1 – Os acontecimentos recentes
2 – Cenários para os próximos
tempos
A1 – Passos e o acólito Portas conseguem
governar com a compreensão do PS
A2 – Formação de um
bloco central com ou sem Portas como adereço
A3 – A solução
Papademos
A4 – A maioria de
“esquerda”
3 – Notas sobre os intervenientes
4 - Os que só contam como farsa
1 -
Os acontecimentos recentes
Lá se
viveu a romaria eleitoral de 4 de outubro, apenas temperada pela atitude do PR,
verdadeira encarnação do regime político, baço e tosco; optou por não discursar
no dia 5 de outubro, o da instauração da República, cuja existência é que permitiu
a existência do cargo de PR embora, nos tempos de hoje, seja tão dispensável
quanto um monarca[1].
·
A vitalidade do regime
cleptocrático e da sua representatividade transparece no entusiasmo e nas
esperanças de mudança evidenciadas com o aumento de 186000 do número dos que
não votaram;
·
Os votos dirigidos a
partidos representam apenas 54.9% dos inscritos levantando claramente a questão
da efetiva representatividade do sistema partidário na população e da exigência
que se deve efetivar de um modelo de representação em que todos podem
candidatar-se, tenham ou não vinculação ou melhor, subordinação partidária;
·
A parcela PSD do
partido-estado (PSD/PS), em funções desde 2011, somada com o parco contributo
do seu apêndice CDS, perdeu 820000 votos. Mas canta vitória porque mesmo assim
ficou muito acima do irmão gêmeo do partido-estado (PS) que apenas recolheu
mais 188000 votos que no concurso anterior;
· Assim sendo, o
partido-estado, no governo há perto de 40 anos, mesmo reforçado com o acólito
CDS recolheu menos uns 630000 votos. É interessante observar que a existência
do CDS depende em absoluto do seu papel de desequilibrador entre as duas alas
do partido-estado, inserindo-se cada vez mais como uma “sensibilidade”
encastrada no PSD;
·
Tudo indica que muitos
apoiantes do duo Passos & Portas se mudaram para o PS e que deste,
desertaram para o resto da concorrência (ou para a abstenção) muitos que não ficaram
agradados com o verbo sonoro mas vazio do António Costa;
·
Os patrocinadores de
Bruxelas foram lestos em traduzir os resultados eleitorais como reveladores da
satisfação dos portugueses com as reformas estruturais definidas pela troika. Sabem também que os seus
funcionários do partido-estado, qualquer que seja a ordenação interna - PSD/PS
ou PS/PSD - são fiéis cumpridores das ordens, provenientes de Bruxelas, de
Frankfurt e Berlim, que filtram as conveniências do sistema financeiro e das
multinacionais. O sub-chanceler Schauble revelou que os resultados eleitorais
significam que a austeridade foi um grande sucesso (para o sistema financeiro e
o acrescido número de milionários, certamente) e que valeram os sacrifícios. Os
portugueses, de facto, com a sua inércia política têm-se revelado sofredores
felizes, bem dentro da tradição católica que lhes trará, um dia a retoma, nos
braços de um anjo, como na batalha de Ourique.
2 - Cenários para os próximos
tempos
Cavaco irá brevemente
dar posse a Passos que reformulará o elenco governamental e apresentará o seu
programa de malfeitorias e promessas de benfeitorias a concretizar no Além.
Isto não é um cenário é uma certeza, por muito entretenimento que a classe
política e os media ofereçam com encontros, debates e congeminações para ocupar
a plebe ao serão, entre dois momentos publicitários. Porém, algumas forças de
caráter tectónico podem a médio prazo oferecer outras soluções, com distintos
graus de probabilidade.
A1 – Passos e o acólito Portas
conseguem governar com a compreensão do PS
Trata-se de cenário
com enorme probabilidade. Os efeitos no PS poderão ser desastrosos uma vez que
o partido terá de viabilizar as medidas definidas e encomendadas por email
pelos funcionários da Comissão Europeia ou do Eurogrupo.
