Sumário[1]
1 - Uma década em dez pontos perdida
2 - As eleições nos últimos dez anos e a
estagnação política
2.1 - O desempenho do partido-estado (PSD/PS)
2.2 - Os comportamentos na esquerda
2.3 - A direita assumida
1 - Uma década em dez pontos perdida
Os últimos dez anos podem
ser caraterizados por dez elementos que definem, muito claramente, os processos
de desestruturação económica, de empobrecimento coletivo e de empenho da classe
política naqueles processos.
- Dois governos (Sócrates e Passos) subservientes
aos ditames de Bruxelas, Frankfurt e Berlim, com oposições mansas e coniventes,
em cumprimento das suas funções de turno, sem outra estratégia que não a
obediência e o assalto corrupto ao pote;
- Governos desastrosos devidamente acolitados pela
tosca e fascizante figura de Cavaco Silva, a mais nociva da história
portuguesa do último século, depois de Salazar evidenciam um bloqueio
político a exigir mudança de regime e de reformas constitucionais
profundas;
- Intervenção da troika para monitorizar a austeridade conveniente à montagem da
acrescida dependência financeira do país, da sua periferização como
reserva de mão de obra menos qualificada e barata, bem como exportador de
bens de consumo, intermédios ou de gente jovem;
- Fim do ciclo especulativo do imobiliário
alicerçado no crédito bancário facilitado, por sua vez estribado em
financiamento externo, com perdas médias de 14% desde 2008 no valor das
habitações para além de aumentos no ilegítimo IMI;
- Desmoronamento do sistema financeiro português
com burlas impunes e perdas nos financiamentos estatais para o salvar, a
agravar o deficit público que, por sua vez, é indutor da austeridade paga
pela multidão de trabalhadores e ex-trabalhadores;
- Desmantelamento do já de si desconexo sector
público, com privatizações a preço de saldo e parcerias que formalizam
rendas parasitárias a favor de empresários próximos dos partidos do “arco
da governação”;
- Agravamentos brutais da carga fiscal e clara
redução de direitos laborais e de cidadania, num contexto de valorização
do Estado como agente da espoliação da população em favor do capital;
- Persistente continuidade dos desequilíbrios –
deficits público e do comércio externo - com um estéril investimento
estrangeiro de permeio, baseado na compra de participações em empresas e
de imobiliário, acompanhado por forte fuga de capitais;
- Fragilização e desarticulação do tecido produtivo
com a acentuação da posição de Portugal como corredor secundário de
atravessamento das redes transnacionais de negócio;
- Ativo papel das “esquerdas” na manutenção da
tradicional despolitização dos portugueses e da ausência de contestação
popular.
É neste cenário que se vem desenrolando, no último mês, uma
peça de teatro sobre a luta pelo poder entre o general Alcazar e o coronel
Tapioca.
2 - As eleições nos últimos dez anos e
a estagnação política
Pretende-se com este
exercício observar, mais detalhadamente, um lapso de tempo de dez anos, nos
quais se verificaram quatro actos de eleições legislativas em Portugal; e,
nessa observação conter o modo como se revelaram as preferências dos votantes,
num quadro bastante conservador quanto aos protagonistas, o que facilita o
cotejo.
No capítulo dos
protagonistas e para além do habitual surgimento de pequenos partidos com
votações irrelevantes ou fugazes, observou-se em 2015 uma coligação PSD/CDS,
apresentada como PàF; neste último caso, procedemos, para efeitos de comparação
com anos anteriores, a uma desagregação dos votos colhidos por aquela
coligação, entre PSD e CDS, reproduzindo as proporções havidas entre ambos,
registadas nas eleições de 2011. A evolução observada em geral, permite ainda
aquilatar diferenças regionais e a relevância da expressão eleitoral que se não
materializa por apoio aos partidos políticos.
Pretende-se, nomeadamente,
a partir da análise deste período recente retirar elementos adicionais de
medida da saúde do regime político actual e, sobretudo, evidenciar as imensas
falhas no exercício da democracia, com a captura desta por organizações partidárias,
fechadas, estranhas à população, respaldadas numa Constituição[2] que as elege em guias institucionais
para a iluminação dos populares tomados implicitamente como indigentes
culturais, incapazes, por si só, de escolherem o que convém para as suas vidas
e o seu futuro. Dessa formulação constitucional resulta uma deliberada
construção de despolitização[3], nas famílias, no trabalho e nas escolas,
para justificar o monopólio do exercício de funções de decisão coletiva a uma
classe de iluminados que, como historicamente sucede com todas as classes de
ungidos, cuidam de se rodear de bem-estar, privilégios, direitos específicos e
imunidades exclusivas; e cuidam também dos instrumentos ideológicos,
legislativos e repressivos necessários à perpetuação da sua existência.
Para o efeito, torna-se
necessário proceder a uma massiva e permanente ação de propaganda do regime
através dos media no sentido da despolitização, da apresentação da política
como um emaranhado necessariamente obscuro de jogos de poder; estes, constituem
o tabuleiro onde participam
como jogadores, o sistema financeiro, as empresas do regime, as instituições da
UE e também, corporações tentaculares e poderosas, ciosas dos seus poderes e
privilégios, como são a Igreja Católica, os grupos maçónicos, as confederações
patronais e sindicais, as ordens profissionais, o sistema judiciário e suas
confrarias da toga, o mandarinato universitário, as polícias, os militares;
mais ou menos entrelaçados com a classe política de âmbito nacional, regional e
autárquico que articula, unifica, expressa e zela pelos seus interesses.
