Sumário
Conclusões
1
- Questões prévias
2
- Despolitização e falta de democracia
3
- Como surgiu o euro
4
– Um processo de constituição de desigualdades
4.1 – As desigualdades na Ibéria
5
- Portugal, o bom aluno do mestre Cavaco
5.1 – No princípio está o crédito, a
especulação e a corrupção
5.2 – A utilização do crédito
5.3 – A capacidade de gerar rendimentos
5.4 - Produtividade e custos laborais
Conclusões
- Quer a entrada na UE quer a adopção do euro foram decididas pela classe política, que sempre se recusou a referendar essas questões por incurável sobranceria; e tanto pior quanto estamos convictos de que os portugueses teriam votado favoravelmente;
- Não existe um estudo quantificado que avalie os custos de uma saída do euro, apenas a procura assustada de regresso a um passado irreversível, como solução salvítica para um povo em entropia social;
- A criação do euro, como instrumento facilitador da circulação de mercadorias e capitais, teve uma longa ascendência processual, mais nítida após a criação da UEM – União Económica e Monetária;
- Para maior agilização dessa circulação foi necessário aproximar taxas de inflação, dimensões de dívida pública ou de deficit externo e conter as relações entre as várias moedas nacionais num apertado espartilho. Esse conjunto de objetivos está contido nos célebres critérios de convergência, ou de Maastricht, e no mecanismo das taxas de câmbio (MTC);
- Capitalismo é sinónimo de desigualdades entre países e dentro deles; desestrutura-os enquanto entidades nacionais e reestrutura-os em redes transnacionais de negócios utilizando como instrumentos o crédito, a dívida, as políticas fiscais e laborais, a corrupção ou meios militares em casos mais delicados;
- Enquanto projeto de acumulação capitalista, a integração europeia foi, desde o seu início, um gerador de reestruturações espaciais de rendimento, riqueza e bem-estar social, com o consequente cortejo de desigualdades geográficas e sociais. E isso, apesar de cada país-membro ter tido a sua própria moeda, a sua soberania monetária, nos primeiros 44 anos de processo integrador;
- O processo de geração de desigualdades dentro da Europa, a determinada altura, exigiu uma moeda única como instrumento, entre vários outros, de continuidade da segmentação da UE entre Centro e periferias. Porém, é simplista considerar-se ter sido a moeda única a gerar as desigualdades e o empobrecimento;
- No quadro ibérico, há alterações na hierarquia das regiões, em desfavor das constituídas em território português mas, as profundas desigualdades existentes são anteriores à introdução do euro, mantendo-se a faixa ocidental e o sul da Península como as áreas mais pobres, se se excluir Lisboa e Galiza;
- O cumprimento das obrigações de convergência de Maastricht e os apoios comunitários reduziram alguns desequilíbrios estruturais em Portugal mas, abriram portas para um recurso disparatado ao crédito (barato), em parte obtido no exterior através de um sistema bancário em euforia contagiante dos meios dos negócios e também da população;
- O volume do crédito concedido às empresas representava 2.9 meses do rendimento global em 1990, sete meses em 2009, reduzindo-se entretanto para seis meses. Por outro lado esse crédito que equivalia ao valor da FBCF em 1990 era-lhe quatro vezes superior em finais de 2013;
- Gerada pelos bancos com todo o apoio dos seus subalternos governantes constituiu-se uma cadeia de acumulação de crédito que, não podendo ser infinita nem sustentável, teria de desembocar em desastre. Os elos dessa cadeia são bancos nacionais-construtores/imobiliárias-famílias com a conivência de autarcas corruptos;
- Essa forma de aplicação do crédito realizou-se em paralelo com a construção de uma estrutura produtiva alicerçada nas cadeias transnacionais que desenham o perfil produtivo da UE e do mundo, alheias aos impactos sobre a vida das pessoas;
- O financiamento das empresas portuguesas está ancorado no crédito bancário, sendo baixa a parcela de capitais próprios, resultando daí dificuldades de gestão, planeamento, juros mais elevados e alargamento de prazos de pagamento a fornecedores, com reflexos negativos na rendabilidade;
- A produtividade do trabalho em Portugal apresenta um crescimento relativamente regular há cerca de 20 anos, sem sofrer efeitos perniciosos da adopção do euro ou da crise económica;
- Os custos do trabalho baixam com a crise nos dois países ibéricos, como consequência dos ditames da troika, das introduções capciosas dos governos para favorecer a competitividade dos capitalistas e da eficácia do apaziguamento social estabelecido nas instâncias de concertação social.
1 - Questões
prévias
Portugal foi incluído
na zona euro no âmbito do protagonismo do “bom aluno” em 1999, com a circulação
da moeda a iniciar-se em 2002. Em certos meios da política à portuguesa e após
o início da intervenção da troika,
fala-se da necessidade de o euro deixar de ser a moeda corrente em Portugal e
ainda de o país sair da UE. Ambas as propostas têm um caráter eminente político
e resultam de visões do mundo e do futuro que revelam interesses económicos de
certos setores sociais ou do simples instinto reacionário e nacionalista, que
cavalga de modo explícito as diversas ondas patrioteiras e xenófobas que se
evidenciam na Europa, perante as insuficiências e as austeridades provenientes do
propalado projeto europeu.
