quarta-feira, 9 de maio de 2018

Evolução da população mundial 1950/2050 – O caso da Europa


Na História sempre houve regiões mais atraentes para a vida dos povos e outras que os repeliam, por condicionalismos diversos. A dimensão da Humanidade e as profundas desigualdades na sua repartição territorial não se prendem tanto com as condições de habitabilidade e recursos mas com o modelo de organização social que as acentua de modo dramático.
No caso específico da Europa, as desigualdades demográficas existentes - e que tendem a agravar-se - correspondem ao fracasso do modelo de convivência e de (ausência) de solidariedades entre os seus povos.

Sumário

1 - A população mundial é, cada vez, mais asiática ou africana
2 – As áreas geopolíticas da Europa e os seus perfis demográficos
         2.1 - Mediterrâneo Oriental
         2.2 - Mediterrâneo Ocidental
         2.3 - Europa Central
         2.4 - Europa Ocidental
         2.5 - Europa Oriental
         2.6 - Conclusão

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1 - A população mundial é, cada vez, mais asiática ou africana

Procedemos em primeiro lugar, à repartição, muito geral, da população mundial por continentes, antes de a separar por áreas geopolíticas, construídas em torno da história, das afinidades culturais, étnicas e económicas; e, posteriormente, aplicando essa mesma classificação a outras abordagens para cada uma dessas áreas geopolíticas.
                                                                                                Fonte primária: UNCTAD/CNUCED
Subjacente ao gráfico apresentado temos a sublinhar:
  • A população africana é a única cuja representatividade cresce num século, considerando as previsões para 2050. Essa representativadade passa de 9% para 16.4% em 2016, admitindo-se  uma duplicação da sua população  entre 2016 e 2050. Em 2016 a população africana era mais do quíntuplo da registada em 1950 esperando-se que, num século, se multiplique por onze. Taxas de fecundidade comparativamente elevadas bem como ganhos substanciais na esperança de vida justificarão essa evolução.
  • A Ásia é sempre o continente mais populoso, com mais de metade dos seres humanos, passando de 54.3% em 1950 para 59.8% do total em 2016, mantendo-se com indicadores estáveis naquele patamar desde 1980 e esperando-se um decrescimento do seu peso relativo em 2050 na sequência do grande crescimento demográfico que se prevê para África.
  •  A Europa surge como uma imagem em negativo da África. Com perto de um quarto da população mundial em 1950 (22.7%) decresce contínuamente, mesmo em termos das projeções para 2050. O decrescimento é mais abrupto em 2000 uma vez que após o desmembramento da URSS, as repúblicas asiáticas que a incorporavam passaram a ser integradas na Ásia e não na Europa, onde estava incorporada em bloco toda a população da URSS; assim, entre 1990 e 2000 a população da Europa desceu de 790 M para 730 M. Isso porém, apenas acentua o pendor decrescente do peso da população europeia em todo o período; o que conduz a uma expectativa de perda em números absolutos para 2050. A muito baixa natalidade não é compensada significativamente com os afluxos migratórios; uma população que se não reproduz e se vê obrigada a recorrer à imigração evidencia um sistema político, económico e cultural doente.
  •  A população do continente americano atinge um máximo na sua representatividade no total mundial em 1970 (14%), decrescendo lentamente nos decénios seguintes para atingir 13.3% em 2016. A projeção para 2050 aponta para uma descida para 12.4% do total, com uma perda de peso relativo também já referida para a Ásia e a Europa.
  • Quanto à Oceania, a sua população é diminuta comparada com os outros continentes – 13 M e 40 M, respetivamente em 1950 e 2016 – apresentando um crescimento idêntico ao observado para a Ásia. Depois da África é a macro-região onde se prevê um maior crescimento populacional entre 2016 e 2050 (42%). 
  • O crescimento médio anual para cada período e em cada continente, revela uma redução generalizada, com excepções para África no período 1970/2010. Por seu turno, o início do presente século revela taxas muito mais modestas de crescimento demográfico, mostrando-se as previsões para 2050 muito mais optimistas, excepto para a Europa.
                                                                                                                                %

1970/1950
1990/1970
2010/1990
2016/2010
2050/2016
ÁFRICA
3,0
3,7
3,3
1,0
3,1
ÁSIA
2,6
2,6
1,6
0,4
0,5
EUROPA
1,1
0,6
-0,3
0,0
-0,1
AMÉRICA
2,6
2,0
1,5
0,4
0,6
OCEANIA
2,8
1,9
1,8
0,6
1,2
total
2,3
2,2
1,5
0,5
0,9
                                                                                         Fonte primária: UNCTAD/CNUCED

