonato europeu de futebol de 2004 –
ambos acompanhados com enorme caudal de obra pública e privada, enormes gastos
improdutivos, para além da tradicional corrupção e xico-espertismo que
caraterizaram também a fraudulenta aplicação dos fundos destinados à formação
profissional;
· a euforia promoveu o recurso
a imigrantes africanos, leste-europeu e brasileiros, fenómeno atípico em
Portugal desde o século XVI, do tempo da… escravatura e que em grande parte
saíram do país a partir deste milénio, sobretudo após a travagem imposta pela troika;
· a reciclagem do dinheiro dos
fundos e da venda, pelos capitalistas nacionais, dos seus negócios, a empresas
estrangeiras fazia-se em benefício do imobiliário, do comércio com o exterior,
sobretudo de importação (com relevo para a preferência saloia pelas altas
cilindradas), com o reforço do capital bancário, com novas instituições, fusões
e lavagem de capitais mafiosos. Esse período caraterizou a euforia do tempo
áureo do cavaquismo e do enriquecimento dos seus gangs.
3 – A queda do Muro e o
afunilamento político
O desmantelamento do bloco
soviético entre 1989 e 1991 cria uma nova realidade, inesperada, embora fossem
conhecidas as enormes dificuldades por que passava o capitalismo de estado ali
instalado, agravado pelo divórcio entre as populações e as oligarquias, para
além da competição armamentista gerada por Reagan. Abria-se, no Leste europeu
um espaço enorme, com dezenas de milhares de pessoas, com bons níveis de
qualificação técnica, dispostos a trabalhar por pouco dinheiro, na miragem de
atingirem os padrões de bem-estar dos vizinhos ricos do lado ocidental da linha
Oder-Neisse. O desmantelamento do capitalismo de estado, incluindo na própria
matriz russa, propiciou negócios criminosos, com o surgimento de neoliberais
assanhados onde antes havia apparatchiks
do “socialismo” que repartiram a apropriação de instalações estatais com
grandes empresas ocidentais, a preço
de saldo[6].
A Alemanha (então RFA)
conseguiu absorver o que havia sido a RDA (a Alemanha de Leste) e descolou
claramente no seio da UE, como o país mais populoso, com uma indústria poderosa
direcionada para o mercado global. Os antigos países do bloco soviético
estavam, em grande parte, na área de expansão germânica desde a Idade Média
(migrações de camponeses, Cavaleiros Teutónicos, Prússia) e que no século XIX
viria a dar corpo à política do Drang
nach Osten; desta vez sem um Bismark nem legiões Panzer. O pêndulo dos
equilíbrios europeus iria deslocar-se da linha do Reno para Leste, favorecendo,
claramente a Alemanha.
Esta nova situação
geopolítica – disciplina que os economicistas pouco relevam, preferindo os
oráculos do excel – trazia também o fim da alternativa política institucional
formulada no pós-guerra, com a existência de um bloco soviético, de um lado e
ancorada, a oeste, em partidos socialistas e comunistas.
Com a ausência de uma
referência real de “socialismo” a partir de 1991, os partidos socialistas
vieram a adoptar o catecismo neoliberal, para se apresentarem como parte do inteira
e consolidada do bipartidarismo europeu atual, tendo como parceiros os velhos
partidos conservadores, democratas-cristãos e liberais, com idêntico catecismo;
um modelo que se estendeu, rapidamente, a Leste. Por seu turno, os partidos
comunistas ocidentais desapareceram de facto, mesmo nos casos onde chegaram a
ter considerável poder (Itália e França), sobrevivendo ainda hoje, na
periferia, o PCP e o KKE, envelhecidos e fechados. Também os grupos radicais
derivados da agitação estudantil e social que se seguiu a 1968, como o RAF
(Baader/Meinhof) ou as Brigate Rosse desapareceram de cena, por ação repressiva
ou isolamento social, neste caso, muito antes da queda do Muro.
A queda do Muro, mesmo
passados 27 anos, continua a cristalizar a grande proximidade política e
ideológica entre os partidos do rotativismo inscritos no S&D e do PPE, ou o
pendor conservador das esquerdas institucionais europeias, de matriz
social-democrata (Die Linke, BE, Syriza, Podemos) ou ecologistas; tudo isso,
pontuado periodicamente por movimentações sociais, voláteis e sem referências
teóricas para a construção de alternativas ao capitalismo neoliberal, nem
capacidade de demarcação da versão estatocrata keynesiana. Esta situação
permite que se diga não haver uma esquerda na Europa, como aliás sublinhado por
Toni
Negri[7],
em Lisboa, evidenciando a leviandade e o ridículo de quantos falam de “esquerda
radical”.
4 - O dilema alargamento/aprofundamento
Ainda antes das transformações geopolíticas na Europa (1989/91), foi
assinalado no Acto Único de 1987, que o aprofundamento das relações económicas
no seio da então CEE, recentemente alargada a Espanha e Portugal, deveria
incluir a total ausência de obstáculos para a circulação de mercadorias e
capitais no seu espaço, sendo peça essencial para o efeito, a criação de um
sistema monetário, no âmbito de uma UEM – União
Económica e Monetária[8].
O Acto Único é detalhado e aprofundado no Tratado da União Europeia
(Maastricht, 1992) que lhe acrescentou a preocupação essencial com a construção
de uma infraestrutura global de transportes que desse suporte físico a esse
mercado alargado e que permitisse as trocas entre um Sul, com sol, praia e
produtor de bens agrícolas e de consumo para utilização preferencial no Norte e
este, vocacionado para a química, o material de transporte, maquinaria e
conhecimento, com destinos internos e sobretudo, exteriores ao espaço
comunitário. Nada que difira das hierarquias típicas que o capitalismo constrói
entre regiões mais desenvolvidas e outras periféricas; e vigentes em qualquer estado-nação
como, naturalmente num plano mais alargado, do tipo UE.