Perante
a calamidade social em curso e no capítulo do euro podem colocar-se vários
cenários, cada qual com uma certa probabilidade, por mais inverosímil que seja,
como nos esclarece o teorema de Heisenberg:
· Continuidade do euro
como moeda nacional
· Retorno a uma moeda
nacional
o
Por
iniciativa governamental portuguesa
o
Por
iniciativa das instituições da UE
o
Por
abolição do euro como moeda transnacional
2 - Despolitização
e falta de democracia
Quer a adopção do
euro, quer a integração europeia, nenhuma dessas opções foi objeto de uma
consulta popular, referendária, pela sua relevância. Nem essas questões foram
objeto de funda reivindicação popular, tendo em conta a grande despolitização[1]
reinante, a qual prossegue a tradição salazarista, após um interregno
libertador de 19 meses em 1974/75, enquanto o poder estatal se reorganizava.
Essa despolitização é, também induzida pela classe política, distanciada do
povo, que se considera como casta superior e que concede de quatro e quatro
anos a possibilidade de a ralé viver a ilusão de que escolhe os seus
representantes.
Admitindo a hipótese
de um referendo, a verdade é que o regime político blindou a sua efetivação que
não sob o seu aval, prevenindo-se assim contra qualquer atitude do povo que
contrarie a tendencial despolitização. Na realidade só a arrogância da classe
política impediu que o povo se mostrasse favorável ao enterro definitivo do
isolacionismo salazarista, com uma maior ligação aos países vizinhos, já
iniciada com a imensa emigração dos anos 60 e 70.
Propomos em seguida,
um momento de diversão sobre a sacrossanta Constituição (CRP), no capítulo do
referendo.
“Os partidos
políticos concorrem para a organização e para a expressão da vontade popular”
(nº 1, artº 10º da CRP) de modo a subalternizar aquela expressão às
conveniências do mandarinato e às dos meios empresariais e financeiros que lhes
pagam ou, de onde emanam. Por seu turno, o nº 1, artº 115º designa que um
referendo será decidido pelo PR, mediante proposta da AR ou do governo, órgãos que,
em regra e por mero acaso… têm a mesma origem e raramente são dissonantes. O
mesmo artigo (nº2) abre à plebe a iniciativa de um referendo que será apreciada
pela AR que lhe configurará a prosa; e é esta ou o governo quem decide se o
tema a referendar é questão de “relevante interesse nacional” (nº3), dado o
consenso na classe política sobre a infantilidade dos eleitores, tomados como
aptos apenas no exato momento da colocação de uma cruz no boletim de voto.
Porém, o nº 4 do
mesmo artigo, exclui do referendo as alterações à Constituição e questões de
caráter orçamental, tributário ou financeiro, que caberão assim à AR, aos
partidos e, particularmente aos do governo que deterão a maioria em S. Bento;
isto é, para parte significativa dos assuntos de relevância particular na vida
das pessoas, estas não têm direito de decidir.
Com invulgar
magnanimidade democrática a CRP concede a possibilidade de se referendarem
convenções internacionais mas, exclui, certamente pela sua irrelevância,
aspetos relativos à paz e às fronteiras (nº5), que só a classe política, em seu
alto saber, poderá analisar e decidir. Por seu turno, o artº 295º abre a
possibilidade de referendo “sobre a aprovação de tratado que vise a construção
e aprofundamento da união europeia” mas, a sua realização encalharia nos
meandros constitucionais para jamais se realizar. O Memorando de Entendimento
(vulgo, da troika) tem redesenhado a
vida da esmagadora maioria, por vontade expressa dos partidos do “arco da
governação” que, nesse âmbito se sobrepuseram aos interesses da esmagadora
maioria do povo, sem sequer admitirem – até para sua salvaguarda – um
referendo. Finalmente e para terminar este momento divertido sobre a CRP,
sublinhe-se que o texto constitucional atribui ao PR um papel incontornável quanto
a referendos, transpondo para a figura a tradição monárquica de legitimidade
inapelável; a CRP não contém condições para a sua deposição e, mesmo que possa
ser acometido de senilidade ou doença mental incapacitante, não podem os
eleitores referendar a sua substituição.
Como em várias
ocasiões temos afirmado há em Portugal uma questão política central que se
prende com a democracia, a organização política e o modelo de representação,
para além, naturalmente, do seu substrato económico, capitalista. A manutenção
do statu quo é o cerne do
entendimento tácito existente na classe política.
Como nenhum governo
baseado no “arco da governação” irá procurar sair do euro e, menos ainda da UE;
como na oposição da esquerda do sistema ou se tem a mesma posição do descolorido
“arco” ou se defende tais saídas para efeitos de fidelização eleitoral; e ainda
porque a hipótese de referendos está bloqueada, considera-se afastada uma
iniciativa para qualquer daquelas saídas. Como é evidente, a expulsão ou
qualquer condicionamento para Portugal, por iniciativa da UE, assim como o
desmantelamento da zona euro ou da UE têm uma possibilidade baixa de acontecer
mas, maior do que uma iniciativa lusa.
Para
mais, nem sequer há um estudo quantificado e comparativo das opções de continuar
ou sair do euro, o mesmo sucedendo relativamente à UE. O livro de João Ferreira
do Amaral revela uma opção política e alguns dos seus contornos mas, não avança
minimamente na quantificação que, não é fácil e exigiria certamente uma equipa
dedicada, No entanto, o livro tornou-se uma bíblia para gente defensora da
saída, pois uma situação social desastrosa é sempre susceptível de gerar
saudosismos dos “bons velhos tempos”, sebastianismos. Preferimos, para já,
avaliar o papel do euro no descalabro económico e, subsequentemente social, bem
como apurar relações de causa-efeito.