2.1 -
O desempenho do partido-estado (PSD/PS)
Temos, desde há vários
anos, considerado que o PSD e o PS, pelas suas escassas diferenças programáticas
e de atuação, como pelas suas filiações internacionais constituem uma frente
única destinada a gerir a criação de riqueza em Portugal, a sua apropriação
pelas hierarquias do capital global e pelas suas parcelas indígenas, num
contexto de paz social, de aceitação dessa subjugação por parte da população.
Temos utilizado para acentuar essa caraterística estratégica de frente única, a
designação de partido-estado, dada a sua permanência continuada no poder
nacional, regional e autárquico nos últimos quarenta anos; pela infestação dos
aparelhos de estado central, regional ou autárquico, empresas, institutos e
órgãos da administração com gente deles emanada; pelo papel central que têm na
devastadora corrupção que carateriza a relação público-privada.
A não fusão do PSD e do
PS tem razões que se prendem com a própria lógica da democracia de mercado,
assente na bipolarização e na alternância. Como se desenvolverá em seguida.
A ditadura fascista,
depois de um período de listas únicas nas eleições, notou que seria necessário
apresentar uma ideia da existência expressa de alternativa ao poder; que
evidentemente não era de todo admissível. Essa encenação aconteceu em 1969 e
foi tentada em 1973 mas então, o encerramento do regime fascista nas suas
próprias dificuldades era tal que nem sequer a oposição se dignou a participar
na farsa.
Para que tudo se
mantenha na mesma é preciso alterar alguma coisa, disse Giuseppe Tomasi di
Lampedusa no seu “Il gattopardo” para mostrar as capacidades de renovação das
oligarquias. Após o 25 de Abril, o livre despontar da diversidade de expressão
e organização política foi rapidamente afunilado no sentido da organização de
partidos políticos, como existia “lá fora” e isso foi contemplado de modo muito
preciso e detalhado na Constituição. Para que tudo se mantivesse consonante com
os interesses dos poderes dentro da sociedade portuguesa e de acordo com a
tutela externa (a caminho da transição da esfera anglo-saxónica para a alemã)
seria necessário criar um sistema vocacionalmente bipartidário, para dar a
ideia da existência de alternativa e admitir que essa alternativa existia, sob
a forma de alternância, entre dois pelotões comandados pelo mesmo general. Nesse
contexto, cada partido do alterne gera a sua mafia própria, em concorrência com
a do outro partido, gerando-se interesses e solidariedades próprias em cada uma
das seitas.
Se o PSD e o PS se
fundissem, a plebe recordaria um PRI mexicano, autoritário e corrupto,
sentir-se-ia dominado por uma ditadura e certamente procuraria alternativas
mais perigosas para os poderes oligárquicos. Podem aparecer unidos,
temporariamente, para o cumprimento dos altos desígnios do capital, como na
gestão da segunda intervenção do FMI e preparação da entrada na CEE (1983/85),
como poderão coligar-se proximamente para imporem as medidas draconianas de “reformas
estruturais” ditadas por Schauble. Para manterem o espírito da alternância e,
na falta de maioria absoluta, o CDS tem sido utilizado como contrapeso.
Nessa encenação convém também que haja mais figurantes no
palco. Nada melhor do que colocar o erário público a pagar perto de três euros
por cada voto recolhido pelos partidos com mais de 50000 votos, para a
utilização desse incentivo na sua manutenção e para o aliciamento de mais
agremiações a participarem em romarias eleitorais. Assim se poderá dizer que o
sistema político é pluripartidário embora o poder não se afaste do controlo do
partido-estado. Como se costuma dizer em meios do futebol, são onze contra onze
mas no final, ganha a Alemanha.
Entre os membros do sistema partidário, em que cada um
recolhe do pote o adequado às suas possibilidades, ninguém levantará questões
sobre a democraticidade de um regime político que discrimina, segmenta, eleitos
e eleitores, no qual estes votam em candidatos nomeados por oligarquias, sem
possibilidade de apearem os escolhidos, por mais patifarias que cometam. Por
estas e outras razões se pode e deve referir a existência de uma classe
política, termo que os membros daquela não usam e ouvem com incómodo.
Os resultados obtidos nos quatro últimos escrutínios pelo
partido-estado (PSD/PS ou vice-versa) - a que somamos alguns pequenos grupos de
acólitos, com uma lógica equiparada e em procura de migalhas que escorram do
pote (PPM+PDR+Livre+MPT+PTP+NOS+Juntos pelo Povo+PURP, em 2015) - são
concludentes do esboroar das apostas neles feitas, expressas em votos.