Este perfil da repartição territorial da população mundial, já em 1950, revelava os enormes desequilíbrios decorrentes do histórico predomínio da Europa no mundo, num processo iniciado no século XVI; mas que transitava para os EUA à medida que avançava o processo de descolonização e a afirmação do dólar. A passagem do ceptro do poder para os EUA conduziu à criação da OECE, em 1948 apenas com países europeus e a Turquia, para a gestão do Plano Marshall que se tornaria, sob a designação de OCDE o clube dos países ricos, com a inclusão, em 1961, 1964 e 1971/73, respetivamente, dos EUA e do Canadá, do Japão e da Austrália e Nova Zelândia, entre outros países europeus, asiáticos e latino-americanos integrados posteriormente. 

Com o tempo a colonização quase chegou ao fim, embora haja pequenos países, sobretudo nas Caraíbas e na Oceania cuja independência pouco significado tem, servindo apenas como interface de parqueamento ou passagem de capitais, em actos de fuga fiscal ou de branqueamento de atividades mafiosas.

Esse predomínio dos EUA evidenciar-se-ia no âmbito militar, com a NATO (1949) que, de estrutura construída para uma contenção de um expansionismo soviético passou, depois da extinção da URSS, a instrumento de intervenção militar ocidental na Ásia Ocidental, na África do Norte e no Sahel, em nome de uma “luta contra o terrorismo”. 

Essa “luta” aplicável ao Afeganistão tem-se revelado um evidente fracasso – como antes ocorrera com a Grã-Bretanha, no século XIX e com a URSS, nos anos 80 do século passado. Os EUA vão mantendo ali uma guerra de contenção que evite uma repetição da humilhação vietnamita… enquanto chineses e indianos se instalam economicamente. Algum sucesso apresentaram na contenção na luta contra a Al-Qaeda, mas esta continua activa no Sahel (AQMI), na Somália (al-Shabaab), no Paquistão e na Líbia. Uma das suas criaturas, o ISIS/Daesh apresentado como instrumento confessional (sunita) falhou na limitação da influência iraniana na região e em conduzir a Síria e o Líbano à influência ocidental. 

Verifica-se o reforço do papel do Irão, o instável posicionamento geopolítico da Turquia, o low  profile do Egipto de al-Sissi, protagonista de um golpe de estado apoiado por Obama contra o anterior presidente, Morsi, este, eleito no âmbito dos sagrados princípios da democracia de mercado. Nesta região, os EUA só podem contar com a sua fortaleza sionista e a monarquia saudita para desempenhar um papel na região; enquanto a “comunidade internacional” se cala face à bárbara intervenção das monarquias árabes no Yémen.

A “luta contra o terrorismo”, subsequentemente, vai dando lugar à confrontação direta com quem os EUA se entendem ameaçados. A ameaça comercial da China é evidente; depois do surgimento do euro e, gradualmente do yuan, como moedas globais, o dólar tende a reduzir a sua utilização, fazendo com que muitos países vão retirando o seu ouro depositado em Fort Knox (Alemanha, Turquia, Holanda, Venezuela..) sabendo-se que não há ali ouro que sustente a enorme circulação de dólares. Entretanto a China e a Rússia aumentam as suas reservas e o Irão não aceita dólares nas suas transações, o que está a provocar a reação dos EUA como antes se verificou contra Saddam ou a Líbia de Kadhafi.

Baseando-se no seu dispositivo logístico militar (80 bases militares espalhadas pelo mundo) os EUA pretendem concertar a sua estratégia enfrentando diretamente os seus adversários – Russia e China  - com um cordão que corresponde à fronteira Leste da UE e outro no mar da China envolvendo sobretudo o Japão e a Coreia do Sul. Como a Rússia e a China entretanto criaram em 2001 a OCX, há uma disputa, com aproveitamento de inimizidades antigas, em todo o sul da Ásia.

