O Pentágono e a NATO. Gastos militares e armamentos
Sumário
- Enquadramento
da política belicista do Pentágono e do seu alter ego, a NATO
- O
volume dos gastos militares
- A
dimensão das forças armadas
- O
armamento dos principais paises
- Empresas
produtoras de armamento
- Países
vendedores de armamento
- Vendedores
por tipo de armamento
- Países compradores de armamento
1 - Enquadramento
da política belicista do Pentágono e do seu alter ego, a NATO
O
volume dos gastos militares para a grande maioria dos países está relacionado
com o grau de conflitualidade regional, tendo em conta que, nesses casos, não
existem pretensões hegemónicas a nível global; ou com o poder interno das
castas militares, mais ou menos extensas ou influentes no dimensionamento dos
seus meios e mordomias. Em todos os países, por outro lado, existem relações
mais ou menos claras, demasiadas vezes corruptas, entre os poderes civis, as
castas militares, os fornecedores de armamento e discretos intermediários, que
recolhem avultadas comissões. Na base estão as populações e nomeadamente a
multidão de trabalhadores e ex-trabalhadores, pouco ou nada beneficiados, com
essas transações e cujo papel se resume a arcar com os custos inerentes, que
lhes reduz o rendimento.
Em
alguns casos, a pertença a coligações de Estados envolve relações solidárias,
em regra inseridas num quadro hierárquico, encimado por uma potência dominante.
Nesse contexto, países pequenos, sem capacidades de desenvolverem pretensões
hegemónicas a nível global ou, mesmo regional, sem ameaças descortináveis à sua
segurança, são envolvidos em encargos, conflitos e guerras, resultantes dessa
inserção hierárquica, por conta da satisfação de interesses de terceiros, qual
tributo senhorial, injustificável para os cidadãos.
Naturalmente
que a NATO é o exemplo mais completo de coligação, cuja cabeça é o Pentágono e
que abarca politicamente 28 Estados, em regra, com o entusiasmo das respectivas
castas militares, bem pagas e doutrinadas ideologicamente para obedecer e que
constituem, no seu conjunto, um género de guarda pretoriana, com códigos de
actuação e linguagem comuns. A NATO, por outro lado, é a única organização
militar, eufemisticamente designada como fornecedora de um serviço de segurança
colectiva e solidária entre os seus membros; e que se arroga também a actuar
sobre os países não membros e contra os seus povos, no quadro de uma pretensão
de intervenção planetária, perigosamente susceptível de aplicação prática,
dados os meios e grau de coesão que detém. A NATO define mesmo uma escala com
os vários graus de aplicação da sua estratégia:
- Protecção
preventiva (caso de sanções)
- Gestão
pró-activa das crises (tipo intervenção no Haiti)
- Utilização
da intervenção militar (Afeganistão)
- Estabilização post-intervenção (pretensamente, o Iraque actual)
Nenhuma
outra coligação formal ou informal de Estados, tem o mesmo poder de intervenção
global, quer político, quer militar, alicerçado na constante existência de um
poder de destruição arrasador, por sua vez, almofadado por uma apropriação
francamente assimétrica dos recursos e da riqueza criada pelo Homem.
Em
2001- e, sublinhe-se, muito antes do 11
de Setembro - sob a direcção do então vice.presidente dos EUA, Dick Cheney, foi
traçada a NPE – Nova Política Energética, baseada nos seguintes pontos:
- A segurança nacional dos EUA tem de estar assegurada, como axioma, como princípio inegociável e sagrado, devendo, para o efeito, toda a restante Humanidade estar preparada para se subordinar a tão alto desígnio;
- A manutenção da ordem capitalista mundial, actualmente vigorando no âmbito do paradigma neoliberal (como antes sob o primado keynesiano), exige um poder militar esmagador que retire veleidades a qualquer Estado para se colocar em posição frontal de desafio face aos EUA, por um lado, e aos povos, o direito de revolução social, por outro;
- Para que a economia norte-americana funcione, necessita de um intenso recurso a bens energéticos que, sendo essencialmente de origem fóssil, são constituidos por reservas mundiais limitadas e, portanto, objecto de disputas muito fortes;
- A própria manutenção do aparelho militar exige um fluxo garantido e abundante de recursos energéticos que contribui, por si só, para uma pressão para o controlo desses recursos. senão das suas fontes, pelo menos dos seus canais de transporte – vias marítimas, oleodutos e gasodutos;
- Apesar
de possuir grandes recursos e de ser grande produtor de produtos
energéticos, os EUA têm um volume de consumo muito superior às suas
próprias capacidades domésticas. De acordo com a NPE, a situação a prazo,
no capítulo do petróleo, é preocupante:
2002
|
Prev 2020
|
|
Produção
|
8.5
|
7.0
|
Consumo
|
19.5
|
25.5
|
Importação
|
11.0
|
18.5
|
Valores
em milhões de barris por dia (Mb/d)
- Para se mover neste complexo cenário os EUA definiram as vantagens para os seus interesses da desestabilização política e da fragmentação de Estados, como as levadas a cabo na Jugoslávia, na antiga URSS, com a autonomia curda no Iraque.
- Mais recentemente, James Jones, comandante supremo da NATO na Europa, entre 2003 e 2006, foi designado como assessor de segurança nacional de Obama, sabendo-se que é um firme defensor do alargamento da NATO a leste e a sul, para controlo dos recursos energéticos necessários aos EUA. Esta linha de continuidade face à administração Bush e a actuação dos EUA no apoio ao golpe de estado nas Honduras, revelam a grande unidade entre republicanos e democratas, no que se refere à extensão geográfica do seu conceito comum sobre a defesa dos interesses nacionais dos EUA. Por outro lado, o Pentágono, em ligação com o sector do petróleo e as suas multinacionais e com a indústria do armamento, goza de uma grande autonomia face à presidência, é um estado dentro do Estado. Condoleeza Rice e Dick Cheney, eram altos quadros do sector petrolífero e Robert Gates, manteve-se como responsável máximo do Pentágono, transitando do governo de Bush para o de Obama.
Para
além deste painel sumário, desenham-se alguns desenvolvimentos e opções que
conduzem à promoção de conflitos e outras acções levadas a cabo pelos EUA, com
maior ou menor envolvimento dos seus aliados da NATO ou terceiros,
circunstanciais, como a Rússia, Israel e países do Maghreb na operação Active
Endeavour, os países do Golfo Pérsico do Conselho de Cooperação do Golfo, ou a
Índia no patrulhamento do estreito de Malaca.
- Para solucionar a questão energética, os EUA enquadraram a necessidade do aumento do número de fornecedores, o surgimento de novas jazidas, o recurso a fontes alternativas limpas (solar, eólica…) ou poluentes (nuclear, carvão), sabendo-se que são parcos contributos oara o problema. Existem outros grandes consumidores, nomeadamente a China, ávidos de garantir abastecimentos, imprescindíveis para o seu elevado crescimento económico e estão activos, quer em contratos de exploração noutros países, como na construção de novos canais de encaminhamento do petróleo e do gás. Por outro lado, o surgimento de grandes jazidas vai rareando e as condições de exploração (por exemplo, no mar) são cada vez mais caras. Finalmente, as renováveis têm ainda um longo caminho a percorrer para substituirem o petróleo, nomeadamente nos transportes enquanto que o nuclear não colhe grandes simpatias entre as populações;
- As grandes reservas de petróleo e gás encontram-se na Rússia, na Ásia Central, no Médio Oriente e na Venezuela e o grande consumo situa-se nos EUA, na Europa, no Japão e na China; para além de uma longa lista de outros produtores, mormente em África ou a Noruega e outros consumidores de crescente importância como a Índia. Esta não justaposição levanta pesados problemas técnicos de logística e transporte que acentuam as disputas entre os diversos operadores mas, que lhes servem também de instrumentos, num quadro geopolítico mais alargado;
- O controlo dos fluidos saídos dos poços e do seu encaminhamento exige o controlo político dos Estados produtores bem como de outros, relevantes para a disponibilidade energética junto dos grandes consumidores;
- Entre outros factores pouco favoráveis aos EUA, refere-se em primeiro lugar a Rússia, que continua a ter um poder geoestratégico, não ultrapassável com sanções ou políticas de canhoneira; que tem enormes reservas; um poder político forte em torno do seu emblemático Putin que domina os recursos energéticos do país e faz deles a espinha dorsal da economia russa; que é o natural abastecedor da Europa Ocidental, directamente ou como via de passagem para as exportações do Turquemenistão e do Cazaquistão; que tem a vantagem de ter como vizinhos próximos o Japão e a China, grandes importadores;
- Essa ligação à UE processa-se através de várias condutas que obrigatoriamente têm de atravessar a Ucrânia ou, menos problematicamente, pela Biolorússia que é um estado vassalo de Moscovo, ambos aptos a constituir matéria para dificuldades provocadas pelas agências da CIA, como na “revolução laranja” ucraniana, que parece já ter perdido a cor e o cheiro;
- Os grandes produtores da Ásia Central, para mais enquadrados com a Rússia e a China na Organização de Cooperação de Xangai, tendem a coordenar as suas economias com os seus gigantescos vizinhos, passado um periodo de permeabilidade à adulação norte-americana e de fraqueza da Rússia de Ieltsin;
- A Sul, as reservas do Irão são incontornáveis pela sua dimensão, tal como é intolerável o regime iraniano para qualquer administração norte-americana, seja ela fundamentalista evangélica com os republicanos, ou menos ideológica com Obama. Nesse contexto, prometem durar as manobras de intimidação e cerco, com o argumento do uso militar do nuclear; a aplicação de ineficazes sanções sob o patrocínio dessa entidade difusa denominada “comunidade internacional; e a contenção da agressividade israelita, sempre disposta a aventuras guerreiras, embora não tenha ganho nenhuma desde 1967;
- Ainda a Sul, coloca-se o Afeganistão onde os norte-americanos tinham grandes esperanças de construir a saída do petróleo da Ásia Central para o Índico – fora da intervenção russa ou iranuana - mas que nunca se poderá realizar num quadro de guerra civil; seja como agora entre o prefeito de Kabul (Karzai) e os talibans ou, em alternativa, entre os senhores da guerra entre si pelo controlo do tráfego da droga;
- No Golfo Pérsico, os EUA construiram uma rede de protectorados petrolíferos e bases militares – Iraque, Kuwait, Bahrein, Qatar, Oman – confrontando-se, paralelamente com a eterna suspeita de infidelidade por parte dos sauditas;
- No Cáspio, interesses ocidentais construiram o BTC oleoduto que liga a margem oriental (Turquemenistão e Cazaquistão) à margem ocidental, restrita ao Azerbaijão da família Aliev e que daí segue pela Geórgia e pela Turauia até desembocar em Ceihan, no Mediterrâneo Oriental, próximo da fronteira síria;
- Finalmente, a Venezuela, apesar de continuar a ser uma fonte energética importante no abastecimento dos EUA, apresenta um modelo social, cujo exemplo para outros países da América Latina é intolerável para os EUA, habituados desde sempre a monitorar a evolução das sociedades latino-americanas para que não ousem arranhar o poder imperial. E daí o reforço da presença militar na Colômbia, em Aruba e a reactivação da IV Esquadra no Atlântico sul, coincidentes com novas descobertas petrolíferas nos mares do Brasil.
Actualmente,
os EUA, apesar do seu incontestável poder militar, vêm registando revezes
estratégicos que se podem considerar como factores de recuo e decadência, que
os obrigam, a sucessivas intervenções em outros Estados, em vez da utilização
do chamado “soft power”, a um recurso crescente à disseminação da sua presença
militar e à diluição da sua liderança em quadros formais e multilaterais de
actução. Daí a importância da NATO no dispositivo militar estratégico do
capitalismo ocidental.