Para a UEM propôs-se uma concretização faseada. Até final de 1993, a
total liberalização dos movimentos de capitais, a peça ideológica fulcral no
pensamento liberal; até ao fim de 1998 a aplicação dos célebres critérios
de convergência[9];
e, finalmente, a partir de 1999 o parto dos gémeos uterinos, o euro e o BCE,
este último, tendo como único objetivo o controlo da inflação, como determinado
pela Alemanha, em atenção à sua experiência dos anos 20. Mais realisticamente,
porque a inflação não convém nada a um sistema financeiro sobredimensionado,
dado que a erosão do poder aquisitivo da moeda desvaloriza o capital mutuado e
o rendimento dos credores, beneficiando os devedores.
Certamente que o desmantelamento do bloco soviético viria a perturbar
esta estratégia, a confrontá-la com novos elementos, no contexto inerente ao
capitalismo, invasivo por natureza, não admitindo espaços vazios, fora do
controlo das suas hierarquias mais poderosas. Assim, perfilavam-se duas
políticas alternativas;
· uma, privilegiaria o aprofundamento das relações e da coesão entre os 12
parceiros, definido em Maastricht e onde as desigualdades já eram bem evidentes[10];
· a outra, apontaria para alargamentos a vários outros países, com o
aumento das clivagens internas em termos de níveis de rendimento,
desenvolvimento e oportunidades.
Num contexto já marcado pelas desigualdades entre os 12 membros, com uma
orla sul claramente mais pobre, certamente que os mais desenvolvidos teriam as
vantagens derivadas do seu maior avanço tecnológico, maior qualificação do
trabalho, produtividade e disponibilidade de capitais; e seriam eles a definir,
objetivamente, a especialização produtiva dos três membros mais pobres.
A discussão aprofundamento/alargamento não foi obstáculo, em 1995, para a integração na UE de três países ricos – Áustria, Finlândia e Suécia – uma tarefa facilitada, do ponto de vista geopolítico, pela redução do papel da Rússia no Báltico e na Europa Oriental (a Áustria como a Suíça continuam ainda a ser os únicos países da Europa Central não integrados em pactos militares); e não se registariam dificuldades de maior para a sua adopção da agenda de Maastricht.
Em 1999 foram fixadas as
equivalências em euros das moedas nacionais dos primeiros países a adoptar a
nova moeda e, em 2001 ela entrou em vigor, em 12 dos 15 países, ficando de fora
– até hoje - a Dinamarca, o Reino Unido e a Suécia.
Em 2004, dá-se o grande alargamento da UE, a vários países do antigo
bloco soviético, às antigas repúblicas bálticas da própria URSS, à Eslovénia, a
mais poupada à guerra entre as antigas repúblicas jugoslavas e ainda aos
estados insulares de Chipre e Malta. Sendo todos mais pobres do que os 15
sócios à data, constituíram o núcleo de uma futura periferia Leste e do reforço
da periferia Sul, onde já estavam instalados os estados ibéricos. Em 2007 foram
incluídas a Bulgária e a Roménia e em 2013 a Croácia, mantendo-se na fila de
espera a Turquia, desde os anos 70, a Sérvia e alguns pequenos países dos
Balcãs, para além da disputa com a Rússia do espaço ucraniano.
O mapa seguinte evidencia as duas periferias, o Centro e dentro do
triângulo a área onde reside o poder económico e político na Europa e que,
naturalmente não se cinge apenas aos estados formalmente pertencentes à UE. Com
o Brexit, Londres não vai deixar de ser a principal praça financeira do mundo
cabendo a Paris, a maior do Continente, apenas um modesto 20º lugar; e a Suíça
também não vai perder o sistema financeiro ali instalado ou algumas indústrias
avançadas.
Tornava-se claro que a UE se mostrava cada vez mais heterogénea
economicamente, com maiores clivagens geográficas no capítulo das
desigualdades, sem harmonização fiscal, salarial ou financeira e mais antidemocrática
no seu funcionamento e nos mecanismos de tomada de decisões, com o Tratado
sobre o Funcionamento da União Europeia, com as alterações neles introduzidas
pelo Tratado de Lisboa, (2007), o Tratado Sobre Estabilidade, Coordenação e
Governação (2012) e os mecanismos e instituições que foram criados no fogo da crise
financeira, das dívidas soberanas e do acentuar, através da austeridade, das
desigualdades entre os estados e as regiões infra-estatais da Europa.
Essas estruturas
antidemocráticas, tendem a reforçar a hierarquia do capital dentro da Europa, a
centrar a decisão a partir de núcleos de burocratas ao serviço das
multinacionais e do sistema financeiro, secundarizando quer as periferias
pobres quer os estados mais pequenos. Tudo isso foi aceite sem protestos nem
reticências pelas classes políticas nacionais, dominadas pelos integrantes do
dueto PPE/S&D, com o trabalho facilitado junto de populações alheadas da res publica, com a política apresentada
como espetáculo para voyeurs e
através da estratégia dos poderes capitalistas.