3
- Como surgiu o euro
A adopção do euro foi
preparada e conduzida gradualmente durante mais de uma década, a partir do Acto
Único de 1987, quando se tornou claro que a expansão da então CEE teria de
incluir a total ausência de obstáculos para a circulação de mercadorias e
capitais no seu espaço, sendo peça essencial para o efeito, a criação de um
sistema monetário, no âmbito de uma UEM – União Económica e Monetária.
O Acto Único é detalhado
e aprofundado no Tratado da União Europeia (Maastricht, 1992) que lhe
acrescentou a preocupação essencial com a construção de uma infraestrutura
global de transportes que desse suporte físico a esse mercado alargado e que
permitisse as trocas entre um Sul, produtor de bens agrícolas e de consumo, sol
e praia, com envio preferencial para o Norte e, um Norte, vocacionado para a
química, o material de transporte, maquinaria e conhecimento, com destinos internos
e sobretudo, exteriores ao espaço comunitário. Poucos anos depois, com a criação
de uma periferia a Leste, à designação de Norte preferimos tratar por Centro.
Por seu turno, a
criação do Fundo de Coesão financiou uma orgia de obra pública em Portugal, com
a introdução de engenharias financeiras do tipo “project finance” que vieram a
derivar nas célebres PPP; é o tempo do forte entrosamento entre o PSD/PS e o
setor da obra pública, sujeito a um processo de concentração, ainda hoje
lembrado no nome da Mota-Engil; para o efeito seria preciso mão-de-obra barata
e obediente, sendo atraídos, centenas de milhar de imigrantes, brasileiros e do
Leste europeu, fugidos os últimos aos efeitos do desmoronamento do capitalismo
de estado.
Para a UEM propôs-se uma
concretização faseada. Até final de 1993, a total liberalização dos movimentos
de capitais, a peça ideológica fulcral no pensamento liberal e da
financiarização; depois, até ao fim de 1998 a aplicação dos célebres critérios
de convergência (ver abaixo); e, finalmente, a partir de 1999 o parto dos
gémeos uterinos, o euro e o BCE, este tendo como único objetivo o controlo da
inflação, como determinado pela Alemanha, em atenção à sua experiência dos anos
20 mas, sobretudo, porque a inflação não convém nada a um sistema financeiro
sobredimensionado, dado que a erosão do poder aquisitivo da moeda desvaloriza o
rendimento dos credores e beneficia os devedores.
Os critérios de
convergência, ou de Maastricht foram, sumariamente:
- Inflação que não supere em mais de 1.5% a média dos três estados com os mais baixos indicadores;
- Deficit orçamental não superior a 3% do PIB
- Dívida pública não superior a 60% do PIB
- Participação no SME - Sistema Monetário Europeu, substituído na terceira fase por um MTC – Mecanismo de Taxas de Câmbio;
- Taxa de juro de longo prazo que não supere em mais de 2% a média observada nos três países com menor inflação.
- O capitalismo, por inerência gera desigualdades
4 – Um processo de
constituição de desigualdades
Quanto maiores e mais
diversificados são os espaços geográficos, mais estratificados e desiguais
acabam por se tornar, acentuando, pois a constante criação de desigualdades
inerente ao capitalismo e favorecendo os processos de re-hierarquização de
territórios e suas populações. A transnacionalização das economias, articulada
pelas multinacionais e pelo sistema financeiro conduz a uma maior concentração
dos poderes de decisão a nível global através de aparelhos de estado, de
super-estados e instituições internacionais de enquadramento. Nesse contexto,
tenderão a reduzir-se as possibilidades de políticas regionais, de proximidade,
com a desestruturação dos espaços geográficos utilizando-se para o efeito, instrumentos
como o crédito, a dívida, as políticas fiscais e laborais, a corrupção ou meios
militares em casos mais delicados.
As desigualdades no
quadro da UE nasceram com a sua fundação, enquanto factor de concentração de
capitais, instrumento de acumulação capitalista e elemento de vanguarda da
globalização reiniciada após a II Guerra. Em 1979[2]
apontava-se que “a persistência de desequilíbrios regionais ameaça até mesmo o
próprio funcionamento do próprio mercado comum”; que “o alargamento agravará
ainda mais essa ameaça”; e que “o desequilíbrio regional tomará proporções
bastante maiores, devido às disparidades” entre os países então candidatos e os
nove associados desde 1973. Projetava-se com apreensão uma extensão da CEE de
nove para doze e atualmente a UE já engloba 28 países, sem que a gula esteja
saciada, como se vê atualmente na Ucrânia.
