Nas últimas décadas, assinalam-se
vários movimentos pretensamente regeneradores de que a História, provavelmente,
nem em rodapé fará menção.
Da UEDS, formada por PS’s
anti-soaristas, sobra hoje, o António Vitorino, influente mandarim que não é
socialista e, menos ainda, de esquerda. A Esquerda Liberal, surgiu nos anos 80
com propósitos pedagógicos sendo seus progenitores o António Barreto e o
Pacheco Pereira, que se mantêm como críticos sistemáticos mas, conservadores do
regime. Os renovadores do PC (que já vão na enésima versão), mais coisa menos
coisa engrossam as hostes e os lugares oferecidos pelo PS. Recordamos ainda o
PRD, construído à sombra do Eanes, com Hermínio Martinho como executor, que
pretendia apresentar-se como um conjunto de gente séria, não corrupta, fora da
politiquice dos partidos, tecnocrático quanto baste. Estoirou em pouco tempo, a
sua figura de proa voltou para a escola e o Martinho inscreveu-se no PSD de
Cavaco que o nomeou como gestor da Companhia das Lezírias.
Há poucos anos surgiu por aí, o
Compromisso Portugal, com um ar muito distinto, repleto de quadros,
profissionais, gestores de topo, ricaços com queda para a política, com vontade
de influenciar a governação PS/PSD, com posturas pedagógicas. Agora surge um
tal MEP - Movimento Esperança Portugal que parece uma emanação pobre (em
dinheiro e ideias) do Compromisso mas, que parece encontrar simpatia nos media,
sempre à procura de novidades para fixar audiências ou, porque o fundador do tal
MEP traz consigo o cheiro das sotainas inspiradoras. Temos ainda o MMS –
Movimento Mérito e Sociedade com um discurso algo naif sobre as capacidades da
pátria e dos portugueses. E não esquecemos o MIC do Manuel Alegre que permanece
num voluntário banho-maria, sem vontade ou capacidade para combater dentro do
PS o ogre socratóide, nem tão pouco para se aventurar cortar p cordão umbilical.
Esta nova vaga de regeneradores pretendem
colocar-se entre o PS e o PSD, o que de facto não é lado nenhum. Recordamos as
Opções Inadiáveis formado por membros ilustres do PSD, liderados por Sousa
Franco e que se dispersaram logo de seguida, falhado o seu posicionamento nessa
Quinta de Nenhures que é o espaço entre o PS e o PSD.
Interessa-nos aqui reflectir mais
sobre as características ideológicas desses regeneradores do que nas suas
propostas concretas, inscritas numa matriz idealista ou no esterco PS/PSD, bem
conhecidas. Em regra, alicerçam-se na tecnocracia, na “morte do pai” (os
partidos existentes), na pretensa neutralidade do Estado, nos méritos da
juventude e, na total ausência de alternativas políticas ou organizativas
globais.
A aposta forte nas qualidades
tecnocráticas, faz-se com referências à eficiência, (por exemplo, um hospital
bem gerido é onde se gasta menos), à inovação (as empresas na hora, como se tem
visto não chegam para incentivar o investimento produtivo), à qualidade da
gestão, à competitividade, à produtividade, ao empreendorismo (que os
desempregados ou os precários não têm, por razões ignotas, naturalmente), ao
profissionalismo, ao mérito… Inovam também na terminologia; os trabalhadores
entre precários ou pré-despedidos chamam-se colaboradores.
Verberar contra as mordomias, a
corrupção da classe política, o nepotismo, a falta de qualidades políticas,
culturais ou profissionais do mandarinato é garantia de largo consenso. A
questão é como lhe pôr cobro.
Substituir o actual mandarinato
por outro, com as mesmas regras de base, é uma mera mudança nas moscas. A
operação Mãos Limpas na Itália, que rebentou com os partidos gerados no
pós-guerra não impediu a ascensão de Berlusconi ou dos seus concorrentes da
coligação Olivo, criada em torno de Prodi. Aqui, o afastamento dos quadros do
regime fascista, após o 25 de Abril, não impediu a sua reciclagem nos partidos
“democráticos” ou a conversão de muitos ditos “democratas” em vulgares
corruptos.
Os regeneradores precisam de se
afirmar, sobranceiramente contra as ideologias tradicionais para camuflar o
conservadorismo da sua própria ideologia. Pretendem, de facto reembrulhar o
pacote para o tornar mais vendável no mercado; protagonizam uma operação de
marketing, replicando a prática da amálgama neoliberal PS/PSD.
Outro dos elementos fortes dos
regeneradores é a afirmação da sua própria juventude, como se a substituição de
pessoas mais velhas por jovens (alguns com mais de 40 anos…), fora do contexto
natural da renovação das gerações, seja garantia de qualquer coisa. Recordamos
que Sarkozy é vinte anos mais novo que Chirac e que ganharam os franceses com
isso? Paira na cabeça dos tristes regeneradores o primado absoluto da juventude
ignorando que há jovens senis como há idosos lúcidos; jovens e velhos
conservadores ou reaccionários como progressistas ou revolucionários. As
sociedades tradicionais, preocupadas com a captação da experiência dos mais velhos,
aceitam um papel importante destes na condução dos destinos colectivos,
fazendo-se a transição geracional de modo gradual e natural.
A modernidade é outro chavão dos
regeneradores mas, não são originais, pois Sócrates também aprecia as coisas
modernas, o simplex, a competitividade, as virtudes da iniciativa privada urbi
et orbi, a globalização, a flexisegurança, os seguros sociais privados, etc.
Porventura preferem os modernos Delfins ao vetusto J S Bach.
Como encaram os regeneradores a
dicotomia trabalho-capital e a apropriação da riqueza criada pelos
capitalistas? De modo conservador ou reaccionário, defendem a unidade de todos
(trabalhadores e patrões), a repartição de sacrifícios, etc para a salvação da
pátria. Como temos aqui defendido, a resolução das contradições faz-se pela
clarificação das divergências e das clivagens sociais, com a eliminação do
capitalismo.
O neoliberalismo é tomado como um
facto consumado. O desemprego e a precaridade resultam, para os regeneradores,
das leis do mercado e não de correlações de forças sociais com a intervenção da
mão bem visível do Estado. A educação, a saúde, a cultura, a segurança social
obedecem a estreitos conceitos economicistas e não o princípio da prevalência
da promoção da qualidade de vida dos cidadãos. E o tratado de Lisboa, a quem
serve? Quais as funções do Estado? Acreditam num sistema judiciário isento, com
leis e regulamentos criados pelo poder executivo ou legislativo?
A nossa posição face aos partidos
existentes é de que são organizações estatais, parasitárias, umas marcadamente
criminosas, outras, em fila de espera para os substituir nas diversas
instâncias do poder. Não defendemos a profissionalização da acção política mas,
fórmulas de organização de base onde os representantes da multidão actuam com
mandatos expressos dos representados e a todo o momento substituíveis.
Democracia é a participação de todos nas decisões, é a responsabilidade de
todos na gestão social, dispensando essa figura execranda do Estado, com os
seus burocratas, senhores dos processos e da decisão, em constante antagonismo
com a multidão.
Por isso, a criação de novos
partidos não nos gera qualquer entusiasmo embora mantenhamos alguma esperança
que a multidão não se deixe convencer por novos grupos de charlatães. Mais do
mesmo não, obrigado, quando o mesmo já é demais
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