O arraigado hábito de se
restringir a análise da realidade política ao quadro nacional tende a
menosprezar várias questões:
·
que o capitalismo é muito mais do que uma coleção de paróquias
isoladas umas das outras e, pelo contrário, vem gerando integrações,
construindo elos de dependência mútua, caraterizando-se, portanto, como
sistema; e como em todos os sistemas, as malformações e as dificuldades num
componente arrastam todos para a crise;
·
que na UE, a interpenetração das estruturas económicas, fazendo
parte da globalização capitalista, gerou uma matriz coletiva onde se inserem
27/28 países, com um corpo estropiado é certo mas, de que não é fácil retirar
uma parte, da mesma forma que uma perna ou um fígado não terão vida autónoma
fora do corpo;
·
que a arquitetura da UE se centrou na integração económica,
tendendo a anular a base material da coerência interna das estruturas
económicas de cada estado-nação sem que daí tenha resultado maior coerência no
espaço alargado;
·
como estrutura politica antidemocrática, a UE abalou as
competências politicas dos estados, criou condições para as derivas
nacionalistas e fascistas em muitos deles e, nunca soube incentivar a harmonia
territorial a partir de instituições políticas locais e regionais, como sedes
democráticas de competências administrativas e políticas; preferiu afirmar o princípio
da subsidiariedade[11]
(artº 5º do Tratado da UE) para, com magnanimidade, delegar funções nos
estados-nação e nas suas autarquias;
·
essa delegação fez com que a
grande maioria das nações, ditas soberanas até ao início da globalização, com o
cavalgar desta pelo capitalismo, se transformassem, na realidade, na sua
maioria, algo como grandes autarquias;
·
e, para concluir, as diferenças e os conflitos, latentes ou no
terreno, no plano nacional, entre classes e estratos sociais, com interesses
antagónicos, não podem ser analisados que não num plano global ou, no mínimo,
regional;
5 – A desvalorização de
salários, rendimentos e direitos
Os capitalistas ocupam o seu tempo e o dos seus think tanks na procura de apurar a infraestrutura produtiva e os
seus artefactos financeiros e publicitários, para garantirem acrescidos volumes
de capital. Por outro lado, manipulam as populações para que trabalhem, como e
por quanto os capitalistas entenderem; e que se endividem através de um
consumismo exacerbado, drenando assim, até ao fim da vida, rendimentos para a
reprodução do capital. Uma dupla escravidão, trabalhar arduamente e com má
retribuição, para pagar dívida própria e a pública, que o Estado contrai para
ajudar as empresas, o sistema financeiro e a máquina da corrupção, impondo para
o efeito a punção fiscal.
No que respeita à sua relação com as populações, os capitalistas e os
seus governos praticam fórmulas várias de transferência de custos para a
multidão. Assim, um governo, por pressão dos capitalistas locais ou por
encomenda das instituições da UE (ou do FMI) procede a medidas conducentes a
essa transferência. O aliviar das dificuldades do capitalismo através daquelas
transferências, chama-se desvalorização interna. Esta tornou-se –
independentemente do seu formato – essencial para a sobrevivência do
capitalismo, para a acumulação de capital-dinheiro, tendo em conta a ausência
de aumentos da produtividade, os incrementos brutais da burocracia que absorvem
muito emprego em funções inúteis, estúpidas e mal pagas, a estagnação do
investimento produtivo, etc.
Uma desvalorização da moeda produz, através da alteração dos parâmetros
das relações com o exterior, impactos perniciosos sobre a população que se
reduzem, na realidade, a redução de rendimentos e direitos dos trabalhadores e
da população local em geral; é uma forma de desvalorização interna. Na zona
euro, tendo em conta que as desvalorizações de moeda não são admissíveis, a
perda de direitos e rendimentos da população processa-se apenas através de um
conjunto de mecanismos de ordem interna; corresponde a outra forma específica
de proceder à desvalorização interna.
Esta precisão revela desde já o fito de nacionalistas românticos, adeptos
da LePen ou de políticas patrióticas, além de keynesianos comuns. Menosprezar
os efeitos de uma mítica desvalorização da moeda (própria) e considerar que
serão virtuosos, ao contrário da desvalorização interna através da austeridade,
é uma aldrabice. Aparentando divergências de fundo com os neoliberais, na
realidade apenas revelam uma forma diferente de fortalecer o capitalismo,
apresentando-se junto da multidão com um discurso tecnocrático e aparentemente
de esquerda, coincidente com o discurso do PCP nas últimas décadas ou mesmo,
soprado por aquele partido.
5.1 – Desvalorização da moeda e as suas consequências
A desvalorização da moeda só pode acontecer quando um país tem moeda
própria e uma autoridade monetária soberana, um banco central, emissor e
zelador das cotações dessa moeda, bem como do crédito fornecido pela banca
nacional. Assim, na zona euro, quem poderia desvalorizar a moeda seria o BCE e
jamais um estado membro, através da filial nacional daquele.
Para um país com moeda própria e deficit externo crónico, a
desvalorização da moeda consiste em oferecer mais moeda nacional para obter uma
unidade de moeda estrangeira, aceitar menos divisas numa exportação e ter de pagar
mais num caso de aquisição de bens e serviços no exterior. O objetivo é retrair
os nacionais de importar porque as compras no exterior exigem maior volume de
dinheiro em moeda nacional para as pagar - em divisas, naturalmente; e visa
também o aumento das possibilidades de exportação porque os bens exportáveis se
tornam mais baratos para quem está no exterior, detentor de outras moedas,
valorizadas em relação à do país que efetuou a desvalorização. Os impactos
imediatos e mediatos, as reações externas e internas são múltiplos e tão
imprevisíveis que só resta, a quem tomar a iniciativa, acender uma vela a um
santo para que tudo corra bem.
Teoricamente, um período de desvalorizações monetárias poderá ser
interessante se acompanhado de políticas de substituição de importações o que
pode funcionar num ou outro caso isolado, com forte intervenção estatal ou
investimento estrangeiro (com compra de ativos, embaratecidos pela
desvalorização da moeda) e repressão salarial mas, com escassos resultados se
generalizada, a um conjunto de países, com relações comerciais intensas com o
país que tomou a iniciativa.
Perante uma ameaça ou rumores de desvalorização há uma corrida à detenção
de moeda forte que tenderá a aumentar o seu poder aquisitivo de quem a tiver,
após a desvalorização da moeda nacional. Em meados de 2015 quando se admitia
com alta probabilidade que a Grécia fosse expulsa da zona euro, os gregos,
sabiamente, armazenaram o que puderam em notas de banco, esvaziando as suas
contas de depósitos em bancos gregos; sabiam perfeitamente ser melhor ter
debaixo do colchão uma moeda forte – o euro – do que ver as suas contas
bancárias em euros passarem a ser expressas em dracmas.
No caso do euro, a sua adopção com abandono da moeda nacional foi
pacífica pois ninguém desdenhou receber moeda forte, com uma aceitação
generalizada, sem comissões de câmbio, em troca da sua moeda nacional; e para
além de alguns aproveitamentos oportunistas para a obtenção de ganhos com a
conversão, a subida dos preços entre os países integrantes do euro, não foi
elevada.