Com data pouco
posterior e com maior detalhe[3]
apresentavam-se os saldos das balanças comerciais na CEE para o período 1973/81
que transcrevemos abaixo:
Balanças comerciais ($ 1000 M)
|
||||||||||
1973
|
1974
|
1975
|
1976
|
1977
|
1978
|
1979
|
1980
|
1981
|
Soma
|
|
Alemanha
|
14,9
|
21,8
|
17,6
|
16,6
|
17,9
|
20,8
|
12,2
|
5,0
|
12,2
|
139,0
|
França
|
0,8
|
-3,8
|
1,5
|
-4,7
|
-2,4
|
-2,4
|
-6,3
|
-18,9
|
-14,5
|
-50,7
|
GB
|
5,4
|
-11,9
|
-7,1
|
-6,4
|
-3,2
|
-6,9
|
-11,9
|
-15,0
|
3,3
|
-53,7
|
Itália
|
-3,9
|
-8,5
|
-1,1
|
-4,0
|
-1,1
|
-0,4
|
-5,7
|
-21,8
|
-15,8
|
-62,3
|
Bélgica
|
1,2
|
0,8
|
0,5
|
-0,6
|
-0,3
|
-3,8
|
-4,2
|
-7,1
|
0,4
|
-13,1
|
Holanda
|
1,1
|
0,6
|
1,0
|
1,0
|
-1,1
|
-3,7
|
-4,6
|
-4,2
|
1,4
|
-8,5
|
O mesmo documento
refere que o Mezzogiorno italiano detinha então uma capitação do rendimento
correspondente a 60% da média nacional contra 57% em 1958, que a Ligúria tinha
um rendimento 2.5 vezes superior ao da Calábria e que esta assistia a
rendimentos cinco vezes superiores aos seus nas regiões de Hamburgo, de Paris
ou Bruxelas. Na ocasião, o sul da Itália seria a área mais periférica da CEE
que passaria a contar com a companhia da Grécia em 1981 e de Portugal e Espanha
em 1986.
As grandes
desigualdades quanto às estruturas económicas, níveis de desenvolvimento, e
interesses, já evidentes entre os primeiros 15 membros da UE, iriam certamente
aumentar com os futuros alargamentos que se configuravam, sobretudo a Leste, em
meados da década de 90.
Recordamos
que em todo este período, todos os países integrantes da CEE, tinham as suas
próprias moedas, os seus bancos centrais e as suas soberanias monetárias que
provocam tantas saudades em sectores da direita xenófoba (Front National,
Aurora Dourada por exemplo) como da extrema esquerda das forças reacionárias
(PCP, seus satélites ou o grego KKE, também por exemplo).
4.1
– As desigualdades na Ibéria
Esta pulsão
inevitável para a geração de desigualdades, observa-se também em espaços
nacionais, como se pode observar, no caso do espaço ibérico.
Desigualdades na Península Ibérica
|
|||||
Rendimento
bruto disponível - 2010 (€/hab.)
|
PIB (pps[4]/hab)
|
||||
1999
|
2010
|
var %)
|
|||
1
|
País Basco
|
18 851
|
21000
|
32200
|
34,8
|
2
|
Com. F.Navarra
|
17 970
|
21600
|
30800
|
29,9
|
3
|
Com. Madrid
|
16 789
|
23200
|
31600
|
26,6
|
4
|
Catalunha
|
16 012
|
20900
|
28400
|
26,4
|
…
|
…
|
…
|
…
|
…
|
…
|
10
|
Ilhas Baleares
|
13 904
|
21200
|
25600
|
17,2
|
11
|
Lisboa
|
13 647
|
20500
|
27400
|
25,2
|
12
|
Ceuta
|
13 473
|
14500
|
21600
|
32,9
|
…
|
…
|
…
|
…
|
…
|
…
|
18
|
Canárias
|
11 517
|
16700
|
20800
|
19,7
|
19
|
Madeira
|
11 342
|
14300
|
25500
|
43,9
|
20
|
Algarve
|
11 311
|
15700
|
20300
|
22,7
|
21
|
Andaluzía
|
11 207
|
12500
|
18500
|
32,4
|
22
|
Extremadura
|
10 787
|
10900
|
16900
|
35,5
|
23
|
Açores
|
10 740
|
12100
|
18500
|
34,6
|
24
|
Alentejo
|
10 205
|
12700
|
18100
|
29,8
|
25
|
Centro
|
9 605
|
12300
|
16300
|
24,5
|
26
|
Norte
|
9 174
|
11900
|
15800
|
24,7
|
Fontes: Península Ibérica
em Números, 2013, INE e Eurostat
Na primeira coluna
verifica-se que o País Basco, a região mais rica da Península, apresenta um
rendimento duplo do observado na portuguesa região Norte, a mais pobre das 26
que constituem os dois países ibéricos; e que, no espaço luso a mesma região
Norte regista apenas 2/3 do rendimento calculado para a região de Lisboa. Salta
à frente dos olhos que esta situação é o espelho da pulsão exportadora encomendada
por meios empresariais poderosos aos governos. Como é possível que a principal
região exportadora portuguesa seja a mais pobre da Ibéria e uma das mais
empobrecidas da UE? Esta situação revela os baixos salários que constituem a
norma da região (particularmente) e a presença dos ditosos “empresários do
Norte”, fautores históricos de subdesenvolvimento e para os quais um poder
corrupto batizou uma artéria do Porto de Avenida AEP!
Realça-se ainda que
entre as oito regiões mais pobres da Península, seis são em território português,
só se destacando Lisboa, na primeira metade da hierarquia.
Em 1999, comparando o
PIB em paridades de poder de compra, por habitante, a região mais pobre da
Ibéria era a Extremadura, tendo o Norte português passado a ocupar essa posição
em 2010, degradando-se também as posições relativas das regiões Centro,
Alentejo e do Algarve, comparativamente a Ceuta e Madeira. As regiões
portuguesas que terão melhorado este indicador global são a Madeira, Lisboa e
Açores. São ainda de destacar, no campo das desigualdades de crescimento, os
elevados aumentos da Madeira, da Extremadura, dos Açores e da Andaluzia e a sua
modéstia nas regiões insulares do estado espanhol.
