Sumário
1 - Objetivo
2 – Indicadores globais das contas autárquicas
3 – A dívida das câmaras a médio/longo prazo
3.1
– Endividamento por habitante e 2004 e 2011
3.2
– Endividamento e rendimento em 2011
Conclusões
- A dívida autárquica a médio/longo prazo, apesar de longe da dimensão da dívida pública da responsabilidade do Estado, corresponde, em 2011 a € 436.9 por habitante;
- A sua constituição ainda que integrada em orçamentos e validada por assembleias municipais, mantém-se como decisão da classe política, sem que se isentem as populações das suas sequelas;
- A situação de endividamento tende a ser mais gravosa nos concelhos periféricos, do interior e onde o nível do poder de compra é claramente inferior à média nacional. Esse perfil mostra-se mais carregado em 2011 quando comparado com 2004;
- Na sua maioria, os municípios só poderão pagar a dívida com redução de encargos, isto é, em prejuízo do serviço a prestar à população ou, aumentando os impostos, mormente o IMI ou ainda, com o recurso a novos débitos, mais juros, etc;
- O IMI tende a concentrar toda a margem de manobra para o aumento das receitas camarárias e é para aí que apontam, quer os governos, quer a troika; esta com a imposição do fim do IMT em 2016. O fim do IMT poderá acarretar a uma subida de 16% no IMI;
- O
endividamento, associado que seja gastos que direta ou indiretamente
promovam, na teoria, investimentos, emprego… tem estado longe de conseguir
esse desiderato, acentuando-se as desigualdades entre as várias parcelas
do território.
1
- Objetivo
Falta
pouco mais de dois meses para a redistribuição do conteúdo dos potes
autárquicos pelos partidos políticos, seus membros, simpatizantes e convidados.
Dentro em breve vai começar a habitual defesa da obra, pelos que defendem a gestão
finda e o rol de promessas apresentadas pelos candidatos à substituição dos
autarcas em final de mandato.
Não
há muito mais a dizer sobre o folhetim das manobras do governo para perpetuar
uns quantos mandarins como autarcas de profissão, prontos para o exercício do
poder em qualquer câmara; e da falhada e relvada
ideia de criar novos cargos de superintendência regional para uns quantos
dinossauros autárquicos do partido-estado. Já se sabe que mandarim é, em grande
maioria, um indivíduo que sem saber nada de nada, preenche qualquer cargo,
desde que bem remunerado; e dizemos
cargo porque funções que o configurem nem sempre existem. Finalmente, a sua
ação pode classificar-se de legal ou ilegal mas, raras vezes dotada de
legitimidade, uma vez que esta só pode resultar de melhorias no bem-estar da
população.
Pelas
razões expostas, todo o espectro partidário mostra-se muito circunspecto sobre
a gestão autárquica, uma vez que todos sabem de atropelos e corrupção na
autarquia vizinha, gerida pela concorrência; e … quem tem telhas de vidro não
manda pedras ao vizinho. Todos concordam com o modelo eleitoral em que as pessoas
votam num elenco, em geral partidário, sem poder discordar ou repudiar um
candidato, mesmo que seja o mais acabado corrupto ou incapaz. E, para manter
esse monopólio, o pentapartido luso aplaude o afunilamento, no âmbito da lei
eleitoral, para candidaturas partidárias, com o estabelecimento de dificuldades
enormes para o aparecimento de listas não partidárias. Vive-se no seio de uma
democracia tutelada por partidos, financiados pelo Estado, que toma as pessoas
comuns como eunucos políticos, afastados como sujeitos de ação política,
incapazes de organização política autónoma.
Uma tutela política que coexiste com a tutela económica e financeira
centrada no sistema financeiro. Essa harmónica coexistência contra os povos é o
que designamos por democracia de mercado.
Não
é possível proceder-se aqui a um balanço individualizado da atividade dos 308
elencos camarários, pela sua diversidade e pelo caráter local da sua atuação.
