Pode dizer-se que em 11
de setembro de 2001, a criatura mordeu a mão do criador. Abordaremos em seguida
algumas situações reveladoras dos atos criadores e da inclusão das criaturas no
perímetro dos interesses dos criadores.
Sumário
1 – Uma base de opressão e desigualdades
2 - Afeganistão – um primeiro capítulo
2.1 - O fortalecimento do jihadismo no Afeganistão
3 - Novos cenários para a atuação jihadista
3.1 – A estreia na Europa – A Bósnia
3.2 – Um viveiro do crime – O Kosovo
3.3 –
Chechénia – ventre mole da Rússia?
1 – Uma base de opressão e desigualdades
As causas da
desestabilização crescente no Médio Oriente e em África são estruturais e não
se resolvem com a recepção de refugiados a contragosto e, menos ainda, com
bombardeamentos. Emblematicamente os dois gráficos seguintes, revelam esses
problemas estruturais resultantes das grandes desigualdades que dividem a orla
mediterrânica[1]. Essas desigualdades são de per si violentas; e
onde há violência, há resistência que, pacífica ou não, por norma, atrai mais
violência, destruição e sofrimentos. Mesmo que não seja referido explicitamente
nos discursos editoriais, na base dos conflitos estão as relações desiguais que
caraterizam o capitalismo.
Fonte primária: CNUCED/UNCTAD
A compreensão
ocidental dos problemas vividos, nasce e cinge-se, desde há muitas décadas à
leitura das questões relativas à infraestrutura económica à qual se exige
produza o desenvolvimento económico – cujo nome disfarça o extrativismo
predatório - como solução; sem tocarem na propriedade dos meios de produção, na
distribuição do rendimento gerado, nem evitarem a destruição dos ecossistemas. Em
contrapartida canta-se a estúpida narrativa neoliberal do investimento que gera
emprego, do baixo salário como base da competitividade, do consumo montado em
dívida.
Há uma
superstrutura ideológica de crispação, de choque de civilizações, teorizada por
Huntington, que atualizou para o mundo pós-colonial o complexo de superioridade
do colonizador, exigente da obediência e da mimetização de hábitos
“civilizados”[2] pelo colonizado mas, pouco votado a compreender o
sentir e a racionalidade inerente à cultura dos indígenas, dos nativos,
mantidos atrasados pelos 3 M’s de René Dumont, no referente à África[3]. Essa superioridade geradora de direitos de
liderança e de imposição aos recalcitrantes designa-se, muitas vezes por
eurocentrismo e é a fonte de uma dívida menos falada do que a financeira, que é
a dívida colonial.
A contestação
radical que foi conhecida na Europa nos anos 60/70 do século passado baseava-se
em filosofias de raiz europeia e foi essa mesma a base política dos movimentos
de libertação anticoloniais. Naquela época, as culturas europeias confrontaram-se
com a imolação pelo fogo de monges budistas no Vietnam, em luta contra a
ditadura local, totalmente incompreensível para os europeus, incapazes de
entender a força da mensagem de protesto daqueles sacrifícios serenos e
pacíficos. Do mesmo modo, os atentados praticados por muçulmanos, com o
rebentamento de cintos com explosivos, para atingir o inimigo, são actos que
resultam da falta de esperança, da humilhação racista, da vingança de parentes
vitimados ou da vingança comunitária, face a um opressor ou agressor e não a
procura de benfeitorias no Além. Uma vez mais, as causas estão no terreno, na
pobreza, nas desigualdades, na falta de futuro, na humilhação comunitária, na
agressão externa, na repressão. Na antiga Saigão, em Nova Iorque, em Paris.
Podem colocar um polícia em cada porta, um a vigiar cada IP de computador,
vigiar fronteiras e escrutinar listas de passageiros, aumentar as trocas de
informações e bombardear países inteiros que nada disso irá alterar a essência
do que é espelhado nos gráficos acima inseridos.
Com toda a verdade histórica do seu lado, os árabes e os
muçulmanos em geral apontam para as responsabilidades ocidentais na divisão política,
arbitrária e artificial do território do extinto império otomano, na década de
20 do século passado, em reinos entregues a famílias coniventes com os
interesses, nomeadamente dos ingleses – os al-Saud na Arábia, os hachemitas na
Jordânia e no Iraque, os al-Husayn no Yemen, os al-Sabah no Kuwait, para além
da manutenção das famílias reinantes nos vários protetorados ingleses do Golfo.
Merece ainda uma incontornável referência, o facto de que são os ingleses a permitir
a criação, em terras palestinianas, da entidade genocida conhecida por Israel,
logo substituídos na sua proteção pelos norte-americanos; o que vai durando até
hoje.
O paulatino desvendar das imensas riquezas energéticas na zona,
tem vindo, desde então, a acentuar as intervenções de vária índole dos
ocidentais, as quais vêm impedindo a autonomia e o progresso na região, mesmo
que seja popular uma narrativa em torno do fatalismo muçulmano que atrai esses
povos para a manutenção da pobreza ou para uma mórbida atração cultural pelo
exercício da violência. É fácil detetar os beneficiários dessa narrativa
racista que, nesse contexto, se pretendem apresentar como vítimas de
incompreensão.
