1. a
globalização, de velas enfunadas pelos ventos de chicago e a ajuda à navegação
da esquerda, sobretudo da esquerda social-democrata, completamente rendida aos
cantos de sereia do capitalismo liberal, esvaziou a capacidade de acção dos
sindicatos, os quais, por via do trabalho precário (recibos verdes, contratos a
um mês...) têm cada dia menos membros e, por conseguinte, menos influência na
definição das políticas sociais.
2. outra
contribuição importante para a inoperacionalidade dos sindicatos é o facto de
permanecerem prisioneiros de direcções partidárias incapazes de acertarem o
passo com as exigências da actualidade e cuja estratégia se reduz à colecção de
umas migalhas de poder.
3. metidos
em tal espartilho, não conseguem ir além de processos negociais
maioritariamente condenados ao fracasso e de umas quantas
manifestações/catarse, pondo-se demasiadas vezes na pele de polícias do capital
e caminhando rapidamente para a redundância.
4.
portanto, ou mudam de estratégia ou desaparecem, sendo que, para aumentarem a
sua utilidade e influência devem começar por encarar de frente as necessidades
teóricas e práticas do movimento revolucionário dos nossos dias.
5. a
primeira verdade que se torna necessário enfrentar é o facto de, no quadro do
capitalismo, mais ou menos humanizado, o aumento do desemprego e o
desmantelamento do estado social serem irreversíveis: há excesso de produção e
a produtividade só já pode crescer pela redução do valor do trabalho
incorporado nas mercadorias e pelo desemprego.
6. a
segunda verdade, e ela explica em parte a ausência de estratégia dos partidos
da esquerda, é que a simples apropriação dos meios de produção e o controlo do
aparelho do estado não garantem a liberdade política nem a justiça social; e
não são via para o comunismo.
7. a
terceira verdade que importa enfrentar é a afirmação do carácter exclusivo do
sistema dos partidos em qualquer das suas modalidades.
8. uma
quarta verdade é a assumpção de que o cerne da crítica do capitalismo não é a
propaganda associada à demagogia do pleno emprego mas a crítica do trabalho
abstracto, do valor e do feiticismo da mercadoria.
9. é
possível a partir daqui iniciar o esboço das modalidades de acção de um
sindicalismo revolucionário, o qual deverá favorecer duas vertentes
fundamentais: a protecção dos trabalhadores empregados e a participação no
lançamento das bases da organização política e económica do futuro.
10. a
primeira destas vertentes terá um sindicalismo muito próximo do actual, agindo
sobretudo na negociação das condições de exercício do trabalho por parte dos
trabalhadores por conta de outrém; a segunda exige alterações importantes na
actividade tradicional do sindicato, orientando-se para tarefas práticas de
organização de unidades de distribuição dos bens disponíveis (inclusive do
poder) capazes de se constituírem em elementos de produção de uma força
constituinte.
11. isso
implica a utilização das capacidades técnica e burocrática dos sindicatos na
ajuda à organização, por parte dos desempregados e dos movimentos sociais, de
redes de produção e distribuição autogeridas e colocadas fora da lógica do
mercado capitalista, onde tudo deve ser reduzido à forma dinheiro;
12.
considerar as necessidades dos indivíduos enquanto consumidores (coisa comum a
todos) e não enquanto produtores: organização da produção conforme a
necessidade de consumo dos indivíduos e não a promoção do consumo por necessidade
da produção;
13.
abandonar práticas centralistas, libertar-se do jugo dos partidos e aceitar
formas de relação horizontais com todas as organizações do movimento social
revolucionário.
14. a força
posta na segunda vertente reforçará exponencialmente a capacidade de agir na
primeira, garantindo maior eficácia em qualquer negociação.
15. mesmo a
capacidade de os trabalhadores assumirem uma batalha sabendo da existência de
alternativas na retaguarda é seguramente superior.
16.
finalmente, gostaria que este texto não fosse visto como um manifesto acabado
mas como ponto de partida para uma discussão alargada a todos, envolvendo as
necessidades gerais de uma estratégia inclusiva, não dogmática e
anti-autoritária.
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