Empresário é sinónimo de
dependência do Estado. Gostam muito que o Estado intervenha e ajude, com subsídios,
avales, créditos, encomendas, empreitadas (sempre com muitas obras a mais,
sendo caso record o CCB, obra mestra do cavaquismo), preços preferenciais e também
que suporte os custos possíveis para tornar competitivos os esforçados
empreendedores privados. E há sempre novos casos na praça pública.
1 – A encomendada intervenção do Estado na Cosec
Muita gente nunca ouviu falar da
Cosec – Companhia de Seguros de Crédito até há pouco tempo, fazendo essa sigla
parte do enorme conjunto de acrónimos que pairam por aí. A Cosec tem activos no
valor de € 200 M, mais de 2000 clientes, seguros no valor de € 13000 M, está
presente em 52 países, decide sobre 14500 garantias por mês e pertence, em
partes iguais ao BPI e à Euler Hermes (grupo Allianz) que é o maior operador
mundial do ramo.
Em princípios de Maio, das
incansáveis meninges do dinâmico empresariato português do Norte (AEP) saiu a
ideia do partido-Estado avançar com a compra da Cosec, para apoiar as empresas
exportadoras. Vem a propósito, lembrar que a mesma AEP recentemente recebeu, doados
pela Câmara de Matosinhos (PS), os 10 hectares onde se situa a Exponor; e, se
um dia a AEP quiser transformar o espaço, com outros empreendimentos, (leia-se
imobiliários) pode fazê-lo desde que o PDM seja alterado… pela Câmara de
Matosinhos! Um caso semelhante às dádivas camarárias aos clubes de futebol que
depois os integram em complexos imobiliários, sem que os tais clubes deixem de
estar falidos. Sempre há casamentos felizes.
Voltemos à operação Cosec. Iniciada
a execução da partitura, saltou o afinado coro dos negreiros da AIP, da CIP e
com o tenor Basílio a solo, como combinado. Dada a corda ao robot Sócrates, ele
começou a dançar ao ritmo imposto pelo maestro, anunciando na AR a intenção de
comprar a Cosec, como medida para facilitar a vida aos exportadores nacionais e
aplicar … os excedentes dos impostos com que o Teixeira dos Santos não sabe o
que fazer.
A Cosec não é coisa que à partida
se nacionalize, como o BPN, de sopetão, pois o negócio do seguro de crédito é
rentável e não tem estado à mercê das qualidades de gestão reconhecidas a
Oliveira e Costa ou Rendeiro. Assim, o governo vem tratando de convencer os
dois sócios da Cosec a vender as suas posições.
E porquê? Como se sabe,
nacionalização costuma ser feita para socializar prejuizos consolidados; mas,
nada impede que a intervenção do Estado seja feita para arcar com acrescidos
custos futuros, evidenciando-se assim (mais uma vez) que Sócrates percebe de
engenharia financeira. Objectivamente, como empresa da “indústria” dos seguros,
a Cosec cobra um prémio aos seus segurados de acordo com o risco das operações crédito
à exportação que lhe aparecem pela frente. Se, um distinto empresário quer
exportar para a Finlândia o seguro de crédito será, naturalmente inferior do
que uma exportação para Angola ou para a … Somália. E os nossos valentes
exportadores querem pagar menos, naturalmente e contam com Sócrates e o seu
partido, para lhes minorarem os custos, provavelmente, pagando-lhe de bom gosto
e como contrapartida, os pornográficos gastos utilizados em cangalhada
eleitoral para o Parlamento Europeu e para as que vêm a seguir.
Se o exemplo pegar esperamos que
um sindicato se queixe de que um patrãozeco não quer pagar o salário justo aos
trabalhadores para Sócrates clamar na AR que vai comprar a empresa para
satisfazer a vontade dos assalariados. Ou que vai comprar os operadores
privados de transporte público pela cacofonia de sistemas tarifários e altos
preços que prejudicam a competitividade das empresas, pelo que oneram o custo
da mão de obra. Ou que…
Há várias questões que podemos
levantar.