Variações de votos no
partido-estado e seus próximos
Var 2009/05 | Var 2011/09 | Var 2015/11 | Var 2015/05 | |||||
(nº) | (%) | (nº) | (%) | (nº) | (%) | (nº) | (%) | |
TOTAL* | -436.765 | -10,3 | -7.743 | -0,2 | -252.542 | -6,7 | -697.050 | -16,5 |
AVEIRO | -32.306 | -10,6 | 2.714 | 1,0 | -24.149 | -8,8 | -53.741 | -17,6 |
BEJA | -13.764 | -24,9 | -534 | -1,3 | -114 | -0,3 | -14.412 | -26,1 |
BRAGA | -12.009 | -3,2 | -6.029 | -1,6 | -27.168 | -7,5 | -45.206 | -12,0 |
BRAGANÇA | -4.414 | -6,6 | -2.386 | -3,8 | -6.681 | -11,1 | -13.481 | -20,1 |
C BRANCO | -18.276 | -17,7 | -3.245 | -3,8 | -8.842 | -10,8 | -30.363 | -29,4 |
COIMBRA | -24.313 | -12,8 | -5.397 | -3,3 | -8.940 | -5,6 | -38.650 | -20,4 |
ÉVORA | -14.038 | -21,8 | -673 | -1,3 | -825 | -1,7 | -15.536 | -24,1 |
FARO | -28.373 | -19,1 | 4.291 | 3,6 | -9.552 | -7,7 | -33.634 | -22,6 |
GUARDA | -8.067 | -9,7 | -4.516 | -6,0 | -7.785 | -11,1 | -20.368 | -24,6 |
LEIRIA | -23.381 | -12,4 | 6.289 | 3,8 | -12.025 | -7,0 | -29.117 | -15,4 |
LISBOA | -80.353 | -9,9 | 12.086 | 1,7 | -26.428 | -3,6 | -94.695 | -11,7 |
PORTALEGRE | -11.529 | -21,7 | -953 | -2,3 | -2.144 | -5,3 | -14.626 | -27,5 |
PORTO | -41.348 | -5,4 | -7.224 | -1,0 | -74.277 | -10,3 | -122.849 | -16,0 |
SANTARÉM | -31.911 | -17,3 | 1.843 | 1,2 | -11.288 | -7,3 | -41.356 | -22,4 |
SETÚBAL | -39.213 | -15,3 | 8.711 | 4,0 | -848 | -0,4 | -31.350 | -12,2 |
V CASTELO | -10.859 | -10,1 | -1.635 | -1,7 | -7.139 | -7,5 | -19.633 | -18,2 |
VILA REAL | -7.321 | -6,9 | -1.221 | -1,2 | -10.791 | -11,1 | -19.333 | -18,2 |
VISEU | -16.890 | -9,7 | -1.993 | -1,3 | -15.449 | -10,0 | -34.332 | -19,8 |
AÇORES | -6.954 | -8,7 | -5.933 | -8,1 | 6.913 | 10,3 | -5.974 | -7,5 |
MADEIRA | -16.039 | -14,1 | -1.938 | -2,0 | -5.010 | -5,2 | -22.987 | -20,2 |
* Exclui
votos da emigração
Podem extrair-se algumas notas dos dados acima expostos:
· Relativamente a
2005, o partido-estado e os seus próximos recolheram menos 697000 votos,
recebendo recentemente pouco mais de 3.5 M de apoios entre a população devendo
ter-se em conta que os inscritos para votar, por seu turno, aumentaram em cerca
de 640000, com todas as reservas que se possam colocar ao recenseamento
eleitoral, objeto de uma incúria interessada por parte do partido-estado[4], no
poder há quarenta anos;
· Há grande
desigualdade na evolução dessas perdas, mais acentuadas em 2009 e pouco
relevantes em 2011; o susto da troika
e o descontentamento face a Sócrates contiveram essas perdas em números
reduzidos, uma vez que houve grandes trocas de votos no seio do próprio
partido-estado, do PS para o PSD e que veio a permitir a este, constituir uma
maioria absoluta com o apêndice Portas.
· Em 2009, o
partido-estado perde, percentualmente, votos em todos os distritos, com
particular relevo no Alentejo e, numa segunda linha, em Faro, Castelo Branco,
Santarém, Setúbal e Madeira. Uma maior fidelidade eleitoral destaca-se em Braga,
Bragança e Vila Real. Em 2011, há seis distritos com aumentos de votação no
partido-estado, com maior significado em Setúbal, Leiria e Faro, com as maiores
penalizações a observarem-se nos Açores e na Guarda. Este ano, 2015, há quebras
no apoio ao PSD/PS em todos os distritos, com excepção dos Açores; registam-se valores
absolutos muito significativos no Porto e reduções percentuais equiparadas,
naquele distrito e ainda no interior Norte e Centro (Bragança, Castelo Branco,
Guarda, Vila Real e Viseu).
· Em números
absolutos, nos dez anos agora findos, o partido-estado tem destacáveis perdas
de votos no Porto e em Lisboa embora neste último distrito os valores relativos
sejam os mais baixos do país, só ultrapassados pelos Açores. Não é difícil
apontar razões para essa situação; Lisboa, sobretudo a cidade, é o local de
concentração da riqueza, do poder de estado, do poder económico, com relevo
para a área financeira e ainda, da classe política. À influência da socio-economia
será necessário acrescentar a influência política e ideológica sobre a
população, num contexto mais geral de abandono do interior, da sua
desertificação e do aprofundamento das desigualdades regionais. A
interpenetração entre a população de ambas as margens do troço final do Tejo
justifica que em Setúbal - tradicionalmente apontado como um distrito de
“esquerda” - a erosão do partido-estado seja das menos penalizadoras. Em todos
os distritos que se encostam à fronteira leste e ainda em Santarém e na Madeira,
as perdas de apoio ao partido-estado são superiores a 20% entre 2005 e 2015.
· A distribuição de
ganhos e perdas no âmbito do partido-estado, do bloco central e da paleta dos
seus próximos revela que nos últimos dez anos, a já referida perda de votos entre
2005 e 2015 (697000) tem como principal contribuinte o PS, uma vez que a
redução de apoios do PSD é pequena, observando-se, pelo contrário, um aumento
das votações no variável grupo de pequenos partidos que incluímos como próximos
do partido-estado.