Em caso de desvalorizações, sobretudo se sucessivas, quem tiver
capacidade para o acesso direto a moeda forte ganha – por contrabando e
especulação - um poder financeiro acrescido em detrimento da maior parte da
população – trabalhadores, pensionistas, desempregados - cujos rendimentos
perdem poder aquisitivo, sobretudo quando aplicados na compra de bens
importados. Quem poderá ganhar serão os exportadores do país que desvaloriza
que, além de temporariamente ganharem competitividade, saberão deixar o máximo
do produto das suas vendas no exterior, em moeda forte, pois não os entusiasma
a transferência e conversão dessa moeda forte na moeda nacional. Por seu turno,
os importadores saberão incrementar artificialmente o valor das suas compras
para colocarem divisas no exterior, além de aproveitarem a desvalorização para
aumentar os seus lucros, quando da atualização dos preços em moeda nacional. Um
caudal de virtudes… nas cabecinhas dos nacionalistas…
Uma das chaves do sucesso de qualquer política de desvalorização
monetária é a forma como reagirão os trabalhadores à inevitável inflação; disso
depende o sucesso desta forma de desvalorização interna, da efetivação de
transição de rendimentos dos trabalhadores para os capitalistas. Os preços
internos, expressos na moeda nacional não são afetados com uma desvalorização
de uns 30%[12], numa
primeira instância. A questão é que os bens e serviços importados sofrem um
aumento de 30% no seu preço; e se no cabaz de compras de cada pessoa a parcela
de bens importados direta ou indiretamente incorporada naquele for de uns 26%[13],
(a propensão marginal para o consumo de bens importados em Portugal), o aumento
do valor do cabaz, pouco depois da desvalorização é de 30x26=7.8 %. Este é um
valor mínimo para a perda de poder de compra na grande maioria da população.
A outra chave é a reação dos outros países, nomeadamente de um numeroso
grupo de países – a UE - que absorvem a grande fatia das exportações de um país
como Portugal e que castigariam o trânsfuga pelo risco sistémico causado. Um
estudo[14] refere
que para uma desvalorização de moeda da ordem dos 60%, num país “fraco” saído
da UE (consideram 10 a 20% irrealista) a imposição de taxas às suas exportações
seria, pelo menos, equivalente à taxa de desvalorização; não havendo portanto
grande esperança de incremento de vendas para os países da zona euro e assim
melhorar o deficit externo e o desempenho
da economia.
Por outro lado, os exportadores não quererão que haja aumentos salariais
para compensar a inflação pois isso reduziria o impacto favorável da
desvalorização; e iriam pressionar para a utilização de toda a artilharia
estatal e patronal contra as reivindicações “irresponsáveis” dos trabalhadores.
Se estes últimos se mostrarem pouco dispostos a arcar com os custos de
uma acrescida mas fugaz competitividade dos capitalistas nacionais, as armas
usadas são as do costume; a polícia de choque e o sindicalismo amarelo, cuja
utilidade, será a de impor uma responsabilidade patriótica aos trabalhadores. Se
aceitarem essa quebra de poder aquisitivo, mansamente, como um sacrifício para
salvar a pátria, o governo em funções e os empresários agradecem essa
passividade.
Em paralelo com a luta dos trabalhadores contra a perda de poder de
compra, observa-se o aumento dos preços dos bens importados, desenvolvendo-se
um ciclo inflacionista[15]
que induz nova desvalorização monetária, com esta a gerar inflação que, por sua
vez, desembocará na necessidade de desvalorização… E com as impressoras do
banco central a trabalhar ao ritmo do aumento dos níveis de preços e para
abastecerem os bancos e estes poderem conceder crédito na nova moeda,
naturalmente com taxas de juro elevadas. Como se disse atrás uma quebra
provocada no valor da moeda, para ser feliz, exige uma desvalorização interna
efetiva; e esta basear-se-á numa desvalorização do trabalho.
Observe-se em seguida o caso
particular de uma mudança de moeda, com abandono de uma moeda forte e sua
substituição por uma outra, somente com um curso interno, como vem sendo
defendido por românticos nacionalistas, admiradores envergonhados ou confessos
de LePen, patriotas de “esquerda” e correlativos, defensores da saída do euro,
da UE e quiçá, de uma saída para Marte; e que, em contrapartida, se mostram
distraídos perante o torniquete da dívida, as antidemocráticas instituições
nacionais ou comunitárias, tal como desvalorizam totalmente a ameaça do TTIP
que constitui uma forma de controlo dos povos, muito mais distanciada e
abrangente do que a UE, por parte do capital.
Uma desvalorização de uns 30% como apontada pelos nacionalistas lusos[16],
no seguimento de uma re-adopção do escudo, significa que, numa primeira
instância, todos os preços internos passam a ser expressos em escudos numa
paridade de € 1=1 escudo, com a introdução da nova moeda; um género de Big Bang
que, como tal, dura um estrito lapso de tempo. Vejamos um exercício prático.
Quem tiver um salário ou uma pensão de € 1000
passaria a receber nominalmente 1000 escudos mas, como logo a seguir surge a
desvalorização da moeda na ordem dos 30% isso significa que os 1000 escudos
passariam a corresponder apenas a € 700. A partir daqui abre-se todo o cenário
de luta social em que trabalhadores e pensionistas são compelidos a reduzir o
seu poder de compra.
No caso português em que as exportações
incorporam no seu valor prévias importações de 42% do total[17],
a desvalorização da moeda, mesmo a curto prazo tem efeitos nocivos. Suponhamos uma
exportação, hoje de € 10000, considerando uma componente importada de € 4200 e,
para simplificar, admitamos que o restante – € 5800 – corresponde a valor
acrescentado (salários, juros, lucros).
