quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Rescaldo do wrestling eleitoral de dia 9 de setembro de 2015


Assistimos ao wrestling eleitoral de Dupont contra Dupond, morno e vazio como se esperava. Nem sequer se engalfinharam para dar emoção ao combate; na realidade, até são colegas no seio do partido-estado PSD/PS, partilham o mel do pote. Tudo se passou com a plebe, mansa e solitária, a assistir no sofá.





A prova de que se tratou de uma competição desportiva está na preocupação dos comentadores em acentuar quem ganhou a partida; dos entrevistadores zelosos no seu papel de árbitros, apitando perante as infrações das regras do combate; e, depois de findo o mesmo, a preocupação dos media em ouvir os habituais capangas das claques de ambos os contendores a vomitarem as vacuidades típicas da classe política.

Para melhorar a audiência de basbaques e elevar o nível do folclore eleitoral, soubemos que há uma estação televisiva que pretende apresentar a nua barriga grávida de uma nua cabecinha que costuma apresentar-se nos campeonatos secundários do wrestling.

Tratando-se de uma cena para entreter o povinho numa noite de quarta-feira sem futebol, claro está que a vacuidade imperou:

·        Parece ter ficado líquido que, por métodos diferentes, o assalto à Segurança Social está garantido, que não haverá dinheiro para pensões e que ninguém irá falar dos € 11000 M que as empresas devem à instituição que, por sinal vive uma situação de caos organizativo;

·     Ninguém referiu se a idade da reforma irá diminuir como modo de criar empregos para os mais jovens. Nem ninguém perguntou aos Dupont(d) se irão aumentar ainda mais a idade da jubilação e acabar com o genocida “factor de sustentabilidade”;

·            Ninguém os ouviu falar da Europa, da crise do euro, dos refugiados das guerras que apoiam, pela simples razão que ambos aceitam obedientes as ordens de Bruxelas, Frankfurt ou Berlim. Ou mesmo da famiglia reinante em Luanda.

·      Num país em crise profunda porque se gasta dinheiro na participação em missões militares no Báltico ou, brevemente, em exercícios delirantes da NATO no sul da Europa?

·      O SNS vai continuar como trampolim para a canalização de dinheiro dos impostos para prestadores privados de serviços, nomeadamente de parcerias público-privadas? E com 1.2 M de pessoas sem médico de família obrigadas a longas horas de espera em hospitais que se tornaram verdadeiras gafarias?

·        A divida pública como se sabe, para os Dupont(d) é sagrada e um deles até se mostrou contente com o desenlace, em tragédia, da pífia atuação do Tsipras. Portanto, segue-se a continuidade do pagamento de € 800/habitante, anuais, só de juros;

·        Como irão proceder para evitar que qualquer aumento do consumo se traduza em crescimento do desequilíbrio externo e, portanto de acréscimos de dívida externa?

·        A exportação tradicional contempla forte componente importada, quer se trate de têxteis quer da transformação de praças, ruas e calçadas em comedouros para turistas low cost. Que alternativas têm os nossos Dupont(d)?

·      Como reestruturar e recapitalizar a massa de PME, 30% das quais são responsáveis por créditos já vencidos e não pagos equivalentes a 16.2% do total em dívida?

·          Quando o IEFP coloca desempregados, pagos pelo erário público em estágios profissionais nas empresas, estas estão, de facto, a ser subsidiadas e o Estado a desempenhar um papel de fornecedor de trabalho temporário, não pago pelas empresas. É assim que se fomenta a competitividade?

·       Que benefícios efetivos se retiram do aumento da jornada de trabalho, da redução dos dias de férias e dos feriados (estes são menos do que na China ou na Suíça, por exemplo)? Ou será somente a ignorância acompanhada pela jihadista ideologia anti-social de neoliberais?

·            Os transportes continuarão parcos e caros e ao que parece, são as concessões e privatizações que garantem a competitividade da economia e o saneamento das contas públicas. Se acham caros, o mercado apresenta alternativas… transportem-se em Madrid!

·       Algum dos Dupont(d) irá anular os contratos ou nacionalizar, expropriar as empresas das parcerias público-privadas rodoviárias? Se na Suíça se paga € 32 pela circulação ANUAL nas autoestradas, pagar uns € 40 numa viagem de ida e volta Lisboa-Porto será um fator de competitividade?

·     Estamos condenados à vigência de um sistema eleitoral que menoriza a esmagadora maioria da população, afastada da decisão e coloca como elegíveis apenas as mediocridades da classe política, excludente e corrupta?

O elenco de questões é infindável.

Esperar a solução de alguma destas questões na romaria eleitoral de dia 4 só por espírito angelical, conveniência ou pela ligeireza da aceitação de uma rotina.

O problema não é quem ganha as eleições; o problema é o sistema que nos coloca no lugar de inevitáveis perdedores na romaria de dia 4.


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