Entendemos que o PS
não está autorizado a fazer algo de diferente, pois não pode destoar no retrato
da família “socialista” europeia. Recorde-se que o SPD alemão é sócio minoritário
no governo de Merkel e que Hollande dá um bom exemplo de impopularidade para
agradar ao capital; e a França não é exatamente um Deutsche Lusitanien Bezirke.
Depois de quatro anos
numa oposição cómoda e pouco efetiva, escudado na maioria absoluta do governo, o
PS não beneficiou particularmente do descontentamento da plebe, nas últimas
eleições; mesmo num país onde é enorme a despolitização, muitos portugueses
perceberam a pouca confiança que o PS merece, como partido garante da
bipolarização e da alternância, dentro de uma estratégia partilhada com o PSD e
ditada do exterior.
O resultado de dia 4
foi o pior possível para o PS. Uma coisa seria ganhar as eleições, por maioria
absoluta ou mesmo com o apoio do PSD, ao qual caberia a iniciativa de derrubar o
governo com eventual suporte do lado esquerdo do hemiciclo, como em 2011. Se
tivesse ganho, colocaria os seus quadros e apaniguados em cargos
governamentais, nas direções de empresas, institutos públicos e reguladores ou,
chamados para administradores de bancos ou de empresas do regime, para
funcionarem como correias de tráfico de influências. Nesse caso, Costa sairia
como líder incontestado perante o qual até os defensores de Seguro se
vergariam, para além da oportunidade de recomporem as depauperadas finanças da
agremiação. Perdendo as eleições, como aconteceu, o melhor teria sido, para a
tranquilidade do PS (mas não de Costa), que Passos tivesse obtido maioria
absoluta, para prolongar por mais uns anos o cumprimento sereno de uma oposição
low profile como é exigido pelas
instâncias comunitárias; e esperar uma nova oportunidade.
Finda a maioria
absoluta, não há alibis para uma oposição morna. O PS só poderá ganhar espaço
eleitoral para assumir o poder em duas circunstâncias. Uma, se arrastar o resto
da oposição numa toada de contestação frontal ao governo, após um quase certo
“benefício da dúvida” com a abstenção na votação do programa do governo e do
orçamento para 2016; os recados que vêm de Bruxelas são imperativos quanto à
necessidade de haver um orçamento a muito curto prazo. A outra circunstância
consiste numa sucessão de erros políticos e de gestão de Passos, associados a
uma degradação da situação económica e financeira de Portugal; aí, Merkel
encomendaria novas eleições para que o PS substituísse Passos, como seu gauleiter.
A2 – Formação de um
bloco central com ou sem Portas como adereço
Esse quadro poderá vir
a colocar-se se, perante uma situação económica e financeira muito degradada ou
por imposição de medidas muito gravosas, a suserania da UE exigir um reforço da
estabilidade governativa, isolando na oposição parlamentar o BE, o PC e o
solitário homem do PAN. Foi isso que aconteceu em 1983/85 para a gestão da
segunda intervenção do FMI e a preparação para a entrada na CEE, então com
predomínio do PS e um PSD enfraquecido e sem liderança a reboque.
Pode também aplicar-se
essa configuração governativa no caso de forte contestação social, como união
sagrada de defesa do regime e forma extrema de satisfação da estabilidade que
os mercados gostam, o que nos parece pouco verosímil, por várias razões. Os
sindicatos – que depois do 25 de Novembro de 1975 foram conduzidos a veículos
únicos da parca e institucionalizada contestação social - estão exauridos de
gente e de capacidades políticas ou de mobilização[2];
historicamente, têm-se resumido a atitudes reativas, de corridas atrás do
prejuízo, temperadas com algumas greves, manifestações, concentrações e muitos
abaixo-assinados e recursos a tribunais. Neste último caso, como formas de congelar
a contestação sem assumir as debilidades próprias e ainda com o erro político
colossal de se empurrar a solução dos conflitos sociais para as instituições do
Estado; no seguimento aliás do desarmamento, nas últimas décadas de todas as
atitudes de auto-organização dos trabalhadores, em detrimento da obediência a
burocratas sindicais e funcionários partidários.