- Os pontos fortes que os EUA têm neste largo tabuleiro são vários. Um é a Turquia, que domina historicamente os estreitos entre o mar Negro e o Egeu mas, que vem procurando manter uma grande autonomia estratégia onde as relações e o armamento norte-americano ou a amizade com Israel são temperados pela boa relação com o Irão e a recusa no apoio aos EUA na invasão do Iraque;
- Outro é a fortaleza israelita cuja relevância no policiamento do Médio Oriente obriga os EUA a tolerar o genocídio palestiniano, ganhando em contrapartida, o anti-americanismo da “rua árabe”; a mostrar-se distraido com a proliferação nuclear protagonizda por Israel; a englobar este último em projectos alternativos de condução do petróleo de Ceihan até Eilath, porto israelita no mar Vermelho, evitando assim o Suez para a ligação entre o Índico e o Mediterrâneo;
- O poder militar dá aos EUA e à NATO grandes vantagens no domínio aero-naval à escala global, com um sistema logístico em fase de adaptação, no sentido da maior mobilidade, com a utilização de uma vasta rede de bases, onde estacionam soldados e equipamentos em estado de elevada prontidão e maleabilidade táctica;
- Do ponto de vista estritamente político-ideológico, a administração Obama abandonou as teses xenófobas de Huntington sobre os choques de civilizações, onde o inimigo se centrava no mundo islâmico e nos países de cultura cristã ortodoxa. Vem-se assistindo, por um lado, a tentativas várias de cooptação da Rússia para a estratégia ocidental, com o abandono da construção do escudo de mísseis na Europa de Leste, o envolvimento no isolamento do Irão, no patrulhamento dos mares da Somália, o que é susceptível de agradar à UE, pouco interessada em crispações com o seu grande fornecedor de energia. E, simultaneamente, dividir a OCX que congrega a Rússia, a China, os países da Ásia Central e que tem como observadores interessados a Índia e o Irão. Por outro lado, procura-se estabelecer uma dicotomia entre os muçulmanos moderados e os jihadistas, os terroristas, os fundamentalistas, com óbvios propósitos de aliciamento de uns contra os outros, mesmo que não sejam claras as fronteiras entre ambos os segmentos;
- Grande
parte do comércio mundial circula pelo Índico e liga a Ásia Oriental
(Japão, China…) à Europa – sem referir origens/destinos intermédios como a
África do Norte e a Oriental ou a Ásia do Sul - através de um conjunto de
fieiras ou, de modo mais explícito, por estreitos. Do mesmo modo e apesar
da crescente existência de alternativas, o petróleo do Médio Oriente é
encaminhado para o Extremo Oriente e para a Europa através dos mesmos
estreitos, que se tornam portanto fulcrais, pontos de potenciais
estrangulamentos. Sucede, que essas vias são vitais para a Europa, para a
Ásia Oriental e mesmo do Sul (caso da Índia), com fortes relações
comerciais entre si e como se disse, devido ao abastecimento de energia.
Porém, não o são tanto para os EUA que, assumindo o seu controlo, detêm em
permanência, instrumentos determinantes para a (des)estabilização
económica de aliados, amigos e menos amigos. O interesse nacional dos EUA
é quem mais ordena;
- De
facto, as ligações entre os EUA e o Extremo Oriente, como com a Europa,
não passam pelo Índico e, por outro lado, o país, no capítulo do petróleo
tem vindo a aumentar a parcela de proveniências situadas na costa
atlântica de África para além da Venezuela e México, no continente
americano, reduzindo, portanto, a dependência do Médio Oriente;
- O
controlo do Índico e dos seus estreitos é vital para todo o sistema global
de transportes marítimos. Em 1510, Afonso de Albuquerque, segundo vice-rei
português da Índia, tentou controlar a navegação no Índico – a expensas de
turcos, persas e indianos - conquistando Ormuz (entrada do Golfo
Pérsico), Malaca (entrada no respectivo estreito) faltando-lhe a tomada de
Aden para dominar a entrada no mar Vermelho (Bab el Mandeb). Mais tarde,
os ingleses conseguiram esse desiderato, que durou até à descolonização;
- Actualmente,
o dispositivo militar norte-americano no que se refere ao Bab el Mandeb,
está presente no Djibouti podendo evoluir para uma instalação no Yémen a
partir do conflito interno existente neste país; e patrulha o mar contíguo,
a pretexto dos denominados “piratas somalis”, em parceria com outros
países, da NATO ou não. Nas imediações do estreito de Ormuz, os EUA detêm
o Kuwait onde mantêm grande número de instalações, têm o exército fortemente
presente no Iraque e no Afeganistão, bases militares na Arábia Saudita
(Dharam, que, por coincidência se situa muito próxima do importante
terminal petrolífero de Ras Tanura), Bahrein, Qatar (al-Ubaid) e Oman.
Finalmente, o estreito de Malaca dada a vulnerabilidade morfológica e a
existência de piratas menos mediatizados é patrulhado pela marinha
americana em parceria com a Índia, e o forte apoio logístico de Singapura.
Para se aquilatar a fragilidade de todo este sistema, poder-se-á imaginar
o impacto no bloqueio do estreito de Malaca, susceptivel de aumentar 10/12
dias a viagem de um navio vindo do Índico para o Japão.
Quais cerejas a encimar este
bolo, refiram-se a V Esquadra e a base estratégica de Diego Garcia, bem
plantada no centro do oceano Índico e de onde foi expulsa a população, nos anos
70;
· Há,
naturalmente e em crescimento, fraquezas estratégicas para o Pentágono e os
seus aliados da NATO. O objectivo de isolamento da Rússia, proposto durante a
administração Bush, falhou, apesar da absorção da Europa de Leste pela NATO, do
desmembramento da Jugoslávia, da “independência” do Kosovo (inventada para albergar
a grande base de Bolsdteel, a “pequena Guantanamo”, para controlo dos Balcãs) e
das “revoluções laranja” na Ucrânia e na Geórgia. A Rússia continua a fornecer
a Europa de energia, vem diversificando esses canais com ligações directas
através do Báltico e de Murmansk, evitando a Ucrânia; garantiu a utilização dos
seus oleodutos para os hidrocarbonetos cazaques e turcomenos; participa numa
aliança económico-militar – a OCX – que engloba uma enorme massa geográfica,
rica em petróleo e gás, que inclui o dinamismo chinês, os capitais chineses e
russos, o maior exército do mundo e o arsenal nuclear russo;
· As
invasões do Iraque e do Afeganistão estão longe de serem casos de sucesso para
os EUA. No Iraque, a invasão, embora tenha facilitado a entrega da exploração
do petróleo iraquiano às multinacionais ocidentais (1) não garantiu a estabilidade
da região, aumentou as tensões internas, no Iraque, entre curdos, sunitas e
xiitas e o oráculo parece pouco optimista quanto depois da saida do exército
americano e dos seus mercenários. A intervenção no Afeganistão, por seu turno,
não tem produzido impactos economicamente úteis para os seus promotores, se se
excluirem os fornecedores de armas; e a construção de oleodutos através do
território afegão para conduzir o petróleo da Ásia central para o Índico, para
a Índia e o Paquistão, sem passagens por território iraniano é, cada vez mais
uma miragem;
· Mantém-se
a solidez e a estabilidade do Irão que, em vez de isolado, intensifica relações
de colaboração com os seus vizinhos. O Irão vai construir um gazoduto para
abastecer o Paquistão e porventura a Índia (2) e estabeleceu recentemente uma
ligação com o sistema de transporte turcomeno(3). Em paralelo, importa gás
turcomeno para consumo próprio e para abastecimento da Turquia e tornou-se
importador de gás azeri, num jogo de compensações que minimiza o transporte de
um produto homogéneo, promovendo as suas exportações por mar;
·
A
China estabeleceu ligações de abastecimento de gás e petróleo com a Rússia, o
Cazaquistão e o Turcomenistão, por via terrestre e vai abrir-se uma nova
oportunidade com a exportação russa pelo porto de Nakhodka, no Extremo Oriente
russo e da Sakalina que também poderá tornar o Japão menos dependente dos
petroleiros vindos do sul. Por seu turno, o mesmo Turquemenistão, que detém as
quartas maiores reservas mundiais de gás dedicou as suas exportações à Rússia,
à China e ao Irão. Em contrapartida, os EUA dedicam à China a atenção
necessária para qualquer bloqueio naval, mantendo 100000 soldados no Japão e na
Coreia do Sul, a VII Esquadra, Okinawa e Singapura, garantido que está o apoio
de Taiwan, estudando ainda a possibilidade de retornar a Cam Rahn, no Vietnam
que tão más recordações lhes trarão;
·
Finalmente,
o deficit orçamental norte-americano é enorme e redunda num endividamento que,
só perante a China e o Japão, orça os $1,5 biliões, a que se devem somar juros
anuais de $ 250000 M. Para tal contribui devidamente o orçamento militar que é
de $ 1bilião onde sobressaem $ 880000 M para o Pentágono mas, que exclui os programas
militares secretos ($ 70000 M), a ajuda militar ao estrangeiro, nomeadamente ao
Egipto, a Israel e ao Paquistão, a contratação de 225 000 elementos a empresas
de serviços militares, os custos com os veteranos e os $ 75000 M com os 16
serviços de informações. Só as guerras no Iraque e no Afeganistão custarão em
2010 $ 200/250000 M, enquanto o recente reforço de 30000 homens decretado por
Obama para o Afeganistão, constituirá um esforço financeiro superior a todo o
orçamento de defesa de um país como a Alemanha (4).
Um
balanço entre esta síntese de pontos fortes e pontos fracos do Pentágono, da
NATO e da estratégia de domínio norte-americano no mundo, centrado nos aspectos
geopolíticos e militares não é nem nunca seria satisfatório para os seus
promotores. As dificuldades económicas e financeiras dos EUA e dos países
chamados desenvolvidos, a braços com graves problemas de desemprego, incremento
da pobreza, desvalorização do trabalho, deficits e estagnação, aliados à
ausência de credibilidade do sistema político e dos seus mandarins, não
favorecem a resolução dos problemas globais de acordo com as suas messiânicas expectativas.
A
substituição do postulado do choque de civilizações por um outro, mais subtil “choque
de valores” (5), não altera os objectivos de domínio da Humanidade e de
apropriação dos recursos do planeta. Julgavam os ingénuos que a tecla dos
direitos humanos tocada por Reagan tinha ficado enferrujada com os escândalos
de Abu Ghraib, Guantanamo, Kunduz, etc e por isso, soa a falso e ofensivo que os
governos dos EUA e dos seus ajudantes falem ao mundo de valores.
As
dificuldades estratégicas dos EUA, do Pentágono e da NATO não farão recuar –
antes pelo contrário - os seus responsáveis perante o recurso à guerra, à
tortura, à pulverização de cidades e aldeias, ao desalojamento de populações,
ao onerar inaudito dos cidadãos europeus e norte-americanos com os custos e os riscos
inerentes à tal guerra infinita, decretada por Bush, qual animal enraivecido,
perante os fumos das Torres Gêmeas. Somente a luta dos trabalhadores, a sua
interacção e organização contra a guerra, o militarismo e os sistemas
militares-industriais pode travar a deriva guerreira; e isso só pode ser
definido como um objectivo humanitário se enquadrado na luta pela democracia e
pelo extirpar do capitalismo.
2
- O volume dos gastos militares
O
volume dos gastos militares é um indicador elementar mas, bastante esclarecedor
dos ónus que os povos suportam com os respectivos dispositivos militares. O Quadro
I, adiante exposto, contempla o custo dos gastos militares por habitante, em
comparação com a contribuição média de cada cidadão para a formação da riqueza,
para os anos de 1998 e 2008. Essa análise inclui todos os países da NATO, os
países neutrais da Europa e Israel, tendo em conta a total integração deste
último no dispositivo militar-estratégico ocidental.
