Eles andam preocupados e vão-se
reunindo, em grupinhos, para descobrir a quadratura do círculo. Os ingredientes
são sempre os mesmos, os trabalhadores que produzam para eles, a multidão que
se sacrifique, os pobres que desapareçam. Importante são as empresas, os
lucros, a finança, os mercados, eles, os capitalistas.
O principal problema deles, não é
a plebe, que Sócrates tem gerido a contento, enchendo-lhes os bolsos o mais que
pode. O problema é que a burguesia portuguesa, mesmo com muito dinheiro nos “offshores”,
está colocada lá para o fundo, na hierarquia das cliques dominantes europeias e
mundiais. Não produz nada de relevante a nível mundial, não detém importância
tecnológica, é ignorante em termos culturais e de gestão. Uma merda.
E ninguém os escuta, nem pergunta
a opinião. Recentemente o nosso estimado Cavaco, excelente exemplar do que
atrás se disse, esteve com a sua comitiva de mandarins e “empresários”, uma
hora, na Turquia, à espera do primeiro-ministro Erdogan, o que protocolarmente
é uma ofensa.
Bem, depois destes desabafos tautológicos falemos dos tais
grupinhos e almocinhos onde eles se encontram.
1 - O projecto Farol
Sabem o que é?
No dia 27 de Abril último, depois
de celebrarem o 25 de Abril, com os cartões bancários ao peito, posternaram-se,
solenes e discretos (sem a imprensa, para acicatar a curiosidade), perante
Cavaco que os acolheu "com muita satisfação". Aníbal e os elefantes?
Não, Aníbal e os percevejos.
Entre eles estavam:
- o grão-merceeiro Belmiro, habitual contribuinte do PS e do PSD, que anda com pouco que fazer depois de ter deixado a gestão da fazenda ao filho e que sofre de olho gordo desde que o Amorim lhe passou à frente na lista da Forbes;
- Jorge Sampaio, ex-advogado e recordista na arte de falar muito sem dizer nada mas, conselheiro de Estado e de Sócrates, com bons contactos no PS;
- Proença de Carvalho, advogado influente, bem integrado na direita e mandatário nacional da candidatura de Cavaco. Por ter sido um membro do Trio Los Dos (com José Niza e José Cid) foi apresentado como o chefe da banda;
- Paulo Macedo, BCP, ex-DG dos Impostos, que largou quando já não havia dinheiro para arrecadar ao pessoal e foi promovido no seu regresso ao banco;
- António Mexia, top-manager, da EDP, já algumas vezes glosado neste blog, que se afastou do Compromisso Portugal e membro ilustre duma piedosa Associação dos Empresários Católicos;
- Paulo Fernandes, “special one” do grupo Cofina, com uma porção de títulos nos media;
- Alves Monteiro, advogado, muito ligado aos mercados financeiros, bolsa, derivados e correlativos elementos produtores de riqueza;
- Pinho Cardão, gestor, PSD
- Brandão de Brito, economista, professor do ISEG, do PS;
- Jorge Marrão, ligado ao turismo e da Delloite que patrocinou o grupo e vai fazer um estudo até ao final do ano;
- E outros ilustres a quem pedimos desculpa pela não citação.
Todos juntos, abraçados em
perfeita comunhão, auto-intitulam-se “movimento da sociedade civil” designação
problemática se tivessem por lá um general e, "independente de qualquer
pensamento ou projecto político e menos ainda de qualquer partido", como
soa bem, nestes tempos de descrédito do mandarinato. Todos juntos, diziamos,
formam o que se chama um “think tank”, talvez porque as suas ideias têm a
elegância de um Panzer.
O que pretendem os faroleiros?
Ainda não adivinharam? Fiquem
sabendo que tão abnegados patriotas visam estudar “os problemas do país”, contribuir
“para que os portugueses conheçam melhor os seus problemas", “numa
perspectiva não conjuntural mas, de médio e longo prazo", movidos por um
denominador comum constituido por: Estado de direito, democracia politica, e
que “as políticas de respeito pela economia de mercado são as mais adequadas à
criação de riqueza e também à distribuição de riqueza e à criação do bem
comum". Nada de inovador mas, tenhamos fé, pois o estudo ainda vai
começar!
Mas eles têm mais ideias,
adiantando como dimensões críticas mais relevantes, “a coesão (de quê?), a
educação (com ou sem a Milu?), a cultura (do betão?), as reformas do Estado
(porrada nos funcionários e privatizações?), a globalização e o financiamento
da economia”. Brilhante!