As movimentações
sociais entre 2010/2012, apartidárias e mesmo em confronto com as estruturas
estatais e da esquerda do regime[3]
foram sendo objeto de invasão, controlo ou marginalização por sabotadores
partidários, culminando com a burla “Que Se Lixe a Troika” que teve o condão de ajudar a contestação a dissolver-se ou
a desaparecer no seio dos partidos[4]
para uma tranquila aplicação da austeridade por parte de Passos. Hoje, não se observam
indícios de qualquer ressurgimento de contestação social, podendo considerar-se
Portugal um país simultaneamente esmagado pela austeridade e pacificado
socialmente, com a ajuda da descompressão resultante da massiva emigração. Conclui-se
daí que uma união sagrada, formal, dos partidos do “arco da governação”,
nomeadamente das duas alas do partido-estado, nos surja como pouco verosímil.
Esta solução não
agradaria particularmente a Portas que se resumiria forçosamente a um papel despiciendo
no governo, no qual constituiria uma terceira força. Para tentar obviar a essa
situação Portas fez um acordo de governo com Passos para amarrar este último a
um compromisso utilizando o que lhe está disponível, um papel assinado; e que
vale apenas isso, papel facilmente colocado num ecoponto, se necessário. O CDS poderia
mesmo ser dispensado e tornar-se o elemento solitário e ferido de uma oposição
de direita, contra as insuficiências do governo, na exigência de apoios aos
empresários e na defesa de temas caros ao catolicismo ultramontano, podendo a
médio prazo, se colocado fora da área governamental, caber todo dentro de um
táxi.
A3 – A solução
Papademos
Em 2011 e perante o
descalabro da situação económica e do descontrolo da dívida, o governo PS
dirigido por Sócrates apresentou um PEC IV que, embora susceptível de aceitação
pelas instituições da UE, foi rejeitado por toda a oposição, de ambos os lados
do hemiciclo. Uns, PSD e CDS, desejosos do acesso ao pote, de onde estavam
afastados desde 2005. Os outros - BE e PC - por errónea leitura da situação
social que fizeram das manifestações de 12 de março de 2011; não atenderam à
origem obscura dos seus promotores ou dos seus apoios e confundiram a
contestação a Sócrates e ao seu governo com uma viragem à esquerda da
população. A esquerda do regime, marcada ideologicamente pelo
trotsko-estalinismo, espera sempre que basta haver pastores para que o rebanho
se reúna à sua volta; não perceberam que era parca a contestação social nas
empresas, nas escolas e nas ruas. Esse erro foi particularmente caro para o BE
que perdeu metade dos deputados.
Por seu turno,
Sócrates poderia ter convocado um referendo do PEC IV, como o fizeram pouco
depois George Papandreu (novembro/2011) e Tsipras em julho último. A tradição de
desconfiança existente na classe política portuguesa face à população, herdada
dos sustos sofridos durante o PREC, faz com que a consulta direta da população
raramente seja considerada, preferindo-se sempre soluções no quadro dos
partidos do regime, em conclaves para onde a plebe não é chamada nem ouvida; soluções
no quadro das instituições do regime, com a população a assistir na tv,
domesticada por comentadores arregimentados entre a classe política, grilos-falantes
campeões do fomento da despolitização reinante.