Quadro I – Gastos per capita com a
defesa e capitação do PIB ($ de 2005)
1998
|
2008
|
Defesa/PIB (%)
|
||||
Defesa
|
PIB
|
Defesa
|
PIB
|
1998
|
2008
|
|
Albânia
|
19
|
3.767
|
62
|
7.160
|
0,51
|
0,87
|
Alemanha
|
499
|
29.074
|
451
|
33.714
|
1,72
|
1,34
|
Áustria
*
|
340
|
29.721
|
336
|
36.037
|
1,14
|
0,93
|
Belgica
|
447
|
28.411
|
415
|
33.605
|
1,57
|
1,23
|
Bulgária
|
65
|
6.319
|
93
|
11.239
|
1,02
|
0,83
|
Canadá
|
369
|
29.902
|
494
|
36.077
|
1,23
|
1,37
|
Chipre
*
|
844
|
21.101
|
486
|
26.453
|
4,00
|
1,84
|
Croácia
|
411
|
11.951
|
204
|
17.520
|
3,44
|
1,16
|
Dinamarca
|
698
|
30.016
|
651
|
34.140
|
2,33
|
1,91
|
Eslováquia
|
138
|
12.538
|
168
|
20.518
|
1,10
|
0,82
|
Eslovénia
|
198
|
17.990
|
337
|
27.188
|
1,10
|
1,24
|
Espanha
|
263
|
23.148
|
332
|
28.313
|
1,13
|
1,17
|
Estonia
|
62
|
9.956
|
273
|
18.882
|
0,62
|
1,45
|
EUA
|
1.162
|
37.238
|
1.771
|
43.671
|
3,12
|
4,05
|
Finlândia
*
|
472
|
25.073
|
527
|
33.596
|
1,88
|
1,57
|
França
|
833
|
26.704
|
827
|
30.624
|
3,12
|
2,70
|
Grã-Bretanha
|
813
|
27.714
|
941
|
34.061
|
2,93
|
2,76
|
Grécia
|
724
|
19.134
|
871
|
27.124
|
3,78
|
3,21
|
Holanda
|
576
|
31.402
|
601
|
38.078
|
1,84
|
1,58
|
Hungria
|
119
|
12.563
|
135
|
17.997
|
0,94
|
0,75
|
Irlanda
*
|
283
|
27.354
|
275
|
39.115
|
1,03
|
0,70
|
Israel
|
1.543
|
21.535
|
1.752
|
25.353
|
7,17
|
6,91
|
Islândia
|
0
|
28.251
|
0
|
36.209
|
0,00
|
0,00
|
Italia
|
535
|
26.360
|
545
|
28.272
|
2,03
|
1,93
|
Letónia
|
23
|
7.607
|
176
|
15.597
|
0,31
|
1,13
|
Lituânia
|
59
|
9.188
|
153
|
17.571
|
0,65
|
0,87
|
Malta *
|
100
|
18.000
|
96
|
22.426
|
0,56
|
0,43
|
Noruega
|
1.010
|
41.979
|
1.026
|
49.072
|
2,41
|
2,09
|
Polónia
|
132
|
10.833
|
195
|
16.440
|
1,22
|
1,18
|
Portugal
|
317
|
19.086
|
355
|
21.194
|
1,66
|
1,67
|
Rep Checa
|
182
|
16.042
|
199
|
23.211
|
1,13
|
0,86
|
Roménia
|
85
|
6.792
|
102
|
11.704
|
1,25
|
0,87
|
Suécia
*
|
672
|
26.599
|
571
|
33.610
|
2,53
|
1,70
|
Turquia
|
225
|
9.702
|
156
|
12.408
|
2,32
|
1,26
|
Crescimento
|
Decrescimento
|
* Paises da
UE não pertencentes à NATO
Fonte: SIPRI - Stockholm International Peace Research
Institute
Sublinhe-se,
em primeiro lugar, que a Islândia é o único destes países sem forças armadas
formais, desde 1859, embora pertença à NATO e mantenha acordos de segurança com
países daquela organização, como os EUA, a Dinamarca e a Noruega, entre outros.
A base de Keflavik esteve na posse dos EUA em 1951-2006 onde estava aquartelado
o Icelandic Defense Force; essa base é agora mantida pela Agência de Defesa
Islandesa.
Os
países onde os gastos militares por habitante são mais elevados – EUA, Israel e
Noruega - são os mesmos nos dois anos considerados. Os EUA, como consequência
do aumento de 52.3% relacionado com a ocupação do Médio Oriente, ultrapassaram em
2008, Israel, no primeiro lugar, apesar de este último ser, em permanência, uma
entidade em guerra.
Outros
casos de grande crescimento da capitação dos gastos militares são os países do Báltico
e do leste europeu, antes integrados no Pacto de Varsóvia e que hoje, rearmam
as suas forças armadas, nomeadamente, substituindo armamento da antiga URSS,
por armas fabricadas nos países ocidentais, no âmbito da sua recente inserção
no quadro da NATO.
Embora
nenhum país tenha reduzido o valor da capitação do PIB – dados de 2009 retirarão
cabimento a esta afirmação como resultado da crise – o volume das despesas
militares por habitante regrediu em onze países. São eles – Alemanha, Áustria,
Bélgica, Chipre, Croácia, Dinamarca, França, Irlanda, Malta, Suécia e Turquia.
Para
tal facto, contribuem distintos elementos justificativos. No Norte da Europa, a
deslocação do eixo de conflitualidade da NATO para sul, para o Mediterrâneo e a
contestação dos activos movimentos pacifistas e anti-militaristas ali
existentes motivaram essa evolução; no caso da Croácia trata-se do fim da
guerra nos Balcãs; na Turquia, as causas revelam-se na redução do tradicional
papel das forças armadas enquanto tutelares do poder, na menor conflitualidade
no Curdistão e na forte presença militar dos EUA que, assim, substituem, parcialmente,
o gasto turco com a defesa; finalmente, no caso de Chipre, estando integrado na
UE e embora não pertença à NATO, sentir-se-á mais seguro, nomeadamente face a
uma ameaça turca que, por sua vez estará mitigada pelo desejo turco de
integração na UE.
A
parcela do produto de cada país destinado à defesa é mais elevada em Israel,
com 7.17% em 1998, decaindo ligeiramente para 6.91% em 2008. Em segundo lugar,
posicionam-se os EUA cuja mobilização de recursos cresceu em 2008, quase um
ponto percentual relativamente a dez anos antes. E, em terceiro lugar,
posiciona-se a Grécia com 3.21% em 2008, o que, legitimamente, coloca a questão
do contributo de continuados e astronómicos gastos militares, para as actuais
dificuldades financeiras do Estado grego.
Registou-se
uma redução do peso dos gastos militares na capitação do PIB em 24 países,
sendo mais notáveis os decréscimos observados na Croácia, em Chipre e na
Turquia, pelas razões já atrás expressas. Desse total de 24 países existem 11
onde o facto é concomitante com a redução do próprio gasto militar por
habitante, independentemente da consideração do PIB. Nos restantes, o peso da
despesa militar no PIB reduz-se, a despeito do aumento, em alguns casos
substancial, da parcela que onera cada cidadão.
Em
nove paises – Albânia, Canadá, Eslovénia, Espanha, Estónia, EUA, Letónia,
Lituânia e Portugal – aumenta, no periodo, o encargo com a defesa no total do
PIB, ainda que marginalmente, no caso dos dois países ibéricos.
Se
nos outros casos, as razões já foram referidas, em Portugal e Espanha, tendo em
conta a ausência de conflitos na sua zona geográfica, tudo indica que se esteja
em periodo de acréscimo de militarização da sociedade, de recuperação do
“prestígio” das forças armadas. De facto, após a queda das ditaduras, ficou a
nu a actuação criminosa das forças armadas peninsulares no apoio ao fascismo e,
no caso português, no envolvimento nas guerras coloniais. Está-se actualmente,
com a consolidação da direita no poder, numa fase de relegitimação das forças
armadas, aproveitando-se o final do serviço militar obrigatório para reafirmar
o seu carácter de casta e a postura mais agressiva do Pentágono, em busca de
aliados firmes e dóceis. Por outro lado, a enorme taxa de desemprego entre os
jovens, cria uma larga base social de recrutamento para esse mercenariato que,
contudo não deixa de estar marcado pela precariedade. No caso da Espanha e,
tendo em conta a extensão da sua costa e águas territoriais no Mediterrâneo, a
grande proximidade física com a África e as fortes relações com o Magreb, a
questão do rearmamento e do reforço dos militares tem, no contexto militarista,
mais justificação do que no periférico Portugal.
Entre
todos os países incluidos, existem seis em que o crescimento da capitação dos
gastos militares é superior à do aumento do PIB por habitante, no periodo
1998/2008:
variação em %
Gastos
militares
|
PIB
|
|
Canadá
|
33.8
|
20.7
|
Eslovénia
|
69.8
|
51.1
|
EUA
|
52.3
|
17.3
|
Letónia
|
654.8
|
105.0
|
Lituânia
|
157.2
|
91.2
|
Portugal
|
11.9
|
11.0
|
Os
gastos militares globais dos EUA são da ordem de 1 bilião de dólares e correspondem a metade da despesa mundial nessa
área; se se juntarem os seus aliados da NATO e o Japão, a participação no total,
desse conjunto aumenta para 75%. Somente as guerras no Iraque e no Afeganistão,
no tempo de Bush, para além do endividamento que as tornou possíveis,
envolveram um custo de $ 25000 a cada
família norte-americana (4)(6).
3
- A dimensão das forças armadas
Nem
sempre se conhecem com rigor os números dos elementos das forças armadas,
havendo várias razões para esse efeito. O primeiro é o sigilo que os Estados
gostam de manter sobre esse tema, bem no cerne do seu ADN, considerado elemento
garante da soberania. Em segundo lugar, há várias concepções que podem ou não
envolver os elementos na reserva, corpos paramilitares, guardas pretorianas dos
regimes, que podem volumes muito significativos. Essas situações colocam várias
reservas às comparações internacionais, avolumadas com as diferenças, por vezes
de vários anos, das datas a que os dados se referem.
A
título de exemplo, no que se refere a elementos paramilitares, cima dos 400 mil
em 2008, registavam-se seis países, no caso do principal – o Irão – com números
impressionantes (7):
1000
Irão
|
11
390
|
Venezuela
|
600
|
China
|
3 969
|
EUA
|
453
|
Índia
|
1 293
|
Egipto
|
405
|
Cruzando
várias fontes de informação (8), construiu-se o quadro II que inclui o número
de militares no activo, na generalidade, em 2008, indicadores como o número de
militares no activo por 1000 habitantes ou, o gasto por cada militar no activo,
no mesmo ano, com a comparação dos elementos relativos aos países da NATO, aos
da UE que não pertencem aquela organização militar e um conjunto de outros
países com forças armadas de grande dimensão.
Quadro II - Número de militares no activo (aprox.
2008)
|
||||
Nº Militares (1000)
|
Nº militares/1000 hab
|
Gasto militar/militar ($ 2005)
|
||
Mundo
(estim)
|
19.669
|
-
|
-
|
|
Albânia
|
10
|
3,1
|
20
|
|
Alemanha
|
285
|
3,4
|
131
|
|
Áustria
|
35
|
4,1
|
81
|
|
Bélgica
|
39
|
3,8
|
110
|
|
Bulgaria
|
39
|
5,1
|
18
|
|
Canadá
|
62
|
1,9
|
257
|
|
Chipre
|
10
|
11,7
|
42
|
|
Croácia
|
20
|
4,4
|
46
|
|
Dinamarca
|
23
|
4,2
|
155
|
|
Eslováquia
|
26
|
4,9
|
35
|
|
Eslovénia
|
9
|
4,5
|
75
|
|
Espanha
|
177
|
4,0
|
83
|
|
Estónia
|
5
|
3,7
|
73
|
|
EUA
|
1.474
|
4,8
|
372
|
|
Finlândia
|
32
|
6,0
|
87
|
|
França
|
225
|
3,5
|
234
|
|
GB
|
195
|
3,2
|
294
|
|
Grécia
|
177
|
15,9
|
55
|
|
Holanda
|
53
|
3,2
|
186
|
|
Hungria
|
33
|
3,3
|
41
|
|
Irlanda
|
10
|
2,4
|
113
|
|
Itália
|
240
|
4,1
|
134
|
|
Letónia
|
6
|
2,4
|
73
|
|
Lituânia
|
14
|
4,0
|
38
|
|
Luxemburgo
|
1
|
1,9
|
352
|
|
Malta
|
2
|
5,3
|
18
|
|
Noruega
|
28
|
5,9
|
175
|
|
Polónia
|
155
|
4,1
|
48
|
|
Portugal
|
45
|
4,2
|
84
|
|
Rep Checa
|
57
|
5,6
|
35
|
|
Roménia
|
90
|
4,2
|
24
|
|
Suécia
|
34
|
3,7
|
154
|
|
Turquia
|
514
|
6,9
|
23
|
|
Brasil
|
287
|
1,5
|
54
|
|
China
|
2.255
|
1,7
|
28
|
|
Coreia do Sul
|
687
|
14,2
|
35
|
|
Egipto
|
450
|
6,0
|
6
|
|
Índia
|
1.325
|
1,1
|
19
|
|
Irão
|
545
|
7,7
|
11
|
|
Israel
|
187
|
27,0
|
65
|
|
Japão
|
239
|
1,9
|
179
|
|
Paquistão
|
650
|
4,0
|
6
|
|
Russia
|
1.245
|
8,7
|
31
|
|
Ucrânia
|
149
|
3,2
|
22
|
|
Vietnam
|
484
|
5,5
|
3
|
|
Restantes (estim)
|
7.042
|
-
|
-
|
Calcula-se
que na totalidade, o número de militares das forças armadas no activo se situe
entre 19/20 milhões de elementos. Nesse total, os quatro países com mais de um
milhão de soldados – China, EUA, Rússia
e Índia – representam perto de um terço (32%) dos efectivos.