2 – Compromisso Portugal
Aqui há uns poucos anos, com
pompa e circunstância, “uma iniciativa da sociedade civil” (também só para
paisanos), saiu das cabecinhas de um luminoso friso de empresários e gestores e
nasceu o CP, sem alinhamentos partidários e aberto à participação de todos,
“sem preconceitos ideológicos” mas, onde por acaso do destino, os mais
esquerdistas eram … da direita neoliberal. (As citações são todas do sítio do
grémio)
Não vamos gastar neurónios com um
elenco muito alargado destes magnos magos da gestão mas, o seu mais entusiasta
lider era o Carrapatoso, recentemente saido da Vodafone, o Mexia que se mostrou
discreto quando foi para a EDP ganhar € 96000 por mês e o Vaz Guedes que agora
anda mais ocupado em safar o dinheiro que “investiu” nos bancos fraudulentos da
moda. Por esse motivo, o CP empalideceu.
Queriam (ou ainda querem) os
comprometidos “que a nossa sociedade atinja patamares mais elevados de
bem-estar, coesão e felicidade”, tirada que só os masoquistas renegarão. Mais
concretamente, apostam; num “Estado forte e independente
(o que será isso?) ao serviço dos cidadãos” (principalmente empresários, claro
está), eficaz e eficiente nomeadamente nas actividades “que a iniciativa e o
interesse individual dos cidadãos e das suas instituições privadas não
conseguem garantir” (como tal desiderato é muito difícil, cremos que eles
tinham em mente um colectivismo soviético…); na flexibilidade e predisposição à
mudança dos cidadãos (como não registaram a patente, foram os dinamarqueses que
ficaram na História como os inventores da flexisegurança); na igualdade de
oportunidades (qualquer despedido sabe que ela existe e qualquer pensionista
pode optar pelo internamento no Hospital da Luz); na sã concorrência nos
mercados (desde que o Estado ajude uns contra os outros), etc
Ainda emocionados por sabermos
que “O Compromisso Portugal acredita em Portugal” vem-nos moendo o pensamento
saber se os comprometidos eram pré-faroleiros ou se os faroleiros são
pós-compometidos.
3 – Uma espécie de “Grupo de
Contacto”
Sempre na crista da onda,
Sócrates em 20 de Maio reuniu com a nata do poder económico, acolitado pelo impagável
Manuel Pinho (do duo Pino&Lino) e decidiram criar um grupo de contacto para
facilitar o crédito às empresas, por parte da banca.
Responderam à chamada os
presidentes dos cinco maiores bancos, o José Barros da AEP, o eterno Rocha de
Matos da AIP e os representantes das empresas nortenho do calçado, da cortiça e
do têxtil e vestuário. O van Zeller não esteve presente, porque, sendo da casa,
deixou de véspera uns quantos “post-its” na secretária do Sócrates.
Apurou-se que os “spreads”
bancários estão altos (que argúcia!) e os esforçados empresários não estão para
ir buscar o dinheiro que enviaram para os “offshores” e arriscar no reforço dos
capitais próprios. Os banqueiros, cordatos e pacientes, explicaram aos capitães
da indústria do Norte que, tecnicamente, o “spread” engloba factores tão incontornáveis
como a taxa de financiamento (no mercado de capitais, pois também os
accionistas dos bancos não se chegam à frente), o custo do risco, o risco do
capital por o banco ter aplicado o dinheiro e a notação de “rating” da empresa.
Os denodados empreendedores lá sairam de mãos a abanar pois, quem manda nestas
coisas é o capital financeiro.
E pronto. No final. almoçaram juntos
e trocaram os números de telemóvel, esperando a activação do tal grupo de
contacto.
4 – Banqueiros unidos, não
querem ser engolidos!
Anafadinhos, sorridentes e com
aquelas cãs que dão o cunho de sabedoria aos homens maduros, reuniram-se no
Ritz os banqueiros lusos com uma estrelas importadas (Martim Wolf do Finantial
Times, entre outros) para abrilhantar o “show”. Na assistência, um variada gama
de advogados, gente do PS (o está-em-todas Vitorino e o Fernando Gomes,
acampado na Galp), o Manuel Fino aliviado pela CGD de alguns apuros e mais não
dizemos para não enjoar,
Para além de questões de pouco
mérito analítico para tão culta audiência, como o desenvolvimento da relação
com os clientes, a captação de novos clientes (irão em breve abordar os
selenitas?), a gestão do risco, o malparado e outras trivialidades, os
banqueiros unidos também apontaram para soluções mais dolorosas e estruturais
que poderão apear muitos deles.
Os tóxicos? Os activos
imprudentemente sobrevalorizados saem do balanço dos bancos em troca de quê? Se
forem transferidos para um “bad bank” os bancos para manterem o balanço
equilibrdo têm de registar pelo mesmo valor essa participação financeira. E
como esses tóxicos não valem nada, mais tarde se concluirá que a participação
no “bad bank” vale um prato de tremoços e há que contabilizar a diferença (o
prejuizo). Se não se transferirem para lado algum terão de reavaliar em baixa
os seus activos e registar os prejuizos? Naturalmente que se esperam fórmulas
de contabilidade criativa, regulamentos novos, legislação fiscal facilitadora,
não sendo plausível que seja sentida a falta de criativos como o Oliveira e
Costa ou o Rendeiro.