Em toda esta área geográfica é sentida uma mescla de desejo pela
prosperidade dos ocidentais e de ódio pelo facto de um acesso à prosperidade ser
bloqueada por aqueles - e seus aliados das casas reinantes ou ditadores avulsos
- para a continuidade da pilhagem do petróleo. A emigração para a Europa,
nomeadamente, mesmo restringida, tem como consequência, lógicas
discriminatórias e guetos que atingem também várias gerações de já nascidos na
Europa.
Convém ainda sublinhar que uma perigosa segmentação dos povos se
está também a desenhar na Europa, com o acentuar de diferenças entre um centro
rico e periferias que, através dos mecanismos da dívida são instados a reduzir
rendimentos, direitos e bem-estar por parte de uma reduzida oligarquia que une os
cúpidos banqueiros, os estreitos burocratas que pululam na corda
Berlim-Frankfurt-Bruxelas e as suas metástases nacionais. Em nome da segurança,
por seu turno, insinua-se nas instituições e em algumas mentes, a xenofobia e o
fascismo, bem como a aceitação de intromissões policiais e militarizadas[4]
dos espaços públicos e privados que fazem lembrar o reino do Big Brother.
Por muito que esteja afastado dos noticiários e das bocas dos
encartados comentadores do costume, o combate dos povos de ambas as margens do
Mediterrâneo faz-se a partir da mesma trincheira.
2 - Afeganistão – primeiro capítulo
Em julho de 1973 um
dignitário afegão, Daud Khan, derrubou o rei – de quem era primo – e acabou com
a monarquia, com o esperado apoio do Parcham, uma fação do PDPA - Partido
Democrático do Povo do Afeganistão. Daud, inicialmente, recolheu algum apoio da
URSS antes de dar prioridade às relações com o Irão, então governado pelo xá
Pahlevi, próximo dos EUA.
Em 27/4/1978, Daud é
deposto pelo exército, onde reinava grande simpatia pelo PDPA e assassinado (com
a sua família), sendo substituído por Nur Taraki, secretário-geral daquele
partido. O novo governo procedeu a reformas modernizadoras que dividiram as
duas fações do PDPA – os parchamis,
na sua maioria não-pashtuns e os khalkis
- e provocaram com isso a reação das tribos, onde vigorava um forte
tradicionalismo, bem como dos latifundiários, ameaçados pela reforma agrária, o
fim da usura e a anulação da dívida de pequenos agricultores. Ainda no tempo de
Daud, em 1975, o Paquistão de Ali Butho, por solidariedade com as tribos
pashtun e para criar dificuldades ao governo de Cabul, apoiou a rebelião do
Jamiat e-Islami cujos membros, derrotados, se refugiaram no Paquistão.
A influência soviética
no Afeganistão era tradicionalmente grande, como produto da colisão entre os
russos/soviéticos e os ingleses, colonizadores da Índia e do futuro Paquistão
que, desde o século XIX, haviam constituído o Afeganistão (e a Pérsia/Irão) como
estado-tampão para conter a aproximação russa dos “mares quentes”. Sobretudo,
depois da II Guerra o apoio soviético ao Afeganistão aumentou na construção de
infraestruturas, das universidades de Cabul, Herat e outras, para além de
apoios humanitários e de âmbito militar; a URSS beneficiava assim, da retirada
dos ingleses com a extinção do seu Império das Índias. Por outro lado, a
nuclearização dos dois contendores do conflito indo-paquistanês tornava o
Afeganistão um instrumento interessante para o apoio a um deles, sentindo-se
também a influência do Irão e, nesse plano, ainda no tempo de Daud Khan, as
forças armadas foram reforçadas com forte apoio soviético.
Em meados de 1978 surgem
os primeiros grupos de rebeldes nas zonas montanhosas junto à fronteira com o
Paquistão (pashtuns) e em setembro de 1979, Hafizullah Amin, da fação khalki assume o poder depois do
assassinato de Taraki (dentro da prática local à época), somando à luta aos
rebeldes, a luta contra os parchamis.
Neste período, a repressão aos poderes tradicionais e religiosos era
particularmente impiedosa, incluindo execuções, provocando a fuga do país de
oposicionistas do regime. Um levantamento rebelde em Herat (março de 1979)
provocou a morte de 100 soviéticos a que se seguiu uma forte repressão, a
generalização da rebelião (em 24 das 28 províncias) e deserções do exército. Na
sequência, o presidente norte-americano Jimmy Carter assinou em 3 de julho a
sua primeira diretiva[5]
para apoio secreto aos opositores do regime de Cabul, cerca de seis meses antes
da entrada de tropas soviéticas. A crispação dos EUA já se havia demonstrado,
prenunciando um futuro período de confrontação entre as superpotências, quando
Carter se recusou a ratificar o tratado SALT II sobre a proliferação do
nuclear, em junho do mesmo ano, 1979.