Quanto
às forças armadas dos EUA há a destacar que, além da natural presença no seu
próprio território, estão disseminadas por 750 bases militares espalhadas por
cinquenta países. Este aparelho logístico, esta rede integrada e gerida pelo
Pentágono, dota este de um poder estratégico e táctico que é único no mundo e
que torna todos os seres humanos e o ambiente global dependentes da sua
permanente ameaça de destruição.
O
segundo corpo militar mais numeroso da NATO pertence à Turquia, cujo efectivo
apresenta uma dimensão que se situa num mesmo patamar da Coreia do Sul e do
Paquistão (quinto e sexto, respectivamente, na hierarquia mundial) e do Irão,
logo seguidos pelo Vietnam e pelo Egipto.
Nos
restantes países da NATO a dimensão das forças armadas é muito heterogénea, nem
sempre apresentando uma grande proporcionalidade com a população do país. Os
casos mais assombrosos são Israel (aqui equiparado a membro da NATO) e caso único
de verdadeira ordem militar, bem como a Grécia, com um enorme efectivo militar,
cujo volume não parece ter sido posto em causa pelos guardiães dos “mercados”,
muito mais motivados para sacrificar trabalhadores e pobres.
Quando
se avalia o numero de militares por cada 1000 habitantes, para além dos
referidos atrás, Israel e Grécia, sobressaem ainda a Coreia do Sul e Chipre,
todos com mais de 1% da população nas fileiras. Em Israel chegam mesmo a 2.7% o
que, na realidade será mais se se atender a que a população árabe, constitui um
grande segmento populacional, afastado da participação nas forças armadas da
entidade sionista e de uma integral cidadania.
Entre
os países da NATO ou europeus neutrais destacam-se pelos seus elevados ratios
(> 5.0, isto é > 0.5% da população) - Turquia, Finlândia, Noruega,
República Checa, Malta e Bulgária. O mesmo sucedendo a outros, como a Rússia
(herdeira da superpotência URSS), o Irão e o Egipto, bem inseridos no arco de
instabilidade que atravessa o Médio Oriente, no centro da encarniçada disputa
pelo domínio dos combustíveis fósseis.
Entre
os países da NATO ou neutrais da UE as situações de menor peso relativo do
corpo militar, no conjunto da população, registam-se no Canadá e no Luxemburgo
(1.9). Note-se que esses indicadores são mesmo menores em países de grande
população como a Índia (1.1), o Brasil, a China e o Japão.
O
custo unitário de cada militar é particularmente elevado nos EUA, que possuem
as forças militares mais poderosas do planeta, largamente munidas de meios
tecnológicos de fazer a guerra. Nesse capítulo da tecnologia, note-se o papel
que vai sendo atribuido aos “drones”, aviões sem piloto, telecomandados de
terra, por civis contratados pelo Estado norte-americano. Também o Luxemburgo,
Estado minúsculo mas cofre-forte de grande relevância para o sistema
financeiro, apresenta um elevado custo unitário por cada militar.
Num
segundo plano, posicionam-se a Grã-Bretanha e a França, subimperialismos,
ex-potências coloniais e detentoras de armas nucleares. Todos os países mais
desenvolvidos têm um custo elevado por militar superior a $-100, exceptuando a
Áustria e a Finlândia que não são membros da NATO.
Entre
os países com forças armadas acima dos 100 mil efectivos, somente os EUA, a
França, a Grã-Bretanha, a Itália e o Japão têm custos unitários por militar
acima dos $ 100. Por seu turno, fora do quadro da NATO, apenas o Japão, a
Suécia e a Irlanda ultrapassam aquele valor, sublinhando-se que, os dois
últimos são os únicos com menos de dez milhões de habitantes.
Inversamente,
os mais baixos custos por militar observam-se particularmente entre as forças
armadas de grande dimensão e simultaneamente de menor riqueza, indiciando a sua
dificuldade em adquirir os caros equipamentos que estão disponíveis para os
países ricos. Por outro lado, sendo a mão de obra abundante e barata e o
subemprego elevado, é conveniente a manutenção de grandes exércitos para
ocupação de gente. Do ponto de vista estritamente económico, tem mais impacto
no PIB o incentivo ao consumo interno com o pagamento de salários aos
militares, do que importar equipamentos caríssimos (com a saída de divisas) e
fazer aumentar o desemprego nem ganhar competências técnicas. O problema surge
quando existe um conflito aberto que obriga à aquisição desses equipamentos sem
a redução dois efectivos,
Quer
nos países com forças armadas numerosas e baixo índice de incorporação
tecnológica, quer naqueles onde se observa a situação inversa, há sempre uma
casta militar que pode dominar a vida política ou constituir-se como verdadeiro
estado dentro do Estado, como nos casos do Paquistão, de Israel ou dos EUA,
onde a autonomia do Pentágono é tal que impõe ao presidente as suas próprias
escolhas na liderança.
A
dimensão humana de um exército não é determinante numa época em que a
tecnologia aplicada ao armamento é, em regra, objecto de especiais atenções no
capítulo da inovação e para a qual os Estados não regateiam financiamentos. São
conhecidos os casos em que certas inovações tecnológicas começaram por ter, na
base e no objectivo, uma aplicação militar, antes da sua utilização pelo mundo
em geral, sendo a internet o caso mais conhecido. Nesse contexto, a dimensão em
termos humanos de umas forças armadas, dentro de determinadas proporções, pouco
informa sobre o potencial destrutivo, a mobilidade e o grau de prontidão desse
efectivo militar. Como se sabe, o exercito iraquiano, quando da invasão
norte-americana, em 2003, tinha um efectivo humano muito superior ao dos
“aliados” e isso foi manifestamente insuficiente para fazer frente ao poder de
fogo e de uso da tecnologia das hordas do Pentágono.
Se
um efectivo militar pertence a um país desenvolvido, a priori estará munido de
equipamentos sofisticados e caros, com utilizadores bem industriados e com
elevada capacidade técnica para manejar equipamentos complexos. Essa elevada
componente técnica é uma das razões para se irem extinguindo os regimes de
recrutamento baseados no serviço militar obrigatório (SMO), por lapsos de tempo
curtos (até dois anos), insusceptíveis de gerar experiências acumuladas no
manejo desses equipamentos. Aliás, mesmo no tempo do SMO, certas
especialidades, mormente na marinha e na aviação, eram objecto de um
recrutamento específico, com horizontes largos de permanência e por – entre
outras - razões técnicas. Por outro lado, é do interesse dos governos e do
poder capitalista, a existência de uma casta militar estável e fiável que, em
articulação com as polícias proceda à mescla de funções necessária ao controlo
biopolítico da multidão.
Essa
fusão de funções militares e policiais está bem expressa na doutrina da NATO,
com a validação aprazada do seu novo catecismo – Novo Conceito Estratégico –
para Novembro próximo, em Lisboa. Quando se incluem nas preocupações da NATO problemas
de migrações clandestinas, exige-se uma integração com as polícias de
fronteira; quando a organização pretende incluir nos seus objectivos o crime
organizado, o narcotráfego ou a actuação dos “hackers”, obriga-se a exercer
actividades de polícia criminal.
Neste
contexto, a defesa de um retorno ao SMO é uma sementeira de ilusões. Primeiro,
porque a actual forma de domínio biopolítico das sociedades faz da integração
entre polícias e militares uma das questões essenciais para o prolongamento da
vida do capitalismo e a defesa do SMO, tem algo de paralelo, com a criação da
Icaria, no século XIX. Por outro lado, mesmo os exércitos baseados no SMO, só
raras vezes foram protagonistas de intervenções progressistas na vida dos povos;
a estrutura hierárquica e o autoritarismo existente nas fileiras não favorece a
colocação dos soldados ao lado do povo, sem um apoio significativo da
oficialidade. Como se sabe, o 25 de Abril português foi determinado pela baixa
oficialidade, naturalmente, com a adesão entusiástica dos soldados. Em regra,
as transformações sociais profundas passam pelo desmantelamento dos exércitos;
ainda que, lastimavelmente, com a edificação de outros, que se lhe substituem,
com o mesmo espírito e vícios de casta.
Por
outro lado, em contexto de globalização, de fronteiras abertas, de integração
económica e política dos países em grupos geoestratégicos de geometria
variável, do domínio das multinacionais, de aposta deliberada no “mercado
global”, nas exportações, a defesa do mercado interno – a nação - como coutada
defendida por guerreiros devotados e patriotas, acabou. As burguesias nacionais
acham-se desarmadas para a defesa da “coesão nacional” como justificação para as
suas forças armadas, uma vez que o poder, no essencial, cabe a instituições
regionalizadas ou mundializadas.
Nesse
sentido, as forças armadas, como factores dessa coesão nacional já não são
necessárias, subalternizado que está o conceito de pátria perante a integração
regional ou dos mercados, se se preferir. Para as populações, contudo, ainda se
brande a carta nacionalista e uma tradição de defesa da pátria, cada vez mais
descabida e em contradição com a grande interconectividade entre os povos, com
as viagens frequentes, os fluxos migratórios, as trocas de informação na
internet, etc.
Mais
do que nunca é clara a partição social entre uma classe mundial dos
capitalistas, com múltiplas instâncias de coordenação nos campos político,
económico, financeiro… e militar; e a esmagadora maioria da Humanidade que é pretendida
como laboriosa, qualificada e, através do controlo biopolítico global, mansa e
resignada, mesmo quando os níveis de subsistência baixam ao ponto da inclusão
em programas implícitos de genocídio.
O
capitalismo globalizado precisa, portanto, de uma força militar também
globalizada, hierarquizada e hierarquizante para estabelecer a autoridade do
capital perante os desmandos da sua existência – conflitos internacionais,
crises sociais, “terrorismo”, migrações clandestinas, cibercrime, “pirataria”,
problemas ambientais, segurança das vias de comunicação, crime organizado,
narcotráfego e outros negócios afins, defesa da “democracia”, etc. Essa força,
que está em edificação e reforço doutrinário, dos meios disponíveis e de
organização, está também em fase de construção de novas formas de instalação e
actuação a nivel territorial.
Esse
poder militar global precisa de centuriões nas fronteiras e de agentes
regionais e locais, da mesma forma que a existência de um comando distrital da
polícia não dispensa a existência de esquadras de bairro para garantia da lei e
da ordem. Por isso, num plano global, o capitalismo exige a presença de castas
militares localizadas mas, integradas e mobilizáveis no seio de uma NATO
reformulada, às ordens de um poder unificador, o Pentágono; o Novo Conceito
Estratégico é a forma dessa reformulação.
4
- O armamento dos principais paises
Mantém-se
neste capítulo a ausência de dados sistematizados sobre o armamento das forças
armadas, naturalmente, fazendo parte das políticas de sigilo levadas a cabo
pelos Estados. Esse sigilo, de facto, deve dirigir-se aos povos, uma vez que os
serviços secretos fornecerão aos estados-maiores as informações necessárias
sobre os potenciais inimigos e rivais, para efeito de dimensionamento dos seus
recursos humanos, materiais e logísticos, de planeamento operacional e de
aquisições. Convém recordar que é bastante comum, nas aquisições, a corrupção
das altas patentes, a ligação interessada destas aos grandes grupos
fornecedores; e, estes, raramente regateiam essas comissões dada a concorrência
e o elevado valor das encomendas. O episódio que relaciona a Ferrostaal, o
cônsul de Portugal em Munique e os submarinos é ilustrativo… e ainda se não conhecem
muitos dos pormenores e intervenientes.
