Salazar, pelo contrário, inundou
os manuais escolares de um nacionalismo anti-espanhol, com uma Aljubarrota por
página, para arregimentar as consciências no apoio à construção de uma coutada
para a inepta burguesia portuguesa poder sobreviver. Salazar visualizou os
portugueses no papel que Goscinny tão bem retratou na aldeia gaulesa de
Asterix: pequenos mas muito valentes, heróis do mar que avançam contra os
canhões.
A formatação nacionalista que
ainda hoje faz vibrar muitas almas lusas não resiste à evidência gritante de
alguns factos e muitas das suas convenientes contradições. Vejamos:
- O FMI decidiu, nos anos 70 e 80, reajustamentos
estruturais, políticas orçamentais restritivas, contenções salariais,
desvalorizações do escudo, num verdadeiro atentado às instituições
portuguesas e os patriotas engoliram;
- A integração na então CEE acabou com a política
económica em geral, a política agrícola, de pescas, industrial… e ninguém
protestou demasiado. Mesmo quando Portugal teve de marcar passo para a
entrada na UE, à espera da conclusão dos dossiers do vizinho espanhol;
- Essa coisa tão estruturante fez-se sem qualquer
tipo de consulta popular pois os fundos comunitários compraram o silêncio
dos esforçados patriotas;
- Entretanto, veio o euro, os patriotas ficaram com o
hino e a bandeira, símbolos sem grande cotação nos mercados, mas que dão
uma ilusão de poder;
- O capital estrangeiro e o espanhol em particular,
vêm comprando o que lhes convém – bancos, indústrias, terras, imóveis e
fornecem bens alimentares, móveis, electrodomésticos, etc. Onde está a
vaga de fundo nacionalista para além da quixotesca carta dos 40
empresários para a defesa de centros de decisão nacionais? Recordamos que
no meio desse processo um dos promotores, um tal Vaz Guedes vendeu a
Somague aos espanhóis da Sacyr.
- O BCE e Bruxelas determinam quase tudo o que afecta
as nossas vidas, desde o preço das batatas aos juros dos empréstimos,
utilizando os governos ditos portugueses como capatazes deixando aos
patriotas lusos a ilusão de que têm uma pátria !
- Finalmente, os patriotas lusos não vibram com as
pretensões independentistas de bascos e catalães, por sinal com um
potencial económico bem superior a Portugal. É estranho, não se percebe
porquê!
O desenvolvimento do capitalismo vem
reduzindo o poder dos estados nacionais de três formas. Uma, através de
instituições regionais como a UE ou o BCE ou supranacionais como a OMC; outra,
pela transferência de competências para as regiões; e, finalmente, com o
ideário neoliberal que torna os territórios verdadeiros terrenos de caça das
multinacionais as quais, decididamente, não gostam dos entraves estatais à sua
predação.
Portugal está há 21 anos na UE,
tal como a Espanha. A integração ibérica já existe no quadro da UE e vem-se
aprofundando com as relações transfronteiriças, a convivência entre os povos e
a Espanha vem-se afirmando como destino para emigrantes portugueses sem
trabalho aqui. Recorda-se que meses atrás, em várias dezenas de trabalhadores
portugueses descobertos em Espanha numa situação de semi-escravatura, só um
quis regressar à ditosa pátria.
Em Portugal, a taxa de IVA é bem
mais alta, o preço dos combustíveis também mas, os salários mais baixos. Tudo
na exacta medida da burguesia lusa, a mais fraca e incapaz da Europa ocidental
bem como do afastamento cada vez maior do nível de vida da Espanha e da Europa.
Para quem vive do trabalho que
importância tem a nacionalidade do patrão que o rouba?
Agosto 2007
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