O binómio Europa-América passa de 36.2% da população global em 1950 e cifra-se em 23.3% em 2016, mesmo encarado nesta forma agregada – sobretudo a América - com uma composição que comporta muitas desigualdades. Essa perda de relevância no xadrês demográfico indica que a sua supremacia, económica, política e militar vai fraquejando, como se observa nos vários cenários de fricção, na Ásia Ocidental e Oriental ou na Europa; tal como  com as medidas dos EUA de criação de taxas alfandegárias e sanções num total arrepio à defesa do comércio livre, da concorrência, objetivos que os ocidentais defenderam para promover o velho GATT em OMC. Os tradicionais valores do capitalismo, dos mercados livres, da livre concorrência vão cedendo às conveniências dos seus principais defensores das últimas décadas. A recusa dos grandes tratados ou da relevância das alterações climáticas por parte dos EUA, constituem uma recusa da globalização capitalista?

2 – As áreas geopolíticas da Europa e os seus perfis demográficos

A distribuição da população, num espaço temporal mais restrito, tendo em conta as várias áreas geopolíticas do continente[1], apresenta enormes divergências conforme se observa no gráfico abaixo.
                                                                            Fonte primária: UNCTAD/CNUCED

No período 1970/1990 há um crescimento regular em todas as áreas, ainda que com algumas diferenças, não muito pronunciadas mas que se acentuam brutalmente desde então, muito para além das alterações políticas – desmembramento da URSS e da Checoslováquia para além do ocorrido na Jugoslávia, na sequência de conflitos, guerra e movimentações massivas de população.

2.1 - Mediterrâneo Oriental

Neste caso, durante a década de 90, as guerras de desmembramento da Jugoslávia, animadas inicialmente pela Alemanha e pelo Vaticano e, na parte final pelos bombardeamentos dos EUA, provocaram uma regressão demográfica que continuou nas décadas seguintes, não sendo animadoras as perspetivas para 2050, apesar da integração na UE e na NATO de uns quantos países da região. Como sequela dessas ações, a Bósnia/Herzegovina mantém-se num limbo como unidade compósita; e o Kosovo é algo que se assemelha a uma “coisa” que serve de terreno para a base americana de Boldsteen - vocacionada para a supervisão militar dos Balcãs - e ainda como uma plataforma para tráficos mafiosos diversos, recebendo ainda o essencial apoio financeiro da UE. 

De modo sintético, registamos as variações populacionais entre as várias entidades nacionais da área:

  • A Albânia atingiu a sua máxima população em 1990, decaindo desde então prevendo-se que em 2050 atinja a população de… 1980. O conjunto dos países da ex-Jugoslávia teve um máximo alcançado em 1990, perdeu 16% da população de então, até 2016  e as perspetivas para 2050 é que a população conjunta se cifre ao mesmo nível de um século atrás;
  • Face a 2000, entre as repúblicas da ex-Jugoslávia, a Bósnia/Herzegovina, a Croácia e a Sérvia/Montenegro, entretanto autonomizadas, perdem 5 a 7% da sua população em 2016. Somente a Eslovénia e a Macedónia aumentam a sua população no mesmo período, respetivamente 4.5 e 2.3%. Porém, as perspetivas para 2050 são negativas para todos os países, com valores extremos para a Croácia (-18%) e a Sérvia (-16%) e os casos menos dramáticos para a Eslovénia e a Macedónia (-7% em ambos os casos). No final deste texto, um mapa da Europa contempla a situação global, individualizando cada país;
  • Finalmente, refira-se que Chipre é o único país da região cuja população cresce uniformemente depois da quebra de 1980, assim como é também o único onde se prevê, em toda a região europeia do Mediterrâneo Oriental, um crescimento populacional no horizonte 2050. A Grécia teve um crescimeto populacional em todas as décadas de 1950 a 2010 mas perde cerca de 240 mil habitantes até 2016, imolados na salvação do sistema financeiro global; e, claro, para 2050, admite-se uma quebra de 11% face a 2016;
  • Se se considerar que a dinâmica populacional é um elemento fulcral para espelhar o nível de bem-estar de uma comunidade não é excessivo dizer que as guerras nos Balcãs, o desmoronamento da Jugoslávia, a integração na UE da maioria dos países balcânicos não foram factor de felicidade dos povos. Povos felizes não reduzem a natalidade, nem emigram; pelo contrário, confraternizam e fazem filhos.
2.2 - Mediterrâneo Ocidental

Como se poderá ver na descrição da composição das áreas geopolíticas europeias que acompanham o gráfico, nesta área, há a considerar quatro países e quatro territórios que, essencialmente são offshores, referindo-se que um destes é um bairro de Roma que funciona como sede de uma instituição religiosa e um outro é uma colónia inglesa. 

