Assistimos ao wrestling eleitoral de Dupont contra
Dupond, morno e vazio como se esperava. Nem sequer se engalfinharam para dar
emoção ao combate; na realidade, até são colegas no seio do partido-estado
PSD/PS, partilham o mel do pote. Tudo se passou com a plebe, mansa e solitária,
a assistir no sofá.
A prova de que se
tratou de uma competição desportiva está na preocupação dos comentadores em
acentuar quem ganhou a partida; dos entrevistadores zelosos no seu papel de
árbitros, apitando perante as infrações das regras do combate; e, depois de
findo o mesmo, a preocupação dos media em ouvir os habituais capangas das
claques de ambos os contendores a vomitarem as vacuidades típicas da classe
política.
Para melhorar a
audiência de basbaques e elevar o nível do folclore eleitoral, soubemos que há
uma estação televisiva que pretende apresentar a nua barriga grávida de uma nua
cabecinha que costuma apresentar-se nos campeonatos secundários do wrestling.
Tratando-se de uma
cena para entreter o povinho numa noite de quarta-feira sem futebol, claro está
que a vacuidade imperou:
·
Parece ter ficado
líquido que, por métodos diferentes, o assalto à Segurança Social está
garantido, que não haverá dinheiro para pensões e que ninguém irá falar dos € 11000
M que as empresas devem à instituição que, por sinal vive uma situação de caos
organizativo;
· Ninguém referiu se
a idade da reforma irá diminuir como modo de criar empregos para os mais jovens.
Nem ninguém perguntou aos Dupont(d) se irão aumentar ainda mais a idade da
jubilação e acabar com o genocida “factor de sustentabilidade”;
· Ninguém os ouviu
falar da Europa, da crise do euro, dos refugiados das guerras que apoiam, pela
simples razão que ambos aceitam obedientes as ordens de Bruxelas, Frankfurt ou
Berlim. Ou mesmo da famiglia reinante em Luanda.
· Num país em crise
profunda porque se gasta dinheiro na participação em missões militares no
Báltico ou, brevemente, em exercícios delirantes da NATO no sul da Europa?
· O SNS vai continuar
como trampolim para a canalização de dinheiro dos impostos para prestadores
privados de serviços, nomeadamente de parcerias público-privadas? E com 1.2 M
de pessoas sem médico de família obrigadas a longas horas de espera em
hospitais que se tornaram verdadeiras gafarias?
·
A divida pública
como se sabe, para os Dupont(d) é sagrada e um deles até se mostrou contente com
o desenlace, em tragédia, da pífia atuação do Tsipras. Portanto, segue-se a
continuidade do pagamento de € 800/habitante, anuais, só de juros;
·
Como irão proceder
para evitar que qualquer aumento do consumo se traduza em crescimento do
desequilíbrio externo e, portanto de acréscimos de dívida externa?
·
A exportação tradicional
contempla forte componente importada, quer se trate de têxteis quer da
transformação de praças, ruas e calçadas em comedouros para turistas low cost. Que alternativas têm os nossos Dupont(d)?
· Como reestruturar e
recapitalizar a massa de PME, 30% das quais são responsáveis por créditos já
vencidos e não pagos equivalentes a 16.2% do total em dívida?
· Quando o IEFP coloca
desempregados, pagos pelo erário público em estágios profissionais nas
empresas, estas estão, de facto, a ser subsidiadas e o Estado a desempenhar um
papel de fornecedor de trabalho temporário, não pago pelas empresas. É assim
que se fomenta a competitividade?
· Que benefícios
efetivos se retiram do aumento da jornada de trabalho, da redução dos dias de
férias e dos feriados (estes são menos do que na China ou na Suíça, por
exemplo)? Ou será somente a ignorância acompanhada pela jihadista ideologia
anti-social de neoliberais?
· Os transportes
continuarão parcos e caros e ao que parece, são as concessões e privatizações
que garantem a competitividade da economia e o saneamento das contas públicas.
Se acham caros, o mercado apresenta alternativas… transportem-se em Madrid!
· Algum dos Dupont(d)
irá anular os contratos ou nacionalizar, expropriar as empresas das parcerias
público-privadas rodoviárias? Se na Suíça se paga € 32 pela circulação ANUAL nas
autoestradas, pagar uns € 40 numa viagem de ida e volta Lisboa-Porto será um fator
de competitividade?
· Estamos condenados
à vigência de um sistema eleitoral que menoriza a esmagadora maioria da população,
afastada da decisão e coloca como elegíveis apenas as mediocridades da classe
política, excludente e corrupta?
O elenco de
questões é infindável.
Esperar a solução
de alguma destas questões na romaria eleitoral de dia 4 só por espírito
angelical, conveniência ou pela ligeireza da aceitação de uma rotina.
O problema não é
quem ganha as eleições; o problema é o sistema que nos coloca no lugar de inevitáveis
perdedores na romaria de dia 4.
Este e outros textos em:
http://grazia-tanta.blogspot.com/
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http://www.slideshare.net/durgarrai/documents
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ResponderEliminarExcelente questionário
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