António
Costa quer aumentar o salário mínimo em 25 euros dando aos patrões uma
contrapartida de redução na TSU
Os
governos usam a Segurança Social numa relação de proxenetismo e a oposição acha
isso de acordo com os costumes
O uso
de dinheiro alheio para benefício próprio configura o crime de abuso de
confiança
Na Concertação Social, digna herdeira da Câmara Corporativa do tempo do fascismo, reúnem-se representantes do patronato e dos sindicatos, todos com uma representatividade muito duvidosa[1]. Da parte dos sindicatos destaca-se a degradante presença de um tal Silva, de bigodinho hitleriano, em representação de uma coisa chamada UGT e, que mais parece um adjunto do António Saraiva. Como elemento fundamental para constituir a trindade dos concertantes temos de acrescentar o Estado, ou o governo se se preferir, neste caso representado pelo Vieira da Silva que designámos por plasmódio barbudo, durante a sua dedicada ação contra a multidão, durante o consulado de Sócrates.
1 – As contas do aumento do salário mínimo
No dito conclave parece acordado um aumento do salário mínimo de
€ 505 para € 530; em outubro de 2014 aquele salário enchia de prosperidade
19.6% dos trabalhadores por conta de outrem (TCO), com a seguinte e sintomática
evolução:
% auferindo o salário mínimo
|
Total TCO
|
|
2011
|
11.3%
(485 euros)
|
2553741
|
2012
|
12.9%
(485 euros)
|
2387386
|
2013
|
12.0%
(485 euros)
|
2384121
|
2014
|
19.6%
(505 euros após outubro)
|
nd
|
2015
|
nd
(505 euros)
|
nd
|
Fonte: Gabinete de Estratégia e Planeamento: MSESS, boletim estatístico, nov/2015
Na falta
de elemento mais actual, tomando aquela proporção como vigente em janeiro próximo
e o último número de TCO conhecido, os que serão beneficiados com o aumento do
salário mínimo serão da ordem dos 460/470000 trabalhadores; nesse contexto o
aumento anual dos custos salariais das empresas poderá orçar os € 200 M ( €
14,3 M por mês) calculados tomando estes elementos:
465000 trabalhadores
25 euros mensais (14 pagamentos)
23% de encargos patronais para a
Segurança Social
Esses
futuros € 200 M adicionais (€ 14,3 M por mês) podem comparar-se com os valores
computáveis para o ano ainda em curso, com a adopção dos € 505 legais, € 160 M
(€ 11.4 M por mês). Vejamos o que representam, em Portugal, após a explicitação
de algumas realidades, a partir de elementos contidos nos “Principais
Indicadores Económicos e Patrimoniais das Empresas em Portugal, 2010-2013”
publicados pelo INE, (empresas não financeiras)
Ø os gastos com pessoal em
2013 seriam da ordem dos € 48039 M nos quais € 200 M representam apenas 0.42%
do total;
Ø a repercussão desses € 200 M
no total do volume de negócios de € 353413 M é de 0.057%;
Ø o seu peso no VAB – valor
acrescentado bruto - de € 80951 M continua a ser ridiculamente irrelevante –
0.25%;
Ø não se pode daí concluir que
um aumento de € 25 do salário mínimo transtorna o esforço investidor dos
chamados empresários lusos ou que constitua um desincentivo ao investimento
estrangeiro.
Podem
também observar-se algumas comparações com a realidade de outros países
europeus, conforme elementos expostos pelo Eurostat, suficientemente eloquentes
para se perceber que os salários em Portugal são “competitivos” e que as
contribuições para a Segurança Social não são gravosas em termos comparativos.
O problema reside no empresariato, incapaz de investir seriamente, de gerir
empresas de modo racional, de se dedicar a negócios sem depender de salários
baixos, insusceptível de fazer crescer o tal mercado interno, de aumentar
significativamente o valor acrescentado incorporado nas exportações; mas bastante
capaz de gerir, com a classe política, uma extensa e profunda corrupção e o
entretenimento necessário da população, com futebol e televisão.
