O
Bush invadiu o Iraque argumentando que havia armas de destruição maciça, não
se preocupando em apresentar provas; afinal não havia e o povo iraquiano PAGOU
e caro pelo que não devia; e não consta que será indemnizado.
Se
um banco ou alguém me apresentar uma conta ou uma factura eu só pago se não
tiver dúvidas sobre as razões da dívida e sobre os montantes exigidos; se tiver,
exijo comprovativos pois, sem isso nem um cêntimo desembolso. Aliás, se pagar
levianamente, isso é a assunção de reconhecimento da dívida e não parece que
uma reclamação posterior junto dos tribunais seja solução prática.
Por
outro lado, quando se fala do Equador como procedimento exemplar, sabe-se que
os bancos credores só cederam perante uma posição de força do Correa. E ele
disse, “não pagamos enquanto auditamos a dívida”; e depois de ter descoberto as
vigarices e as renegociações mais ou menos impostas e consentidas pela
oligarquia anterior ao Correa, obrigou os bancos a cederem e “esquecer” parte
substancial da dívida.
É
claro que nas condições actuais em que temos um governo gerido por um gauleiter
da Frau Merkel, qualquer esforço de auditoria pode trazer pontualmente aspectos
indiciadores de trafulhices; as ppp, as obras a mais, etc. Mas uma coisa é
indícios, outra é comprovativos; e mesmo perante comprovativos, sabemos todos o
respeito que há por aqui sobre as leis, mesmo constitucionais e a qualidade do
funcionamento da máquina judiciária. Por isso costumo chamar a “isto” a que
ainda se designa por Portugal, uma cleptocracia.
A
dívida é a parte mediática e visível de um grande iceberg que se chama Estado
português. E este está inserido num capitalismo global, numa tradição lusa de
canibalização por parte de um patronato nativo inepto e ignorante, numa
simbiose Estado-capitalistas muito mais avançada hoje, do que décadas atrás. E
apontar exclusivamente para a dívida e esquecer o funcionamento global desse
Estado, o papel do corrupto mandarinato, a opacidade sistémica que lhe é
inerente não trará grandes resultados. Ou melhor, terá, pois ocultará que o
problema aqui é o sistema e não a crise da divida.
É
evidente que na esquerda portuguesa há uma errónea ideia de que “o Estado somos
nós”, quando de facto o Estado “são eles” que estão, por sistema, contra nós
Outro
aspecto interessante são as declarações desastradas do José Gusmão e da Ana
Benavente quando referem que a auditoria será terminada dentro de seis meses.
Querem afirmação mais descredibilizante? Não acredito que tenha sido por
ignorância. Porque será?
21/12/2011
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