O
quadro seguinte (Quadro III) evidencia, quantificando, os principais elementos
dos arsenais guerreiros dos principais países do planeta e apurando, em
particular, o poder destrutivo da NATO. A especificação é feita para aviões,
helicópteros, tanques, navios e submarinos (9).
Quadro
III - Meios militares dos principais países
periodo 2001-2008
Aviões
|
Helicópteros
|
Tanques
|
Navios
|
Submarinos
|
|
Alemanha
|
350
|
748
|
5.699
|
130
|
13
|
Canadá
|
399
|
168
|
2.194
|
34
|
4
|
Dinamarca
|
161
|
40
|
nd
|
51
|
4
|
Espanha
|
691
|
311
|
2.869
|
90
|
8
|
EUA
|
18.169
|
4.593
|
29.920
|
1.559
|
75
|
França
|
1.023
|
892
|
8.536
|
134
|
10
|
Grã-Bretanha
|
1.891
|
779
|
5.121
|
139
|
17
|
Grécia
|
847
|
218
|
4.403
|
118
|
8
|
Italia
|
1.594
|
716
|
3.355
|
107
|
7
|
Noruega
|
141
|
66
|
nd
|
45
|
6
|
Polónia
|
807
|
291
|
nd
|
87
|
4
|
Suécia
|
744
|
150
|
540
|
77
|
9
|
Turquia
|
1.199
|
336
|
6.672
|
182
|
13
|
Brasil
|
1.272
|
372
|
1.676
|
89
|
5
|
China
|
1.900
|
491
|
31.300
|
760
|
68
|
Coreia do Sul
|
538
|
502
|
8.325
|
85
|
20
|
Egipto
|
1.230
|
243
|
9.357
|
93
|
4
|
Índia
|
1.007
|
240
|
10.340
|
143
|
18
|
Irão
|
84
|
84
|
5.449
|
65
|
3
|
Israel
|
1.230
|
386
|
14.200
|
18
|
3
|
Japão
|
1.957
|
745
|
2.040
|
147
|
18
|
Paquistão
|
710
|
198
|
3.919
|
33
|
11
|
Russia
|
3.888
|
2.625
|
79.985
|
526
|
61
|
Ucrânia
|
2.451
|
743
|
nd
|
46
|
1
|
NATO
|
27.272
|
9.158
|
68.769
|
2.676
|
169
|
Restantes
|
17.011
|
6.779
|
167.131
|
2.082
|
221
|
Entre
as forças aéreas presentes no quadro a dimensão das flotilhas dos países da
NATO é muito superior à dos restantes países que, para mais não pertencem a um
mesmo bloco militar, nem podem tirar as vantagens da homogeneidade do
equipamento. E, neste campo, essa supremacia numérica é mais elevada do que nos
outros tipos de máquinas de guerra.
A
força aérea dos EUA, isolada, sem a consideração dos outros aliados da NATO é
superior à soma dos outros países considerados, não aderentes à NATO. Essa
superioridade aérea é possível por várias razões. Primeiro, pelo domínio da
tecnologia, mormente detida por três empresas – Boeing, Lockheed-Martin e
Northrop Grumman; depois, pela constante pesquisa e inovação, sob encomenda do
Pentágono, que tem uma imensa autonomia no seio da administração
norte-americana, a qual não lhe regateia verbas orçamentais; pela existência de
uma economia poderosa mantida pela facilidade de recurso ao crédito (emissão de
dólares) que mais nenhum país detém; finalmente, pela determinação em manter
uma hegemonia militar a nível mundial que obriga os EUA a considerar o resto do
planeta como existentes para a satisfação “dos interesses nacionais dos EUA”,
nomeadamente no campo energético.
A
força aérea dos EUA, pela sua dimensão, a sua mobilidade, os vários pontos de
apoio espalhados pelo mundo é o principal instrumento da hegemonia
norte-americana a nível planetário.
Nos
outros lugares do pódio no que respeita à aviação situam-se a Rússia e a
Ucrânia, embora no caso desta última, o equipamento deva ser antigo e as
dificuldades económicas do país não permitirem a sua renovação.
Num
mesmo patamar quantitativo, encontram-se o Japão, a China, a Grã-Bretanha e a
Itália, havendo ainda mais seis Estados com mais de mil aviões de guerra. A
frota israelita, enorme para a sua dimensão territorial e humana revela o seu
papel de fortaleza, de ameaça permanente a todos os povos do Médio Oriente e do
Mediterrâneo Oriental; e que lhe permite ter bombardeado sem punição, nos anos
80, a central nuclear iraquiana de Osirak e ansiar pela autorização dos EUA
para fazer o mesmo no Irão, com consequências desastrosas para a região e nos
preços da energia… o que não conviria em tempos de recessão.
No
que se refere aos helicópteros, a superioridade dos países da NATO é também
elevada, embora menor do que nos aviões de combate. Sendo o helicóptero uma
arma táctica, desempenha uma função mais localizada e, portanto, não é um
elemento de domínio estratégico.
Note-se
que os EUA, detendo de longe o principal efectivo de helicópteros, detêm nos
aviões uma superioridade que, em relação à Rússia é de 4.7/1, a qual se reduz
para 1.8/1 nos helicópteros. Num patamar bem mais baixo do que o das
superpotências militares, com 700/800 aparelhos, destacam-se a Grã-Bretanha, a
Alemanha, o Japão, a Ucrânia e a Itália. Provavelmente, a posição da Ucrânia
tenderá a baixar, na hierarquia das máquinas de guerra, à medida que se vá
diluindo a herança soviética.
É
bem patente nos dados apresentados, relativos a 2006, a relevância dos meios aéreos
do Irão, bem longe do que sobressai da propaganda norte-americana que, perante
os factos, revela que a “ameaça” iraniana dá pelo nome de recursos energéticos,
há mais de trinta anos cobiçados pelo Pentágono.
Já
no que se refere aos tanques, a NATO não dispõe da superioridade observada
atrás, detendo com os restantes países uma relação de 4/10, devendo-se isso aos
grandes parques que, particularmente, a Rússia e a China detêm. Estes, tratando-se
de países com carácter continental, com longas e remotas fronteiras, e algumas
disputas fronteiriças (caso da China com a Índia e a questão de Taiwan),
supostamente, tenderão a exigir um elemento dissuassor adequado para os seus
exércitos.
Também
no âmbito da NATO, os EUA deixam de ter a maioria absoluta destes veículos mas,
mesmo assim, com um volume superior à soma dos maiores detentores seguintes –
França, Turquia, Alemanha e Grã-Bretanha.
Uma
vez mais, Israel surge em grande destaque, situando-se no quarto posto da
hierarquia mundial, muito acima dos restantes países e, porventura apresentando
a maior densidade de tanques por quilómetro quadrado.
No
quadro do latente conflito regional entre a Índia e o Paquistão, já
protagonistas de várias guerras, a superioridade indiana é patente.
A
marinha de guerra, tal como a aviação, constitui um outro instrumento essencial
de domínio global, tendo em conta a sua mobilidade e capacidade de destruição.
E aí, de novo a NATO surge com uma evidente superioridade relativamente ao
conjunto dos restantes países do mundo, embora o seu papel seja reduzido no
apoio às tentativas de implantação estratégica dos EUA na Ásia Central; ao
contrário da aviação que pode operar sem limitações geográficas, em terra e no
mar.
A
superioridade naval da NATO, não tendo em consideração a diversidade da
composição e a autonomia das frotas, pode aferir-se a partir do facto de que o
número de navios da organização superar os pertencentes ao resto do mundo, em
29%.
Por
outro lado, os meios navais dos EUA suplantam de modo esmagador os detidos por
qualquer outro país e mesmo, quer a soma dos navios russos e chineses, ou o
conjunto de todos os aliados da NATO; os EUA detêm 58% das marinhas de guerra
do total dos principais países da NATO.
Note-se
que marinhas de guerra, historicamente importantes e até dominadoras – caso da Grã-Bretanha,
da Alemanha, da França e do Japão – não representam, cada uma delas 9% dos
efectivos norte-americanos.
Convirá
ainda sublinhar, neste contexto, a enorme concentração de meios navais no
Mediterrâneo/Egeu pertencentes à Turquia e à Grécia. Os turcos detêm a quarta
maior frota de guerra mundial e a Grécia a décima primeira, estando, decerto,
luxos desta natureza presentes nas dificuldades financeiras deste país. Dentro
da lógica prevalecente no jogo de espelhos constituido pelo BCE, pelo FMI, pela
Comissão Europeia e os obscuros “mercados”, para o combate ao deficit grego,
prefere-se reduzir salários e criminalizar os funcionários públicos.
Acredita-se
que os almirantes lusos se devem roer de inveja face aos seus congéneres gregos
e aguardam ansiosos os submarinos que os farão ultrapassar o patamar de guardas
costeiros onde o seu desempenho não tem constituido um caso de sucesso. Ressalva-se
o seu valente desempenho no combate às pequenas lanchas, com meia dúzia de homens
(“piratas” somalis) para defesa do saque do atum por pesqueiros espanhóis,
entre outros. Recorde-se que o almirantado lusitano não frequentava águas do
Índico desde a gloriosa fuga, dentro do porto de Pangim, do “Afonso de
Albuquerque” - entre navios mercantes ancorados, até encalhar em terra – perante
a marinha indiana, no fim da colonização portuguesa de Goa (1961).
Finalmente,
o último vector de máquinas de guerra aqui considerado é o dos submarinos.
Aqui, a supremacia da NATO é relativa, uma vez que o conjunto das outras frotas
supera o total dos submersíveis pertencentes aos países da organização.
Os
EUA detêm o maior efectivo de submarinos, seguidos, relativamente de perto,
pela China e pela Rússia. No contexto da NATO, os EUA têm apenas 44% dos submersíveis.
Todos
os outros Estados possuem 20 ou menos embarcações, com algum destaque para a
Coreia do Sul, a Índia, o Japão e a Grã-Bretanha. Uma vez mais se destaca o
relevo da Grécia, com um número de unidades pouco consonante com a dimensão
económica e populacional do país e cuja integridade não é disputada por nenhum
outro Estado.
5
- Empresas produtoras de armamento
O
Quadro IV hierarquiza as dez principais empresas mundiais no âmbito do
armamento, de acordo com a dimensão das suas vendas nesse sector; e evidencia
também, o grau de dependência relativamente às encomendas militares, a
rendabilidade do negócio, o volume do emprego e os tipos de equipamentos que
produzem.
Quadro – IV - As principais empresas
produtoras de armamento (2007)*
Empresa
|
País
|
Vendas de armas
|
Taxa de lucro (%)
|
Emprego
|
Área de produção
|
||
$ milhões
|
% no total da empresa
|
||||||
1
|
Boeing
|
EUA
|
30.480
|
46
|
13,4
|
159.300
|
1,3,4,9
|
2
|
BAE Systems
|
Grã-Bretanha
|
29.850
|
95
|
6,0
|
97.500
|
1,2,3,4,5,6,8
|
3
|
Lockheed Martin
|
EUA
|
29.400
|
70
|
10,3
|
140.000
|
1,3,4,9
|
4
|
Northrop Grumman
|
EUA
|
24.600
|
77
|
7,3
|
122.000
|
1,3,4,7,8,9
|
5
|
General Dynamics
|
EUA
|
21.520
|
79
|
9,7
|
83.500
|
2,3,5,7
|
6
|
Raytheon
|
EUA
|
19.540
|
92
|
7,5
|
72.100
|
3,4
|
7
|
BAE Systems **
|
EUA
|
14.910
|
100
|
9,9
|
51.300
|
2,3,5,6
|
8
|
EADS
|
UE
|
13.100
|
24
|
(4,7)
|
116.490
|
1,3,4,9
|
9
|
L-3 Communications
|
EUA
|
11.240
|
81
|
6,7
|
64.600
|
3,7
|
10
|
Finmeccanica
|
Itália
|
9.850
|
54
|
7,2
|
60.750
|
1,2,3,4,5,6
|
11
|
Thales
|
França
|
9.350
|
56
|
13,0
|
61.200
|
3,4,6
|
* Exclui China ** Subsidiária da BAE Systems
(Grã-Bretanha) Fonte: SIPRI
1 – Aviões 4 – Mísseis 7
- Serviços
2 – Artilharia 5 - Veículos militares 8 - Navios
3 – Electronica 6 - Pequenas armas e munições 9 - Aerospacial
Como
se pode verificar, os EUA detêm um grande domínio entre as principais empresas
produtoras. A procura de uma posição hegemónica no planeta conduz à manutenção
de umas forças armadas poderosíssimas, em regra envolvidas directamente em
guerras ou, promovendo-as através de terceiros. Esse facto obriga à existência
de um sector doméstico de armamento, garantidamente viabilizado economicamente
pelas encomendas do Pentágono, de países subsidiários ou de gangs partidários
no poder; e, para o efeito, é alimentada uma vasta rede de recolha de
informações, de angariação de agentes, de promoção de actividades corruptas de
“procurement” ou “lobbying” no sentido da venda de equipamentos ao exterior e
assim garantir a rendabilidade dos capitais investidos. Tudo isto, como exemplo
típico do que é o capitalismo real, em nada semelhante ao lirismo do mercado
livre, cantado pelos menetréis do neoliberalismo.