A adopção de uma nova moeda, teria como objetivo
central uma desvalorização de 30% face ao euro, para garantir maior
competitividade aos exportadores. Para isso, a dita exportação, igual em
quantidade e qualidade, teria de ser colocada no mercado global, digamos que
por € 9000. Nesse contexto, têm de ser geradas condições internas para se
vender o mesmo que anteriormente por € 9000 (e não por € 10000 como antes da
desvalorização).
Em termos de economia interna, nacional, na área
da produção, essa exportação seria de 11700 escudos (€9000) e a componente
importada sobre a qual não haverá margem para a redução será de 5460 escudos
(42%x€1000x1.3) uma vez que o bem produzido é exatamente o mesmo, com o mesmo
preço no mercado global, indiferente à desvalorização; assim, com o novo valor
de venda (€ 9000) a componente importada terá maior peso no total (5460/11700
=> 46.7%). Neste contexto, o valor acrescentado (salários, juros, lucros)
seria a resultante deste cálculo (valor de venda – componente importada):
11700 esc (€ 9000) – 5460 esc ( €
4200) = 6240 esc (€ 4800)
Sabendo-se que os juros bancários não são
compressíveis e que a função social do capitalista é por ele mais valorizada do
que os salários dos trabalhadores, não é difícil concluir sobre quem se vai
fazer incidir o esforço empresarial para se ser competitivo no mercado global.
Com o euro, o valor acrescentado era, no exemplo, € 5800 e com moeda própria
com uma desvalorização de 30% face ao euro, o valor acrescentado passa a €
4800. Decididamente – os cálculos em excel assim o dizem - a desvalorização
da moeda num país e a inflação que se lhe segue não são, em regra, favoráveis a
quem trabalha.
No caso de uma dívida pública, a passagem a uma moeda nacional também tem
impactos de monta. Para titulares de dívida residentes no país altera apenas a
denominação da moeda em que os títulos são valorizados; porém, em termos de
poder de compra externo esses titulares perdem o equivalente à taxa de
desvalorização. Assim, um cidadão do país que tenha € 1000 em títulos soberanos
irá passar a tê-los no valor de 1000 escudos novos, embora estes com a
desvalorização passem a equivaler apenas a € 700. Para os titulares estrangeiros
de dívida pública nada altera; se tinham € 1000 continuam a tê-los mas, expressos
nessa unidade monetária, sabendo que equivalerão a 1300 escudos. Como vimos
atrás, no caso da importação, o pagamento de juros e de capital mutuado
torna-se também mais oneroso depois da desvalorização.
Independentemente do facto de serem apenas românticos nacionalistas ou lepenistas
disfarçados com palavreado de “esquerda”, há nesse segmento político uma
questão que comungam – a dívida é para honrar.
· Assim, não consideram o enorme aumento das taxas de juro e as
dificuldades no recurso ao crédito externo, num caso de Portugalexit, perdida a
almofada do BCE que, aliás irá terminar em março próximo. E isso, para além da
dificuldade em obter moeda forte para pagar juros a credores externos, num país
com um deficit externo habitual;
· A Grécia, ainda que ordeira cumpridora das instruções da troika pagaria hoje (16/8/16) taxas de
juro de 8.04% para crédito a 10 anos, contra os 2.68% imputáveis a Portugal e
que se devem comparar com os de Espanha (0.93%), Itália (1.06%) ou Irlanda
(0.34%);
· As várias estirpes de nacionalistas não relevam (e muitos nem percebem) a
dívida como instrumento do sistema financeiro em particular e do neoliberalismo
em geral para aprisionar os povos eternamente; consideram a dívida inserida
numa lógica de boa-fé, como a de empréstimos entre amigos e absorvem
(eventualmente por ignorância) a ideologia contida nas línguas germânicas de
que estar em dívida é um estado de pecado;
· Sendo a dívida um instrumento político de domínio é objeto de ilegitimidade
mas, os nacionalistas apenas mendigam uma reestruturação completamente
ineficaz, mesmo que efetuada, como demonstrámos há dois anos[18].
Para terminar este ponto refira-se a muito clara relação entre
desvalorização da moeda e inflação. Em Portugal, no período 1977/83, durante o
qual o FMI interveio duas vezes na formulação da política económica, houve
cinco desvalorizações da moeda, entre 2% e 15%, cada uma, para além de um
período de desvalorização deslizante. Entre 1978/84 a taxa média anual de
inflação foi de 21.7%, substancialmente acima do que aconteceu posteriormente.
Neste mesmo período a parcela de salários no rendimento disponível passou de
63.7% para 46.6%; para comparação, note-se que em 2010 era de 51.1% e, em 2015,
após a intervenção da troika, aquela
parcela ficou nos 49.1%. Eloquente.
O mesmo estudo[19] já referido atrás estima, numa perspetiva conservadora, que uma saída do
euro de um país do Sul (leia-se Grécia e Portugal) envolveria custos iniciais
de € 9500/11500 por habitante que se reduziriam para € 3000/4000 nos anos
seguintes. Para comparação refira-se que os custos em juros da dívida pública
portuguesa, em 2016 andarão acima dos € 800 por habitante e refletem o efeito
positivo das baixas taxas de juro, em geral e o apoio do Draghi, através do quantitative easing, em vigor até março
de 2017. Neste contexto, a austeridade que se vem vivendo quase se poderia
considerar um simples aperitivo. Que dirão disto os admiradores lusos de Nigel
Farage, LePen, Wilders, Kasczinsky, Orbán e quejandos?
5.2 - Desvalorização interna e os seus efeitos
É evidente que a UE desde o seu início privilegiou a circulação sem
restrições de bens, capitais ou pessoas (neste caso com excepções e
condicionantes) e que o euro foi um instrumento agilizador dessa circulação,
tornando-a mais fluida e menos cara. Também é claro que a UE sempre foi um
projeto de concentração e valorização do capital, de constituição de um mercado
alargado e nunca com objetivos centrados no bem-estar, na harmonização e
equalização territorial ou social dos povos; contrariamente às promessas
fraudulentas dos políticos antes da adesão. A referida circulação é a base da
tal concentração e valorização do capital e gera – como danos colaterais - os
desequilíbrios no seio da UE, que requalifica os países e as regiões, de acordo
com os fluxos de inputs e outputs das multinacionais e do capital
financeiro, destes resultando áreas onde se acumulam negócios e trabalhadores,
outras de onde os jovens saem à procura de melhor vida, deixando para trás
populações mais pobres e envelhecidas.