Brejnev não queria
enviar tropas para o Afeganistão, conhecedor das debilidades da economia
soviética, dos riscos políticos de uma aberta intervenção no exterior e da
oposição declarada do povo soviético. Perante a degradação da situação interna,
o governo afegão instou a intervenção soviética que, em 16 de junho de 1979 se
materializou no envio de tanques para proteger Cabul e os aeroportos; e, pouco
depois (7 de julho) paraquedistas desarmados entram na base de Bagram, havendo
ainda a preocupação de não interferir no conflito local até porque a URSS
discordava das atitudes sectárias de Hafizullah Amin que, em setembro, havia
passado de primeiro-ministro a presidente da república.
Amin tornava-se um
elemento cuja atuação incentivava a rebelião e assim, tropas soviéticas com
uniformes afegãos, de 27 para 28 de dezembro de 1979, assassinam Amin e
substituem-no pelo parchami Karmal.
Nesse mesmo dia, 1800 tanques, 2000 blindados e 80000 soldados soviéticos de
infantaria entram no Afeganistão desencadeando um coro de protestos
protagonizado por 34 países islâmicos. Iniciava-se assim, abertamente, o
período de crescimento das várias formas de jihadismo, com o apoio ocidental.
2.1 - O fortalecimento
do jihadismo no Afeganistão
Carter herdava algumas
derrotas nos últimos anos antes da invasão soviética do Afeganistão. A
descolonização portuguesa não criara estados vassalos dos EUA e, sobretudo em
Angola, não se verificara êxito na intervenção sul-africana, nem os EUA puderam
evitar a presença de soldados cubanos no país. Na Etiópia, Mengistu Mariam
acabara com o império e construía um regime alinhado com a URSS. Em 1975, os
EUA, ainda com Gerald Ford, haviam saído do Vietnam e da Indochina vergados
pela derrota. Assim, a invasão soviética do Afeganistão seria a grande
oportunidade para a retoma da iniciativa e para causar dificuldades ao
adversário estratégico.
A invasão iria permitir
que o apoio aos rebeldes mujahedin
afegãos crescesse e assumisse uma visibilidade até aí inconveniente de ser
mostrada. Os EUA compraram todo o armamento soviético detido por Israel e
forneceram-no aos mujahedin,
provavelmente cuidando de o substituir por armamento made in USA; o Egipto reequipou o seu exército e enviou para os
afegãos o material velho, tal como a Turquia; a Grã-Bretanha enviou os
ultrapassados mísseis Blowpipe e a neutral Suiça, os canhões Oerlikon, também
fora de prazo. Somente a China enviou material moderno, ao contrário dos outros
que utilizaram o Afeganistão como área de reciclagem.
Havia uma firme intenção
dos EUA em vergar o seu inimigo estratégico, a qualquer custo. A operação
Ciclone, um programa da CIA que chegou a custar $ 630 M em 1987, consistia na
utilização do poderoso ISI[6]
(Inter-Services Intelligence) paquistanês para a canalização de meios
militares, financeiros e de logística, aos mujahedin
afegãos. O ISI forneceu treino militar a 100000 homens durante uma década, com
financiamento dos EUA, incluindo 35000 combatentes[7]
provenientes de outros países islâmicos, entre os quais o célebre bin Laden,
encarregado em 1986 pelo recrutamento. A al-Qaeda de bin Laden armada e
financiada pelos EUA e outros contribuintes, tal como os restantes grupos,
caraterizava-se pelo seu ardor combatente, pelo seu extremismo militante e
constituía o núcleo agregador dos 4000 sauditas que lutaram no Afeganistão. Já
no período final da guerra, os EUA tentaram concentrar o seu apoio no moderado
Massoud mas, não podiam garantir que isso fosse cumprido pelo ISI nem pelos
outros doadores, mormente a Arábia Saudita; e daí que poucos anos depois da
saída dos soviéticos, o poder no Afeganistão tenha caído nas mãos dos taliban.
Os soviéticos tinham
cometido um enorme erro de cálculo admitindo que com a eliminação do odiado
Amin os afegãos ficariam contentes com Karmal liderando o exército afegão e com
a ajuda da tropa soviética. Esqueceram o arraigado espírito de independência
dos afegãos que os ingleses bem conheciam desde o século XIX. Esqueceram a
lição aprendida pelos EUA na Indochina, ou pelos portugueses na Guiné-Bissau,
de que o controlo das cidades deixando o resto do território às guerrilhas –
para mais com fortes apoios ocidentais e no Paquistão - provocaria um desgaste
enorme a um exército convencional, em termos de baixas, no orçamento e na moral
das tropas. E não imaginaram que o desmembramento do exército afegão colocaria
todo o esforço de guerra nos soldados soviéticos, sem qualquer razão para se
empolgarem com essa guerra, para mais na pouco simpática posição de ocupantes.
Um dos aspetos com
sequelas bem evidentes nos tempos que correm é que os soviéticos eram apontados
como comunistas e ateus, fulcro de uma guerra santa em nome do Islão que ia
muito para além do Afeganistão. Esse exacerbamento religioso – choque de
civilizações - foi pago pelos EUA com a distribuição de textos teológicos
radicais, bem como pela rica Arábia Saudita, desejosa de espalhar o seu
integrismo wahabita, edificando mesquitas e criando madrassas, como na década
seguinte iriam fazer também nas ex-repúblicas soviéticas com população
muçulmana.