Isso competirá a cada um, sobretudo daqueles que considerarem o seu voto em
naipes partidários mais ou menos adornados com “independentes”; estes últimos
são, em regra, candidatos a mandarim que não passaram pelas jotas e que
rapidamente ganham todos os vícios do exercício do poder – nepotismo, inércia,
exibicionismo com dinheiros públicos, sobranceria de quem acha nada ter a dizer
ao “eleitorado” a não ser de quatro em quatro anos.
Temos
tecido várias considerações sobre o caráter de falsificação democrática do
atual regime político[1],
seja no contexto nacional, regional ou local. E isso, porque as suas
instituições não têm legitimidade alguma dado o modelo de representação –
baseado em partidos – não dar possibilidades reais de candidaturas fora desse
quadro, não admitir capacidades populares de cassação de mandatos de eleitos
incumpridores de promessas ou corruptos, nem possibilidades de acesso às contas
autárquicas, aos contratos e adjudicações e, menos ainda, sem intervenção em
nomeações que, normalmente, configuram a cooptação de comparsas para a ocupação
do aparelho de estado.
Tudo
isto é possível em grande parte devido a uma inércia imensa das pessoas comuns,
desinteressadas da gestão pública, por comodismo ou sensação de inutilidade da
intervenção contra uma classe política bem entrincheirada e ciosa do acesso ao
“pote”, armada de leis e dos domésticos judiciários ou policiais para perpetuar
a sua reprodução enquanto classe ou gangs, mais precisamente. Sem uma
movimentação popular autónoma dos conservadores poderes partidários, sem um
trabalho de estudo e análise da realidade, neste caso, ao nível autárquico,
estão consolidadas as estruturas que conduzem ao benefício ínvio de uns poucos,
com o empobrecimento de quase todos, em termos de rendimento e da intervenção
democrática.
2
– Indicadores globais das contas autárquicas
Considera-se
interessante a observação prévia de elementos globais da gestão autárquica em
2004 e 2011; e, por outro, a sua comparação com a dívida das câmaras a
médio/longo prazo, bem como a evolução do PIB, este, como expressão da criação
de riqueza nacional - 14.6% no período de sete anos, considerando preços
correntes, sem qualquer dedução da inflação.
Refira-se
que sendo dados agregados de 308 municípios, enquadram situações individuais
muito distintas. Assim, a dívida de médio/longo prazo que globalmente cresce
apenas 6.9% esconde as diferenças - e o peso relativo - da situação observada
em Lisboa e Porto, face à do conjunto das outras autarquias. De facto, no
período considerado aquelas duas autarquias reduziram a sua dívida em € 229.4 M
e as restantes acresceram os seus débitos em € 595.7 M, correspondentes a um
aumento percentual de 17%. Sendo assim, entendemos ter muito maior
representatividade a consideração deste último valor como definidor da
evolução, do que o valor médio global, por este ser afetado pela enorme
relevância de Lisboa e Porto.
Os
elementos relativos a 2011 são os últimos conhecidos publicamente e, no
capítulo da dívida autárquica, haverá certamente alterações substanciais nos
dois últimos anos, decorrentes do PAEL - Programa de Apoio à Economia Local,
(Lei nº43/2012 de 28/8) no âmbito do qual já terão sido concedidos a título de
empréstimo, € 810 M a 110 municípios[2],
num total previsto de € 1000 M.
Visa
o PAEL, nuns casos, o empréstimo pelo Estado do dinheiro correspondente a 50% a
90% das dívidas camarárias a fornecedores, vencidas há mais de noventa dias,
por um período máximo de 14 anos. Nos casos de câmaras em situação de
desequilíbrio financeiro estrutural e não meramente de tesouraria, o empréstimo
pode estender-se por um período de 20 anos de amortização.