A decisão de criar uma moeda única visou facilitar as trocas no espaço
onde ela vigorar – para pessoas, capitais e empresas - sem comissões bancárias,
variações cambiais, conversões, sem fronteiras e com isso instalar um elemento
de estabilidade e coesão interna, longe do cenário de desvalorizações que
constituem um género de guerra económica, uma procura de maior competitividade
externa, a qual, para além de fugaz, com efeitos limitados no tempo, é sempre
geradora de inflação.
Do ponto de vista monetário, os países do euro ficaram equiparados a grandes
autarquias numa UE que se procurava ficasse mais integrada, apenas por isso; e
como tal iriam perder a secular soberania monetária, a moeda própria e a
capacidade arbitrária de emitirem moeda, que ficaram confiadas ao BCE.
Nos países com moeda própria, as políticas monetárias e de crédito
interligam-se com o orçamento e a política fiscal, com a segurança social e os
salários, embora diferenciados, não são tão díspares como hoje os verificados
na Europa. A pretensão de um espaço alargado no quadro da UE ou mesmo da zona
euro, não foi acompanhada de lógicas de solidariedade entre os vários
territórios e povos, de um orçamento global, de uma fiscalidade homogénea[20],
de uma mutualização da dívida pública, de uma balança comercial agregada – como
acontece no seio dos estados-nação – e da procura de maior homogeneidade no
bem-estar coletivo.
Por exemplo, Bruxelas exige níveis máximos para o deficit público aplicável a cada país e para a inflação, criou um
sistema bancário e financeiro globalizado sem que os estados possam definir coisa
alguma nessas áreas; em contrapartida, deixa para a interação entre o
mandarinato nacional e o dito “mercado”, áreas tão essenciais como a educação,
a saúde, a habitação, desinteressando-se por definir e impor padrões gerais e
elevados de desempenho. Acrescente-se que os salários e as normas laborais se
mantêm muito diversificadas uma vez que é aí que se joga muito da concorrência
no espaço europeu e da segmentação entre os espaços regionais.
Na Europa, no tempo dos estados mais ou menos soberanos, com os seus
capitalistas, as suas fronteiras, impostos alfandegários, quotas de importação,
dentro do território de cada um deles, não existiam limitações à circulação de
bens, capitais ou pessoas. Mas existiam normas salariais próprias, sistemas
fiscais e bancários próprios, moeda exclusiva e capacidade legislativa quase
total, sem que dai resultassem territórios nacionais homogéneos em termos de
riqueza e oportunidades, níveis salariais iguais, coexistindo, em regra, áreas
deprimidas de onde a população saia, onde poucas atividades subsistiam e guetos
onde se acumulavam os mais pobres, a despeito de existirem políticas de redução
dos efeitos típicos do capitalismo em gerar desigualdades territoriais e
sociais.
Na actual UE, a passagem para um aglomerado de regiões sem conteúdo
federal corresponde sobretudo a um plano mais elevado de concentração e
centralização do capital que beneficia o sistema financeiro, as multinacionais
e a economia mafiosa onde se inscrevem tanto os burocratas de Bruxelas ou
Frankfurt como as coniventes classes políticas nacionais. Sobressaem daí
dinâmicas geradoras de desigualdades territoriais e sociais que se vão cruzar
com as já pré-existentes (ou entretanto surgidas) no seio nos estados-nação,
fundindo-se umas com as outras, recriando novas realidades. Esse processo de
absorção ou repulsão de gente e territórios é o que em linguagem politicamente
correta se vem chamando “integração europeia”.
Como se pode observar com
clareza, as regiões em declínio na Europa são, essencialmente aquelas que
pertencem a países periféricos, quer antes, quer depois da integração na zona
euro[21];
e, inversamente, as que se mantêm atrativas – a despeito da crise financeira e
da anemia económica dos últimos anos – continuam a ser as que já o eram antes
do surgimento do euro, com ou sem a adopção desta moeda, ou antes mesmo da
integração europeia.
Essa agilização da circulação de bens e capitais através de uma moeda
única, insere-se na lógica do capitalismo neoliberal, pouco respeitador das
divisões nacionais e define uma impossibilidade de desvalorizações monetárias
bem como promove riscos diminuídos de inflação; o que facilita, sem dúvida,
multinacionais e instituições financeiras globais.
Neste contexto, coloca-se um teste à capacidade dos capitalistas de cada
país para, aproveitando as infraestruturas construídas com fundos comunitários,
afirmarem as suas habilidades, através da chamada desvalorização interna –
esmagamento de salários, deterioração dos direitos laborais, política fiscal
liberal e amiga dos “investidores”, recurso às deslocalizações da produção ou
de segmentos da cadeia produtiva para países de paga miserável do trabalho e
pouca sensibilidade ambiental e ainda, às externalizações de funções com
recurso a trabalho precarizado, subcontratado.
No caso particular da Península Ibérica assistiu-se a grande concentração
bancária e financeira e o empresariato dedicou-se a uma atividade excluída da
concorrência externa, não exportável, o imobiliário, com a transformação dos
terrenos de antigas fábricas em centros comerciais, supermercados e
urbanizações. Os rendimentos para a viabilização desta volúpia vieram das
poupanças familiares e do recurso ao crédito, com incentivos estatais a esse
endividamento, tornado o motor da economia, com os desastrosos resultados a que
se assiste. Essa deriva não mereceu críticas ou advertências por parte dos
diretórios da UE e sabe-se porquê; para não molestar os interesses
especulativos do sistema financeiro, interessados no incremento da dívida
(pública e privada), maneira rápida de incrementar o capital-dinheiro. Mais
tarde, no seguimento da crise dos subprime
e da falência do Lehman’s caiu no colo dos burocratas e das classes políticas a
recapitalização da banca enquanto a troika
viria a impor a austeridade como instrumento político formal de desvalorização
interna. Note-se que as medidas que enformaram a austeridade em Portugal foram
decalcadas das que foram adoptadas na Alemanha, em 2002 (comissões Hartz)
encomendadas pelo chanceler “socialista” Schroeder; a quem Merkel muito deve
ter agradecido o precioso trabalho.