A ausência de uma
estrutura unificada entre os mujahedin,
resultante da grande diversidade de culturas entre o povo afegão, facilitou o
aparecimento de senhores da guerra (Dostum, uzbeque, Hekmatyar e Massoud,
tadjiks, o mullah Omar, pashtun) e pregadores da aplicação do rigor corânico
para evitar a cólera divina.
Em princípios de 1988,
Gorbachov consciente das debilidades económicas do modelo soviético começou a
retirar tropas do Afeganistão – tal como conteve a intervenção vietnamita no
Cambodja ou a dos cubanos em Angola – num processo que terminou em fevereiro do
ano seguinte. Os acordos de Genebra contemplaram o compromisso da URSS e dos
EUA em não interferirem na política interna do Afeganistão ou do Paquistão. O
governo afegão de Najibullah contudo, só cairia três anos depois, no meio das
habituais barbaridades.
Outro problema surgido
durante a guerra foi a cultura de papoila para a produção de ópio que tornou o
Afeganistão o grande produtor mundial (80% em 2014), num negócio dominado por paquistaneses
em parceria com os grupos mujahedin;
em 2014 o cultivo quase triplicava o observado antes da invasão ocidental.
Em 1998, Brzezinski,
secretário de estado de Carter à época da intervenção soviética, interrogado se
lamentava o seu aventureirismo com a criação da al-Qaeda e o terrorismo
jihadista em 1978/79, respondeu de modo muito claro: “Lamentar porquê? A ideia
de uma operação secreta foi excelente. Precipitou os russos na armadilha afegã
e querem que eu o lamente? No dia em que os soviéticos atravessaram a
fronteira, como escrevi precisamente ao presidente Carter: “Nós temos presente
a oportunidade de oferecer à URSS a sua guerra do Vietnam.”[8]
3 - Novos cenários para
a atuação jihadista
A derrota soviética
no cenário afegão correspondeu a uma importante vitória para os EUA e seus
aliados. No plano estratégico, foi um enorme contributo para a implosão da URSS
em 1991 e aquela, iria a ser aproveitada para uma redefinição do mapa das
influências políticas, económicas e militares no mundo, com particular ênfase
nos cacos daquela implosão e seus arredores. A aliança entre o Ocidente,
essencialmente alinhado pela estratégia do Pentágono com a dos seus próximos no
mundo muçulmano, que já tinha revelado no Afeganistão alguns aspetos
reveladores de objetivos diferenciados, iria continuar a apresentar áreas de
confluência e outras, em que as agendas seriam distintas e mesmo conflituantes.
Depois da retirada
dos soviéticos e sobretudo depois da implosão da URSS, os EUA desinteressaram-se
do Afeganistão, da reconstrução do seu pós-guerra e dos conflitos sangrentos
entre as diversas fações de mujahedin. Desse
desinteresse resultou a influência acrescida de sauditas e paquistaneses que
veio a conduzir à relativa estabilização do Afeganistão em torno dos
fundamentalistas taliban[9] (literalmente, estudantes) que constituíram
governo em 1996 que durou até à invasão ocidental em 2001, entretanto somente
reconhecidos pelo Paquistão, pela Arábia Saudita e pelos Emiratos Árabes Unidos.
Durante a década de 80, o Irão de Khomeini tornara-se adverso
quer dos EUA (o Grande Satã) como da URSS (comunista) que se digladiavam no
vizinho Afeganistão e de onde vieram centenas de milhar de refugiados afegãos,
nomeadamente hazaras, xiitas. A sua
margem de intervenção no cenário afegão era escassa pois o Irão confrontava-se
com o Iraque numa sangrenta guerra iniciada por Saddam Hussein. Este,
aproveitando-se das transformações políticas e do isolamento relativo do Irão,
decidiu restaurar velhas reivindicações territoriais em áreas ricas em petróleo,
seguro da conivência dos EUA - humilhados pelo Irão na década anterior - como ainda
do apoio da quase totalidade dos estados árabes (excepto a Síria) desejosos do
enfraquecimento do Irão como potência regional e para mais, não árabe.
Sem ganhar a guerra contra o Irão e endividado ao fim de oito
anos de hostilidades, Saddam decidiu colocar uma nova reivindicação: a
incorporação do Kuwait, a antiga 27ª província do Iraque, terra sem água mas
muito petróleo, protetorado ocidental cujo emir tinha emprestado dinheiro ao
Iraque para Saddam combater o Irão. E, nesse contexto invadiu e ocupou o Kuwait
esquecendo que não se deve morder um dedo da mão do dono; o dono reagiu e, em
janeiro de 1991 começa a intervenção dos ocidentais e dos monarcas árabes
(desta vez também a Síria participou) para resgatar o Kuwait e colocar Saddam
na ordem. No final, a soberania de Saddam ficou restrita à área sunita do
centro do país, foi excluído de atuar no sul xiita ou no norte curdo, para além
de ver reduzido o seu poder militar, numa situação que, com alguns cambiantes,
durará até 2003.