A recusa da proposta
referendária de Papandreu por parte da suserania europeia conduziu à nomeação
de um financeiro, Lucas Papademos, como primeiro-ministro grego, de um governo
Nova Democracia/Pasok/Laos, cujos homólogos em terras lusas serão o PSD, o PS e
o CDS. Em Itália foi inventada, pela mesma altura, uma solução semelhante com o
governo de Mário Monti. Esta solução recorda-nos ainda o tempo dos governos de
iniciativa presidencial de Eanes em 1978/79 quando aquele pretendia uma solução
bonapartista, adequada ao perfil psicológico de um general. A democracia de
mercado está sempre aberta a excepções e distorções sempre que isso favoreça a
estabilidade dos … mercados.
Em suma, em Portugal,
nos próximos tempos, uma solução Papademos pode surgir na pessoa de um
“técnico” capaz de impor pragmaticamente um governo com gente do
partido-estado, para garantir a estabilidade política e financeira vital para
os mercados. Isso, no caso de o PS se mostrar desobediente das ordens de
Bruxelas e Berlim e dificultar um próximo governo Passos, num contexto de previsíveis
dificuldades financeiras entrelaçadas com uma retoma que não se afirma.
A4 – A maioria de
“esquerda”
É por essa designação
que se conhece uma unidade entre parceiros variáveis mas que, no contexto
actual deverá ser interpretada como constituída por PS, PC e/ou BE ou por PC e
BE com mais uns convivas de perfil próximo, sempre que o PS está no governo.
Nunca houve um governo
nacional com tal perfil, nomeadamente por recusa do PS que, como sequela do
PREC se perfilou como um dos mais reacionários da Europa. O PS já esteve aliado
ao CDS (1978) e ao PSD (bloco central 1983/85), só faltando uma união sagrada
dos partidos do “arco da governação” como explicitámos em A2.
Não nos parece que com
a prática actual das instituições europeias e dada fragilidade política de
Portugal no seio da UE, tal solução tivesse a concordância de instituições como
a Comissão Europeia, do Eurogrupo ou do venenoso Schauble. Bem sabemos como
Varoufakis foi recebido nas instâncias por onde passou, verdadeiros ninhos de
escorpiões, com fortes propensões fascizantes.
Consideramos um
governo PS em aliança com o BE e/ou o PC como algo impossível, sobretudo apenas
com um dos dois últimos; aquele que entrasse sozinho no governo com o PS não
constituiria uma maioria parlamentar e ficaria refém do segundo partido da
“esquerda” uma vez que o PSD/CDS em conjunto teriam mais deputados do que um
governo PS aliado apenas a um dos partidos da ala esquerda de S. Bento,
colocando naquele que ficasse de fora, o papel de viabilizar as propostas do
governo para não se colocar do mesmo lado do tandem Passos/Portas. Lá teríamos,
no fundo uma desunião … das tais esquerdas do sistema partidário.
Uma outra hipótese,
muito desconfortável para o PS seria tornar-se governo minoritário, com um
apoio parlamentar casuístico, dos dois (e não só de um) partidos da esquerda do
hemiciclo e que seria um brinde político para os últimos, embora não isento dos
riscos inerentes às responsabilidades governativas assumidas por terceiro, o
PS.
Finalmente, a
nocividade residente em Belém, pelo seu perfil, jamais daria posse a um governo
com essa constituição tripartida ou um governo PS, dependente da boa vontade da
esquerda parlamentar. Em breve, o Palácio de Belém mudará de inquilino mas, o
novo ocupante, qualquer que seja a sua posição pessoal, arrogar-se-á a
desagradar às suseranias europeias ou preferirá contentar-se com o seu papel de
berloque institucional?
3 – Notas sobre os
intervenientes
Consideremos agora algumas notas
em torno dos resultados eleitorais de dia 4, reveladoras do bloqueio que
carateriza o actual regime, com sua antidemocrática organização institucional e
o seu excludente modelo de representação.