- Parece que o sacrossanto mercado afinal não funciona ou pelo menos, os nossos empresários não querem pagar os preços do mercado e querem que seja o Estado, tornado dono da Cosec, a fazer um verdadeiro “dumping”, desvalorizando os riscos e reduzindo os prémios pagos pelas empresas. É claro que esta lógica do Estado português só é aceitável porque beneficia as empresas, os empresários, os empreendedores, os inovadores, os investidores, enfim um vasto gang de rapaces negreiros, trapaceiros e criadores históricos de subdesenvolvimento;
- A Cosec não é a única empresa no ramo dos seguros de crédito, pelo que o futuro “dumping” nos preços a praticar por uma Cosec “socratizada” não irá distorcer a concorrência e lançar dificuldades às seguradoras que também exploram este ramo?
- Os sócios da Cosec estarão pelos ajustes em ceder as suas posições ao partido-Estado? E por que preço? E os dinheiros públicos são assim tão elásticos? O recurso pelo Estado ao crédito bancário externo apresenta um custo crescente: em Dezembro o juro era 0.9% superior ao pago pelo Tesouro alemão e em Março já era 1,53% superior, de acordo com artigo de Ricardo Pais Mamede no Le Monde Diplomatique de Maio.
- A alternativa ao crédito é o dinheiro dos impostos, o que não é fácil, pois a arrecadação anda por baixo e, mais difícil se torna, em época eleitoral, esmagar a população com as sequelas da gestão PS/PSD do Estado. Só os idiotas é que desconhecem que as mãos largas eleitoraleiras de 2009 nos irão esvaziar o porta-moedas em 2010 e anos seguintes, quando o deficit voltar ao pódio das preocupações governamentais;
- Se a Cosec procedeu a “um aperto das condições de contratualização, com aumento de prémios e diminuição de coberturas, porque os riscos aumentaram substancialmente” como informou o vovô cavernoso (van Zeller, Semanário 8/5) é de facto, necessário intervir. Sendo assim, sugerimos aos nossos exportadores que se reunam, mobilizem algumas das suas poupanças, guardadas em “offshores” e avancem com umas notas boas para a constituição de uma nova seguradora, à sua medida; basta apenas, menos de 1/5 daquilo que desviaram para “offshores” em 2008. Sugerimos também, para CEO, um ex-conselheiro de Estado, homem de confiança, amigo do seu amigo, com larga experiência na exportação para Cabo Verde e Porto Rico, sem ter pago qualquer seguro ou imposto. Um ás!
- O coro que pediu a intervenção do Estado na Cosec justifica-a com os maus serviços que a empresa vem prestando aos empresários. No entanto, o próprio Estado não se queixa da Cosec que é a responsável por conta e ordem do Estado nos casos de cobertura e gestão de riscos de crédito, caução e investimento nos países com risco político. Será que o Estado agiu estupidamente ou são os empresários que, aproveitando as fraquezas de Sócrates, esticam a corda das exigências?
- Cabe perguntar porque não utiliza o governo as seguradoras da CGD como solução menos pesada para beneficiar os exportadores? Por várias razões. As seguradoras da CGD têm um funcionamento baseado nos seguros tradicionais ou obrigatórios, de baixo risco, com muitos milhares de clientes atomizados; e o seguro de crédito exige conhecimentos qualificados de empresas estrangeiras e de outros países, o que a Cosec tem, através do seu sócio Euler Hermes. Por outro lado, a CGD já foi onerada com o BPN, o osso é duro de roer e desgasta os dentes. Finalmente, sabe-se, que em 2008 as seguradoras da CGD arcaram com perdas de €163 M de imparidades (leia-se, acertos para baixo de avaliações imprudentes ou insanas) e € 76 M com alienação ou reavaliação dos valores de títulos
- Se a Euler Hermes se mantiver renitente em ceder os seus 50% no capital da empresa e Sócrates apenas conseguir comprar a posição do BPI, como será gerível a empresa com aquele sócio a querer manter os preços actuais dos seguros e os mandarins lá colocados por Sócrates a favorecer os amigos? Recorda-se que o presidente da Associação Nacional de Lanifícios disse recear poder passar o seguro de crédito a ser feito mais por motivos políticos que comerciais (Oje, 20/5). Deve ser bruxo.