Neste conflito a Rússia pairou de longe, sem intervir, enquanto
os EUA criavam um excelente pretexto para estabelecerem bases militares no
Kuwait, no Bahrein, na Arábia Saudita, no Oman, cujo objetivo, não seria
certamente um enfraquecido Iraque mas, o Irão, o grande rival dos sauditas na
área do Golfo, sem esquecer o controlo dos abastecimentos energéticos da China,
do Japão e da Coreia do Sul. Esta situação de ocupação, mesmo amistosa, não
agradou a muitos árabes e uns quantos não perdoariam ao rei saudita, como
guardião dos lugares santos do Islão, a permanência de infiéis.
Por outro lado, as frequentes incursões e bombardeamentos dos
ocidentais sobre o Iraque e o rude bloqueio económico[10]
castigaram a população em geral e não enfraqueceram internamente Saddam; o
petróleo, porém, continuava a jorrar em troca de importações de bens
essenciais, medicamentos… No Iraque, até então laico e sem conflitos entre
sunitas e xiitas, passou a desenhar-se uma antipatia profunda para com os
ocidentais que iria avolumar-se depois da invasão de 2003, baseada na dramática
e burlesca mentira das “armas de destruição massiva. Votaremos mais adiante ao
Iraque.
3.1 – A estreia na
Europa – A Bósnia
A implosão da URSS
(1991) criou novas oportunidades para a estratégia dos EUA ou, de outro modo,
mais preciso, da CIA e do Pentágono, cuja influência e autonomia face aos
presidentes se vem demonstrando ser crescente. Uma delas, na Europa, consistiu
no desmembramento da Jugoslávia com a focagem, tendo em conta o objeto deste
texto, na Bósnia-Herzegovina.
A Jugoslávia surgia como
vulnerável uma vez quebrado o equilíbrio Leste-Oeste na Europa, com a extinção
do Comecon e do Pacto de Varsóvia, ambos em 1991. Nesse mesmo ano, a 25 de
julho, na sequência de conflitos internos baseados nas etnias e religiões
dominantes, a Eslovénia e a Croácia declararam a independência, logo
reconhecidas pela Alemanha e pelo Vaticano, onde reinava o fanático João Paulo
II, aliado íntimo de Reagan na colocação dos países do Leste europeu na esfera
dos interesses económicos e militares da CEE e da NATO[11]
[12]
[13]
ou, na oposição aos progressistas na América Latina. Pouco depois, em setembro
é a Macedónia que se declara independente com a presença de soldados dos EUA na
fronteira com a Sérvia, sob a bandeira da ONU, embora nunca se tenha verificado
qualquer conflito.
O principal problema
surgiu na Bósnia-Herzegovina, um verdadeiro mosaico constituído por sérvios (de
tradição ortodoxa), croatas (católicos) e outros que, à falta de uma distinção
étnica passaram a ser conhecidos por muçulmanos, envolvendo-se todos numa
guerra marcada pelas barbaridades. Os sérvios bósnios constituíram uma República
Srpska e atraíram sobre si o poder militar da NATO em setembro de 1995, embora
o território não pertencesse a um país da organização, nem ameaçasse países da
NATO, tornando-se assim inaplicável o célebre artº 5º do tratado que instituiu
a NATO.
Os interesses económicos
e políticos sempre se mostraram ágeis na divisão das pessoas por razões étnicas
ou religiosas, como se isso constituísse uma verdadeira distinção entre seres
humanos. A colocação do conflito num plano de luta religiosa, num país com forte
tradição laica como a ex-Jugoslávia começou em 1992, quando voluntários
muçulmanos estrangeiros (o Batalhão Mujahedin)[14] chegaram à Bósnia para
ajudar os locais de tradição islâmica, uma vez que... no Afeganistão já não
eram necessários. Dentro da mesma tradição, hoje, há bósnios que se deslocam
para o Levante para reforçar os grupos jihadistas, como o Daesh e o al-Nusra.
Segundo Aimen Dean, um
fundador da al-Qaeda que se tornou espião britânico "A Bósnia deu ao
movimento jihadista moderno a narrativa de que há uma guerra entre o Ocidente e
o Islão. É o berço"[15].
Segundo a mesma fonte, o Batalhão expulsou os não-muçulmanos de Travnik, lutou
contra as tropas britânicas da ONU em Guca Gora e apresentou no seu currículo
bósnio uma decapitação (que foi julgada), sequestros e execuções de
prisioneiros, num contexto global, sublinhe-se de crimes cometidos por todas as
partes do conflito. O recrutamento de bósnios multiplicou os efetivos do
Batalhão que, em 1995 já compreendia 1500 homens e as chefias bósnias fechavam
os olhos às atrocidades para agradar aos doadores árabes. Depois dos acordos de
Dayton os membros do Batalhão rumaram à Chechénia, ao Paquistão e ao
Afeganistão, em busca do martírio.