Votos no partido-estado e seus próximos
|
||||||||
Var 2009/05
|
Var 2011/09
|
Var 2015/11
|
Var 2015/05
|
|||||
(nº)
|
(%)
|
(nº)
|
(%)
|
(nº)
|
(%)
|
(nº)
|
(%)
|
|
Total
|
-436.765
|
-10,3
|
-7.743
|
-0,2
|
-252.542
|
-6,7
|
-697.050
|
-16,5
|
PS
|
-503.472
|
-19.6
|
-510.310
|
-24.7
|
183.762
|
11.8
|
-830.020
|
-32.3
|
PSD
|
6.795
|
0.4
|
500.037
|
30.4
|
-542.471
|
-25.3
|
-35.639
|
-2.2
|
Outros*
|
59.912
|
351.3
|
2.530
|
3.3
|
106.167
|
133.5
|
168.609
|
9.9
|
* 2005 – PH;
2009 – PPM, MEP, MMS, MPT/PH, PTP, MPT; 2011 – PPM, MEP, PH, PTP, MPT;
2015 –
PPM, PDR, Livre, MPT, PTP, NOS,
JpP,
PURP
· O PS sofre perdas
massivas de votos em 2009 e 2011, recuperando recentemente o correspondente a
11.8% dos que manifestaram preferência pelo partido em 2011. Em 2009, as perdas
do PS representam a fuga de votos para fora da área do partido-estado, pesem embora
as subidas registadas entre os “outros” (o aparecimento do MEP e do MMS) e
muito marginalmente pelo PSD;
· Em 2011 há uma forte
subida dos votos no PSD, como produto do rol de falsidades e promessas que
convenceram parte importante de um povo muito despolitizado e, com uma variação
quase simétrica do PS, castigado pela crise da dívida e pela austeridade
decretada pela troika. Uma vez que
pouco cresce o voto nos “outros”, esta área política, no seu conjunto tem uma
perda limitada de votos;
· 2015 é o tempo do
castigo eleitoral do PSD que perde mais de um quarto dos seus apoiantes de
quatro anos antes e que, se não tivesse cooptado o CDS (dependente de uma
coligação para evitar a marginalização política e eleitoral) teria ficado aquém
do PS na ordem dos 140000 votos; ao contrário do observado em 2011, a
transferência de votos para o PS é limitada, correspondendo apenas a um terço
das perdas do PSD. O crescimento dos votos nos “outros” deve-se particularmente
a duas novidades – PDR e Livre – que em conjunto recolheram uns 100000 votos e
que provavelmente constituirão epifenómenos de moda. Esta evolução contudo, não
evita que a área política do partido-estado tenha perdido um quarto de milhão
de votos relativamente a 2011;
2.2 - Os comportamentos na esquerda
Os principais partidos
colocados na esquerda do sistema partidário são o BE e o PCP, ambos com vocação
para uma oposição ao partido-estado, acompanhando, com uma postura
essencialmente reativa e conjunturalista, as derivas e as malfeitorias emanadas
dos governos, qualquer que seja a ala do partido-estado que as protagonize; e
geralmente, com uma concertação entre ambos.
Como não apresentam visões sistémicas para uma
alternativa ao poder instituído constituem apenas uma consciência crítica para
quem aceita o conservadorismo imanente à procura de um mal menor, numa lógica
de corrida de fundo atrás do prejuízo, de gradualismo quantitativo que um dia… desembocará numa
alteração qualitativa, na concepção mecanicista cara a Engels.
Esse conformismo retrata, de algum modo, as lógicas dos
aparelhos que, para garantir a perpetuidade, se mostram desejosos de recolher o
apoio popular mas, como algo exterior de que se desconfia. Jamais procuram o
incentivo de uma movimentação social para a criação de uma miscigenação libertadora
das potencialidades da multidão. Aplicam, na realidade, o paradigma leninista
das vanguardas de condutores das massas que, por axioma, são dadas por
incapazes de gerar no seu seio ideias ou movimento social e político; e que,
por essa razão, terão o dever de reconhecer na esquerda, representada por
partidos concorrentes, essa ontológica capacidade de liderança.
Para além dos interesses próprios de cada aparelho, há
diferenças essenciais entre BE e PCP. O primeiro é europeísta e o segundo
nacionalista. O último necessita de garantir o seu papel numas quantas
autarquias e o domínio das estruturas sindicais para poder participar na
Concertação Social e colocar um numeroso funcionalismo partidário, enquanto o
BE não desenvolve reais estruturas partidárias, nem detém a pluralidade de
órgãos de “massas” que o PCP anima (comissões de utentes, centros de idosos,
grupos de jovens, por exemplo, para além do partido ecologista “Os Verdes”).
Nas negociações com António Costa – depois de uma
campanha eleitoral onde o PS foi bastante atacado – ambos os partidos
mostram-se dispostos a viabilizar um governo PS que procurará protocolar um
frágil apoio externo na AR. Resta saber se esse governo, a existir[5], não conterá
apenas o programa do PS adornado aqui e ali com alguns alívios conjunturais e
jamais com medidas estruturais; para desgosto de um eleitorado despolitizado
que acredita na fábula redentora da unidade da esquerda.
Não nos parece que possa vir a ser incluída nesse
programa qualquer referência séria de alívio da dívida e dos seus juros; de
revisão constitucional para a formulação de uma organização política
democrática com alteração do modelo de representação; de revisão das mordomias
e imunidades da classe política; de desgovernamentalização da administração
pública; de revogação do financiamento público de entidades privadas que
parasitam os sistemas de saúde, de educação e ação social; de colocação da
Segurança Social, enquanto fundo dos trabalhadores portugueses, fora da
intervenção governamental; de redistribuição do rendimento, com um plano
agressivo de recuperação de dívidas fiscais e à Segurança Social; de
concretização da regionalização como apontada na Constituição; de funda revisão
da legislação laboral, a favor dos trabalhadores, de apoio a uma concertação
dos países periféricos da UE para a alteração dos elementos de imposição
empobrecedora constantes nos tratados, para a aplicação democrática do
princípio da subsidiariedade, etc.
Recordamos a experiência do PCF como parceiro minoritário
num governo de Mitterrand nos anos 80 que contribuiu para o declínio do
primeiro; não escrutinamos o que resultou de positivo nas alianças com o PS na
câmara de Lisboa e conhece-se a recente experiência do Syriza, que propunha um
programa bem mais avançado que os partidos da esquerda do hemiciclo luso. Será
que uma experiência de comprometimento governamental com o PS por parte do BE e
do PCP lhes trará uma engorda de votos? E, como procederão quando ao PS forem
colocadas as medidas favoráveis aos desejos dos “mercados”, com pesados custos
para a multidão?