Regressando de novo à
problemática do euro, sublinha-se que a nova moeda iniciou o seu curso, em
simultâneo, para toda a Península e que subidas e descidas das várias regiões
nas duas classificações consideradas e em cada um dos países, mantêm Portugal como
país desigual muito desigual, com Lisboa no quinto lugar e a Madeira em nono,
em 2010 no capítulo do PIB em paridades de poder de compra, por habitante; e
mantêm quatro das sete regiões nos cinco lugares correspondentes às regiões
mais pobres da Península, uma situação um pouco pior do que em 1999. Não se
descortina aqui responsabilidades especificas da moeda única mas, dos
resultados de uma maior integração económica no seio da Europa, desregrada e
refletindo as re-hierarquizações em curso, entre o Centro e as periferias e,
por consequência no seio das últimas.
5 - Portugal, o bom
aluno do mestre Cavaco[5]
A fama de um Portugal
como bom aluno nasceu do cumprimento de Maastricht, atapetado com a entrada de
fundos comunitários, com a construção de infraestruturas (autoestradas, Expo/98,
Ponte Vasco da Gama…) que não evitaram o aumento do desemprego, privatizações
para abate da dívida pública, desvalorizações do escudo mais ou menos paralelas
com as da peseta enquanto ocorria a aproximação das taxas de juro a longo prazo,
com as taxas alemãs.
1991
|
1998
|
|||
Portugal
|
UE 15
|
Portugal
|
UE 15
|
|
PIB
per capita (UE=100)
|
64,4
|
100,0
|
74,8
|
100,0
|
PIB
(% var. real)
|
2,3
|
1,7
|
3,5
|
2,7
|
Inflação
- consumo privado (%)
|
12,2
|
5,8
|
1,8
|
1,7
|
Desemprego
(%)
|
4,0
|
8,1
|
5,2
|
9,9
|
Deficit
Bal. Trans. Corr. (% PIB)
|
-0,9
|
-1,2
|
-4,7
|
0,9
|
Deficit
Estado (% PIB)
|
5,9
|
4,2
|
2,1
|
1,5
|
Dívida
pública bruta (% PIB)
|
65,9
|
55,2
|
56,5
|
69,0
|
Fonte: DA ADESÃO À
COMUNIDADE EUROPEIA À PARTICIPAÇÃO na UEM - A EXPERIÊNCIA PORTUGUESA DE
DESINFLAÇÃO NO PERÍODO 1984-1998 – Marta Abreu
Esta melhoria global
do enquadramento externo (apesar do aumento do deficit externo) resultava
também de Portugal ser o mais pobre dos países da Comunidade, onde os salários
eram mais baixos. E a adesão, em 1995 de países de rendimento elevado –
Áustria, Finlândia e Suécia só veio acentuar essa situação; a Suiça, por
referendo, ficou de fora. A estabilidade cambial, a ausência de conflitualidade
social indígena (construída na corporativa Concertação Social), o acesso barato
ao crédito e a proteção da pauta aduaneira comunitária face a países terceiros
contribuíram para aqueles resultados, mesmo num contexto de ausência de meios
para o exercício da política económica, delegados em instituições comunitárias.
Por seu turno, o mecanismo
das taxas de câmbio estabilizou a cotação do escudo face ao referente (marco
alemão). A título de exemplo, no período jan/1995 e dez/1996, enquanto nos
empréstimos em marcos, a longo prazo, as taxas de juro passaram de 7.8% para
6.2% (aprox), o seu equivalente em escudos passava de 12% para 7% (aprox).
Entretanto, a taxa de inflação reduzia-se de 11.4% em 1991 para 3.1% em 1996[6].
A evolução da Euribor
a 12 meses, desde o seu início (gráfico abaixo) revela os recentes sobressaltos
mas, num contexto geral de baixas taxas de juro, não sendo, portanto o “preço
do dinheiro” que inviabiliza a sonhada retoma, dia a dia anunciada pelos
apóstolos da idiotice, Pedro e Paulo.
http://pt.euribor-rates.eu/graficos-euribor.asp
5.1 – No princípio
está o crédito, a especulação e a corrupção
Essas caraterísticas
facilitaram, a partir de meados da década de 90 um enorme aumento do crédito,
em grande parte obtido no exterior e que se distribuiu a partir do sistema
bancário, pelos sectores - em processo de hipertrofia - da construção, do imobiliário,
das obras públicas, para além das famílias, que encontravam através dessa via a
resolução do problema da habitação, área onde a ausência de políticas públicas
se mostrou estrutural[7]
como derivado da tara neoliberal dominante. Pelo caminho, também havia dinheiro
desviado para autarcas e seus partidos, por conta de facilidades nos
loteamentos, fornecidas a muitos dos chamados empresários que largaram as suas
atividades para se dedicarem ao imobiliário[8]
e atividades conexas. Claro que a situação, bem evidenciada no gráfico que se
segue, tinha de conduzir, de per si, a um desastre, como se assiste.
Fonte primária: Banco de Portugal
O
crescimento desmesurado do crédito concedido às empresas coexiste com um nível
controlado do habitual deficit externo. Note-se que nos três últimos anos o
ritmo de crescimento das exportações supera o das importações, excepto em 2013,
de modo muito ligeiro. Porém, o crescimento do crédito concedido às empresas
não tem impactos substanciais no PIB e menos ainda no investimento, cujo nível
estagna a partir do início do século, decaindo mesmo substancialmente a partir
de 2008, quando a festa acabou.