3.2 – Um viveiro do crime – O Kosovo
O Kosovo declarou a sua
independência face à Sérvia em 1991 sem reconhecimento algum até que o conflito
se agudizou em 1998/99 quando o UÇK – Exército de Libertação do Kosovo acusou
os sérvios de limpeza étnica, a qual nunca se provou. Após o falhanço das
negociações de Rambouillet em fevereiro de 1999, a NATO inicia em 24 de março o
bombardeamento da Jugoslávia (então constituída pela Sérvia e o Montenegro) que
duraria até 3 de junho sendo o conflito encerrado dia 10, sem qualquer
reconhecimento por parte da Sérvia até hoje, tal como acontece com muitos
países como Rússia, China, Índia, Brasil e ainda alguns da UE (Espanha,
Eslováquia, Roménia e Grécia). Desde então o Kosovo tem sido administrado pela
ONU sendo a KFOR, a força de proteção da minoria sérvia que vive no norte do território.
Depois da separação da
Sérvia forçada pela NATO e pela UE, o território kosovar mantém-se com uma
débil estrutura económica, marcada pelo contrabando, pela corrupção e crime
organizado envolvendo antigos combatentes do UÇK e mesmo funcionários das instituições
internacionais[16].
O Kosovo tem funcionado como um protetorado financiado pela UE e como
logradouro da enorme base norte-americana de Bondsteel[17].
O financiamento por
parte dos países árabes ricos, com relevo para a Arábia Saudita, sempre empenhada
na expansão do seu wahabismo tem vindo a não agradar ao governo, por
declarações expressas, pela prisão de 60 pessoas ligadas ao jihadismo ou ao
recrutamento de combatentes e ainda, pelo encerramento de ONG financiadoras de
grupos jihadistas, em outubro de 2014. A inserção no dispositivo militar
estratégico da NATO e na orla da UE assim obriga.
O Kosovo,
proporcionalmente à sua dimensão populacional é um dos países europeus com mais
combatentes no Levante (150 no Iraque e na Síria). Embora islâmica na sua grande
maioria, os kosovares não são grandes praticantes e as diferenças religiosas não
foram muito sublinhadas no conflito com a Sérvia em 1998/99, ao contrário das
diferenças étnicas e linguísticas ou o hegemonismo sérvio. Calcula-se entre 15
a 40 o número de kosovares abatidos na Síria ou no Iraque como integrantes do
Daesh ou da al-Nusra[18].
3.3 – Chechénia –
ventre mole da Rússia?
A Chechénia é uma das repúblicas da federação russa, situada no
sopé e na vertente norte da cordilheira do Cáucaso. O seu território, no século
XVIII, esteve no centro das disputas entre russos e otomanos, com aqueles a
pretender o estabelecimento de corredores para acederem e zelarem pelas
populações cristãs da vertente sul da cordilheira, na Geórgia e na Arménia. O
islamismo constituiu uma forma de os chechenos afirmarem as suas distâncias
face aos ocupantes russos, desde o surgimento destes na região, alguns séculos
atrás.
O oleoduto que liga Baku a Novorossisk contorna a Chechénia mas
a sua importância estratégica reduziu-se com a construção de ligações
Baku-Supsa (Geórgia) em 1999 e do conhecido BTC – Baku-Tbilissi-Ceyhan em 2006
com o propósito de tornar o acesso europeu ao petróleo azeri desligado de uma
passagem obrigatória por território russo. O mesmo não acontece com a via
férrea que atravessa o Cáucaso e que tem na república um verdadeiro
entroncamento de linhas.
Neste cenário estavam presentes todos os ingredientes para os
conflitos geo-estratrégicos. Uma população muçulmana e um poder que o não é
constituem um alimento apetecível para o jihadismo, a que se juntou a apetência
dos EUA para enfraquecer a já debilitada Rússia, escavando, já não na sua
periferia exterior, como o Afeganistão e a Jugoslávia mas, na sua própria periferia
interna. A junção destes dois ingredientes continua a fornecer frutos de
sangue, mesmo que o objetivo seja mais lato e se transforme no cerco da Rússia
e da China, ou no controlo das vias de transporte marítimo, por parte do
Pentágono e dos seus seguidores europeus. Uma Chechénia independente, na órbita
dos EUA e da NATO, seria uma cunha aberta para as rotas russas do petróleo,
entre o Cáspio e o Mar Negro, intolerável para a Rússia. Por isso, em 2008, também
no Cáucaso, a Rússia demonstrou a sua determinação na Geórgia, com a criação de
repúblicas-tampão na Ossétia do Sul e na Abcásia, em território georgiano; George W Bush percebeu isso e engoliu em seco.
Curiosamente, a Geórgia havia apoiado os rebeldes chechenos contra a Rússia.
As ações separatistas
dos chechenos remontam a meados do século XIX e, no final da II Guerra, Stalin,
em 1944, deportou os chechenos e outros povos do Cáucaso, acusados de
colaboração com os alemães, deportação essa que só acabou depois da morte do
georgiano.
No inicio da
desagregação da URSS iniciaram-se os conflitos entre o poder e grupos
separatistas. Em 1991, o general Dudaiev declarou a independência da Chechénia
e Ieltsin, em 1994, invadiu a região com elevados custos para a tropa russa e a
população chechena até que, em 1996, há um acordo que reconheceu a soberania
chechena no seio da federação russa.
