quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Eleições, abstenções e fanatismo

                                                                           “Consolida, filho, consolida”
 (Zé Mário Branco)
Há em Portugal a consideração de que um placebo eleitoral resolve os problemas estruturais de uma sociedade capturada por uma oligarquia fechada e corrupta

Tendo em conta que os níveis médios de instrução em Portugal são bem mais baixos do que em Espanha e Itália, alguns fanáticos do voto incondicional dirão, perante o gráfico aqui reproduzido onde se mede o grau de interesse pela política nos três países: “pois, por isso há muitos abstencionistas!” Dito de outro modo, os abstencionistas são ignorantes ou burros e por isso não conseguem almejar as diferenças entre a concorrência eleitoral em Portugal, nem reconhecem as enormes qualidades culturais e éticas dos esforçados membros da classe política, no seu todo.

Há incondicionais do voto que, dos fundos da sua devoção, apontam para o voto obrigatório sem perceberem que, para além do caráter antidemocrático da medida (que nem os fascistas impuseram), ela seria inútil pois quem fosse obrigado a votar contrariado teria razões acrescidas para anular o voto, votar em branco ou em dissonância com o que os nossos fanáticos do voto gostariam. Estes, provavelmente gostam é dos 99% das eleições norte-coreanas, essas sim … participadas por um povo exemplar (à força) .

Perante as lógicas dos devotos do voto incondicional, elaborámos estas notas:
  • Nas últimas eleições europeias, o grau de abstenção dos portugueses foi o oitavo mais alto com 65.5%, ombreando com os países do Leste e pouco acima da Inglaterra e da Holanda, onde a parcela de burros na população parece ser idêntica à registada em Portugal; apesar de todos eles terem níveis médios de instrução muito superiores;
  • Em Espanha, nas eleições autonómicas recentes, as abstenções foram de 49.3% (contra 52.2% em 2011) devendo-se o maior interesse no voto às mudanças no xadrez político. Metade dos espanhóis continua, no entanto, a ser constituída por burros e ignorantes…
  • Ainda em Espanha, no capítulo das últimas municipais, a abstenção foi de 35.5% e aí, de facto, verificou-se uma enorme pluralidade de concorrentes e de gente com provas dadas no âmbito dos movimentos sociais como Ada Colau, gente que ninguém viu ou vê em Portugal, a concorrer a eleições;
  • Na Itália, a participação nas eleições regionais passou de 72% em 2005, para 64.6% em 2010 e 49/56% em maio recente. Os italianos são estúpidos pois não compreendem o caráter democrático de um regime onde na Câmara de Deputados, o partido vencedor, com 29.5% dos votos fica com 55% dos deputados;
  • Em Portugal, nas autárquicas de 2013, não se passou de uma redistribuição dentro do partido-estado PSD/PS, entre caciques, empreiteiros e mafias locais, alterne esse que não entusiasmou 51% do eleitorado que se absteve, votou nulo ou em branco (contra 42.7% em 2009). Na lógica dos nossos fanáticos do voto, em quatro anos cresceu 9% o número de asininos em Portugal. Claro que aquela percentagem é exagerada pois a classe política pouco se importa que existam uns 0.8 a 1 milhão de eleitores fantasmas que talvez um dia votem, se for necessário para legitimar o regime, como acontecia no tempo de Salazar.
  • No capítulo das legislativas e desde 1975, os votantes em partidos têm-se mantido estáveis (entre 5.2 e 5.9 milhões) enquanto os abstencionistas adicionados com os votos nulos e em branco passaram de 900 mil em 1975 para 4.3 milhões em 2011, um valor que evidencia estarmos perante um regime desafeto para quatro milhões de pessoas. Se pensarmos que o perfil educacional da população cresceu substancialmente não será certamente a ignorância ou a estupidez que faz as pessoas não votarem.
E que tal pensar-se nas razões porque os sistemas partidários abanam nos outros países do sul da Europa e em Portugal nada mexe, mesmo com o abanão da troika?

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2 comentários:

  1. Há idiotas a tentar convencer-me a votar ; mesmo depois de eu dizer que , para mim , votar é legitimar este regime . Vota em quem nunca foi governo ( será que não se lembram que , Cunhal , V Gonçalves , C Martins e C Carvalhas já lá estiveram ?) . Mostrar-lhes que a CR , entregando o poder de decisão aos partidos, é Leninista ainda mais os excita e entusiasma .

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  2. O sistema capitalista, democráticos e corrupto é aquele que melhor paga à classe política, é uma forma de os comprar e corromper, por isso odeiam a abstenção. Todas as ideologias já passaram pelo poder e - alguém me sabe dizer em que país houve socialismo e liberdade? Alinhar no sufrágio universal é alinhar na mentira, na burla ideológica e contentar os imbecis e idiotas, porque todos vão ganhar, como de costume! Torga e Guerra Junqueiro diziam que o povo português é imbecil: etc. etc. A casa da luta do oprimido, é a rua e não o parlamento onde se faz as leis da desigualdade para oprimir. Levantemos-nos popularmente!!!

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