A
aplicação do PAEL, terá vários efeitos;
- A estrutura do endividamento das autarquias subscritoras alterar-se-á, observando-se um reforço do peso da dívida a médio/longo prazo em detrimento do endividamento a fornecedores, por exemplo. Essa alteração na composição dos capitais alheios tem como efeito um aumento do serviço de dívida, exigindo um maior esforço dos munícipes;
- A liquidação das dívidas a fornecedores, tendo em conta as repercussões do memorando da troika na gestão camarária e na vida dos munícipes, poderá não ser suficiente para muitas das empresas beneficiadas garantirem a sua viabilidade, como previsto pelos arquitetos do PAEL
- Finalmente, o pagamento ao Estado dos empréstimos e dos correspondentes juros, durante tão alargado lapso de tempo vai conduzir a reduções quantitativas e qualitativas dos serviços prestados à população e, em paralelo, promover aumentos dos impostos – mormente do IMI – e dos serviços prestados pela câmara, saneamento, água (se entretanto não for privatizada…), etc. Em suma, também a gestão autárquica, ao sofrer o impacto da intrusão da troika, no seguimento de anos de laxismo dos mandarins locais irá trazer elementos acrescidos de dificuldades para quem habite em Portugal; e durante muitos anos.
Alguns
elementos retirados do activo dos balanços revelam que o valor do património
camarário cresceu cerca de 50%, muito aquém das dívidas de terceiros (127%) e
de custos referentes a anos posteriores (359%). No passivo, sublinha-se o
aumento dos fundos próprios, estreitamente relacionado com o aumento do
património e um grande crescimento das dívidas de curto prazo. Estas, que
correspondem a 37% do valor das dívidas a prazos maiores em 2004 passam a 75%
em 2011 e constituíram a base para a formulação do PAEL e empréstimos
relacionados. Os dados de 2011 revelam a necessidade de aumento de prazos de
pagamento[3]
tal como o forte aumento (145.5%) de custos inerentes ao ano referido mas, não
contabilizados como tal. Como se disse atrás, os débitos a médio/longo prazo –
excluídos os municípios de Lisboa e Porto – têm uma evolução próxima da
observada para o PIB.
M euros
|
var %
|
|||
2004
|
2011
|
|||
Activo
|
||||
Imobilizado
|
25258
|
37724
|
49,4
|
|
Dívidas
de terceiros (brutas)
|
586
|
1331
|
127,1
|
|
Diferimentos
e acréscimos
|
127
|
583
|
359,1
|
|
Activo
líquido
|
26701
|
40196
|
50,5
|
|
Passivo
e Capital próprio
|
||||
Fundos
próprios
|
18216
|
25184
|
38,3
|
|
Débitos
de curto prazo
|
1575
|
3410
|
116,5
|
|
Débitos
de médio/longo prazo
|
4227
|
4517
|
6,9
|
|
Diferimentos
e acréscimos
|
2595
|
6372
|
145,5
|
Fonte primária – DGAL
Quanto
às receitas correntes, o seu crescimento (23.9%) situa-se acima do apurado para
o PIB. Em termos percentuais o maior crescimento observa-se nos rendimentos da
propriedade (114%) e nos impostos indiretos/taxas (100%). As transferências,
essencialmente da administração central, crescem significativamente (41.8%)
aproximando-se o seu volume do atingido pelos impostos diretos, embora estes
aumentem bastante menos (11.9%).
A
observação, em detalhe, dos impostos diretos revela um forte aumento do IMI
(85.3%) e do IUC (61.4%), precisamente aqueles que incidem sobre partes
substanciais da população[4].
No que se refere ao IMI, o processo de reavaliação dos prédios estava em 2011
ainda no início, e seu forte agravamento está definido, para os próximos anos, com
o carimbo da troika. Esse assunto foi tratado por nós, recentemente[5].
O IMT, por seu turno, foi criado para trazer receitas às câmaras, resultantes
da especulação imobiliária e do volume de transações de prédios, mas revela
estagnação, dado o fim da orgia construtiva que irmanou bancos, construtores e
Estado; porém, em 2012, teve uma quebra de 40% revelando assim o fim da orgia
imobiliária. Por esse motivo, a previdente troika, com o silêncio cúmplice dos
autarcas, prevê a sua extinção em 2016, com a compensação dessa receita a ser
obtida a partir de um novo agravamento do IMI. Um ligeiro exercício permite
aquilatar quanto dessa transferência poderá caber a cada pagante de IMI - €16
por cada €100 de IMI pago anteriormente, considerando que se pretende obter a
mesma receita que o IMT propiciava em 2011.