Como evidenciámos acima para o partido-estado, observamos
as variações nos quatro pleitos legislativos realizados na última década, para
a esquerda parlamentar, incluindo no que concerne a 2015, os pequenos partidos
lhe serão próximos (PCTP/MRPP + AGIR/MAS) ou aqui incluídos por comodidade (PAN).
Variações de votos no esquerda parlamentar e seus próximos
Var 2009/05
|
Var 2011/09
|
Var 2015/11
|
Var 2015/05
|
|||||
(nº)
|
(%)
|
(nº)
|
(%)
|
(nº)
|
(%)
|
(nº)
|
(%)
|
|
TOTAL*
|
210.069
|
24,7
|
-206.327
|
-19,5
|
296.244
|
34,7
|
299.986
|
35,3
|
AVEIRO
|
16.503
|
45,1
|
-11.745
|
-22,1
|
18.097
|
43,7
|
22.855
|
62,4
|
BEJA
|
6.424
|
23,8
|
-8.034
|
-24,0
|
2.029
|
8,0
|
419
|
1,6
|
BRAGA
|
16.390
|
33,0
|
-14.197
|
-21,5
|
25.202
|
48,5
|
27.395
|
55,1
|
BRAGANÇA
|
3.568
|
85,4
|
-3.631
|
-46,9
|
3.085
|
75,0
|
3.022
|
72,3
|
C BRANCO
|
7.460
|
72,5
|
-5.527
|
-31,1
|
6.832
|
55,9
|
8.765
|
85,2
|
COIMBRA
|
11.060
|
35,9
|
-10.188
|
-24,3
|
10.701
|
33,8
|
11.573
|
37,6
|
ÉVORA
|
6.366
|
24,4
|
-6.818
|
-21,0
|
2.401
|
9,4
|
1.949
|
7,5
|
FARO
|
18.974
|
61,5
|
-9.465
|
-19,0
|
11.096
|
27,5
|
20.605
|
66,7
|
GUARDA
|
5.089
|
71,7
|
-4.576
|
-37,6
|
3.804
|
50,0
|
4.317
|
60,9
|
LEIRIA
|
11.252
|
41,3
|
-6.863
|
-17,8
|
9.899
|
31,3
|
14.288
|
52,4
|
LISBOA
|
17.151
|
7,4
|
-37.496
|
-15,0
|
65.864
|
31,1
|
45.519
|
19,6
|
PORTALEGRE
|
4.629
|
37,4
|
-4.911
|
-28,9
|
2.176
|
18,0
|
1.894
|
15,3
|
PORTO
|
28.430
|
21,8
|
-26.876
|
-16,9
|
68.864
|
52,2
|
70.418
|
54,0
|
SANTARÉM
|
14.644
|
35,6
|
-14.589
|
-26,1
|
11.890
|
28,8
|
11.945
|
29,0
|
SETÚBAL
|
13.673
|
10,1
|
-23.868
|
-16,0
|
26.531
|
21,2
|
16.336
|
12,1
|
V CASTELO
|
6.287
|
48,6
|
-4.257
|
-22,1
|
5.142
|
34,4
|
7.172
|
55,4
|
VILA REAL
|
4.497
|
65,6
|
-3.587
|
-31,6
|
3.383
|
43,6
|
4.293
|
62,6
|
VISEU
|
8.447
|
65,1
|
-7.138
|
-33,3
|
8.956
|
62,7
|
10.265
|
79,1
|
AÇORES
|
4.909
|
103,4
|
-1.972
|
-20,4
|
3.700
|
48,1
|
6.637
|
139,8
|
MADEIRA
|
3.725
|
31,4
|
-589
|
-3,8
|
6.592
|
43,9
|
9.728
|
81,9
|
*
Exclui votos da
emigração
Reunimos de seguida os aspetos mais relevantes retirados
do quadro anterior:
· Em 2009 a esquerda
parlamentar e seus próximos aumentou em 210000 o número de apoios recolhidos - que
se cifraram um pouco acima de um milhão (1060 milhares) – materializando um
acréscimo de 24.7% face a 2005. Em 2011 regista-se uma quebra na votação com
dimensão equivalente aos ganhos contabilizados em 2009; essas perdas, por sua
vez, foram superadas nitidamente no dia 4 de outubro. Assim, as votações
apresentam um ciclo; baixas em 2005 e 2011 (em torno dos 850000) e elevadas,
superiores a um milhão, em 2009 e 2015;
· Há ganhos de votos
em 2009 e 2015 em todos os distritos tal como é em todos que se registam as
reduções em 2011. Em 2009 as maiores subidas percentuais registam-se nos
Açores, no Algarve e ainda no interior Norte e Centro, sendo aqui que se
verifica a maior volatilidade desses votos, perdidos em 2011. Em 2009
destaca-se o baixo crescimento registado em Lisboa e, em 2011, no contexto de
perda generalizada, observa-se na Madeira perdas muito inferiores às registadas
no resto do país;
· A comparação, em
números absolutos dos votos em 2005 e 2015 revela um crescimento global de
35.3%, com indicadores superiores a 50% na maioria dos distritos, com um relevo
muito notório nos Açores. As taxas de aumento dos votantes na esquerda
parlamentar e seus próximos mostram-se particularmente baixas no Alentejo e em
Setúbal, onde a margem de progressão é menor;
· Observe-se, em
detalhe pelos principais partidos e para o conjunto dos restantes a
distribuição de ganhos e perdas que, na década considerada fornece um
quantitativo global, positivo, de quase 300000 votos;
Var 2009/05
|
Var 2011/09
|
Var 2015/11
|
Var 2015/05
|
|||||
(nº)
|
(%)
|
(nº)
|
(%)
|
(nº)
|
(%)
|
(nº)
|
(%)
|
|
Total
|
210069
|
24.7
|
-206327
|
-19.5
|
296244
|
34.7
|
299986
|
35.3
|
BE
|
192747
|
52.9
|
-268113
|
-48.1
|
260900
|
90.3
|
185534
|
50.9
|
PC
|
13913
|
3.2
|
-6022
|
-1.3
|
4805
|
1.1
|
12696
|
2.9
|
Outros*
|
3409
|
6.4
|
67808
|
119.1
|
30539
|
24.5
|
101756
|
190.0
|
* 2005 e 2009 - PCTP/MRPP, POUS; 2011 - PCTP/MRPP, POUS, PAN; 2015 - PCTP/MRPP, AGIR/MAS, PAN
· Quanto ao PCP,
carateriza-se por uma grande estabilidade, com ganhos pouco significativos
(2.9% numa década), sofrendo mesmo um ligeiro retrocesso em 2011. Isso revela
uma grande fidelidade dos seus apoiantes, imunes a conjunturas e procedimentos
táticos do partido e também uma escassa capacidade de atrair pessoas
provenientes de outras opções de voto ou novos votantes. Uma tradicional
cultura de resistência, de desvalorização de maus resultados perante males
