O que é o
sistema?
- É a atual configuração económica, dominada pelo capital financeiro global que domina e manipula a ação do Estado português. Para isso, os dinheiros públicos e a corrupção mantêm uma classe política incapaz, geradora e beneficiada com as dificuldades do povo;
- É um sistema político monopolizado por partidos, que menorizam as pessoas, tomadas como incapazes de entender as complexidades da democracia e da governação. Pretende-se que as pessoas sejam aqueles idiotas que, todos os quatro anos, colocam um papelinho numa caixa, para escolher mais do mesmo;
- É um sistema de representação que não nos permite decidir por nós próprios, impedir a eleição de corruptos e incapazes, de apear os vendedores de falsas promessas; um sistema anti-democrático que, no vértice, tem as instituições comunitárias, o FMI e a troika;
O texto que lançou o evento “QSL a Troika” é um texto
dramático e emocional com uma só proposta política, um apelo para eleições:
“exigimos a demissão do governo e que o povo seja chamado a decidir a sua
vida”. Certamente não por acaso, essa proposta é a que vem sendo defendida pela
esquerda institucional, bem acomodada à sombra do Estado que nos rouba.
É curto, pois dificilmente eleições trarão algo de novo, no
atual contexto da organização política vigente. É curto porque não se integra
numa mais vasta visão dos males de que sofremos todos. Nem é mobilizador da
revolta que se sente por aí, a exigir mais ousadia, uma contestação mais
avançada do sistema político e económico.
O problema é o sistema, não é o governo, ouviu-se no âmbito
da contestação internacional de 2011/12. Essa é a visão esquecida por muitos
dos promotores deste evento, rendidos a uma onda de fatalismo e falta de imaginação.
Por outro lado, o “QSL
a Troika” não funciona como um movimento social. Não se sabe onde e quando
reúnem e o alargamento é feito num género de pesca à linha, para uma devida
escolha de ingénuos e confrades; não há democracia onde as reuniões não são
públicas e abertas. Estão esquecidos ou arrependidos de tempos recentes?
Eleições? Dentro do mesmo sistema?
Os sistemas políticos nas chamadas democracias de mercado
vigentes na Europa comportam dois tipos de partidos; os grandes que mentem e
roubam e os mais pequenos que aldrabam e procuram crescer para alcançar o
“pote”.
Eleições aqui, é uma aposta na rotatividade entre os dois gangs
do partido-estado (PSD/PS) para gerir uma falsa alternativa, com ou sem o
adereço CDS; com o auxílio do controlo social protagonizado por uma chamada
esquerda, das mais conservadoras da Europa. As movimentações que se observam no
PS, visando despedir Seguro indicam que eleições antecipadas estarão próximas.
O sistema político atual não funciona a nosso favor mas a
favor deles, “deles que não nos representam” e que disfarçam as suas imensas
responsabilidades culpando a Troika de tudo, na lógica saloia e nacionalista tão
bem definida pelo PC, que se esqueceu de morrer, como diria Zizek.
Veja-se a estagnação, a ausência de alternativas dos últimos
38 anos de eleições. A única coisa que evolui através da história das eleições é
o número dos que não votam nos partidos; e entre estes, não há diferenças
sensíveis nas posições relativas. A História e a inferência estatística costumam falhar pouco nestas situações.
(por direita
tradicional entende-se PSD/PS)
Quando se sabe da constante existência de centenas de milhar
de eleitores “fantasmas” isso deve ser visto como um retrato do poder que temos
permitido, do seu não empenho pela qualidade da democracia; ao invés dos cruzamentos
de dados para esquadrinhar as nossas vidas e exercer a punção fiscal.
É possível mobilizar as pessoas para
algo de construtivo no sentido da mudança!
Algumas ideias:
- Suspensão
do pagamento da dívida até avaliação da proveniente de vigarices, tendo em
conta o presente estado de emergência social;
- Fim
da política de empobrecimento galopante da esmagadora maioria;
- Política
de forte redistribuição do rendimento a favor de trabalhadores, desempregados
e reformados, ao contrário do que tem acontecido há vários anos;
- Início de um processo de revisão constitucional protagonizada pelo povo, que torne o povo sujeito e árbitro da democracia. Contendo, por exemplo:
·
Eleição
de indivíduos e não de listas
·
Possibilidade
de cassação de mandatos por iniciativa popular
·
Abertura
e facilitação de referendos, locais, regionais, nacionais, como forma de
expressão da soberania popular
·
Limitação
do número de mandatos para todos os eleitos
·
Total
ausência de mordomias e imunidades para os eleitos
·
Extinção
da figura de PR, substituído pelo presidente da AR
·
Governo
constituído por eleitos para a AR e limitado a 15 ministros
·
Total
independência do aparelho judicial face ao governo
·
Administração
pública independente do governo, que não poderá nomear ou exonerar dirigentes
da AP, devendo esta constituir a principal assessoria do governo, sem o uso e
abuso de enxames de consultores e advogados mafiosos
·
Acesso
de todos aos arquivos e decisões dos órgãos públicos, incluindo das reuniões do
conselho de ministros
·
Moldura
penal agravada para casos de corrupção, peculato e favorecimento pessoal dos
investidos em cargos públicos
·
Julgamento
dos actos corruptos e de gestão danosa ocorridos nos últimos anos
Apelo à transparência e a propostas contra o sistema (6)
Finalmente, o apelo a quantos fazem parte do diretório do “QSL
a Troika” – por enquanto sem outra designação -
para o seu funcionamento democrático e para que não repliquem o
funcionamento habitual do caciquismo partidário.
Se se cingirem em querer eleições e incorporarem os métodos
excludentes do sistema estarão, não a promover um protesto mas, a enquadrar o
descontentamento atrás de uma proposta
que interessa ao sistema partidário e à paz do capital. Sabemos existir no diretório
pessoas sérias e decentes ainda que demasiado ingénuas face à contaminação
partidária e a elas se dirige particularmente este apelo.
Que sejamos todos capazes de promover reivindicações
transformadoras e que as manifestações se integrem num movimento de criação de redes
de grupos locais, de empresa, de escola, para lutar contra o sistema político e
económico que destrói as nossas vidas.
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