·
O próximo governo,
como definido na presidencial preleção de dia 6, deverá garantir a estabilidade
politica, o cumprimento das obrigações com a UE e a NATO, a afluência do
investimento estrangeiro, o equilíbrio das contas públicas e externas, os acréscimos
da competitividade e o regular funcionamento dos mercados. Nada que se não saiba
mas, reconhecemos, é obra! Por ser obra pesada, a esguia nocividade, para não
azedar o jantar dos que o ouviram, não referiu um desígnio nacional chamado mar,
que lhe cai sempre nos discursos; nem apontou as obrigações dos governantes no
capítulo do bem-estar da população e muito bem, pois de há vários anos a esta
parte, passaram de moda.
o Se Passos, mesmo com o
trintanário Portas na carruagem, está em minoria, do ponto de vista aritmético,
a forma de sair dessa situação é cooptar o PS, através de boleia na carruagem
ou apenas através do fornecimento dos serviços necessários à estabilidade
política e dos mercados;
o Essa cooptação é sugerida
ao PS num mau momento. Depois de falhar o título no campeonato eleitoral, o PS
vai entrar num período de convulsões no balneário, numa era de traições e
vinganças, com os amigos de Seguro e outros camaradas a prepararem as brasas
para queimar Costa, nos próximos meses. Esse programa trará diversão para o
outono e poderá arrastar-se até à eleição presidencial, onde um tal Sampaio da
Nóvoa não deverá chegar, perdido na névoa;
·
Na esquerda do sistema
partidário há a registar os bons resultados do BE, particular fruto do
desempenho de Catarina Martins e Mariana Mortágua que parece terem feito
esquecer a memória dos gurus do trotsko-estalinismo, Louçã e Fazenda; e tiveram
o bom senso suficiente para não replicar Louçã na sua estouvada ideia de saída
do euro. De qualquer dos modos, a performance foi apenas a suficiente para retomar
uma votação semelhante à de 2009, beneficiando das desconfianças face ao PS e
da noção geral de inutilidade dos vários candidatos ao pote que apostavam na
queda do BE.
Está na moda
incluir-se numa esquerda radical, forças políticas institucionais à esquerda
dos partidos da mafiosa “Internacional Socialista”. O epíteto de radical visa,
nos plumitivos do sistema, colocar um anátema equivalente ao “comer as
criancinhas” de umas décadas atrás, no sentido de confinar as escolhas aos
partidos do TINA – There is no
alternative, inscritos nos gangs europeus PPE e S&D.
O que se passa é que
partidos como o Syriza, o Podemos ou o BE, têm apenas um ideário
social-democrata tal como ele vigorava até aos anos oitenta e que esteve na
base do estado social ou modelo social europeu (embora houvesse deste várias
versões, a nórdica, a renana, a japonesa). Surgiram para ocupar o espaço
político e ideológico abandonado pelos velhos partidos socialistas e
sociais-democratas convertidos ao neoliberalismo, mormente após o desmoronamento
do modelo soviético e na sequência do empobrecimento exigido pela fórmula
actual de capitalismo especulativo e excludente.
·
Quanto ao PC, salvou a
honra do convento com uma votação quase igual à das três eleições anteriores evidenciando
o esgotamento das suas capacidades de atingir a população em geral, apesar da
dureza da austeridade, falhada a cartada CGTP como polarizador de contestação.
O seu nacionalismo bacoco com as referências a uma saída do euro e da UE não
cai bem na população, um pouco mais instruída sobre as consequências dessas
decisões, do que o líder da classe operária, Jerónimo de Sousa, imaginaria.
Sem prejuízo do seu
papel histórico na luta contra o fascismo, o PCP e ainda mais o KKE grego,
tornaram-se verdadeiros museus de teorias e práticas sem grande aplicação nos
dias de hoje, de capitalismo globalizado, de acesso generalizado à informação,
de apagamento do papel dos estados-nação como estruturas ao serviço de
capitalistas indígenas e prisões de povos. Note-se que em Portugal nem sequer
surgiu, com relevância, em devido tempo, uma deriva eurocomunista, como na
Grécia após a invasão da Checoslováquia e, sobretudo depois da queda do Muro,
derivas essas que conduziram mais tarde ao Syriza enquanto em Portugal só
registamos uma presença consistente muito mais tarde, com Miguel Portas,
entalado dentro do BE, entre trotskistas e discípulos de Enver Hoxha.