Entradas de capital para que a
banca tenha indices de capital próprio semelhantes aos das outras empresas? O
BdP até já lhes exigiu uns “enormes” 8% que fariam a felicidade de qualquer
empresa se pudesse ter acesso ao crédito nessas condições. Colocar dinheiro na
banca é apenas aplicável às pessoas normais, de acordo com a publicidade; os
banqueiros e os seus accionistas especializaram-se mais em retirar de lá
dinheiro para “investir”.
Como se garantem margens de lucro
saborosas com economias estagnadas, negócios a patinar, multidões de
desempregados, trabalhadores mal pagos e Estados superendividados? Isso só tem
sido possível através da especulação e das cadeias de produtos derivados. Irão
os banqueiros apresentar aos seus ávidos accionistas, dividendos adequados às
margens de lucro possíveis da economia real e concreta? O primeiro que tiver
esse desplante vai engrossar o número dos desempregados.
Naturalmente que a maior
concentração de capital, com fusões e aquisições é geradoras de “valor”. Há
sempre trabalhadores despedidos, “downsizings” e menos accionistas a alimentar,
pois com a concentração de capitais, muitos ficam de fora. E, irão engrossar a
coorte dos parasitas cheios de capital, à procura de colocações de curto prazo,
pois a conjuntura está volátil.
Neste capítulo, Teixeira dos
Santos pôs a mão na ferida ao apontar recentemente a necessidade de fusões de
bancos e não se estaria apenas a referir à digestão das sobras do BPN e do BPP;
elas têm acontecido (e de que maneira) em França, Inglaterra e Alemanha. E nos
EUA até acabaram com o emblemático Lehman Brothers.
Os nossos banqueiros, muito
paroquianos, aprenderam que as agências de “rating” são uma treta, quando lhes
foi dito, pelo acima referido guru do
esquerdista Financial Times que, quando começou a actual crise havia 64000
classificados com a classificação máxima e que agora há só 24! As agências de “rating”
são como as consultoras, cavalgam a onda, para não perderem clientes; não ficam
atrás, nem se colocam à frente.
Caderno reivindicativo dos
banqueiros:
- Que o Estado lhes fique com os fundos de pensões que provocaram, para os quatro maiores bancos portugueses perdas, em 2008, de €1750 M devido à à idiota sobrevalorização de activos. Naturalmente, os capitalistas sempre foram adeptos da socialização… dos prejuizos;
- Que os clientes paguem (mais) comissões pelos serviços bancários, para além dos “spreads” ou, que estes sejam reajustados para pagar esses serviços;
- Como o crédito à habitação tem uma baixa rendabilidade é preciso aumentá-la, acabando com os “spreads” fixos durante toda a vida do empréstimo.
Muito integrado na “saison”
eleitoral, Teixeira dos Santos pugnou pela extinção dos “offshores” e a redução
das remunerações milionárias dos gestores. Composta por gente educada, a
plateia sorriu, benevolente.
Estas questões estarão, mais
discretamente, na lista de compras dos bancos, a apresentar pela Associação
Portuguesa de Bancos para inclusão no orçamento para 2010.
Notas soltas
O mito da ingovernabilidade
A maioria absoluta na AR
garantida pelo PS de Sócrates em 2005 espelha bem o que qualquer burguesia
considera como estabilidade governativa. Como a oposição aceita paciente e
pacatamente as instituições, como quadro privilegiado de luta política, as
opções são definidas autocraticamente pelo governo e a AR é um mero palco do
esbracejar impotente ou conivente das várias oposições. Nos bastidores a
caravana passa com o ouro dos numerosos bandidos, com as vítimas da acentuação
das desigualdades, da pobreza e da exclusão a assistir, na plateia.
Van Zeller, anos atrás, referiu
expressamente gostar de governos autoritários; de facto esse é o cenário da
máxima governabilidade. E, para o efeito, perante o desgaste do compulsivo
trafulha Sócrates, esse cenário pode ser montado perfeitamente com um governo
PS/PSD, com os actuais ou outros figurantes. Ferreira Leite, na sua conhecida
inabilidade, fugiu-lhe a boca para a verdade quando proclamou a conveniência da
suspensão da democracia por seis meses, o que decerto seria para reprimir e
delapidar os direitos da multidão e dos assalariados.
Ora, se a estabilidade
governativa apenas serve para agilizar a tomada de medidas lesivas da multidão,
de quem trabalha, dos pobres e facilitar o acesso do alto patronato à mesa do
orçamento, melhor é a não estabilidade. No contexto da democracia de mercado, se,
por hipótese 10 partidos tivessem 10% dos votos cada, somente o que fosse
consensual seria aprovado e as medidas mais lesivas e controversas não
recolheriam os apoios necessários, folgando a multidão.
Leonor, em Beleza
A vida corre-lhe bem. Depois da
Fundação Champalimaud, cai no Conselho de Estado a convite de Cavaco. Estará lá
como representante dos hemofílicos que contaminou, por incúria, com a sida, enquanto
ministra da saúde?
Junho 2009
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