O
volume de vendas, muito próximo, entre as três primeiras empresas, distancia-se
das distantes, apresentando-se a última empresa da lista incluida no Quadro IV,
com menos de um terço da facturação dos primeiros: o que revela um elevado grau
de concentração do sector a nível mundial.
Todas
as empresas cimeiras têm um elevado número de trabalhadores e uma taxa de lucro
bastante aceitável. Como se trata de encomendas públicas, em grande parte
provenientes dos próprios países em que estão inseridas, a pressão para a baixa
de preços não é a que se verifica em outros sectores de actividade. Os Estados
sempre foram menos exigentes nos preços que pagam a empresas dos seus
respectivos complexos militares-industriais do que com os trabalhadores que
nelas trabalham.
Quanto
à diversidade da produção, a mais abrangente é a inglesa BAE Systems, com mais
uma valência que a norte–americana Northrop Grumman ou a italiana Finmeccanica.
Por seu turno, a Raytheon e a L-3 Communications, ambas dos EUA, têm uma
actividade concentrada em apenas dois segmentos.
Na
lista divulgada pelo SIPRI (10), constam 117 empresas, cujo agrupamento por
nacionalidade produz o seguinte resultado:
Alemanha
|
5
|
Israel
|
3
|
Austrália
|
2
|
Itália
|
9
|
Canadá
|
1
|
Japão
|
4
|
Coreia do Sul
|
6
|
Noruega
|
1
|
Espanha
|
4
|
Rússia
|
7
|
EUA
|
48
|
Singapura
|
1
|
Finlândia
|
1
|
Suécia
|
1
|
França
|
8
|
Suiça
|
1
|
Grã-Bretanha
|
11
|
UE
|
1
|
Índia
|
3
|
Total
|
117
|
Nesse
total, 75% estão localizadas em países da NATO e, entre estes, os EUA
contribuem com 41%, a que se seguem, a grande distância a Grã-Bretanha, a
Itália e a França. O domínio mundial dos EUA na produção de armamentos
mantém-se muito marcado, mesmo quando se alarga a listagem a empresas com um
volume de vendas na ordem dos $ 500 mil, em 2007.
Em
Portugal também existe um conjunto de empresas vocacionadas para, pelo menos
parcialmente, exercerem actividade na área da defesa e que se encontram-se englobadas numa sociedade
holding denominada Empordef – Empresa Portuguesa de Defesa, SGPS, SA. Esta
empresa, com um capital social de € 141.9 M tem prejuizos acumulados de € 66.2
M, em 2008.
As
suas participadas constam do seguinte Quadro V (11):
Quadro V
2008
participação (%)
|
Actividade
|
Vendas (M €)
|
Resultados liquidos do ano(M €)
|
|
Arsenal do Alfeite
|
100
|
reparação naval
|
nd
|
nd
|
Estal. Nav. Viana Castelo
|
100
|
construção naval
|
129,6
|
(12,100)
|
Navalrocha
|
45
|
reparação naval
|
6,2
|
0,700
|
IDD
|
100
|
desmilitarização de materiais de defesa
|
2,1
|
0,25
|
OGMA
|
35
|
manutenção e reparação de aviões
|
141,5
|
5,6
|
Edisoft
|
30
|
software
|
6,1
|
0,300
|
EID
|
31,8
|
sistemas de comunicação
|
19,5
|
1,100
|
ETI
|
100
|
software de simulação
|
1,9
|
(0,170)
|
Portugal Space
|
83,75
|
tecnologia espacial
|
0
|
(0,010)
|
Defloc
|
81
|
locação
|
15,0
|
(0,050)
|
Defaerloc
|
100
|
locação de aviões
|
0
|
0,000
|
OGMA Imobiliária
|
100
|
imobiliária
|
0
|
(1,350)
|
Ribeira d'Atalaia
|
56,58
|
construção civil
|
0
|
(0,700)
|
Enquanto
sector de defesa, este conjunto de empresas apresenta várias características
que o debilitam. Algumas das empresas relevantes estão dominadas por interesses
privados (e até estrangeiros como no caso da OGMA) que dificilmente se
integrarão numa lógica dominada por interesses militares portugueses. Só de
modo muito episódico poderão ser produzidos equipamentos militares, não
passando algumas empresas de actividades de apoio ou de prestação de serviços.
Por outro lado, engloba empresas secundárias num complexo militar, nomeadamente
as locadoras e as da área imobiliária ou de construção. Finalmente, poucas
valias têm oferecido em fórmulas de contrapartidas na aquisição de equipamentos
militares no estrangeiro.
Neste
contexto, não é estranho que nas vendas, as de carácter militar apenas
representem cerca de 1/3 da facturação global e que a exportação, neste
contexto, participe apenas com 54.5%, em 2008.
Facturação em 2008
|
||
M €
|
%
|
|
Militar
|
98,8
|
32,1
|
nacional
|
45,0
|
45,5
|
exportação
|
53,8
|
54,5
|
Civil
|
208,9
|
67,9
|
nacional
|
43,9
|
21,0
|
exportação
|
165,1
|
79,0
|
Total
|
307,7
|
100,0
|
nacional
|
88,9
|
28,9
|
exportação
|
218,9
|
71,1
|
E,
para finalizar, torna-se compreensível que Portugal não tenha uma só empresa na
lista das 117 maiores empresas da área militar e que, portanto seja um
importador líquido de equipamentos, como adiante se verá.
6
- Países vendedores de armamento
Segundo
o SIPRI, as exportações de armamento acumuladas nos vinte anos que terminaram
em 2009 corresponderam a $ 468199 M, a preços constantes de 1990, numa média
anual de $ 23410 M e que corresponde a cerca de $78 por ser humano actualmente existente.
Poderá
parecer irrisório esse custo para a Humanidade. Porém, convirá sublinhar que se
trata de um cômputo que avalia apenas as transações internacionais dos vários componentes
dos arsenais dos países, não considerando, portanto, a produção que se destina
às forças armadas dos próprios paises produtores. De facto, se os países
pobres, desprovidos de relevantes fábricas de armamento, recorrem
essencialmente à importação para equipar minimamente os seus muitos e mal pagos
soldados, o mesmo não se passa com os países ricos e poderosos que, têm os
maiores orçamentos militares, as grandes fábricas de equipamentos sofisticados,
como também apresentam forças armadas munidas com alta tecnologia e quadros bem
pagos.
Assim,
uma enorme proporção da produção de armamento dos países produtores não é
objecto de inclusão no comércio internacional, porquanto é absorvida pelos suas
forças armadas domésticas, que contribuem largamente para a sua viabilidade
económica. Por outro lado, serão consideradas nos valores das transações
internacionais, as vendas de equipamentos em segunda mão, que não são
protagonizadas pelos fabricantes mas, antes objecto de negócios envolvendo
componentes financeiras e políticas nem sempre claros. Para actualizarem e
modernizarem as suas forças armadas, os Estados procuram, ao procederem à
encomenda de novos equipamentos, colocar os meios obsoletos ao dispor de países
com menos suporte financeiro ou interesse em se posicionarem na vanguarda das
tecnologias existentes.
Poderá,
contudo e para se aquilatar a distância que vai entre a produção mundial de
armas e a exportação de armamento, avaliar-se a fatia que é absorvida pelos
próprios países produtores. Um exercício aproximativo, dadas as diversas
unidades de medida, consegue-se comparando o comércio de armamento em 2007 - $
25443 M (preços de 1990) com os $ 213 840 M das vendas das onze maiores
aglomerados referidos acima (Quadro V) em 2007 (preços correntes).
Neste
campo podem-se fazer algumas comparações interessantes com os $ 213 840 M
daquelas vendas:
- PIB em 2007: da Tailândia - $ 245384 M (população 63.9 M); da Venezuela - $ 233450 M (população 27.7 M); de Portugal - $ 219499 (população 10.5 M)
- Sensívelmente, aquele valor de vendas de armas teria permitido duplicar o rendimento dos 320 M de habitantes de 25 países da África oriental e central cujo PIB conjunto foi $ 244032 M em 200
O
imediato periodo que se seguiu ao final da guerra fria e o subsequente
desmembramento da URSS trouxe um periodo de redução das transacções
internacionais de equipamentos, com a geração de fundas preocupações entre os
fabricantes de armamento e os estados-maiores, por motivos diferentes mas,
coincidentes quanto à forma de superar essa crise da procura.
Os
produtores de armas queriam, naturalmente que houvesse mais guerras e tensões
para manter activas as suas linhas de produção e cheios os bolsos dos seus
accionistas. Os generais e almirantes, para justificar as suas profícuas
existências precisavam de ser criativos para justificar o rearmamento junto dos
governos e da população.
Essa
criatividade é bem patente quando a NATO, depois de uma primeira fase de
confusão, perante a desaparição do inimigo que justificava a sua existência,
inventou uma vasta panóplia de ameaças, umas mais difusas ou etéreas e outras,
francamente perigosas, pois vieram a conduzir a teatros reais de guerra - sem
figurantes, como nas tradicionais manobras - com destruição de vidas e bens,
num contexto geograficamente alargado (6).
Essa
falta de concretização das ameaças e dos inimigos não resulta da falta de massa
cinzenta dos militares e dos seus consultores mas, de um propósito deliberado
de deixar vago o campo de aplicação das intervenções militares, contrariamente
ao que sucedia no tempo da guerra fria, em que o espaço e os motivos da guerra
eram calculados ao milímetro.
As
compras de armamento pelos países obedecem a planeamentos efectuados a médio
prazo, sobretudo quando se trata de aquisições de equipamentos novos, em que é
preciso considerar as disponibilidades das linhas de montagem dos fabricantes,
assegurar financiamentos e prazos de pagamento . E cada país tem os seus
próprios planos e calendários, pelo que a soma das transações internacionais
têm variações que não se justapõem exactamente aos periodos de crises e guerras
ou ausência delas. Por outro lado, os prazos de validade dos equipamentos
militares são limitados, como acontece com qualquer outro equipamento, mesmo os
socialmente úteis.
Depois
da quebra observada no gráfico seguinte, para o primeiro lustro dos anos 90, 1997/98
é um periodo de recrudescimento com responsabilidades repartidas por vários
compradores – Grécia, Israel, Japão, Malásia, Arábia Saudita, e Turquia, casos
em que o principal fornecedor foram os EUA; a Índia, abastecida pela Rússia; e ainda
Taiwan, pelos EUA e pela França.
O
periodo 2000/2005 mostra-se relativamente pouco activo no que se refere às
transações internacionais de armamento. E isso, a despeito do medo inculcado na
multidão face à ameaça terrorista após o 11 de Setembro e as invasões
norte-americanas e seus sequazes, do Afeganistão e do Iraque.
Em 2006/2007 assiste-se a um novo aumento das compras de armamento, sendo esse incremento resultante de um naipe de países compradores e fornecedores mais alargado do que cerca de dez anos antes. Entre os fornecidos pelos EUA salienta-se a Coreia do Sul, o Canadá, o Kuwait e o Japão; os clientes da Rússia são a Índia e a Argélia; a Holanda abasteceu a Noruega, o Chile e a Alemanha; e a Alemanha procedeu a grandes vendas à Itália, posicionando-se como grande fornecedor da Grécia (em parceria com a França) e da Malásia aqui, juntamente com a Rússia.