- De facto, também para o partido-Estado, a intervenção na Cosec é uma porta escancarada para o onerar da empresa com umas paletes de entulho socratóide na administração e em lugares cimeiros, onde decerto farão brilhar as suas competências e para quem telefonarão os exportadores, que mais trazem o partido no peito (e na carteira), para conseguirem um premiozito jeitoso. Tráfico e corrupção está no código genético do mandarinato;
- A UE, sempre tão preocupada com a transparência e o funcionamento livre dos mercados irá aceitar que, em Portugal, o Estado se substitua a capitais privados, para proceder a um “dumping” nos preços dos seguros de crédito? E quem convencerá as instâncias comunitáruias de que a intervenção tem objectivos menos ínvios? E se Sócrates avançar com uma “OPA” agressiva chamada nacionalização (no que não acreditamos) como justificará isso junto da Comissão Europeia? O tosco Durão poderá dizer, “porreiro, pá”?
- Esta gentinha tem a memória curta e, com a idade, o Alzheimer vai fazendo estragos ou, demonstram que nas suas cabecinhas há mais serradura que estratégia.
a.
Em 1994, o governo de Cavaco privatizava a Cosec
cantando o salmo em que a iniciativa privada, o espírito empreendedor do
capitalismo superaria em eficácia e criação de valor a burocracia do Estado.
b.
15 anos depois o primo Basílio (ainda do CDS?)
da AICEP proclamou que as seguradoras de crédito "nunca deveriam ter sido
privatizadas" (Diário Económico,14/5). E quando lhe perguntaram porquê,
respondeu o óbvio: porque esta "é uma matéria de Estado" que, como
sabemos é um dos chavões que os mandarins sopram para encobrir traficâncias que
a plebe não precisa de saber. O homem mostrou tanta força no apoio ao governo
que o nomeou que, vai ser promovido um plano B na AICEP; vai esta designar-se,
BICEP;
c. Ainda
o mesmo Basílio procedeu a uma verdadeira revelação quando constatou “as
empresas não querem correr riscos para além de um certo limite”. Será que os
trabalhadores querem e gostam de correr os riscos do desemprego e da
precariedade, do aumento dos spreads, ou que estes são riscos de somenos, aquém
dos limites? Para que os riscos se reduzam disse, também, o homem, que “é
necessário assegurar o interesse colectivo”; de onde se deduz que na
distribuição dos lucros e fixação de salários e direitos laborais, os negreiros
vão passar a incluir quem trabalha… no interesse colectivo;
d.
Vemos assim que a teologia por que se guiam é tão
variável, incoerente e desconexa que torna muitos dos professores
universitários que a promovem, verdadeiros palhaços. Mas, desses professores, a
varejeira da ministra, gosta;
e.
Ora a operação Cosec virá, a concretizar-se, a
ser assinada pelo mesmo Cavaco que a privatizou, agora com a farda de PR. Que
irá sentir a veneranda figura? Cremos que não vai sentir nada, tão acabrunhado nos
pareceu naquela choradeira sobre as poupanças efectuadas por si e pela sua
Maria, volatilizadas na fraude em que se transformou o banco dos seus amigos.
Quem acredita em remunerações elevadíssimas e duradouras das suas poupanças,
apresenta um fraco atestado de capacidades para a gestão financeira.
Assinalem-se ainda, outras
benesses para os bravos exportadores, a quem o risco não gera adrenalina, como
o despedimento para os trabalhadores... Depois de umas linhas de crédito para
as empresas (PME Invest I, II, III) em que o governo aplicou € 2880 M, Sócrates
avançou com novos apoios, o PME Invest IV, com € 200 M a uma taxa 0,25% abaixo
do Euribor e por três anos, cobrindo 75% do risco e outros € 200 M para
exportadores com taxa de 1% acima do Euribor e cobrindo 50% do risco.
Decididamente, não há que ter
pena dos ricos.
2 - Outras benesses públicas
para enriquecimentos privados
a)
Internacionalização e apoios públicos
A EDP Renováveis não foi criada
por um amor repentino de empresários pela salvaguarda do ambiente, abrindo eles
os cordões à bolsa. A questão é que a nível europeu os governos desataram a
subsidiar parques eólicos e a simpática EDP criou a EDP Renováveis para se
aproveitar, dessa distribuição.
A tal Renováveis vem instalando
torres em França, Bélgica, Espanha e Portugal, numa tocante vontade de espalhar
o seu amor pelo ambiente. Em Espanha, a sua principal área de actuação, a
empresa tem a operar 2109 MW contra 553 MW em Portugal tendo em carteira no
país vizinho, mais 2700 MW e estando ainda os espanhóis preparados para lançar concursos
para mais 477 MW, num total de 717 MW para o total da UE.