4 - Os que só contam como farsa
Passamos a seguir a momentos de
humor a propósito do falhanço estrondoso dos chamados pequenos partidos. Os
fervorosos defensores da prática do voto como ritual aconselham os
abstencionistas, incompatibilizados com os grandes partidos, a votar nos
pequenos partidos. O voto, em democracia de mercado é um instrumento de natureza
política que se usa ou não consoante as circunstâncias; se serve para mudar
alguma coisa e se os candidatos surgem num processo democrático e não
designados por oligarquias. O voto, nas atuais circunstâncias é como uma pomada
para o reumatismo; de pouco serve para tratar pneumonias.
· Começamos pelo Livre. Muita gente percebeu que Rui Tavares se
preparava para se entregar, ele e os votos no Livre, ao António Costa, numa de
emprego que ele já tinha praticado em Estrasburgo, para manter uma paga
interessante depois de se zangar com o Louçã.
A união das esquerdas –
onde Tavares inclui o PS, demonstrando ter estudado mal o século XX na
universidade – é, para muita gente de fé, um desígnio caro mas, tão longínquo
como ganhar um Audi nos concursos das faturas. Ora, Tavares arrogou-se ao papel
de árbitro agregador das ditas esquerdas, que naturalmente se borrifaram nele,
tal como aconteceu com o eleitorado.
Há muito se percebia
que Tavares e Ana Drago apostavam numa presença em S. Bento que lhes desse uma
vida excitante e agradável, sobretudo se fossem necessários para dar uma
maioria governamental ao PS, com integração a médio prazo no mesmo. Não
perdemos a oportunidade de relembrar este momento de glória…
Neste clube de
estrelas, para além de Ana Drago, ressabiada por Louçã a ter preterido a favor
de Catarina Martins como sucessora, conta-se Viriato Marques, André Freire ou
Ricardo Araújo Pereira que demonstraram uma inépcia política imensa ao aderirem
a um projeto como o Livre; no caso do último, que prezamos, admitimos ter sido mais
uma forma de fazer humor. Outros, porém, só confirmaram uma ligeireza política já
vinda de longe, como o Boaventura, o Castro Caldas e o José Reis. E poderíamos
referir também Ricardo Sá Fernandes, advogado de negócios e monitor do mano Zé
(o que fazia falta) e o manhoso Carvalho da Silva que se manteve discreto para
não estar na fotografia do desaire. Na universidade, em tempos neoliberais,
confirma-se que nela se desenvolvem todas as capacidades, inclusive a
estupidez, como dizia Tchekov. Requiescat in Pace, Livre!
· Um tal Agir partiu de um iluminado da área estalinista com vasto
currículo no controlo das massas - Nuno Ramos de Almeida. Comprou um partido,
saiu da direção do jornal “I”, cargo incompatível com a assumida função de
pastor e agregou alguns grupos de deserdados, como o MAS (trotskista), um tal
PTP e um PDA (bem conotados à direita do espetro partidário) e, ao que parece, também
um rancho de fantasmas vindos da Luar, extinta nos anos 70. Sem personagens
mediáticas, o Agir escolheu como emblema uma loura de verbo fácil, um género
apeado de Lady Godiva do século XXI. As massas não se sensibilizaram com a
vacuidade do Agir. Requiescat in Pace!
· Garcia Pereira e seu comité central apresentaram mais um número
de cópia do programa do PC em tons mais vivos, de amarelo e vermelho, esquecido
o tempo em que o PC era o inimigo revisionista e traidor; a abater, no contexto
da matriz estalinista deste grupo. Apesar do menor apoio da classe operária e
do povo trabalhador face a 2011, como passaram dos 50000 votos terão direito a
uma subvenção pública[5],
um bom motivo para a continuidade e que vai valendo o esforço do papagueio de
uns quantos disparates.