Finalmente,
nos sete anos considerados, observa-se uma quebra de um terço na receita fiscal
da derrama, imposto que incide sobre os lucros tributários das empresas. É
evidente que a desindustrialização, as habilidades na ocultação de resultados
por parte das empresas e as reais dificuldades que a recessão vem provocando em
muitas unidades empresariais, gera prejuízos onde antes se declaravam lucros.
Em 2012, de acordo com a OTOC, a receita global de derrama situou-se ao nível
da obtida no ano anterior.
M euros
|
var %
|
||||
2004
|
2011
|
||||
Receitas
correntes
|
4554
|
5642
|
23,9
|
||
Vendas
bens e serviços
|
603
|
704
|
16,7
|
||
Transferências
|
1504
|
2136
|
42,0
|
||
- da Admin. Central
|
1479
|
2097
|
41,8
|
||
Rendimentos
propriedade
|
121
|
259
|
114,0
|
||
Taxas
e multas
|
214
|
234
|
9,3
|
||
Receitas
fiscais
|
2253
|
2452
|
8,8
|
||
-Impostos diretos
|
1887
|
2112
|
11,9
|
||
- IMI/Contrib Autárquica
|
631
|
1170
|
85,3
|
||
- IUC/IS Veículos
|
114
|
184
|
61,4
|
||
- IMT/Sisa
|
467
|
508
|
8,7
|
||
- Derrama
|
380
|
251
|
-33,9
|
||
- Abolidos
|
293
|
7
|
-97,6
|
||
- Impostos indiretos
|
170
|
134
|
100
|
||
-Taxas
|
206
|
Fonte primária – DGAL
Quanto
às despesas correntes, observe-se que são muito inferiores às despesas
correntes, permitindo assim “poupanças” aplicáveis em despesas de capital. Essas
“poupanças” são da ordem dos € 800 M e € 600 M, respetivamente em 2004 e 2011.
No entanto, aumentam 33.6% no período considerado.
No
capítulo das transferências, as que se destinam às freguesias evidenciam um
paralelismo face à tendência geral, ao contrário das verbas destinadas a
instituições sem fins lucrativos que pouco se alteram entre 2004 e 2011.
M euros
|
var %
|
||
2004
|
2011
|
||
Despesas
correntes
|
3767
|
5033
|
33,6
|
|
Transferências
|
399
|
478
|
19,8
|
|
- Admin local
|
153
|
202
|
32,0
|
|
- Instit sem fins lucrativos
|
209
|
224
|
7,2
|
|
Juros
e encargos
|
101
|
142
|
40,6
|
|
Aquisição
bens e serviços
|
1280
|
1789
|
39,8
|
|
- Bens
|
317
|
375
|
18,3
|
|
- Serviços
|
963
|
1415
|
46,9
|
|
Pessoal
|
1848
|
2365
|
28,0
|
Fonte
primária – DGAL
Os
juros e encargos pagos – correspondentes a uns 3% da dívida de médio/longo
prazo – apesar de terem um escasso peso no total das despesas - crescem 40.6%
nos sete anos considerados, um pouco mais do que as aquisições de bens e
serviços (39.8%).
As
aquisições de bens e serviços representam um pouco mais de um terço das
despesas correntes em 2011, devendo-se sublinhar o aumento de 46.9% das
prestações de serviços, resultado do pendor para o “outsourcing”, para a
utilização de trabalhadores a recibos verdes que é moda na gestão neoliberal
como para o recurso a empresas de consultadoria[6]
Finalmente,
refira-se que os custos de pessoal aumentam 28% no período, cabendo nesse
aumento diversas situações tais como: atualizações salariais, melhoria da
qualificação média dos trabalhadores, casos de política social onde a câmara é
quase a única entidade capaz de minorar o forte desemprego, situações de
ostentação de mandarins, loucos por mostrar “obra”, de desenvolvimento
disparatado de estruturas administrativas e conivências entre as famílias do
partido-estado que dominam a autarquia, onde colocam filhos, primos e
conhecidos, alicerçando ali uma base eleitoral de fiéis que tenderão a
perpetuar o seu poder. O caciquismo partidária, tradicional em Portugal…
Para
terminar esta visão panorâmica das contas das autarquias em 2004 e 2011,
teceremos algumas notas sobre as receitas e despesas de capital. Observa-se
que, em geral, há uma retração dos valores durante o período considerado,
exceptuando os passivos financeiros, registados no âmbito das receitas, como no
das despesas, que revela o aumento da importância relativa das entradas de
dinheiro e, sobretudo, das saídas para pagamento de empréstimos.