Temos dificuldade, em abstrato, em dizer o que é mais nefasto para as
populações, se a perda de poder de compra e a repressão policial inerentes à
inflação ou a perda de rendimentos e direitos inerentes à austeridade,
abrilhantada com bestialidades policiais.
Melhor será subir o plano de análise para uma escolha libertadora.
Nas abordagens economicistas
comuns predomina o conservadorismo
agressivo e cego dos neoliberais ou o conservadorismo manso e míope dos
keynesianos[22];
as diferenças entre uma taça de cicuta meio cheia ou meio vazia. Em ambos os
casos toma-se o capitalismo, o Estado, a dívida, a propriedade privada, as
hierarquias, a autoridade, a democracia “representativa”, o nacionalismo, o
consumismo, como coisas naturais, imanentes às sociedades e portanto a-históricas;
o que se traduz num otimismo demente quanto ao eterno crescimento do PIB, como
a relativa à saúde do planeta que nos alberga. Neste plano, mediaticamente
tornado dicotómico, não há saída para o futuro que não dentro de uma daquelas
narrativas. No capítulo da moeda, convém referir que os neoliberais gostam
sobretudo da desvalorização interna para reduzir os rendimentos da plebe,
enquanto os keynesianos são mais atraídos pela desvalorização da moeda para
atingirem os mesmos resultados. A escolha é vossa, uma taça meio cheia ou meio
vazia de cicuta?
6 – Os perigos do
momento
O trabalho político de nacionalistas tout
court recolhe alguma aceitação na plebe porque se insere na saudade de uma
figura mítica como pai protetor da nação (Viriato) ou numa visão da Humanidade
restrita, que não vai além do campanário da aldeia; porém, o resvalar do
empobrecimento e a ausência de uma esquerda cria o perigo de se sentirem
atraídos pela versão fascizante do nacionalismo inerente aos lepenistas.
O lepenismo não pode ser facilmente assumido em países que têm o fascismo
na sua memória coletiva recente, como na Península Ibérica, ao contrário do
Norte europeu ou no Leste, onde a escatologia religiosa (Hungria, Polónia)
esteve marginalizada pelo poder pró-soviético durante décadas. Por isso, as
ideias fascizantes – isolacionismo, fronteiras, patriotismo, estado forte, forças
armadas, identidade nacional, moeda própria - surgem mais facilmente, com maior
seriedade e tolerância se embrulhadas em linguagem de esquerda.
Esse embrulho foi objeto de um trabalho prévio, iniciado décadas atrás,
de combate ao nacionalismo do Estado Novo através de um nacionalismo
“democrático”, mantendo subordinado à unidade nacional qualquer antagonismo
entre, de um lado, trabalhadores e ex-trabalhadores e, do outro lado,
capitalistas e classe política, constituída preferencialmente por patriotas e
gente “séria”. O “Rumo à Vitória” de Álvaro Cunhal defende essa estratégia com
o conceito de revolução democrática e
nacional (1964) que teve uma atualização cosmética mais recente com a política patriótica de esquerda.
O discurso nacionalista assenta numa base afetiva, sentimental, de
valores, que anula qualquer hipótese de discussão (só há discussão com
racionalidade e, inversamente, onde prepondera a fé não há discussão possível);
nesse contexto, a discordância é apontada como traição à pátria sendo a saída
do euro e da UE dogmas constituintes do retorno à grandeza pátria. Como o
capitalismo não é contestado ou mesmo referido, presumimos que a sua
continuidade será, implicitamente, um dogma.
(continuação em
breve - União dos Povos da Europa ou o nacionalismo à
solta)
Este e outros textos em:
[1] Desenvolveu-se em duas fases. Na primeira, em
1834 abrangia os estados do Norte alemão e a segunda em 1867 para abranger os
do sul. Visava estabelecer a liberdade de comércio naquela região e unificou 39
estados de raiz alemã. Durante a sua vigência chegou a incluir a Áustria e o
Luxemburgo e vigoraram acordos de livre comércio com a Noruega e a Suécia.
[3] Comprehensive Economic and Trade
Agreement
[4] Trans-Pacific Partnership
[12] Valor apontado por
Louçã e Ferreira do Amaral no seu livro “A Solução Novo Escudo”
[13] “De facto, de acordo com os
dados de 2008, o consumo privado continha cerca de 26% de conteúdo importado e
a FBCF cerca de 39%, apenas ultrapassados pelas exportações que continham 42%
de conteúdo importado. “ in Análise ao
Esboço do Orçamento do Estado para 2016 - UTAO
| PARECER TÉCNICO n.º 2/2016
[14] UBS Investment Research, Global Economic Perspectives, Euro break-up –
the consequences, September 9,2011
[15] Os
nacionalistas portugueses menosprezam a inflação. Confiam no poder dissuasor da
repressão sindical e policial? Como referem que em 1992/94 a mudança de moeda
na Arménia e na Ucrânia provocou taxas de inflação de 438% e 249% devem
acreditar numa intervenção da Sra. de Fátima para proteger Portugal do ogre da
inflação, no caso de o país sair do euro. (Louçã e Ferreira do Amaral em “A
Solução Novo Escudo”)
[16] Estes,
falam mesmo e com ar … sério de uma saída negociada da UE. Não entendem que a
zona euro é um sistema e que os seus oligarcas jamais facilitariam a saída de
um país, mesmo que pequeno, devido aos riscos sistémicos que provocaria. Se
assim não fosse teriam deixado
a Grécia à sua sorte, em 2015
[17] ver nota 13
[19] UBS Investment
Research, Global Economic Perspectives, Euro break-up – the consequences,
September 9,2011
[20] Pelo contrário, existem países que são verdadeiros
paraísos para as multinacionais – Irlanda, Luxemburgo, Holanda – sendo nesta última que têm sede quase todas as
empresas cotadas na bolsa portuguesa, as componentes do PSI-20
Espanta a manipulação da realidade por algo tão volátil como a brevidade da vida. Não que não tenha valor por ser breve - tem! Ainda assim estes jogos de bastidores indiciam uma megalomania. Virtualmente uma doença incurável. Ou, quem sabe, a tentativa de acrescentar motivos para existir - espécie de niilismo invertido.