A
distribuição das vendas de armamento no periodo 1990/2009 por grandes grupos de
fornecedores apresenta-se de acordo com o gráfico que abaixo se segue.
Para
todo o periodo considerado (1990/2009), em resumo, os países da NATO procedem a
cerca de 2/3 das vendas mundiais de armamento, contra 21.2% do conjunto
China-Rússia-Ucrânia, enquanto os paises neutros da Europa (Suécia e Suiça) se
quedam pelos 2.4% e o resto do mundo em 9.3%.
Nos
dois primeiros anos utilizados existe um problema de classificação, uma vez que
não se conhecendo dados para a Rússia e a Ucrânia, não é possível separá-los
dos restantes países do mundo, o que, envieza ligeiramente o valor acumulado
para as duas décadas.
Com
a ressalva anterior, na década de 90, os países da NATO (onde se inclui Israel,
por motivos já referidos) ultrapassam sempre os 70% do total das vendas,
chegando mesmo a 84.6% em 2008, patamares que nunca mais foram atingidos.
O
triângulo China-Rússia-Ucrânia estabelece, no periodo 1999/2004, uma
consolidação da sua posição num patamar bem mais elevado que anteriormente e
que chega aos 37.6% da procura mundial, em 2001, parecendo vir a estabilizar
para quotas de mercado entre 25 e 30%.
No
que se refere aos países da UE que são da NATO, observa-se que no periodo
1994/2000 o seu peso no total das vendas de armamento cifrou-se um pouco acima
de 1/4 do total e, nos últimos cinco anos mantém-se com uma quota
tendencialmente acima dos 30% atingindo 35.1% em 2007.
Quanto
aos países neutros da Europa, mantêm uma posição firme que subiu, claramente, a
partir de 1999, chegando ao máximo de 5.4% em 2001.
Em
suma, estas tendências mostram uma repartição relativamente igualitária entre a
UE, o binómio EUA-Israel e o conjunto China-Rússia-Ucrânia.
Entre
os principais países europeus, verifica-se uma tendência para o crescimento da
quota de mercado de todos eles, particularmente no último lustro, com a
excepção da Grã-Bretanha.
Quota média por periodo (%)
1990/1994
|
1995/1999
|
2000/2004
|
2005/2009
|
1990/2009
|
|
Alemanha
|
7,6
|
6,2
|
6,5
|
10,6
|
7,7
|
Espanha
|
0,5
|
0,8
|
0,4
|
2,5
|
1,1
|
França
|
3,9
|
8,4
|
7,4
|
8,0
|
6,9
|
GB
|
5,6
|
6,5
|
5,8
|
4,1
|
5,5
|
Holanda
|
1,8
|
1,9
|
1,4
|
3,6
|
2,2
|
Itália
|
1,0
|
1,6
|
1,4
|
2,6
|
1,6
|
Total
|
20,4
|
25,3
|
22,9
|
31,4
|
25,0
|
Os
EUA, abarcando quase metade das vendas mundiais de armamento na década de 90,
recuam para menos de 1/3 na primeira década do século XXI. Isto sucede,
precisamente, quando após o bombardeamento da Jugoslávia, os EUA acentuam a sua
crispação, as suas pretensões a uma hegemonia absoluta e marcam de acções
guerreiras a sua intervenção, com o tenebroso “diktat” vomitado por G W Bush
“Quem não estiver conosco, está com o terrorismo”, bem dentro do maniqueismo
típico dos fundamentalistas cristãos. Na realidade, os desejos de domínio
planetário dos EUA esbarram, para além das resistências mais explícitas ou mais
surdas dos povos e dos Estados, com uma fragilidade económica evidente que se
manifesta, neste caso concreto, na perda de importância relativa no comércio de
armamento.
Quota média por
periodo (%)
1990/1994
|
1995/1999
|
2000/2004
|
2005/2009
|
1990/2009
|
49,2
|
49,5
|
32,1
|
29,8
|
40,9
|
Contudo,
a grande valia dos EUA, no contexto mundial, no contexto económico é
essencialmente, a capacidade de emissão ilimitada de títulos (moeda e dívida
pública), transferindo para os seus credores a responsabilidade pela sua
potencial insolvência. Em termos da produção de bens e serviços,
estratégicamente e para além dos vectores ligados ao complexo militar (aviação,
comunicações, software…), são de nomear, a produção cinematográfica e de
conteúdos (com o papel ideológico inerente) e a produção (altamente subsidiada)
de cereais.
No
âmbito do conjunto China-Rússia-Ucrânia observa-se, no periodo observado – do
qual se excluiu o periodo 1990/94 por razões já expostas – uma estabilização
dos pesos relativos da China e da Ucrânia, com representatividades globais
modestas e evidenciando-se a Rússia, como a segunda potência exportadora
mundial, apesar da quebra na última metade da última década.
Quota
média por periodo (%)
1995/1999
|
2000/2004
|
2005/2009
|
1990/2009
|
|
China
|
2,4
|
2,3
|
2,4
|
2,8
|
Russia
|
13,3
|
28,7
|
23,6
|
16,8
|
Ucrania
|
1,9
|
1,9
|
1,8
|
1,5
|
total
|
17,6
|
33,0
|
27,7
|
21,2
|
Numa
referência a Portugal, as exportações do país, reportadas na base de dados do
SIPRI situam-se apenas em 2008 e 2009 e computam-se em $ 87 M e $ 40 M (preços
de 1990), respectivamente (0.38% e 0.18% do comércio mundial). Recorda-se que,
no relatório da Empordef, atrás referido, as exportações militares em 2008 se
cifram em € 53.8 M, onde se incluirão, porventura, exportações de serviços, que
não estão contemplados nos dados coligidos neste capítulo.
As
exportações portuguesas de armamento em 2008 destinaram-se ao Uruguai e ao
Chile e, em 2009, à Bélgica.
7
– Vendedores por tipo de armamento
Viu-se
no ponto anterior a distribuição das vendas de armamento por grupos de países,
procedendo-se agora à sua avaliação por tipo de equipamentos.
A
preponderância do conjunto dos países da NATO (onde se inclui Israel)
observa-se em todos os segmentos de equipamentos, numa média global que
corresponde a cerca de 2/3 das vendas mundiais. Abaixo daquele patamar somente
se verifica o caso dos tanques (54.9%), sendo muito superior a supremacia no
que se refere ao fornecimento de satélites e “outros”: quanto a máquinas e
sensores, o peso das vendas dos países da NATO situa-se em cerca 3/4 do total
mundial.
No
caso dos aviões, o binómio EUA-Israel, nomeadamente os EUA detêm a maioria das
vendas mundiais, seguindo-se o conjunto China-Rússia-Ucrânia a grande
distância, sendo modesta a participação dos países europeus da NATO.
Quanto
aos sistemas antiaéreos e tanques a participação da NATO-Europa e da
China-Rússia-Ucrânia aproxima-se de 1/4 das vendas mundiais, atrás da posição
de EUA-Israel, mais baixa no contexto dos tanques, ainda que em ambos os casos
detenham a maior fatia do mercado. No que se refere aos tanques, observa-se a
maior participação dos restantes países (18.2%).
Nas
vendas de artilharia, a posição dominante pertence à NATO-Europa, seguida de
muito perto pela participação dos EUA-Israel. Os restantes países têm um peso
superior ao do conjunto China-Rússia-Ucrânia.
No
caso das máquinas, o predomínio dos EUA-Israel é elevado, ocupando a
NATO-Europa que responde por 1/3 das vendas, enquanto o conjunto China-Rússia-Ucrânia
e os restantes têm pesos aproximados.
No
capítulo dos mísseis, de novo surge o domínio dos EUA-Israel, com a
China-Rússia-Ucrânia a ocupar perto de 1/4 do total, muito acima da posição da
NATO-Europa que, pelos dados do SIPRI, é o único vendedor de satélites.
Nos
“outros equipamentos” a parcela dos países da NATO é muito grande, como aliás,
nos sensores, onde é notória a relevância dos países neutrais da Europa, a Suécia
e a Suiça.
Quanto
à venda de navios de guerra, a NATO-Europa domina as vendas mundiais com 55.7%
do total no conjunto das duas décadas, assinalando-se o terceiro lugar dos
EUA-Israel, atrás da China-Rússia-Ucrânia.
O
perfil exportador de cada grupo de países, de acordo com o tipo de equipamentos
militares, consolidado nas últimas duas décadas, apresenta diferenças claras,
como se pode observar no quadro seguinte.
(%)
NATO-Europa
|
EUA-Israel
|
Paises
neutrais - Europa
|
China-Rússia-Ucrânia
|
Restantes
|
Mundo
|
|
Aviões
|
26,6
|
55,6
|
24,6
|
49,3
|
40,7
|
44,9
|
Sistemas anti-aéreos
|
3,7
|
3,6
|
7,2
|
4,3
|
0,7
|
3,6
|
Tanques
|
10,9
|
9,2
|
11,7
|
14,0
|
23,6
|
12,1
|
Artilharia
|
2,7
|
1,5
|
1,7
|
1,2
|
3,3
|
1,9
|
Máquinas
|
3,4
|
2,7
|
0,4
|
1,4
|
2,8
|
2,6
|
Mísseis
|
9,8
|
15,8
|
9,0
|
15,3
|
12,8
|
13,8
|
Outros
|
0,7
|
0,6
|
0,0
|
0,0
|
0,7
|
0,5
|
Satélites
|
0,0
|
0,0
|
0,0
|
0,0
|
0,0
|
0,0
|
Sensores
|
7,4
|
4,9
|
28,3
|
1,8
|
1,5
|
5,1
|
Navios
|
34,8
|
6,0
|
17,2
|
12,6
|
14,0
|
15,6
|
Fonte: SIPRI - Stockholm International Peace Research
Institute
A
exportação a nível mundial é dominada
pelo elevado valor dos aviões, seguidos num mesmo patamar pelos navios, os
mísseis e os tanques.
No
que concerne aos países europeus da NATO, os dois principais vectores são as
vendas de navios e aviões. No âmbito de cada um dos países, há diferenças
assinaláveis de especalização; na Alemanha os navios e os tanques têm um grande
predomínio, a Espanha reparte as suas exportações por navios e aviões, na
França e na Grã-Bretanha preponderam as vendas de aviões e navios, a Holanda centra-se
em navios e sensores enquanto a Itália fornece particularmente, navios, aviões
e sensores.
Os
EUA exportam essencialmente aviões, seguindo-se a grande distância a venda de
mísseis e, por seu turno, Israel centra as suas vendas em mísseis e sensores.
Entre
os países da Europa não integrantes da NATO – Suécia e Suiça - existem
diferenças nítidas. A Suécia tem um perfil variado das suas exportações de
armamento, com predomínio dos navios mas, com grande relevo para sensores,
aviões, mísseis e tanques. A Suiça, pelo seu lado, concentra-se na venda de
sensores e aviões.
O
perfil exportador do conjunto China-Rússia-Ucrânia é muito semelhante ao dos
EUA mas, com um relevo um pouco inferior no caso dos aviões, compensado pela
maior relevância das vendas de navios e tanques. No caso da Rússia, o perfil
exportador é ainda mais próximo do dos EUA, com maior afastamento quanto a
navios, pouco representados nas exportações norte-americanas. A China centra as
suas vendas ao exterior em aviões e navios, enquanto a Ucrânia baseia as suas
exportações em aviões e tanques.
Para
os restantes países do mundo, o maior valor exportado provém das vendas de
aviões e tanques.
Finalmente,
no caso português, as exportações nas últimas duas décadas - $ 128 M (valores
de 1990) – sem qualquer relevância no contexto global, repartem-se quase igualmente entre aviões e
navios. Note-se que no que se refere ao que jocosamente se poderá chamar de
sector de defesa português, as competências técnicas estão concentradas na OGMA
e nos estaleiros (EN Viana do Castelo e Navalrocha).
8
- Países compradores de armamento
Novamente
segundo os dados do SIPRI, para o periodo 2005/2009, o comércio mundial de
armamento cifrou-se em $ 115934 M a preços constantes de 1990.
Com
importações superiores a $ 100 M, apuraram-se 65 países que representam 96.3%
do valor global referido no parágrafo anterior. Aqueles que importaram mais de
$ 3000 M são apenas 16, absorvem 53.2% do total mundial e são os indicados no
gráfico seguinte.
