Foi,
recentemente, efectuado o “Estudo IBM Global CEO 2006”para a detecção de
grandes tendências para a gestão das empresas de maior gabarito mundial. Para o
efeito foram consultados 765 gestores de grandes empresas (incluindo 5
portuguesas) e dele se extraem as seguintes números (aproximados) de
referências dos entrevistados às “fontes mais importantes de ideias inovadoras”
Empregados
– 45%
Parceiros
de negócio – 40%
Clientes
– 38%
Consultores
– 21%
Concorrentes
– 20%
Associações,
feiras e conferências – 19%
I&D
interno – 19%
Academia
– 15%
Uma
análise daqueles dados evidencia o papel fulcral dos trabalhadores e dois
mitos: o da inovação institucional nascida nas empresas e o papel da
universidade na introdução da inovação nas empresas.
De
acordo com o estudo, o principal agente inovador referido é o colectivo dos
trabalhadores, quem, de facto, conhece os processos técnicos e os circuitos
comerciais da empresa e cuja interacção, realiza, naturalmente, uma avaliação
contínua dos processos e das técnicas utilizadas. Evidencia, em suma, a
realidade sociológica e histórica de que somente o trabalho é gerador de valor
e factor de progresso.
Porém,
muitas vezes essa criatividade não é devidamente aproveitada por incómodo do
patronato, incapaz de aceitar que os assalariados possam ser mais reflectidos
do que o patrão, porque as ideias são retidas pelas chefias intermédias,
temerosas de ser colocadas em causa ou ainda, por práticas inerentes a
situações de domínio do mercado. Por outro lado, a extensão da precaridade não
incentiva o trabalhador a reflectir, não lhe dá o tempo adequado a essa
reflexão, ou a motivar-se na melhoria dos processos, como se tornou habitual no
desenvolvimento industrial japonês do passado recente.
Por
seu turno, o volume de referências a clientes e concorrentes revela que as
empresas têm uma actuação tendencialmente passiva no que respeita à inovação e
que esta é mais induzida do exterior, de entidades que possam ameaçar o mercado
da empresa.
Os
departamentos internos de I&D parecem ter um papel secundário na inovação.
Em tempos de contenção de custos, de gestão virada para o curto prazo, para a
remuneração abundante e imediata a accionistas voláteis, os grandes executivos
não privilegiam os investimentos em inovação, elevados e com um retorno
dilatado no tempo. Preferem pois, aguardar os sinais exteriores para
colaborarem na já referida atitude reactiva ou esperar que o investimento
público nesse domínio produza efeitos.
Na
maioria dos países, o I&D assenta essencialmente em instituições públicas
ou financiadas por fundos públicos baseada em investigadores precários e mal
pagos e no princípio capitalista da imputação de custos ao Estado e dos
proveitos aos capitalistas privados. Em Portugal, concretamente, o I&D
privado é ridiculamente irrelevante e mesmo o capital de risco só existe tendo
por detrás fundos públicos; o risco dos negócios é sempre mais fácil de
suportar se o dinheiro é alheio... Sabe-se também que é volumosa a emigração de
investigadores para os países capitalistas avançados.
Finalmente,
um outro mito, o da ligação entre as empresas e a universidade, no capítulo da
I&D que como se vê pelo estudo não é uma fonte particularmente importante
de inovação. Aliás, historicamente, a universidade foi sempre mais uma fonte de
reprodução de conservadorismo do que inovação; Newton, o evolucionismo, o
caminho de ferro entre outros grandes contributos para o conhecimento passaram
muito ao lado dos catedráticos. Até os admiradores do Bill Gates gostam de
referir a sua falta de títulos académicos e o nascimento do MS-DOS na garagem
do seu (abastado) pai ... com um pecúlio de um milhão de dólares oferecido pelo
avô, diga-se em abono da verdade.
Em
Portugal a grande maioria dos docentes não passam de biscateiros que utilizam
as aulas para arredondar rendimentos - permitindo baixos custos para as
instituições - que pouco tempo dedicam aos alunos, à preparação das aulas ou à
actualização dos próprios conhecimentos mas, que lhes permite acrescentar ao
curriculum o epíteto de “professor universitário”. Como poderá a inovação
nascer de instituições onde pontificam indivíduos que se dedicam mais a
negócios, cargos empresariais ou políticos, a croniquetas regulares na imprensa
?
Em
suma, embora não seja esse o objectivo do estudo patrocinado pela IBM, o mesmo
revela, en passage, algumas características actuais das origens da inovação e
do papel do trabalho como fonte de inovação nas empresas, ditas de referência.
Fica
evidenciada a escassa dedicação dada pelos grandes executivos e pelo
mandarinato à inovação, apesar das declarações sonoras sobre a tecnologia e o
progresso. Os chamados gestores de topo mostram-se mais vocacionados para as
grandes jogadas financeiras e especulativas; para as negociações com os poderes
públicos para a obtenção de incentivos, subsídios e favores diversos, para as
relações com o mandarinato; para os downsizings e despedimentos em massa; para
a auto-concessão de participações em lucros, indemnizações fabulosas e
mordomias avulsas; isto é, para os factores estranhos ao funcionamento do
mercado.
Qualquer
que seja o ângulo que se utilize para encarar o capitalismo, sobressai a
má gestão, um progresso insuficiente, a exploração, as desigualdades e o roubo,
um roubo imenso.
FAIT-DIVERS
Coisas
de “empresários”
Nos
últimos tempos um tal “empresário” Patrick Monteiro de Barros (Esquerda
Desalinhada agradece a quem informe quais as empresas da mediática figura)
tem-se desdobrado em projectos falhados. Primeiro, foi a American Cup que só
serviu para satisfazer a gula de promotores imobiliários na zona de Pedrouços,
em Lisboa, à custa dos interesses da pesca. A seguir, pensou ressuscitar o
nuclear, tentando aliciar os autarcas de Mogadouro para o projecto, convencido
o ricaço cosmopolita que as gentes dali, sendo do interior do país seriam
também estúpidas. Esquerda Desalinhada acreditará na inocuidade da energia
nuclear quando os seus promotores se comprometerem (e aos seus descendentes), durante
10000 anos, a colocar os resíduos radioactivos debaixo da cama.
Finalmente,
o prolixo “empresário” lembrou-se de Sines para instalar uma refinaria de
petróleo desde que 1200 milhões de euros de dinheiros públicos arcassem com as
contrapartidas para as emissões poluentes, ao abrigo do protocolo de Quioto e
cobrissem o benemérito com subsídios e incentivos fiscais. O tonto do Manuel
Pinho inicialmente até se entusiasmou com os mundos e fundos prometidos pelo
Barros...
Algo
em que a capacidade investidora do arguto “empresário” se mostrou
particularmente efectiva foi no seu enorme iate cujo preço de estadia em marina
é uma pequena fortuna...
Junho
2006
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