Custos da mão de
obra e contibuiçoes patronais na UE (euros) - 2014*
|
||||
Países
|
Custos da mão de
obra (€)
|
Contibuiçoes
patronais para a SS (€)
|
Contrib
patronais/custos mão de obra (% )
|
|
UE (28)
|
24,6
|
6,0
|
32,26
|
|
Zona euro (18)
|
29,2
|
7,6
|
35,19
|
|
Alemanha
|
31,4
|
7,0
|
28,69
|
|
Áustria
|
31,5
|
8,3
|
35,78
|
|
Bélgica
|
39,0
|
10,9
|
38,79
|
|
Bulgária
|
3,8
|
0,6
|
18,75
|
|
Chipre
|
15,8
|
2,7
|
20,61
|
|
Croácia
|
9,4
|
1,4
|
17,50
|
|
Dinamarca
|
40,3
|
5,3
|
15,14
|
|
Eslováquia
|
9,7
|
2,6
|
36,62
|
|
Eslovénia
|
15,6
|
2,4
|
18,18
|
|
Espanha
|
21,3
|
5,5
|
34,81
|
|
Estónia
|
9,8
|
2,6
|
36,11
|
|
Finlândia
|
32,3
|
7,2
|
28,69
|
|
França
|
34,6
|
11,4
|
49,14
|
|
Grécia
|
14,6
|
nd
|
nd
|
|
Holanda
|
34,0
|
8,5
|
33,33
|
|
Hungria
|
7,3
|
1,7
|
30,36
|
|
Irlanda
|
29,8
|
4,0
|
15,50
|
|
Itália
|
28,3
|
8,0
|
39,41
|
|
Letónia
|
6,6
|
1,3
|
24,53
|
|
Lituânia
|
6,5
|
1,8
|
38,30
|
|
Luxemburgo
|
35,9
|
4,9
|
15,81
|
|
Malta
|
12,3
|
0,9
|
7,89
|
|
Polónia
|
8,4
|
1,6
|
23,53
|
|
Portugal
|
13,1
|
2,7
|
25,96
|
|
Reino Unido
|
22,3
|
3,7
|
19,89
|
|
Rep. Checa
|
9,4
|
2,5
|
36,23
|
|
Roménia
|
4,6
|
1,1
|
31,43
|
|
Suécia
|
37,4
|
11,8
|
46,09
|
|
*Indústria, construção e serviços excluindo adm
pública, defesa e seg social obrigatória Fonte primária: Eurostat
|
||||
Como estas
vantagens podem não convencer os mais incrédulos, observe-se que a parcela dos
lucros no valor acrescentado emanado das empresas não financeiras, também não
deve constituir razão de queixa para o patronato luso.
2013/14
Total UE
|
38.85
|
Grã-Bretanha
|
35.19
|
Zona euro
|
39.23
|
Grécia
|
63.68
|
Alemanha
|
41.57
|
Holanda
|
41.09
|
Bélgica
|
39.70
|
Irlanda
|
56.23
|
Chipre
|
59.48
|
Itália
|
41.41
|
Espanha
|
42.33
|
Portugal
|
41.35
|
França
|
29.70
|
Fonte primária: Eurostat
Em suma,
um aumento já acertado para o salário mínimo de € 25 mensais ou de uns 80
cêntimos por dia que, deduzidos o IRS e a contribuição para a Segurança Social
configura apenas uma esmola que os “nossos” empresários, condoídos concedem em
concorrência aberta com a Jonet. Isto não representa nada para os trabalhadores
abrangidos, nada para as empresas, seus donos e gestores e insere-se numa ação
de propaganda para dar louros ao governo e uma prova de vida aos sindicalistas.
2 – A
utilização da Segurança Social neste negócio
Todos os
trabalhadores auferindo o salário mínimo no período janeiro/agosto de 2014
terão sido aumentados de € 485 para o valor € 505 mensais; e, para o período
novembro-2014/janeiro-2016 estipulou-se uma contrapartida aos sacrificados
“empregadores”[2] consubstanciada
na redução da contribuição patronal para a Segurança Social, de 23.75% para 23%[3].
Nesse
contexto, cada trabalhador abrangido pela medida governamental, para o período
de 17 meses de vigência do diploma – até janeiro próximo - custará para as
empresas € 10560, o que teria passado a € 10624 se o desconto de 0.75 pontos
percentuais não tivesse existido. Isto é, uma redução de € 64 aplicáveL ao
número de trabalhadores atrás considerado corresponde a cerca de € 30 M para
todo o período de 17 meses, € 1.75 M por mês; o que, de facto, é pequena compensação
em comparação com o acréscimo de gasto com o pagamento do aumento do salário
mínimo decretado em 2014.
Os
patrões, devidamente apoiados pelos Silvas – o do bigode hitleriano, o plasmódico
ministro e o outro decadente que já não tuge nem muge - pretendem a prorrogação
da medida tomada em 2014 – a redução de 0.75 pontos percentuais (ou outra) na
contribuição patronal para a Segurança Social e para acompanhar a já acordada
subida do salário mínimo. Ao que parece só o Arménio resiste valentemente a
este propósito, não se sabendo se o acordo entre o PS e o PC tropeça neste
obstáculo.
A
manter-se a benesse patronal dos 0.75 pontos percentuais para todo o ano
próximo (13 meses) a partir de fevereiro isso corresponderia a uma redução de
encargo patronal de uns € 52 por trabalhador, valor que extensível ao universo de
trabalhadores aqui considerado significaria uma benesse de € 24 M.