O problema é que o estado
espanhol vai reduzir as ajudas para reduzir a especulação, investir em
instalações mais competitivas e controlar despesas, uma vez que esses
investimentos têm onerado muito o fundo energético espanhol.
Se assim for esperam-se menos
vanguardismos da EDP Renováveis, menos lucros para os seus ecolo-accionistas e
pressões para o Governo português continuar a pagar e bem, pelos parques
eólicos instalados por estas bandas. Certo, certo é vamos aguardando novos
aumentos da electricidade, depois dos 4,9% deste ano, nada beneficiando na
carteira com tantos investimentos subsidiados; e que os accionistas da EDP
Renováveis não irão investir os seus cabedais, que continuarão resguardados em “offshores”.
b)
Internacionalização parasitária
Os dinâmicos empresários,
investidores, corruptos e quejandos cá da paróquia colocaram em 2008, € 1100 M em
“offshores”, num total de € 1500 M, dados como investidos no exterior, o que os
torna campeões europeus!! (DN de 15/5)
Por comparação com aquela saída
de 73% de capitais para “offshores” levada a cabo pelos lusos investidores, os
espanhóis são uns lorpas, pois só desviaram para paraisos fiscais € 1000 M num
total de € 53000 M, ficando-se os alemães por uns miseráveis 3%, no contexto de
uma média comunitária de 5.5%. Para divulgarem os seus conhecimentos, consta
que vão abrir uns cursos de formação a ministrar pelas CIP, AEP, AIP, com
apoios do QREN e abertura solene abrilhantada pelo Sócrates que apresentará o
“case study” Freeport.
c)
Apoios públicos sem internacionalização
No ano passado pairava por aí que
o biocombustível seria o eldorado que iria substituir os combustíveis fósseis e
minorar os nefastos impactos ambientais e climáticos. Embora seja uma aldrabice,
houve quem acreditasse ter encontrado nos biocombustíveis o início de uma era
de prosperidade que, desde os foguetórios das “dotcom” e da “nova economia”
estava mesmo a faltar.
Está demonstrado que a cultura
extensiva de cereais, oleaginosas e açúcar para a produção de combustível tem
efeitos muito negativos nos equilíbrios climáticos, no abastecimento alimentar,
na estrutura social dos meios rurais e só é viável com fortes subsídios públicos,
como nos EUA com o milho.
Assim, alguns industriais dos
óleos alimentares avançaram, decididos e garbosos mas, asseguraram-se primeiro que
o Estado os iria isentar do imposto (ISP) que incide sobre os combustíveis,
pois só assim o negócio seria rentável.
Para mais, alguém deve ter
explicado ao engenheiro do fax que o negócio está pleno de tecnologia uma vez
que envolve uma inovadora importação de milho e sementes ou bagaços de
oleaginosas, seguida da sua espremidela e já está o óleo a correr, pronto a
juntar-se ao gasóleo! Entretanto, uma dessas empresas, a Oleocom, faliu e o seu
ex-presidente, um tal Ramiro Raimundo, é acusado de ter desviado uns escassos €
15 M da empresa.
Nesse processo, quem terão ficado
prejudicados são os gêmeos Santos (o
Tozé e o Zétó) da Valouro, industriais de uma actividade também muito
tecnológica e inovadora, a das rações para animais que consiste em importar cereais
e sementes de oleaginosas, misturar, triturar e já está pronta a papinha para
dar às vacas! Os manos também pensaram, tempos atrás, em fazer um “upgrading”
tecnológico e tornaram-se sócios da SLN, onde conviveram alegremente com o
Oliveira e Costa, o Dias Loureiro e afins. Com tanto azar, os gêmeos oscilam
entre ir à bruxa ou pedir ao Sócrates uns apoiozinhos.
- - - - - - - - - -
O capitalismo ao gerar práticas
destas por gente tão pouco recomendável oprime e levanta dificuldades à
esmagadora maioria das pessoas. A única solução para o problema do capitalismo
é a sua extinção, como aconteceu com a varíola; sem mesmo serem guardados uns
quantos exemplares nos EUA e na Rússia, com objectivos pouco tranquilizadores,
como aconteceu com aquele virus.
Junho 2009
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