Entre
as receitas de capital há a sublinhar a quebra, ainda que ligeira, das
transferências, nomeadamente provenientes da administração central e destinadas
a investimentos. Essa quebra, por seu turno, tem um impacto ampliado na redução
das transferências para empresas municipais e freguesias. No que concerne às
despesas de capital é elevada a descida da aquisição de bens de capital.
M euros
|
var %
|
||
2004
|
2011
|
||
Receitas
de capital
|
2237
|
2113
|
-5,5
|
|
Venda
bens investimento
|
173
|
84
|
-51,4
|
|
Transferências
de capital
|
1610
|
1522
|
-5,5
|
|
Administração central
|
1496
|
1441
|
-3,7
|
|
Passivos
financeiros
|
419
|
474
|
13,1
|
|
Despesas
de capital
|
2954
|
2688
|
-9,0
|
|
Aquisição
de bens de capital
|
2123
|
1670
|
-21,3
|
|
Transferências
de capital
|
440
|
335
|
-23,9
|
|
Empresas públicas
|
119
|
97
|
-18,5
|
|
Adm . Local
|
205
|
140
|
-31,7
|
|
Passivos
financeiros
|
290
|
615
|
112,1
|
|
Emprestimo m/l prazo
|
258
|
440
|
70,5
|
Fonte
primária – DGAL
3
– A dívida das câmaras a médio/longo prazo
A
dívida contraída pelas câmaras por prazos superiores a 2 anos era de € 4605 M
em finais de 2011 contra € 4239 M em 2004. Porém, de acordo com o Anuário com o
Anuário Financeiro da OTOC para 2012, a dívida a médio/longo prazo das câmaras,
tendo como credores os bancos, reduziu-se para € 4090 M, como resultado de um
grande aumento das amortizações dos empréstimos e uma redução apreciável do
recurso a novos empréstimos. Note-se que os dados dos Anuários da OTOC não
refletem cabalmente os elementos fornecidos pela DGAL – Direção-Geral das
Autarquias Locais, ainda não disponíveis para 2012.
3.1 – Endividamento por habitante e
2004 e 2011
Como
aqueles valores se repartem pelos 308 municípios de modo muito desigual,
entendeu-se considerar o valor médio por habitante e assim, evidenciar as
diferenças entre os vários concelhos e as responsabilidades implícitas que
cabem à população.
Como
expressão dessa desigualdade, refira-se que naquele período, 93 municípios
conseguiram fazer decrescer a sua dívida e em 205 ela subiu. Em
2004, a capitação de dívida autárquica era de € 402.6 e subiu para €436.9 sete
anos depois. Essas diferenças entre situações de agravamento ou desagravamento
da dívida não espelham o impacto das grandes quebras observadas na dívida de
médio/longo prazo observadas em Lisboa (€ 188M) e Porto (€ 71M), entre outros
casos também significativos pelo volume da redução.
Procede-se
em seguida a um quadro resumo da evolução verificada no período considerado,
avaliando o número de concelhos de acordo com os diversos escalões de capitação
de dívida a médio/longo prazo, entre 2004 e 2011.
