domingo, 25 de dezembro de 2011

Economicismo, doença mental do neoliberalismo

Como é sabido, o economicismo é um desvio de análise da realidade através do qual se exacerbam os aspectos económicos. Vamos referir aqui dois casos recentes, provenientes de duas flores do neoliberalismo fascizante e genocida que empesta o planeta.

1 – Aqui, intramuros, na paróquia socratóide, o ministro dito da saúde teve mais um acesso do seu delírio fascizante. E, eles são tantos que o energúmeno se vem afirmando como um verdadeiro incontinente, justificando que se lhe chame Diarreia de Campos.

       Ficámos sabendo que os médicos poderão aumentar os seus honorários no SNS se derem mais consultas e fizerem mais cirurgias pois o Diarreia está disposto a abrir os cordões à bolsa.

       Dito de outra forma, se se aumentar a cadência das consultas passando de, suponhamos, três por hora, para seis, o médico ganha mais e mais doentes são vistos, numa contabilidade em que todos ganham. E, se em vez de seis doentes, forem atendidos doze, ainda melhor !!

       Para as coisas correrem melhor, o médico coloca uma ampulheta na secretária e interrompe as queixas do doente para ter tempo de passar a receita. E, para aumentar a produtividade reduzindo as esperas por consulta, o médico entrega as receitas sem que o doente abra a boca.

       Para reduzir as esperas por cirurgias, Diarreia de Campos pensa em realizá-las, pela Internet, integradas no programa Simplex; a um doente com apendicite, retira-se uma verruga que é mais rápido; se o doente vier anestesiado ao entrar no hospital e sair mal lhe fechem a incisão, quanto se poupa em tempo das equipas médicas, quanto aumentará a rotação das camas hospitalares ! Fabuloso, como nunca ninguém se havia lembrado disto !

       No seu entusiasmo economicista e deslumbrado com o seu brilhantismo, cremos que Diarreia se esqueceu dos doentes.

       A metástase Campos brilhará no firmamento comunitário e uma das estrelas da bandeira da UE será substituída pela sua carantonha. E, quando for criado um Nobel para a gestão, o sacripanta não tem concorrência.

       Já neste blog referimos a actuação do Campos, como intelectual pouco recomendável (ver Dois catedráticos nocivos de 11/1/2007) e lembramos que em Maio do ano passado, o Diarreia de Campos decretou em plena AR a inexistência da palavra economicismo, que nem nos dicionários virá, disse o sacripanta.

       Não queremos perder a oportunidade de referir que concordamos com o ministro quando pretende obrigar a bafienta Ordem dos Médicos a alterar os seus estatutos em consonância com a nova lei que permite a IVG. Se fosse outra instituição, decerto o poder socratóide não teria dúvidas em a ilegalizar.

2 – O segundo caso recente envolve o papa do sector financeiro, o presidente do BCE, sua santidade Trichet, que afirmou a sua hostilidade aos salários mínimos obrigatórios.

       Disse o ente que um SMN trava a criação de emprego, uma vez que as empresas podem perder competitividade ao empregar trabalhadores com salários tão… elevados! Como neoliberal fascista, defende a livre concorrência do mercado de trabalho e que sejam os trabalhadores a competir pelo baixo preço do seu trabalho, para mais em regime de precariedade. Assim, um trabalhador que aceite o salário equivalente ao preço de uma perna de frango será preterido, por outro, mais competitivo, que faz o mesmo trabalho por uma rodela de chouriço…

       Prosseguiu sua santidade, dizendo que um SMN reduz as possibilidades dos trabalhadores menos qualificados ou desempregados de encontrarem emprego. Pois, na economia de miséria que vem preparando, Trichet considera que pelo mesmo valor do SMN podem concorrer a um mesmo posto de trabalho, por exemplo, de varredor camarário, um licenciado e um trabalhador com a escolaridade obrigatória, ficando este, naturalmente, prejudicado. Este exemplo, da boa gestão dos “recursos humanos” a que se arroga o capitalismo está, como sabemos, bem presente na realidade social.

       Os modelos econométricos costumam considerar que o limite mínimo para o salário é o que se cinge a permitir a sobrevivência do trabalhador, a reproduzir a força de trabalho. Ora, no capitalismo genocida de hoje, com a superabundância de trabalhadores disponíveis para o trabalho, a real mobilidade da multidão, a cooptação dos sindicatos, sabem os patrões que, em muitos casos, a morte de um trabalhador, mesmo que de fome ou doença, não altera a produtividade da empresa, pois logo outro irá ocupar o seu lugar, eventualmente, por menos dinheiro.

       Tão elevados ideais são fortes incentivos ideológicos para o tosco empresariato luso e para o mandarinato PS/PSD. Estes criam as condições para que haja salários, de facto inferiores ao SMN, gerando a existência de trabalhadores, mormente imigrantes não documentados, dispostos a aceitá-los. E, esperar uma actuação da Inspecção de Trabalho quando esta é dirigida pelo miserável Vieira da Silva é esperar que Fevereiro tenha trinta dias.

       Na boa tradição burocrática portuguesa, emitem-se leis, promove-se o produto no telejornal mas, a caravana do capital passa, calma e sem alardes oratórios ao lado delas. Já em tempos referimos aqui (O novo valor do SMN é um logro, em 31/12/2006) que o SMN visa oferecer mediaticamente uma imagem de preocupação social dos governos e, mais recatadamente, acrescer o financiamento público dos partidos com representação no parlatório de S. Bento. Se não existissem mais motivos esse já seria suficiente para que se não participe nesse carnaval que são as eleições para a AR.

Dezembro 2007


Trichet manifesta-se contra o SMN obrigatório
pois trava a criação de emprego, o seu nível pode não garantir o aumento da produtividade, reduz as possibilidades dos trabalhadores menos qualificados e dos desempregados arranjarem emprego     

Dezembro 2007

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