Referimos, a
propósito, alguns elementos caraterizadores do descuidado comportamento dos
bancos e da ausência de política económica, preterida em nome da fé
purificadora dos “mercados”. O volume acumulado do crédito concedido às
empresas corresponde a 2.9 meses do rendimento nacional em 1990, sobe sem
interrupção até 2009 quando chega a 7 meses e regride posteriormente,
cifrando-se em meio ano, em 2013.
A relação entre
aquele volume acumulado de crédito nas empresas e a FBCF anual revela que esta
última pouco é afetada pelo crescimento do crédito; a sua relação é de 1:1 em
1990 e mais de 4:1 no ano transato. Dito de outro modo, o endividamento não conduziu
a um reforço da capacidade produtiva, geradora de rendimentos que permitissem a
amortização e o pagamento de juros. No que se refere às famílias o crédito
também se expandiu substancialmente, comprometendo-as por dezenas de ano,
desprevenidas perante o desemprego e a sanha empobrecedora desencadeada pelos
governos de Sócrates e de Passos.
O euro começou a
vigorar como moeda escritural em 1999 e como moeda efetiva a partir de janeiro
de 2002. E como se vê no gráfico acima, não há qualquer descontinuidade
imputável à introdução da moeda dita única. A disponibilidade de crédito barato
é, a priori, uma vantagem para qualquer
empresa ou família e os custos inerentes às flutuações entre moedas diferentes
como às taxas cobradas pelas conversões são margens parasitárias de que só
alguns beneficiam; mas também constituíram um instrumento facilitador da
especulação financeira, aliás o mais ardente promotor da moeda única.
O rebentamento da
bolha imobiliária nos EUA em 2007 e o seu contágio pelo mundo são exemplos típicos
das crises do capitalismo, agora agilizados pelas tecnologias de computação e
telecomunicação que, tal como as unidades monetárias, não passam de
instrumentos dos “mercados”, entretanto desregulados e considerados por axioma,
auto-ajustáveis. Mais importante relativamente ao financiamento, para mais
libertado de custos próprios da moeda, será a finalidade da utilização desse
crédito e a capacidade de gerar rendimentos para o seu pagamento, como veremos
em seguida.
5.2 – A utilização
do crédito
Os bancos praticam
com denodo o princípio de colocar o máximo dos meios financeiros que possam,
pois é essa aplicação que permite obter rendimentos conducentes à maximização
dos lucros, como é apanágio do capitalismo; e são extraordinariamente criativos
nessa área. Nesse contexto e dadas as facilidades obtidas no exterior
(esgotadas as capacidades de fixação de poupanças dos portugueses em depósitos
bancários) os bancos lusos financiaram à exaustão empresários de situação
financeira frágil tendo, naturalmente, o cuidado de exigir hipotecas sobre os
imóveis das empresas e, na sua falta, do património pessoal dos seus donos.
Em tempo de vacas
gordas, se um desses capitalistas se mostrasse insolvente, os bancos exerceriam
os seus direitos de credores hipotecários e ficavam com terrenos e edifícios
que, com alguma facilidade poderiam vender. Porém, em tempos de vacas magras o
exercício desses direitos mantém-se mas, resumem-se à integração nos activos
bancários de bens de difícil venda e sem rendimentos associados, quando não sem
qualquer viabilidade de reconversão. O mesmo se passa com títulos aceites como
garantias.
Outro expediente dos
bancos para evitar o reflexo dessas reais “imparidades” foi a transformação de
crédito a curto e médio prazo em endividamento a longo prazo, como se de
crédito ao investimento se tratasse. E gradualmente irão cuidar de assumir
essas perdas, beneficiando da possibilidade do abatimento desses prejuízos,
como custos a deduzir em lucros futuros.
Uma parte substantiva
destes créditos – com fundos obtidos junto dos bancos dos países ricos da UE -
foi sendo reciclada pelas empresas envolvidas nos negócios da construção e
imobiliário e transferida para as famílias compradoras de casas, incluindo
muitas vezes, no valor mutuado, a aquisição de automóveis, viagens e
mobiliário, inclusão fraudulenta mas bem rentável para os bancos. Nesta cadeia
de montagem financeira que envolve bancos europeus-bancos nacionais-empresas
imobiliárias/construção-famílias, acumulava-se um enorme volume de dívida junto
das últimas por 30, 40 ou mais anos. Era a alegria dos bancos, garantir uma
aplicação segura do equivalente a uns 85% do PIB, por dezenas de anos e com garantias
quase integrais perante um incumprimento.
O acesso facilitado a
crédito barato não melhorou, antes pelo contrário, a estrutura produtiva
portuguesa, quer no campo da satisfação das suas necessidades naturais, quer na
aposta na exportação, como consta nas escrituras neoliberais e alicerçado no
crescimento continuado do mercado.
Fonte primária: Banco de Portugal
Como
se pode observar, a introdução do euro não induz descontinuidades no processo
de desestruturação do tecido produtivo através do crédito, uma vez que a
redução da relevância da indústria ou do comércio, com o concomitante reforço
do peso da construção e do imobiliário se desenha a partir de meados da década
de 90, como resultado da baixa das taxas de juro. Este “modelo de
desenvolvimento” resulta da subalternidade periférica do capitalismo português,
sem capacidade de evitar que a sua estrutura produtiva seja definida pelas cadeias
transnacionais que desenham o perfil produtivo da UE e do mundo. Por isso os
industriosos capitalistas portugueses se dedicaram à especulação imobiliária,
onde não havia concorrência externa, animados pelos prestimosos bancos, todos
eles agora em cura de emagrecimento.