Os
dois principais importadores – China e Índia – detêm em conjunto perto de 40%
da população mundial, e não detêm empresas de armamento com tecnologia
suficiente para prescindirem de tão elevado volume de importações. A Índia está
representada na lista (10) com três empresas – Hindustan Aeronautics (43ª da
lista) com $ 1670 M de facturação em 2007, a India Ordnance Factories (50ª) e a
Bharat Electronics (63ª) – não estando a China incluida na elaboração da lista
do SIPRI.
A
China vai-se assumindo como principal potência exportadora mundial e como o
mais importante Estado do Oriente, em concorrência com o Japão e em tensão
geoestratégica com os EUA. A China mantém áreas de potencial conflito com
Taiwan (que aliás é território chinês) e que funciona como porta-aviões dos EUA;
com os países ribeirinhos do mar da China do Sul, pelo controlo das ilhas
Spratley, Paracels e outras que, embora pequenas permitem o controlo de enorme
área de águas territoriais, com razoáveis reservas de hidrocarbonetos nos
fundos marinhos; com a Índia, em várias zonas dos Himalaias, nomeadamente na
região de Aksai Chin e na fronteira entre o Tibete e o Assam. A China tem
também um conflito interno com os separatistas uighurs no Xinkiang, etnia que
também está presente (cerca de 300 mil pessoas) nas repúblicas da Ásia Central.
A Rússia é, de longe o principal fornecedor da China com 88.6% das compras
deste país, no periodo 2005/2009, no conjunto de um restrito grupo de seis
países fornecedores.
As
importações indianas provêm de dez países, entre os quais domina a Rússia com
76.9% no conjunto dos últimos cinco anos. Para além dos diferendos com a China
atrás referidos, a Índia tem um conflito com o Paquistão a propósito de
Caxemira que mobiliza também tensões por vezes sangrentas entre muçulmanos e hindus,
susceptíveis de provocar guerra com o Paquistão. A Índia, para satisfazer as
suas pretensões de hegemonia regional, já interveio na guerra civil no Sri
Lanka, participa com os EUA no patrulhamento do estreito de Malaca e com outros
países, no mar da Somália.
A
Coreia do Sul é o terceiro importador e faz parte do dispositivo
norte-americano no Oriente e que lá tem instaladas tropas e bases militares há
mais de cinquenta anos. Esse dispositivo participa no cerco e intimidação da
China e de vigilância da Coreia do Norte face a uma quimérica invasão
norte-coreana; e também visa o Extremo Oriente russo, onde se situa a base
naval e o terminal petrolífero de Nakhodka e a ilha Sakalina onde também se
extrai petróleo, bem perto de ávidos consumidores como a China, o Japão e a
própria Coreia do Sul.
A
Coreia do Sul tem forças armadas poderosas e uma das economias mais dinâmicas
do planeta. Sendo militarmente tutelada pelos EUA é natural que 65.9% das suas
importações de armamento em 2005/2009 venham da superpotência, a grande
distância do segundo fornecedor, a Alemanha (19.6%), num total de seis
fornecedores.
Em
quarto lugar surgem os Emiratos Árabes Unidos pertencem ao Conselho de
Cooperação do Golfo, tendo como parceiros o Kuwait e os EUA que, naturalmente,
ao oferecer-lhes “protecção” (Saddam abriu essa possibilidade quando invadiu o
Kuwait) cobra, em contrapartida, o direito de se instalar no seu território
para controlar o Golfo Pérsico e o tráfego marítimo que o envolve. Assim e
apesar da presença militar dos EUA, os Emiratos ainda importam armamento da
França (40.5%) e dos EUA (27.6%), num total de treze fornecedores no periodo
2005/2009.
A
Grécia, de modo algo paranóico, é o quinto maior importador de armamento no
periodo 2005/2009. É certo que há um conflito latente com a Turquia, na
fronteira desenhada nas águas do Egeu e a propósito de Chipre, onde a Turquia
patrocina uma denominada República Turca do Norte de Chipre. Porém, sendo a
Turquia parceira da Grécia da NATO, não é crível um conflito aberto, sobretudo
quando a primeira se mantém interessada em integrar a UE. Por outro lado,
apesar da proximidade cultural grega com a maioria da população cipriota,
Chipre pertence à UE e ninguém acredita que os turcos se metam em aventuras
militares no sul da ilha de Chipre.
A
instabilidade e as guerras, do outro lado da fronteira grega no norte, não
parece venham a ameaçar verdadeiramente a Grécia. Os maníacos da Grande Albânia
não devem estar autorizados a desestabilizar o Epiro através de uma pequena
minoria albanesa (?100000 pessoas), como fizeram na Macedónia. A presença dos
destacamentos europeus no Kosovo e a constituição deste como protetorado
norte-americano, em torno da grande base de Boldsteel, serve para manter uma
certa ordem nos Balcãs.
Já
se disse atrás que os “mercados” financeiros nunca investigaram o desperdício
grego com tão avultadas compras de equipamento militar pois isso forneceria
bons lucros aos produtores. Esses fornecedores, num total de onze, são
dominados pela Alemanha (34.9%), os EUA (26.3%) e a França (23.1%) que se
mostraram menos colaborantes e prestáveis quando a crise financeira grega
estalou.
Israel,
já se referiu, é uma entidade militarizada, grande importador de armamento,
quase todo proveniente dos EUA (98.1% em 2005/2009), no âmbito da relação
privilegiada entre ambos os países e do apoio financeiro e militar que os EUA
fornecem há dezenas de anos.
Singapura
é, desde a sua criação pelos ingleses, a chave da passagem entre o Índico e o
Oriente. Essa posição estratégica e a sua composição étnica e linguística (3/4
da população é de origem chinesa) diferencia Singapura da Malásia e da
Indonésia. Durante a guerra do Vietnam estabeleceu uma relação estreita com os
EUA, procedendo à manutenção dos navios da marinha dos EUA. Na região, é o principal
interessado na segurança do estreito de Malaca, cuja circulação marítima é a
base da sua prosperidade, que poderá sofrer um abalo se os interesses da China
e do Japão impuzerem a construção de um canal no istmo de Kra ou, mais
inesperadamente, se algum navio-tanque carregado sofrer um atentado que
bloqueie a circulação marítima. Os principais fornecedores de armamento a
Singapura em 2005/2009 são a França (51.3%) e os EUA (37.1%), num total de
oito.
Os
EUA estão em sétimo lugar na importação de armamentos, a despeito da sua
capacidade como produtor; as parcerias produtivas, a segmentação de
especializações, questões financeiras, como contrapartidas assim o exigem. Num
conjunto de treze fornecedores no periodo 2005/2009, destacam-se a Grã-Bretanha
(32.1%), o Canadá (21.1%) e a Suiça (18.4%).
A
Argélia mantém no seu interior a insurreição salafita que desafia directamente
as forças armadas argelinas, numa guerra larvar e com contornos pouco dignos no
campo dos direitos humanos. No exterior há um conflito latente com Marrocos,
acentuado pela presença desde 1975, de milhares de refugiados sahrauis no seu
território. Tem, entre 2005 e 2009, oito fornecedores de armamento, com
especial relevo para a Rússia (91.9% do total).
O
Paquistão, mantém, como se disse acima, uma conflitualidade acentuada com a
Índia que já conduziu a várias guerras entre os dois países. Mais recentemente,
o Paquistão viu-se envolvido na guerra do Afeganistão, conduzida pelos EUA e
pela NATO uma vez que o afluxo de refugiados afegãos encontra no Paquistão um
acolhimento solidário no Nordeste e no Waziristão, onde preponderam tribos
pashtun, tal como no Afeganistão. Por outro lado, a miséria da população,
contrastando com a forte corrupção e o poder dos militares e do ISI, o
tentacular serviço secreto, provoca contestação social e política, nomeadamente
alicerçada nas mesquitas. A intervenção dos EUA na política interna
paquistanesa, incentivando o exército a exercer acções militares nas chamadas
regiões tribais e a intervenção directa dos meios bélicos norte-americanos tendem
a integrar numa guerra comum o Afeganistão e o Afeganistão.
A
Turquia constitui a ligação entre a Europa, o Médio Oriente e a Ásia Central e
é uma peça essencial na estratégia do Pentágono no encapsulamento da Rússia,
tal como no século XIX. O país é atravessado pela ligação entre o Mediterâneo e
o Mar Negro, aloja as nascentes do Tigre e do Eufrates, rios essenciais para a
Síria e o Iraque, tem uma relação próxima com Israel e um problema interno com a
grande minoria curda. Com a Europa, mantém pontos de tensão com a Grécia e em Chipre,
para além de, sob o engodo dos fundos comunitários, ter sido obrigada a
aligeirar o autoritarismo do seu poder político tradicional, centrado nas
forças armadas. Representa também um canal importante para a estratégia
norte-americana de fazer correr o petróleo da Ásia Central, sem a intervenção
de russos e iranianos (o oleoduto BTC), alberga importantes bases dos EUA perto
da fronteira da Síria, deixando este país entalado, com Israel do outro lado; e, em contrapartida, recusou a utilização do
seu espaço para os EUA invadirem o Iraque e tem boas relações com o Irão.
A Turquia detém o segundo maior elenco de forças
armadas da NATO e o oitavo posto no mundo, enquanto a sua marinha é a quarta do planeta. As suas
aquisições de armamento repartem-se, nos últimos cinco anos, por dez países,
com a predominância da Alemanha (53.2%, Israel (16.1%) e os EUA (12.6%).
A Malásia encontra-se na mesma região de Singapura e
parcialmente o seu enquadramento geoestratégico é semelhante. Porém, o país tem
mais um elemento de potencial conflito que é a disputada divisão de áreas do
mar da China Meridional, ricas em petróleo, com a China, a Indonésia e as
Filipinas. Entre os treze fornecedores de armamento à Malásia, em 2005/2009, destacam-se
a Rússia (43.1%) e a Alemanha (21.1%).
Finalmente e à margem do gráfico cujos significados
se vêm descrevendo, refere-se a situação para Portugal. Nos últimos vinte anos,
Portugal importou $ 3044 M (preços de 1990) em armamento, com $ 999
concentrados nos últimos cinco anos, em contraste com um total de $ 165 M no
conjunto dos anos 1995/2004, precisamente o periodo em que a conjuntura
económica foi mais favorável. Em franco contra-ciclo, os governos PS/PSD
sobrecarregam o orçamento com gastos militares, precisamente nos periodos de
dificuldades sociais e financeiras, evidenciando não só a sua incompetência
técnica e política de gestão dos gastos públicos, como também a sua insensibilidade
social.
1991/1994
|
1995/2004
|
2005/2009
|
|
Crescimento
médio do PIB (%)
|
1.8
|
2.6
|
0.3
|
Gasto
militar médio anual ($ 1990)
|
450
|
16.5
|
200
|
Fontes:
Pordata (PIB) e SIPRI
Em todo o periodo observado registam-se onze
fornecedores com maior relevância para os EUA (37.5%), Alemanha (30.9%) e
Holanda (14.4%). Se a observação se centrar nos cinco anos mais recentes, os
principais fornecedores são a Holanda (35.6%), os EUA (32%) e a Espanha
(11.8%).
Notas
(1) O jazigo de
Rumaila foi entregue a um consórcio constituido pela BP e pela CNPC (China)
(Democracy Now 3/11/2009)
(3) M. K. Bhadrakumar, “Le Turkménistan
réserve ses fournitures de gaz à la Chine, la Russie et l’Iran. La géopolitique des
pipelines à un tournant capital”, Asia Times
Online (Chine), citado em Voltairenet
(4) Eric
Margolis, Toronto Sun, citado em Esquerda.net 26/2/2010)
(5) Joe Biden, Fevereiro/2009
(6) “Um problema mundial chamado NATO”,
http://www.scribd.com/doc/20691174/Nato e neste blog
(7) http://www.globalfirepower.com/active-paramilitary-manpower.asp
(8) http://www.nationmaster.com/
(10)
The SIPRI top
100 arms-producing companies in the world excluding China http://www.sipri.org/research/armaments/production/Top100/Top1002007/arms_prod_companies
(11)Relatório de actividades em 2008
Abril 2010
Abril 2010
Sem comentários:
Enviar um comentário