Perante a
dimensão monetária de outros elementos mais mediáticos, como os relativos à
dívida, a expressão destas benesses tem algum impacto no âmbito das despesas da
Segurança Social; no caso dos hipotéticos € 24 M, eles correspondem a valores
anuais de pensão média de velhice atribuídos a umas 4700 pessoas.
3 – Defesa
da Segurança Social face à mafia
Muito para
além deste exemplo numérico entendemos relevar o mais importante. Recusamos
liminarmente a utilização da Segurança Social em negócios políticos entre o
governo, o empresariato e a burocracia sindical, nomeadamente pelas suas
incidências financeiras que delapidam o futuro dos beneficiários atuais da
Segurança Social como o daqueles que vêm acumulando o pecúlio para as suas
vicissitudes da vida:
Ø A Segurança Social
constitui genericamente o fundo de salvaguarda dos trabalhadores portugueses
para as eventualidades de velhice, invalidez, sobrevivência, doença e
desemprego e as contribuições patronais como as quotizações dos trabalhadores
visam o abastecimento desse fundo;
Ø Qualquer desvio de
fundos para outros fins – seja a ação social que compete ao Estado pagar com o
dinheiro dos impostos, como cumprimento dos direitos de cidadania que toda a
população detém, ou outras, como sejam as políticas de emprego ou de incentivo
às empresas - correspondem a um crime de abuso de confiança;
Ø O Estado, através dos
gangs partidários que o têm ocupado, tem servido de gestor desse fundo e, na
falta de uma supervisão efetiva, de um controlo democrático por parte dos
trabalhadores e ex-trabalhadores, tem amalgamado as receitas da Segurança
Social com as dos Estado, numa promiscuidade inaceitável. E tem onerado a
instituição com encargos que em nada se prendem com o seu objeto estatutário,
numa verdadeira desnatação;
Ø Na classe política estas
questões não são consideradas. Nuns casos, à direita, convém a roubalheira como
reforço dos meios disponíveis no “pote” provenientes da punção fiscal; noutros,
na designada esquerda, onde vigora uma religiosidade sobre as capacidades do
Estado como defensor dos interesses da multidão… a roubalheira pode existir
desde que monitorada por gente “séria”;
Ø Por arrasto ou osmose, nos
ora subservientes, ora superficiais media, como entre a alienação universitária,
estas questões não se colocam, o mesmo acontecendo com o que se prende com a
democracia, a redução dos poderes da oligarquia, o capitalismo, o militarismo, etc
Ø Será sem dúvida
essencial que a Constituição[4]
afirme os parâmetros de financiamento da Segurança Social coartando as
possibilidades de malfeitorias dos gangs governamentais, pelo menos enquanto a
Constituição estiver inchada com tiradas vazias, preceitos utilizados à la carte pelo poder, num caldo de
favorecimento de uma oligarquia que torna a esmagadora maioria da população em
eunucos políticos.
Este e outros textos em:
[2] Designação neoliberal edulcorante do termo patrão ou
capitalista, considerado agressivo e pouco adequado em tempos de “fim da
História”; o seu irmão siamês designa-se por colaborador
[3] No âmbito da “Medida Excecional ee Apoio ao Emprego - Redução de
0,75 pontos percentuais da Taxa Contributiva a Cargo da Entidade Empregadora” (Decreto - Lei nº 154/2014, de 20 de outubro, com as alterações
introduzidas pela Lei n.º 82-B/2014 de 31 de dezembro - Orçamento do Estado
para 2015)
Mas o Estado sabe mentir em todas as línguas do bem e do mal; e em tudo quanto diz, mente - e quando tudo tem, roubou-o.
ResponderEliminarTudo nele é falso; morde com dentes falsos, esse intratável. Até as suas entranhas são falsas.
A confusão de todas as línguas do bem e do mal, eis o sinal que vos dou: tal é a marca do Estado. Na verdade, é um sintoma da vontade de morrer! Na verdade, é um convite aos pregadores da morte!
Nascem homens de mais: o Estado foi inventado para aqueles que são supérfluos!
Vede como ele os atrai, aos supérfluos! Como ele os engole e os mastiga e os volta a mastigar!
Na terra não há nada maior do que eu; eu sou o dedo soberano de Deus - assim grita o monstro. E não são só os que têm vista curta e ouvidos sensíveis que se ajoelham diante dele!
Frederico Nietzche
Deixo este excerto do pensador mais polémico da nossa contemporaneidade europeia e que foi declarado "cientificamente morto" pelas gentes da
Universidade em 1873. Porém o seu texto O Novo Ídolo, do Assim Falava Zaratustra, assenta como luva no caso em apreço.