piores dos adversários, promove essa cultura de fidelidade, alicerce de uma esperança
sempre renovada;
· Os elementos atrás
apontados revelam que entre os dois partidos da esquerda parlamentar não há
transferências significativas de votos. As variações extremas das votações no
BE não engrossam nem esvaem a PCP. Sociologicamente e do ponto de vista social
os respetivos apoios partem de faixas populacionais distintas, embora as
posições políticas de ambos não se afastem substancialmente, sendo isso percebido
pela grande maioria da população.
Os media mostram os deputados e os
dirigentes de ambas as formações, votarem ou manifestarem-se quase sempre no
mesmo sentido; e mesmo que sublinhassem as distintas posições face à China, à
Coreia do Norte ou ao regime angolano, isso seriam temas pouco interessantes
para o eleitor médio, para quem a política internacional termina onde Badajoz
ficar à vista.
Por outro lado, a posição nacionalista do PCP
face ao euro e à UE não atrairá a maioria do eleitorado do BE, europeísta e
pouco convencido das vantagens do retorno a uma moeda própria. Mais
recentemente, o BE tem aproveitado as ligações que gerou face ao Podemos ou ao
Syriza, a Iglésias ou Tsipras (alargando os seus horizontes para além do Die
Linke) enquanto nada de equiparado se conhece das relações internacionais do PCP,
excepto quando se coloca como defensor da dinastia norte-coreana. O PCP marcou
a sua singularidade logo após a invasão da Checoslováquia em 1968, é um genuíno
produto nacional, de um país periférico, que ficou imune ao desarmamento
ideológico que transformou os camaradas de outras paragens em ferozes
neoliberais.
· Existe uma velha
ideia nas bases eleitorais dos dois partidos e não só – a de uma unidade da
esquerda – e que nunca se concretizou. Numa primeira fase, quando o PCP era
francamente hegemónico, este partido nunca admitiu outra coisa que não uma
assimilação dos outros grupos. Mais tarde, com o relevo eleitoral e mediático
obtido pelo BE, essa plataforma comum também não é viável uma vez que ninguém
iria prescindir da liderança dessa união, com o consequente apagamento do
parceiro.
· Essa unidade dificilmente
acontecerá, por dois motivos principais. Primeiro, porque não há uma verdadeira
movimentação social que gere na base uma verdadeira unidade de ação e que
obrigue os chefes a corresponder aos impulsos da multidão ou a desaparecerem
afogados no seu reacionarismo. Não havendo essa movimentação, os chefes e os
burocratas monopolizam a ação partidária a favor dos seus interesses próprios, corporativos
(veja-se que cada um apresenta candidato próprio às presidenciais próximas)
incorporando-se ambos num campeonato eleitoral de segunda divisão. Vivemos
tempos diferentes em que anarquistas, comunistas e socialistas partilharam
organizações e a luta contra os fascistas espanhóis, até que Stalin ordenou o
controlo da situação pelo PCE, o que Franco deverá ter agradecido. Em segundo
lugar, na esquerda do hemiciclo, nunca foi apontado o caráter de direita do PS,
vastamente conhecido desde o tempo da ditadura, empurrando para as direções do
PS a responsabilidade pela inexistência da tal “unidade da esquerda”,
justificando assim a sua própria inércia ou desinteresse em avançar com essa
unidade;
· Finalmente, uma
referência aos “outros”. Entre 2005 e 2009 há um aumento reduzido, resultante
do crescimento do PCTP/MRPP, afetado por uma quebra no parco pecúlio do POUS,
sendo estes dois os únicos partidos acoplados, neste texto, à esquerda
parlamentar. Em 2011 o PCTP/MRPP cresce uns 20% mas o aumento do desempenho
desta área política deve-se particularmente ao surgimento do PAN que se estreia
com quase 58000 votos. Finalmente, em 2015, o PAN afirmou-se como o elemento
dominante nesta área, conquistando mesmo um lugar na AR, enquanto o PCTP/MRPP
regrediu e o AGIR/MAS falhou redondamente no seu pretenso mimetismo do Podemos,
pouco passando dos 20000 votos;
· A distribuição
detalhada dos ganhos e perdas eleitorais entre 2005 e 2015 revelam ganhos do BE
em todos os distritos com particular realce para o Porto e também em Lisboa,
Braga e Aveiro. As subidas de votação da CDU têm maior relevo no Porto,
mostrando-se bastante modestas nos outros distritos onde houve aumentos de
votação, embora haja algumas perdas com relevo, em valor absoluto (Setúbal e
Lisboa) ou relativo (distritos alentejanos), revelando alguma erosão da CDU nas
suas áreas de tradicional maior implantação. As subidas do BE na capital, em
Setúbal e na Madeira se situam muito para além das perdas da CDU. Entre os
“outros” sobressaem as subidas em Lisboa, Porto e Setúbal no contexto de um
geral paralelismo com a evolução do apoio ao BE.