Número de concelhos por
escalão de capitação da dívida autárquica
|
||||||
(€)
|
2004
|
2011
|
variação (%)
|
|||
<
200
|
68
|
22,1
|
31
|
10,1
|
-54,4
|
|
200-400
|
113
|
36,7
|
86
|
27,9
|
-23,9
|
|
400-600
|
66
|
21,4
|
74
|
24,0
|
12,1
|
|
600-800
|
31
|
10,1
|
44
|
14,3
|
41,9
|
|
>
800
|
30
|
9,7
|
73
|
23,7
|
143,3
|
|
308
|
100,0
|
308
|
100,0
|
-
|
No
quadro acima verifica-se claramente, uma subida assinalável das autarquias com
uma dívida por habitante muito elevada e uma drástica descida das situações
menos desconfortáveis de dívida, inferior a € 200. A evolução nos escalões
próximos de cada uma das situações extremas é semelhante, ainda que de modo
menos acentuado.
Os
mapas seguintes permitem a observação, para todos os concelhos, de todos os casos
onde a dívida média por habitante aumentou, diminuiu ou se manteve em valores
dentro do mesmo intervalo. É bem visível que os concelhos marcados com
tonalidade de azul se reduzem substancialmente entre 2004 e 2011 enquanto que
os tons vermelho/laranja que representam as situações claramente acima da
capitação média ganham uma notoriedade muito maior em 2011.
Em
2004, as concentrações de muito alto endividamento médio por habitante (>
800 €) - a vermelho nos mapas - não eram muito extensas e tinham maior
visibilidade no vale do Douro, no Algarve e nos Açores, para além de vários
concelhos dispersos. Sete anos depois essa mancha
Para identificação dos concelhos consultar:
Para
identificação dos concelhos consultar:
mostra-se
muito aumentada, com maiores concentrações no interior Centro/Norte, no
Alentejo interior, na Madeira e nos Açores, surgindo também no baixo vale do
Tejo.
Em
paralelo com essas situações, os casos de alto endividamento (600/800 €)
rodeiam os de muito alto débito por habitante e crescem, claramente, no período
considerado.
Inversamente,
o número de concelhos com mais baixo endividamento por habitante (< 200 €)
encolhe substancialmente, deixando praticamente de existir no interior da
região Centro.
Apresenta-se
em seguida uma quantificação mais detalhada, para 2004 e 2011, das dez
situações de maior endividamento e as dez que correspondem a menor capitação de
dívida a médio/longo prazo.
Capitações de dívida (€) - 2004
|
|||
As 10 mais elevadas
|
As 10 menos elevadas
|
||
CORVO
|
2813,3
|
FORNOS
DE ALGODRES
|
0,0
|
FREIXO
DE ESPADA À CINTA
|
1920,2
|
MEDA
|
0,0
|
MONCHIQUE
|
1866,4
|
PENEDONO
|
0,0
|
OURIQUE
|
1615,2
|
SÃO
VICENTE
|
0,0
|
FRONTEIRA
|
1479,0
|
REDONDO
|
22,0
|
SARDOAL
|
1422,1
|
CAMINHA
|
39,8
|
VILA
FRANCA DO CAMPO
|
1415,1
|
CINFÃES
|
55,6
|
CASTANHEIRA
DE PÊRA
|
1351,3
|
VIZELA
|
59,1
|
NORDESTE
|
1328,2
|
IDANHA-A-NOVA
|
62,7
|
MELGAÇO
|
1283,3
|
CALDAS
DA RAINHA
|
64,3
|
Média nacional 402,6
|
Capitações de dívida (€) - 2011
|
|||
As 10 mais elevadas
|
As 10 menos elevadas
|
||
FORNOS
DE ALGODRES
|
6843,7
|
PENEDONO
|
0,0
|
ALFÂNDEGA
DA FÉ
|
3436,2
|
PENACOVA
|
28,6
|
CORVO
|
3060,8
|
CINFÃES
|
33,8
|
MOURÃO
|
2899,2
|
PONTE
DE SOR
|
39,1
|
FREIXO
DE ESPADA À CINTA
|
2837,8
|
PONTE
DE LIMA
|
46,0
|
VILA
FRANCA DO CAMPO
|
2370,0
|
ELVAS
|
77,9
|
VILA
NOVA DE POIARES
|
2341,2
|
CAMPO
MAIOR
|
79,0
|
CALHETA
(SÃO JORGE)
|
2310,8
|
MAFRA
|
97,1
|
ALANDROAL
|
2310,4
|
CALDAS
DA RAINHA
|
98,2
|
MONDIM
DE BASTO
|
2256,6
|
ALCÁCER
DO SAL
|
99,9
|
Média nacional 436,9
|
Fonte primária : DGAL
O
protagonismo das situações de maior endividamento recai em concelhos
periféricos e com pouca população, registando-se três repetições. No que se
refere aos menos endividados, embora predominem também concelhos do interior e
pouco povoados, há de assinalar algumas excepções.