5.3 – A capacidade
de gerar rendimentos
A subalternidade
histórica do capitalismo português gera empresas forçosamente endividadas até
porque na tacanha mentalidade dos empresários lusos, a promiscuidade habitual
entre os meios afetos ao negócio e as finanças pessoais é feita no sentido da
drenagem de rendimento para o património pessoal ou familiar, eventualmente com
forte ancoragem em dinheiro desviado para off-shores.
E isso para além da acumulação de um valor enorme de dívida perante o Estado e
a Segurança Social (uns € 23000 M). Como se pode ver no gráfico seguinte, o
endividamento tende a situar-se acima de dez vezes o valor do capital próprio,
passado o período excepcional de 2008/09, enquanto, por exemplo, na Alemanha é
apenas duplo, não se fazendo sentir a crise financeira daquele biénio.
*
((Empréstimos de Curto-Prazo + Empréstimos de Longo Prazo - Existências -
Clientes – Disponibilidades) / Capital
Próprio) * 100 %. Fonte:
Eurostat, série descontinuada
Esta enorme
dependência das empresas ibéricas afeta a sua capacidade de investimento, a sua
rendabilidade, a sua resistência às flutuações conjunturais e as remunerações
do capital próprio; constituem algo muito apetecível para o capital financeiro
que as municia com taxas de juro mais altas e, simultaneamente, as mantêm
retidas nas malhas do crédito permanente. Como hoje, os capitais financeiros circulam
sem fronteiras, os excedentes gerados nos países de capitalismo mais
desenvolvido são aplicados nos de menor desenvolvimento, tendendo naturalmente
a manter a subalternidade e a dependência dos últimos e intervindo na própria
estruturação produtiva dos países subalternos, em benefício das metrópoles
capitalistas.
No caso da UE são
evidentes as diferenças entre o Centro e as duas diversas periferias, a Sul e a
Leste e que o capitalismo jamais reduzirá, uma vez que igualdade e
solidariedade não se coadunam com o princípio essencial da acumulação.
Fonte primária: Eurostat
No capítulo da
poupança evidencia-se uma regularidade do seu nível para a Alemanha e a França,
em torno dos 15%, sendo claro o aumento da taxa para a Irlanda, Espanha e
Portugal, dada a cautelar quebra do consumo com o início da crise da dívida. Em
tempos menos conturbados, as taxas de poupança daqueles três países era cerca
de 2/3 da exibida pela Alemanha e pela França, refletindo as diferenças
socio-económicas. Finalmente, registe-se que a estabilidade da taxa de poupança
em Portugal, no período 1998/2005 em nada reflete um impacto da adopção da
moeda única.
5.4
- Produtividade e custos laborais
A
produtividade do trabalho em Portugal evolui crescentemente e de modo constante
em todo o período, não refletindo sobressaltos com a introdução do euro como
moeda. A Espanha por seu turno apresenta aumentos a partir de 2007 depois de
uma relativa estagnação no período anterior, ao contrário da Itália cujos
índices pioraram a partir daquele ano.
Em
2013, Espanha e Portugal em tempos de crise da dívida e são os dois países que
apresentam maior crescimento da produtividade entre os seis considerados no
gráfico. Do ponto de vista social não há grandes virtudes nisto pois o
principal elemento que conduz a essa situação é a redução de horas de trabalho
resultante de despedimentos e outras formas de redução, real ou formal de
trabalhadores. Do ponto de vista do capital a situação é bastante favorável
pois há um crescimento do rendimento empresarial mais do que proporcional ao da
incorporação de trabalho.
Fonte primária: Eurostat
PIB em termos reais/horas
de trabalho efetivamente efetuadas
A
evolução dos custos do trabalho revela indicações interessantes, a começar pelo
caso da Alemanha onde estão refletidas as “reformas estruturais” de Schroeder
para dotar as exportações do país mais competitivas, leia-se mais baixos custos
do trabalho. Inversamente, na Itália e em França houve, recentemente a passagem
para um patamar que quebrou a estagnação havida nos dez anos anteriores ao
início da actual crise sistémica.
Para
além da excepcional evolução observada na Irlanda até ao início do resgate do
seu sistema financeiro, os países ibéricos revelam quebras evidentes nos
últimos anos, mostrando os níveis de custos laborais reais mais baixos de todo
o período observado. O que sem dúvida é favorável aos capitalistas, aos …
bondosos empregadores.
Esta
situação revela a inoperância dos movimentos sociais em geral e, sobretudo dos
sindicatos e dos partidos ditos de esquerda que se pretendem condutores e orientadores
técnicos da contestação, perante a fúria da atuação do neoliberalismo. E concretiza
as suas incapacidades de análise das caraterísticas do capitalismo de hoje, com
a preponderância de uma visão que poderia ter sido realista várias décadas
atrás. Por outro lado, a actual situação esclarece, a eficácia política das
instâncias de concertação social, da rede institucional montada pelos regimes
políticos de democracia de mercado para a captura e domesticação dos vários
segmentos da multidão e destruição, no ovo, de potenciais situações de conflitualidade
social; essencialmente da contestação política.
Como
temos vindo a observar, na evolução dos custos salariais, não há nada que
identifique uma influência direta do euro ou que revele uma sua essencial responsabilidade
no estabelecimento das relações desiguais, entre os países e as várias camadas
sociais em cada área territorial.