Em 1999 a guerra voltou
à Chechénia na sequência da declaração de um “emirato do Cáucaso” abrangendo o
Daguestão, a Chechénia e a Ossétia do Norte, pela mão do wahabita Chamil
Bassaev. A participação dos EUA, das suas empresas de segurança privada, da
Turquia, da Jordânia e da Arábia Saudita no apoio aos jihadistas na Chechénia é
revelado por Yossef Bodansky, diretor do “US Congressional Task Force on
Terrorism and Unconventional Warfare[19].
Neste retorno, a guerra
é muito marcada pela presença de missionários wahabitas pagos pela Arábia
Saudita e o “emirato” tem no Afeganistão governado pelos taliban o único país a reconhecê-lo. Outros grupos jihadistas envolvidos
na luta contra a Rússia são o Dagestani Shari’ah Jamaat, o Islambouli Brigades
of al-Qa’ida, as Forças Armadas da República Chechena de Ichkeria, o Sword of
Islam e o Kata’ib al-Khoul[20].
Putin, nomeado primeiro ministro em 2000 ganhou notoriedade com a relativa
pacificação do território.
Posteriormente, em 23 de
outubro de 2002, 42 combatentes chechenos e árabes ocuparam um teatro em
Moscovo e, até serem detidos, geraram a morte de 129/200 dos 850 reféns[21];
eram dirigidos por Bassaev e pelo saudita Ibn al-Khattab, ambos ligados à
al-Qaeda, tendo o último combatido no Afeganistão em 1989/94 onde encontrou bin
Laden[22].
Em setembro de 2004 um grupo comandado por Bassaev ocupou uma escola na Ossétia
do Norte, território da federação russa, vizinho da Chechénia e fez 1200 reféns;
no rescaldo, houve 331 mortos e mais de 700 feridos… muito para além das
vítimas provocadas pelos atentados de 13 de novembro de 2015, em Paris. Al-Khattab
foi abatido pelos russos em 2002, o mesmo sucedendo a Bassaev, em julho de 2006
enquanto os restantes “árabes afegãos” se puseram a salvo na Turquia, no
Azerbaijão, na Alemanha e em terras dos aliados árabes dos EUA.
Várias centenas de
combatentes de Bassaev terão obtido treino nos campos da al-Qaeda no
Afeganistão e o próprio al-Khattab arregimentou elementos na Inguchétia, no
Daguestão, na Ossétia, na Geórgia e no Azerbaijão para combaterem na Chechénia.
Em agosto de 2005, a ONU referia um substancial número de “árabes afegãos” a
combater contra os russos na Chechénia[23].
Após um referendo realizado
em 2003 o poder caiu nas mãos do mufti
A. Kadyrov, ex-separatista que, assassinado em 2005 foi sucedido por seu filho
Ramzan Kadyrov, considerado o homem mais rico da república e senhor de uma
milícia – os kadyrovtsy - pouco dada ao respeito pelos direitos mas, cuja
existência alivia Moscovo de ter uma presença militar na Chechénia.
(continua)
Este e outros textos em:
[2] Achamos ridícula
mas reveladora a figura de muitos africanos, asiáticos e outros povos
encadernados em fatos e gravatas pretendendo assumir o papel de “peles negras,
máscaras brancas” junto das suseranias ocidentais e para se afirmarem como
ungidos pelo capital , junto dos seus próprios concidadãos
[3]
Le marchand, le militaire et le missionaire
[6] O ISI tinha interesses próprios para contrariar os
soviéticos no Afeganistão uma vez que aqueles eram um grande suporte da Índia,
com quem o Paquistão tinha um crispado contencioso em Caxemira.
[7] A Concise History of
Afghanistan in 25 volumes (vol 1) https://books.google.pt/books?id=-WRlAQAAQBAJ&pg=PA374&dq=35000+mujahedin&hl=pt-PT&sa=X&ved=0CF8Q6AEwB2oVChMIjqf8r_6ZyQIVRlkaCh3_Twg5#v=onepage&q=35000%20mujahedin&f=false
Outras fontes apontam para
100000 o numero de combatentes estrangeiros financiados e armados pela CIA e pelos
sauditas http://www.huffingtonpost.com/akbar-ganji/u-s-jihadists-relation-pa_b_5553529.html
[8]http://www.editionsdemilune.com/media/presse/NouveauDesordreMondial/PeterDaleScott-Diplomatie-Magazine-N51-WEB.pdf?zenAdminID=d38469229e266df2da988198b0b91a74&utm_source=Infolettre+Mondialisation&utm_campaign=234bfd6c46-13_Novembre11_15_2015&utm_medium=email&utm_term=0_24340f1e06-234bfd6c46-82728089
[9] Os taliban, pelas suas origens geográficas eram
essencialmente pashtun, embora também incluíssem militantes provenientes da
ex-repúblicas soviéticas, dos países árabes e outras regiões muçulmanas.