2.3 - A direita assumida
Sem poder de captação
de um eleitorado, mais facilmente atraído pelo PSD, com maior implantação
local, nas autarquias, na Madeira, o CDS não tem margem para crescer e por isso
a sua sobrevivência depende da utilidade que possa ter para uma das alas do
partido-estado se impor à outra. O pior cenário de governação para o CDS é um
bloco central, um entendimento entre o PSD e o PS que, em princípio é
susceptível de dominar a AR, dispensando o apêndice Portas que deixará de ser
veículo para a infestação de cargos públicos, abandonado por gente que, com
melhores resultados, se dirigirá ao PSD para fazer carreira.
Dentro dessa direita assumida,
o CDS tem um peso significativo e, em contrapartida as outras formações que se
têm podido inscrever nesta área, têm uma presença precária ou de reduzida
expressão nas romarias eleitorais. Referimos o PDA, que em 2015 se incluiu,
estranhamente, no AGIR/MAS; o PCDC, ex-PPV que se destaca na sua luta contra o
aborto; o PND, entretanto extinto pelo Tribunal Constitucional. Mais duração,
notoriedade e expressão tem o PNR, fascista e xenófobo. Como o CDS surgiu
coligado com o PSD nas últimas eleições, repartimos os votos da coligação PàF,
entre os dois partidos, de acordo com o peso eleitoral de ambos em 2011.
Var 2009/05
|
Var 2011/09
|
Var 2015/11
|
Var 2015/05
|
|||||
(nº)
|
(%)
|
(nº)
|
(%)
|
(nº)
|
(%)
|
(nº)
|
(%)
|
|
TOTAL
|
167.220
|
35,9
|
60.958
|
9,6
|
-194.509
|
-28,0
|
33.669
|
7,2
|
AVEIRO
|
10.697
|
25,3
|
-997
|
-1,9
|
-9.713
|
-18,7
|
-13
|
0,0
|
BEJA
|
1.849
|
59,5
|
808
|
16,3
|
-1.960
|
-34,0
|
697
|
22,4
|
BRAGA
|
10.861
|
25,4
|
1.643
|
3,1
|
-7.878
|
-14,3
|
4.626
|
10,8
|
BRAGANÇA
|
2.235
|
25,3
|
-2.394
|
-21,6
|
-2.450
|
-28,2
|
-2.609
|
-29,5
|
C BRANCO
|
2.875
|
38,5
|
831
|
8,0
|
-3.261
|
-29,2
|
445
|
5,9
|
COIMBRA
|
6.165
|
41,1
|
2.678
|
12,7
|
-6.587
|
-27,6
|
2.256
|
15,1
|
ÉVORA
|
2.042
|
49,6
|
1.682
|
27,3
|
-2.672
|
-34,1
|
1.052
|
25,6
|
FARO
|
10.610
|
78,0
|
3.064
|
12,7
|
-10.622
|
-38,9
|
3.052
|
22,4
|
GUARDA
|
4.214
|
52,5
|
-1.147
|
-9,4
|
-3.104
|
-28,0
|
-37
|
-0,5
|
LEIRIA
|
8.712
|
35,7
|
-121
|
-0,4
|
-7.188
|
-21,8
|
1.403
|
5,8
|
LISBOA
|
25.923
|
23,8
|
36.726
|
27,3
|
-49.310
|
-28,8
|
13.339
|
12,3
|
PORTALEGRE
|
2.218
|
66,1
|
826
|
14,8
|
-2.299
|
-35,9
|
745
|
22,2
|
PORTO
|
22.670
|
29,6
|
6.582
|
6,6
|
-23.637
|
-22,4
|
5.615
|
7,3
|
SANTARÉM
|
9.493
|
48,0
|
1.322
|
4,5
|
-8.861
|
-28,9
|
1.954
|
9,9
|
SETÚBAL
|
15.496
|
62,7
|
13.877
|
34,5
|
-20.454
|
-37,8
|
8.919
|
36,1
|
V CASTELO
|
3.583
|
20,3
|
-2.432
|
-11,5
|
-4.042
|
-21,5
|
-2.891
|
-16,4
|
VILA REAL
|
3.454
|
36,3
|
-2.329
|
-18,0
|
-2.233
|
-21,0
|
-1.108
|
-11,6
|
VISEU
|
9.647
|
47,2
|
-4.444
|
-14,8
|
-5.213
|
-20,3
|
-10
|
0,0
|
AÇORES
|
5.107
|
105,7
|
1.527
|
15,4
|
-7.625
|
-66,5
|
-991
|
-20,5
|
MADEIRA
|
9.369
|
84,4
|
3.256
|
15,9
|
-15.400
|
-64,9
|
-2.775
|
-25,0
|
* Exclui
votos da emigração
Ocorrem-nos
os seguintes comentários:
· Desde 2005 até este
ano, esta área da direita partidária mostra um crescimento estimado de uns
33700 votos. Esse saldo positivo deve-se ao crescimento registado em 2009
(35.9%), mais comedido em 2011, seguido de elevadas perdas em 2015, no âmbito
da coligação PàF, com o parceiro PSD;
· Devido à sua
dimensão eleitoral - em torno de meio milhão de votos - e pelo seu escasso
enraizamento, a conjuntura provoca variações muito acentuadas, neste tipo de
formações, incapazes de promover uma erosão significativa no PSD, muito mais
alicerçado no poder e na sociedade. Tomando a variação nos dez anos em análise
observam-se perdas em Trás-os-Montes, no Alto Minho e nas Regiões Autónomas e
crescimento muito concentrado em Lisboa, Setúbal e Porto;
· Esta área política
corresponde quase na íntegra ao CDS cujo volume de votos, no lapso de dez anos,
cresce razoavelmente enquanto o conjunto das outras formações reduz a sua
importância que, aliás nunca foi elevada.