3.2 – Endividamento e rendimento em
2011
Procedemos,
relativamente a 2011, a uma comparação da capitação da dívida com o índice per
capita calculado pelo INE para 2009 (último disponível) e que “pretende
traduzir o poder de compra manifestado quotidianamente, em termos per capita,
nos diferentes municípios ou regiões, tendo por referência o valor nacional” [7].
Por simplicidade de linguagem confundiremos poder de compra com rendimento.
Assim,
repartimos os municípios de acordo com o rendimento – elevado se acima da média
nacional; baixo, se acima de 75% do valor nacional mas inferior à média global;
e, muito baixo, se o rendimento for inferior aos referidos 75% da média
nacional. Em paralelo, dividimos os concelhos consoante a sua dívida autárquica
de médio/longo prazo se situa abaixo ou acima do valor médio nacional (€ 436.9)
por habitante.
Do
cruzamento dessas duas realidades resultou o mapa seguinte.
Fontes primárias – DGAL e INE
Para identificação dos concelhos consultar:
As
situações de capitação de dívida inferior à média nacional associadas a um
poder de compra acima da média global são apenas 28 e restringem-se a uma área
restrita do Grande Porto (4 concelhos), circundam o estuário do Tejo (14), são
capitais de distrito fora das áreas metropolitanas (8) e outras situações
isoladas (S. João da Madeira e Porto Santo).
Com
rendimentos acima da média e capitação de dívida autárquica elevada, o número é
escasso e engloba três capitais de distrito (Aveiro, Portalegre e Santarém).
Concelhos por
rendimento e dívida (2011)
|
|||
Capitação da Dívida
|
|||
Rendimento
|
D > Dm
|
D < Dm
|
Total
|
R
> Rm
|
11
|
28
|
39
|
75%
Rm < R < Rm
|
44
|
41
|
85
|
R
< 75% Rm
|
145
|
39
|
184
|
Total
|
200
|
108
|
308
|
Rm
- média nacional Dm -
Dívida média (€ 436,9)
|
Os
concelhos com baixo rendimento (27.6% do total) repartem-se em partes quase
iguais no que se refere ao volume da capitação da dívida. Quanto aos que têm
dívida elevada, as principais manchas verificam-se numa linha entre Leiria e
Reguengos de Monsaraz, no baixo vale do Minho, no Baixo Alentejo, no Algarve e
no grupo central das ilhas açorianas.
Por
seu turno, os concelhos com rendimento inferior a 75% da média nacional representam
59.7% do total dos municípios, num total de 184; e, entre estes, 72.5% acumulam
essa situação com uma capitação elevada de dívida. A sua predominância
revela-se no mapa a vermelho e evidencia que a esmagadora maioria dos concelhos
do interior norte e centro estão nessa situação, tal como no interior
alentejano, nos concelhos algarvios mais a oeste ou mais a leste e ainda na
grande maioria das autarquias das regiões autónomas. Se se considerar que entre
esses concelhos se evidenciam fenómenos preocupantes, como a desertificação
humana e o envelhecimento da população residente, não é surpresa que não sejam
abundantes os recursos financeiros gerados localmente para financiar o
funcionamento das áreas sociais e das infraestruturas físicas essenciais; e,
muito menos para pagar financiamentos ocorridos em tempos próximos. Por outro
lado, a solidariedade nacional, expressa em transferências do Estado - parca
tentativa de redução das fundas desigualdades de riqueza entre as várias
parcelas do território português - tem-se reduzido, na sequência do esgotamento
do modelo global de economia baseada no imobiliário, no domínio do capital
financeiro, na aceitação religiosa das virtudes do mercado. A intervenção da
troika é apenas o elemento final que sela o definhamento económico e social do
que se vem chamando Portugal.