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ResponderEliminarA continuação da moeda forte, do Euro alemão forte, numa economia fraca vai levar à destruição de quase tudo e de quase todos nos territórios periféricos.
ResponderEliminarPortugal deve sair do Euro alemão forte e para isso ser possível é preciso um governo nacionalista, competente e honesto para acudir a todos e para promover a substituição de importações e trazer investidores externos para produzirem em Portugal o que os portugueses precisam e para criar empregos e rendimentos para todos e pouco ou muito, com a criação de riqueza em território português tenderá sempre a melhorar os rendimentos de todos e com políticas fiscais e sociais redistributivas e protetoras dos pobres, as condições de vida e o futuro de todos tenderão a melhorar.
Mas com a continuação do Euro alemão forte tenderão inevitavelmente a piorar para quase todos cada dia que passar.
E mesmo os que defendem o Euro alemão forte vão ser atingidos pela sua destruição de tudo e de todos e assim como seus familiares diretos e indiretos.
Se Portugal não sair do Euro alemão forte vai continuar a ser destruída a economia portuguesa, as empresas, as indústrias, o comércio, os empregos, as famílias, as pessoas, as crianças, os idosos, os salários, as reformas, os lucros, as rendas e a vida de milhões de pessoas em Portugal.
Se Portugal sair do Euro alemão forte vai ter de "Pensar Global e Agir Local" para produzir em Portugal tudo o que for possível produzir e só deve importar aquilo que seja impossível produzir em Portugal.
Vai ser preciso chamar os empresários e as empresas estrangeiras para investirem em Portugal e para produzir em Portugal para os portugueses e para exportarem para outros países produtos escassos nesses países e a preços competitivos.
Os países da pseudo união europeia vão ter de se ajudarem uns aos outros para acabarem com o Euro alemão forte e para ajudarem-se uns aos outros, para fomentarem o investimento e a produção industrial nos seus países e para substituírem as importações da Ásia e para centrarem as suas economias na satisfação das necessidades de todos os seus cidadãos e para evitarem a poluição desnecessária de andar a levar daqui para lá e a trazer de lá para cá o que pode e deve ser produzido localmente.
Se continuarmos no Euro alemão forte que incentiva e favorece as importações de tudo e prejudica a produção interna, as exportações e as receitas do turismo e que impossibilita um futuro viável a quase todos e destrói a economia, as empresas, as indústrias, os empregos, os rendimentos e a vida de milhões de pessoas em Portugal e na Europa, do Euro alemão forte, que faz com que quase todos os portugueses caminhem em direção ao abismo e à extinção e muitos territórios ficarão quase desertos.
Se sairmos do Euro alemão forte imos ter dificuldades sem a cooperação de todos os países do Euro, mas como todos sofrem as mesmas dificuldades e já não crescem e já não têm investimento industrial nos seus territórios e todos têm já milhões de desempregados e em Espanha já são 5 milhões de desempregados e mais de 50% dos jovens estão sem emprego e os outros 50% têm empregos precários e mal pagos, o futuro de todos os europeus não é nada promissor e mesmo os filhos e os netos dos políticos atuais vão sofrer imenso com isso.
Isto tem imensas consequências, tais como, a atual crise política em Espanha e noutros países, que só não são mais graves devido à traição dos políticos da falsa esquerda aos seus eleitores, que são enganados, traídos e roubados pelos políticos em quem votam, do seu bem-estar e do seu futuro e do bem-estar e do futuro dos seus filhos e netos.
Nas próximas eleições não votes no PSD, no PS, no CDS, no PCP, no BE e em partidos que continuam a defender a austeridade causada pelo EURO ALEMÃO FORTE e que já prejudicou e destruiu e vai continuar a prejudicar e a destruir a economia, as empresas, as indústrias, a agricultura, as florestas, as pescas, as exportações, as receitas do turismo, os empregos, os rendimentos, os lucros, os salários, as reformas e a vida de milhões de pessoas em Portugal!
Obrigado pelo seu texto. Tem razão em parte no que diz. Mas Portugal sempre foi de facto mal governado. O povo português sempre foi e contínua a ser vítima de parasitas políticos e financeiros. Mas isto devia mudar e melhorar para bem do progresso de todos. Não é possível um mundo sem estados e sem comunidades humanas locais autónomas e capazes de cuidarem do seu bem-estar localmente. As multinacionais têm de se inserirem nas comunidades locais como produtoras dos bens e serviços que essa comunidade precisa e não apenas como comerciantes de produtos importados doutras comunidades. O capitalismo é uma realidade natural e deve-se à apropriação privada da propriedade terra e da moeda criada pelos reis e governos. O capitalismo constitui-se com o investimento público e privado. Não há vida e estados e sociedades sem capitalismo privado ou de Estado. Não há comunidades prósperas e organizadas sem lideranças políticas e sem uma boa governação comum e consensual. Descreve bem as realidades passadas e presentes, mas deve atualizar os seus conceitos ideológicos e tornar-se mais prático e pragmático. Eu analiso e critico as situações nefastas e imorais que se verificam, porque quero ajudar a melhorar e a corrigir os conceitos ideológicos do passado obscuro e ajudar a tornar as mentes humanas mais esclarecidas, mais solidárias e mais humanas e menos egoístas, menos míopes, menos criminosas e até menos auto-destrutivas. Obrigado! Fica bem! Manuel Ribeiro
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