Var 2009/05
|
Var 2011/09
|
Var 2015/11
|
Var 2015/05
|
|||||
(nº)
|
(%)
|
(nº)
|
(%)
|
(nº)
|
(%)
|
(nº)
|
(%)
|
|
TOTAL
|
167.220
|
35,9
|
60.958
|
9,6
|
-194.509
|
-28,0
|
33.669
|
7,2
|
CDS
|
176.787
|
42.6
|
60.441
|
10.2
|
-182.313
|
-27.9
|
54.915
|
13.2
|
Outros*
|
-9.567
|
-18.7
|
517
|
1.2
|
-12.196
|
-29.0
|
-21.248
|
-41.6
|
* 2005 - PND+PNR+PDA;
2009 - PND+PNR+PPV; 2011 - PND+PNR+PPV+PDA; 2015 - PNR+PCDC
As votações no CDS nos dez anos terminados em 2015
revelam subidas modestas de votação na maioria dos distritos, com mais de metade
desses acréscimos a ocorrerem em Lisboa Setúbal, Porto e Braga, por eventual
abrigo procurado por ex-apoiantes do PND. As perdas de votantes observam-se em Trás
os Montes, no Alto Minho e nas Regiões Autónomas.
O conjunto dos
outros partidos assumidos como de direita reduz o seu eleitorado, já de si
escasso, em todos os distritos, com relevo para Lisboa, Porto, Braga e Aveiro.
Até hoje não tèm
vingado em Portugal projetos do tipo Front Nationale de Marine Le Pen ou criminosos
como a Aurora Dourada embora deva ser relevado o crescimento este ano, em perto
de 10000 votos (para um total de uns 27000) da marca do fascista PNR cuja
campanha procurou amplificar os ecos de grupos e governos xenófobos que empestam a Europa, comunitária e não só.
Recorde-se que não há muitos refugiados interessados em vir para Portugal – de
onde sairam muitos imigrantes, nos últimos anos – esperando-se apenas, como
produto de rateio no seio da Comissão Europeia, uns escassos 4500.
Para além do PNR
que se tornou em 2011 o partido com mais votação nesta área, ultrapassando o
PND, comparece na parada o PPV/PCDC com uma votação residual no último acto
eleitoral, eventualmente porque na sua última sessão da AR o governo Passos aprovou
uma lei que agradou a quantos se acham com o direito de controlar os úteros
femininos.
Este e outros
textos em:
[1] Este texto é a
conclusão de outro, publicado recentemente “Sobrevoando 40 anos de eleições em
Portugal” http://grazia-tanta.blogspot.pt/2015/10/sobrevoando-40-anos-de-eleicoes-em.html
[2] Em outros
textos, indicamos alguns onde temos vindo a refletir sobre uma outra
organização política, efetivamente democrática e um modelo de representação que
dê a cada pessoa um direito, sem o qual não há democracia – o igual direito de
eleger e de se candidatar a uma eleição.
[5] Mantemos
uma expectativa céptica sobre a concretização dessa “maioria de esquerda” e
menos ainda que dela resultem ações sérias de alteração da correlação de forças
entre o capital e o trabalho ou de resistência face às exigências vindas de
Bruxelas, Berlim ou Frankfurt
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2015/10/depois-da-romaria-eleitoral-o-programa.html
Apesar do seu relativo interesse, trata-se a meu ver de uma análise essencialmente "aritmética" e mecanicista. Embora o PáF tivesse como objectivo minimizar as perdas eleitorais do PSD/CDS e maximizar os resultados tradzidos em mandatos, ter-se-à tratado dum bom "negócio" para a sobrevivência do CDS que, doutro modo e por accção do voto util no PSD, ficaria muito longe de conseguir os 18 deputados. Aliás seria útil perceber o porquê da afobação do acordo de governação post-eleitoral do psd/cds, desfeito ainda nem 30 dias decorridos, libertando o CDS para eventual bengala do "centrão". Quanto ao PCP tb seria útil verificar pk sobe em regiões tradicionalmente "hostis". descendo noutras em que mantém a implantação autárquica, como o distrito de Setúbal,aparentemente por transferência de votos a favor do PS
ResponderEliminar
ResponderEliminarNo momento em que assistimos à imposição daquilo a que você refere, e muito bem, como alternativa bipartidária dos dois ramos do partido estado, sob a forma de alternância, visto que essa alternativa não resultou naturalmente como consequência do acto eleitoral, é extremamente importante salientar que todas as nossas dúvidas se esclareceram ao ser conhecido o programa surgido do acordo com os dois partidos da esquerda.
De facto todas as principais questões fracturantes da nossa economia política não estão contempladas. Desde logo o emprego. Deveriamos estar a discutir a criação para já de um banco de investimento para esse fim. A resolver, porque já é tempo, todas as questões que você elenca em - 2.2 Os comportamentos na esquerda - todo o parágrafo que começa com "Não nos parece que posssa vir a ser incluída nesse programa qualquer referência de alívio da dívida..."
Noutro tom para agradecer o rigor da sua análise . Excelente.