· Na classe política, Marinho e Pinto, a quem alguém designou por
“bastonadas”, carateriza-se como o campeão no débito de decibéis. Depois de ter
utilizado o MPT como barriga de aluguer para se sentar confortavelmente em
Estrasburgo, inventou um PDR e resistiu valentemente à inesperada incursão de
uma seita religiosa no evento que entronizou o causídico. O Pinto preparava-se,
se tivesse representantes na AR, para olhar para ambos os lados da capoeira,
para ajudar o PSD ou o PS de igual modo, numa versão mais plural que o Rui Tavares,
que excluía o apoio ao PSD. O advogado ao concorrer por Coimbra cumpriu a
formalidade eleitoral pois, sabendo não ser eleito, tinha um bom argumento para
continuar em Estrasburgo onde a mesa é mais farta.
· Para terminar notámos que na AR, o placebo ecologista “Os
Verdes” alojado desde sempre na mansão PC vai passar a ter a concorrência do PAN,
à partida, mais genuíno quanto a assuntos ambientais e da inserção dos humanos
no planeta do que “Os Verdes” contidos na estratégia global do PC.
Este e outros documentos em:
http://grazia-tanta.blogspot.com/
https://pt.scribd.com/uploads
http://www.slideshare.net/durgarrai/documents
https://pt.scribd.com/uploads
http://www.slideshare.net/durgarrai/documents
[1] Trataremos deste tema na proximidade das
eleições presidenciais de janeiro, no seguimento das várias abordagens que
fizemos sobre a Constituição
[2] Em
abril de 2014, a polícia grega registava nos últimos quatro anos 20000
manifestações; para além de várias greves gerais. O contraste com Portugal. Em
meados de maio de 2012, Varoufakis assinalava “Situação de Portugal é igual à
grega mas sem resistência” (conf “O Sobressalto Grego” de Pedro Caldeira
Rodrigues
[3]
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2012/01/amiseria-da-esquerda-que-anda-por-ai.html
[4]
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2012/11/os-movimentos-sociais-e-as-vigarices.html
[5] http://www.noticiasaominuto.com/politica/463554/votos-rendem-14-milhoes-de-euros-anuais-aos-partidos
Excelente. Admiro-o.
ResponderEliminarJulgo que ainda analisará mais detalhadamente a abstenção e o seu significado. Eu não partilho da opinião generalizada que os abstencionistas são uns seres superiores e iluminados , aptos a orientarem-se no escuro, ao contrário de todos os outros parvos que fazem escolhas erradas.
Julgo que o que se passa entre os votantes é a pertença a clientelas apoiantes dos gestores da propriedade privada, os políticos.
Os não votantes, quanto a mim, enquanto não expressarem o seu voto efectivamente - e o mais correcto seria expressar um NÃO no boletim, não saberemos a sua verdadeira intenção. Inclino-me para preguiça, indiferença, fé no sentido providencial e ignorância.
Se aparecessem na noite de 4 do 10 44% de votos inutilizados com expressões ou termos inequívocos de repúdio pelo sistema, hoje estariamos a festejar o fim deste sistema partidário e, quem sabe, o que mais.
Senhor António Erre . Recordo-lhe que para a Constituinte votaram 96 % .dos inscritos . Depois , eleição após eleição esse número tem vindo a diminuir .Na última campanha o apelo ao voto roçou , por parte de muitos , o insulto .A abstenção tem muitas e variadas causas , para mim votar significa legitimar tudo o que nos trouxe até aqui .
ResponderEliminar
ResponderEliminarNesta última eleição os nulos e brancos não chegaram a 200 mil. Se fossem 4 milhões , de certeza que ninguém teria coragem e desfaçatez para afirmar nos media que apenas os votos validamente expressos contam.