[10] Aprovadas pela ONU (Resoluções 661 de 6/8/1990 e 687 de
3/4/1991) promoveram um verdadeiro crime humanitário, como indutor de
mortalidade infantil e pobreza
[11] Nessa estratégia
estava na primeira linha o papa Wojtyla (João Paulo II) que, sendo polaco,
tinha audiência na Polónia onde a popularidade de Lech Walesa subia, perante a
incapacidade do regime chefiado por Gierek que acabaria por ser substituído;
pouco depois, o general Jaruzelsky decreta o estado de excepção e irá estar no
poder até ao desmembramento do bloco soviético. Em 1980 Wojtyla inicia as suas
três viagens à Polónia e também um financiamento superior a $ 50 M para apoiar
o Solidariedade e os seus membros mais reacionários e fiéis à Igreja, como
Walesa. Wojtyla viria também a brilhar na 1983 na Nicarágua, mostrando-se bem
alinhado com Reagan no combate à teologia da libertação e do governo
anti-oligárquico do país. Wojtyla evidenciou-se como um empolgado aliado de
Reagan, contra o “eixo do mal”.
[13] Esta cooperação foi intensificada sob a
presidência de Reagan. O embaixador americano junto ao Vaticano à época, James
Nicholson, fala de uma "aliança estratégica" entre Washington e o
Vaticano contra a União Soviética. De acordo com informações colhidas pelo
jornalista Carl Bernstein e Marco Politi, que escreveram um livro sobre a
diplomacia secreta do Vaticano, o diretor da CIA William Casey e seu
vice-diretor Vernon Waters mantiveram discussões confidenciais com o papa desde
o começo de 1981. O tópico principal era a ajuda financeira da CIA e o apoio
logístico ao Solidariedade”. (idem). Era lugar-tenente de Wojtyla, nesta
cruzada anti-soviética e na afirmação da sociedade neoliberal, o famoso
Ratzinger, futuro papa como Bento XVI.
[17] Bondsteel é a
maior base norte-americana fora do seu território nacional. Alberga 7000
militares em 300 edifícios, tem um perímetro de 14 km e destina-se a cobrir os
Balcãs, proteger o petróleo do Cáspio, já tendo funcionado como alternativa ao
campo de concentração de Guantanamo. Pode considerar-se o Kosovo como uma
criação artificiosa para permitir uma extensa e estratégica presença nos
Balcãs.
A segunda grande presença muçulmana no Mediterrânio, o Império Otomano, apoia-se numa administração forte e num exército. O poder está concentrado num sultão e no seu grão-vizir. Com excepção da Provença, Sicília e a Espanha todo o norte de África e a Ásia Menor até à Europa balcânica estão sujeitas a um governo centralizado mas não a islamização nem otomanização das populações locais.
ResponderEliminarEste mundo personificado pelo poder do sultão onde encontramos gregos, arménios, sérvios, egípcios, norte africanos, que comerciam, lutam, impõe o Islão pelo poder, pelo povoamento turco, pela construção de grandes mesquitas ao estilo imperial.
É isto que as populações vêem e a que se sujeitam dos balcãs ao norte de África e no Oriente mediterrânico
Este poder vai terminar depois do se apogeu no século XVI com a centralização expansionista e económica de grandes mercadores, não desprezando motivações religiosas como subterfúgio, para o Atlântico. No século XIX será desmembrado e partilhado pela acção indirecta de clientelas pelas grandes potências - "Questão do Oriente".
Este mundo fracturado compõem-se de três grandes mundos separados, Cristandade, Bizâncio, Islão.
Se saltarmos para 1973 quando os países petrolíferos do Proximo Oriente começaram a transferir enormes reservas de capitais para a Europa e Estados Unidos e se cosiderarmos que as principais questões de crise que remontam a 1945 início dos conflitos israelo-árabe, franco-argelino, anglo-franco-egípcio, grego-turco, oposições latentes em todo o norte de África, aparecimento do terrorismo nos assuntos palestinos, do irão e do iraque e da guerra Irão-Iraque, apenas constatamos que: há uma oposição entre os mundos cristãos e muçulmanos; há o problema do Estado hebraico, desajustamentos e desigualdades norte-sul e o factor demográfico (este que você bem identifica).
Portanto, o Mediterrânio é uma zona instável. Fortemente militarizada pelas potências do Pacto Atlântico.
A Líbia o Iraque, o Líbano, a Síria, rebeldes, ancoradas no seu fundo de paixão religiosa, foram aniquiladas devido ao seu poderio militar e crescente importância económica e geo-estratégica.
O problema que este fundo teológico ou teocrático obscurantista e irracional encerra é que ele é uma máscara e ao mesmo tempo um pretexto para as contradições inerentes ao modo de produção capitalista que vai mais além, mas muito mais, do que meras profissões de fé e de crenças.
As vítimas dos grupos terroristas e dos seus alegados combatentes são as mesmas - trabalhadores e trabalhadoras e suas famílias - vítimas da exploração capitalista imperialista dos EU, da UE e da Rússia, dos reis e tiranos dos países petrolíferos do Golfo, que competem pelos recursos e riquezas naturais numa escalada de ganância inacreditável
Excelente análise António Erre. Disse tudo.
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