(continua)
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Este e outros documentos em:
http://grazia-tanta.blogspot.com/
http://pt.scribd.com/profiles/documents/index/2821310
http://www.slideshare.net/durgarrai/documents
http://pt.scribd.com/profiles/documents/index/2821310
http://www.slideshare.net/durgarrai/documents
[1]
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2012/10/a-despolitizacao-o-controlo-social-e-as.html
[2] Alargamento da Comunidade Europeia - Grécia, Espanha Portugal. edição do Comité
Económico e Social das Comunidades
Europeias, Bruxelas , 1979
[3] “ L’Europe du Sud face à l’integration européenne”
de Claude Courlet e outros, apresentada na conferência do CISEP (abril/1983)
[4] Definição de paridades de poder de compra
http://observatorio-das-desigualdades.cies.iscte.pt/index.jsp?page=indicators&id=123
[5] Salazar tombou quando a cadeira o
justiçou mas, Cavaco ainda poderá ser a figura de proa no julgamento de regime
cleptocrático que subsiste
Amigo Vitor
ResponderEliminarNa sequência da nossa breve conversa na Fábrica de Alternativas, gostaria de aprofundar a questão da saída do Euro, agora numa perspectiva diferente. Claro que subscrevo o teu pensamento sobre a formação da moeda única e suas consequências como instrumento dos interesses corporativos internacionais. Mas creio que agora a situação é mais grave do que afirmas. Perspectivam-se no horizonte próximo dois importantes tratados internacionais, o Tratado Transatlântico e o Transpacífico que, juntos consubstanciam a assunção de um novo paradigma de poder à escala global como nunca antes havia acontecido. Os dois representam uma poderosa tenaz que envolve o planeta e consolida um poder esmagador entregue às 600 maiores corporações que visa expropriar os principais direitos dos estados-nação e dos cidadãos. Essas corporações passam a ficar com bastante mais poder que qualquer estado ou grupo de estados, podendo processá-los em muitos milhões sempre que os regulamentos ameacem os lucros reais ou esperados. Nenhumas empresas ou património públicos estarão a salvo da sua voracidade, prevendo-se tribunais especiais com jurisdição acima dos actuais tribunais judiciais internacionais para dirimir os conflitos entre estados e corporações. Os exemplos já conhecidos apontam claramente para a vitória destas em caso de choque. Sucede que nos corredores de Bruxelas pululam as agências e comissões desses interesses que estão a forçar a aprovação das normas lesivas dos interesses dos cidadãos e dos estados. Assim sendo, independentemente do que tiver sido feito até à data, a situação descrita implica necessáriamente que Portugal saia do Euro, antes que seja obrigado a cair na armadilha desses tratados de uma maneira irreversível. Deste modo, parece-me que a mais importante posição dos cidadãos é a reconquista da soberania dos estados como meio de defender os seus direitos, mesmo tendo em conta que o estado sempre foi o representante dos interesses das classes dominantes. Claro que não defendo esse tipo de estado, mas sim um estado que exista para os cidadãos e que emane do seu seio. Parece-me que as alternativas se vão estreitando com bastante rapidez.
Não esbanjámos........Não pagamos!!!!!!!!!
Zé Manel
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Quer dizer, ó Vitor, em resumo, para ti:
ResponderEliminarO problema não é o euro, com euro ou sem euro vamos ser sempre um paísinho da merda e uma colónia, porque isto está tudo montado para o centro mandar na periferia, para os capitais circularem e os excedentes serem colocados na periferia para perpetuar a situação de dependência, etc etc etc.
Portanto, mantenhamo-nos no euro, porque tanto dá como deu, não é?
Desculpa ser simples e prático em vez de complicado e teórico, e não entrar na armadilha do estilo torrencial e hiper-sintético-abstrato na melhor (ou pior) tradição marxista.
Há um problema nesses raciocínios todos muito bonitinhos.
É que o endividamento e a crise da UE desenvolvem-se a partir do euro, ou do SME para ser mais exacto, e a razão é óbvia: juros baixos e dinheiro barato à disposição.
Não serve de nada "analisar" produtividade, desemprego, composição da dívida, taxas de poupança e mais-não-sei-quê, isso só tem uma função retórica pra encher o olho, sem nenhuma articulação lógica com a questão central: o impacto do euro, que é tremendo. E é, desde logo, uma questão política central, como mostro a seguir.
Aliás, isto é muito simples: se o euro não fosse importante, os alemães e os outros manda-chuva europeus não tinham feito questão dele entrar em vigor a marchas forçadas. Eles não brincam em serviço.
O Vitor Constâncio, um dos chernes do sistema, já dizia há uns anos: "A moeda única é uma peça fundamental na integração funcional europeia".
Ou, trocando por miúdos, a federalizaçao da Europa sob comando das potências "ricas" (leia-se, Alemanha) precisa do euro. Porque uma vez imposto o euro, é necessário um banco central que o regule, e depois um poder político central que controle "democraticamente" esse banco, e aí temos a tal "integração funcional", ou seja, uma Europa federal, tipo EUA.
Eu já sabia isso e disse-o publicamente em 2006, ou até antes, só não sabia é que ia ser provado tão rapidamente.
Sem querer desestimular o teu espírito crítico-analítico, sugiro apenas que desças um pouco mais à terra.
E não é sério rotular todos os que põem a hipótese de voltar à moeda própria e ao Estado nacional (algo que tem que ser posto na ordem do dia forçosamente, por quem quer a saída desta podridão), taxá-los, dizia, como saudosistas do passado.
Haja calma. :)