Mais
detalhadamente, deve-se acrescentar o fracasso dos apoios públicos para a
fixação de empresas no interior, capazes de fixar uma população mais jovem e
qualificada; o encerramento de escolas, postos dos correios, serviços de
finanças e outros, em nome do conceito de rendabilidade estampado nas escusas
mentes que confundem proveitos sociais com proveitos empresariais ou, mais
recentemente, resultantes do cumprimento servil e criminoso dos ditames da
troika; o protagonismo, o exibicionismo dos caciques locais designados sob as
siglas partidárias – quando não são estas que procuram colar-se a um biltre qualquer
com influência local; os negócios com dinheiros públicos de loteamentos e
projetos turísticos de impacto económico duvidoso, mesmo que se esqueçam
questões ambientais; as adjudicações e negócios familiares de compadrio que
rodeiam os orçamentos camarários, etc.
Dentro
dessa lógica canhestra, há municípios que inventaram obra para aproveitamento
de fundos comunitários, esquecendo que há sempre uma componente nacional
demasiadas vezes suprida com financiamento bancário. E os ditosos bancos mais
facilmente emprestam dinheiro a uma câmara do que a um indivíduo ou empresa. De
facto, estes últimos terão, no caso de um pedido de financiamento para
investimentos, apresentar um projeto de viabilidade económica, garantias reais,
fianças, para que o banco promova o financiamento. A câmara porque tem
garantido ad aeternum o dinheiro dos
impostos – locais ou das transferências do Estado – mais facilmente obtém
crédito; seja para fazer um museu sem visitantes, um pavilhão desportivo sem
praticantes, um cinema fechado, que garantidamente nunca gerarão receitas para
obras caras e faustosas [8].
Este e outros
textos em:
http://grazia-tanta.blogspot.com/
http://pt.scribd.com/profiles/documents/index/2821310
http://www.slideshare.net/durgarrai/documents
http://pt.scribd.com/profiles/documents/index/2821310
http://www.slideshare.net/durgarrai/documents
[2] http://www.oje.pt/noticias/economia/reforco-do-apoio-a-autarquias-endividadas-transitou-de-2012
[3] “Do lado dos
bons pagadores encontram-se apenas dez das 308 câmaras municipais do país”.
Inserto em http://www.ionline.pt/conteudo/142581-estado-hospitais-e-camaras-concentram-86-das-dividas-em-atraso
(11/8/2011)
[4] Segundo o Anuário Financeiro dos Municípios
Portugueses publicado pela OTOC, ainda que os impostos diretos cobrados tenham
estagnado em 2012 face ao ano anterior, a receita de IMI cresceu 5.1% e a de
IUC 13%. Como se sabe somente salarios e pensões não podem aumentar
[5] http://grazia-tanta.blogspot.pt/2013/01/a-nao-politica-de-habitacao-e-o-imi.html
[6] http://pt.scribd.com/doc/66860865/Divida-publica-%E2%80%93-Os-principais-tipos-de-gasto-publico-2%C2%AA-parte-
[7] Estudo sobre o poder de compra concelhio –
2009 (INE)
[8] Muitos locais na internet divulgam esses
desvarios a nível autárquico, Citamos um deles, http://apodrecetuga.blogspot.com/
Um excelente post!! esperemos que os homens de fé que têm votado inquebraveis nos que arruinaram as autarquias leiam isto e pensem!! Se me enganaram das outras vezes que é que eu faço??
ResponderEliminarMuito bom o post. Só o intermitente AO90 que às vezes aparecia e outras não é que podia ser evitado, afinal de contas o Ministério que substituiu o anterior Min. da Cultura deu sinais de que daqui a pouco tempo não seremos obrigados a mudar a nossa escrita.
ResponderEliminarAinda assim, gostei de saber que o meu concelho não está numa má situação.