sábado, 31 de dezembro de 2011


As revelações da entrevista de Alegre                    

A entrevista do Alegre vem confirmar o que se disse em “Esquerda, PS e Alegre – Confusões e premeditações” (http://www.scribd.com/doc/24695458/Esquerda-PS-e-Alegre-%E2%80%93-Confusoes-e-premeditacoes-eleitorais), texto publicado uma semana atrás. E também inserto neste blog.

O poeta não passa de um cacique sem ideias para além da sua disponibilidade para se sentar em Belém e que é obrigação da esquerda - no seu conceito é uma coisa vaga e abrangente e portanto, sem conteúdo - apoiá-lo. Não se define em coisa alguma a não ser naquilo que já se sabia, que quer e precisa do apoio do PS para acampar em Belém.

Ficamos a saber que Cavaco é fraquito e tosco; que o PS quer a economia de mercado; que são pornográficos os ganhos dos bancos e dos banqueiros. Isso demonstra que Alegre anda informado mas que não é capaz de enformar uma só opinião própria. Como é que ele pensa estabelecer a linha de fractura entre ele e o Cavaco? Quais as rupturas que está disposto a promover para se afirmar como candidato da esquerda?

Ele é anti-capitalista? Não é, dada a natureza do PS, a sua continuada militância no partido em lugares de proeminência e o alinhamento com a política do partido, salvo uma ou outra coisa. E se não é anti-capitalista só por oportunismo pode sorrir para a esquerda.

Quer que acreditem ser ele um homem providencial, iluminado, com um projecto próprio indecifrável para os comuns mortais e que aceitem a sua liderança como a de um profeta. Nesse aspecto não difere em nada do ignorante Cavaco, sempre titubeante e preferindo o significado dúbio, o nim, ao não ou ao sim, recheados de sorrisos forçados e aparentemente enigmáticos. É a continuidade da tradição caudilhista da política à portuguesa.

Quer o apoio do PS, sem o apoio de Sócrates? Este até pode inventar um argumento idiota qualquer para não aparecer em campanha e deixar essas funções aos seus centuriões e outros labregos, para melhor enganar os eleitores de esquerda; e facilitar o golpe estratégico e palaciano dos caciques da esquerda institucional que poderão argumentar que não estão do lado de Sócrates e que este está fora da carroça presidencial de Alegre.

Em 2005, Alegre ainda poderia reunir algumas simpatias à esquerda, capazes de captar o voto de militantes e simpatizantes pouco atraídos pelas candidaturas partidárias e rituais de Jerónimo e Louçã. E, essas simpatias, resultaram decerto da rebeldia (melhor será chamar-lhe ressaibo) de Alegre contra a direcção do PS e do secretário-geral. Em 2010, como vimos afirmando, não é isso que Alegre deseja ou afasta. Ele quer o apoio viabilizador do PS e portanto de Sócrates.

Em comentário às declarações de Alegre, Sócrates nada acrescentou para além de que ainda é cedo para opções presidenciais; não se comprometeu e portanto, continua o PS sem estar comprometido. Sócrates acha prematura a colheita do milho e deixa os primeiros grãos para os pardais, com um sorriso benévolo e matreiro. E a figura de pardal ajusta-se perfeitamente a Louçã!

Ao que sabemos, as estruturas do BE não andam a discutir e menos ainda a aprovar o apoio a Alegre. Sabe-se do crescimento, no aparelho e nomeadamente, nos grupos parlamentares na AR ou no PE de deputados defensores de coabitações com o PS, que não terão igual representatividade junto da massa dos militantes. Desses elementos, alguns chegaram mesmo a recusar a luta pelo socialismo no último congresso do BE, como que dando sinais de que se querem sentar à mesa do orçamento com Sócrates e garantir uma vida fácil e doce, esquecendo rapidamente que a sua notoriedade resultou da confiança (ingénua) de muitos militantes e eleitores. Qual será o papel de Louçã nesta estratégia da ala direita do BE?

Dado que o BE tem apostado numa conduta de partido de “one man show” notam-se sinais de aplauso às declarações de Louçã, de apoio a Alegre, por parte de militantes e simpatizantes pouco dados a pensar com a própria cabeça e a anuir cegamente às palavras do líder. O que não é prática de uma esquerda a sério, mais inclinada para a democracia directa, para o debate, para a decisão em que todos são ouvidos.

 8/01/2010

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