Nesta área, observa-se um crescimento demográfico acima da média global no periodo que findou em 2010. Na década presente, os efeitos da crise do sistema financeiro recairam fortemente sobre Espanha, Itália e Portugal, produzindo a saída de imigrantes, nuns casos ou a entrada de centenas de milhar de imigrantes e refugiados, em Itália; e ainda uma forte emigração de gente fugida ao desemprego e à degradação da qualidade de vida que se dirigiu para a Europa Central ou Ocidental. A perspetiva para 2050, com emigração, baixa natalidade, maior precarização na vida, mais algumas crises financeiras e a óbvia fascização das chamadas democracias de mercado mostra-se bastante provável; nesta área como nas outras áreas geopolíticas europeias.

  • Os residentes nos offshores crescem no período, excepto em Andorra depois de 2010 e do Vaticano cuja reduzido número de residentes (não se pode chamar população a um agregado que não contém mulheres, crianças e famílias) se mantém estável. Para Gibraltar e S. Marino prevê-se crescimento populacional para 2050. O fluxo de capitais saidos de Portugal para offshores foi, recentemente, tratado aqui;
  • Em todos os países se regista um regular crescimento populacional no período 1950/2010 e que deixa de acontecer em 2010/16 excepto em Malta. Para os quatro países, naqueles sessenta anos, a população cresceu 67% em Espanha, 28% em Itália, 33% em Malta e 27% em Portugal, neste último caso, como revelador da crescente periferização e empobrecimento relativo no seio da Península, como observámos recentemente, aqui e aqui;
  • As quebras registadas no último hexénio são de 300 mil pessoas em Itália, 280 mil em Portugal e 440 mil em Espanha, montantes que, não sendo muito afastados em valores absolutos, têm um significado diferente em termos relativos – 3% da população para Portugal e 1% para os outros dois países, em apenas seis anos. Fica evidenciada em termos demográficos a violência da ação da classe política portuguesa, como executante das imposições da troika, numa atuação lesta em reduzir o poder de compra e os direitos da plebe, em amansar os protestos, para salvaguarda dos interesses do capital financeiro;
  • No capítulo das previsões da UNCTAD/CNUCED para 2050 há a considerar quebras populacionais de 7% para Itália, 13% para Portugal e 4% para Espanha, o que atesta a regressão demográfica no Mediterrâneo Ocidental com particular ênfase para Portugal. Na mesma linha, o INE português tem projeções de uma população de 8.6 M em 2060 e 7.5 M em 2080, embora a distância temporal para essas épocas permita todas as mudanças políticas, económicas e demográficas.
2.3 - Europa Central

Esta área, a velha Mittel Europa, engloba, grosso modo, além do cofre suiço, os territórios dos antigos impérios prussiano e austro-húngaro; de modo mais atualizado, temos  a Suiça, a Alemanha e o seu sempre desejado drang nach Osten, como terreno próximo de instalação da grande indústria alemã, com trabalho a baixo preço, sem a importação de gastarbeiter; um processo que se iniciou muito antes da reunificação alemã, tanto na República Federal como na antiga DDR/RDA. 

Como é conhecido, o impacto da crise iniciada em 2008 não foi dramático, como no sul da Europa e daí que a mesma não se tenha refletido na demografia, uma vez que o afluxo de imigrantes compensou a baixa natalidade. A população embora estagnada, não recua até 2016, embora as perspetivas futuras sejam de declínio.

  • Há uma clara distinção entre o aumento demográfico na Suíça em 1950/2010 (68%) ou da Polónia (54%) e os restantes, muito mais modestos, com o destaque para a Hungria (6%) e a Alemanha (16%). Restringindo essa análise ao hexénio findo em 2016 verifica-se um substancial aumento anual da população na Áustria (0.6% contra 0.35% nos 60 anos inicialmente considerados), pequenas quebras de ritmo na Alemanha e na Suiça e reduções de população na Polónia e na Hungria;
  • Tal como nas outras áreas geopolíticas há grandes diferenças na dinâmica demográfica, reveladoras de fraturas económicas e sociais nada coincidentes com os discursos dos mandarins de Bruxelas ou nacionais sobre a coesão europeia. Assim, as previsões para 2050 apontam para quebras populacionais de 15% para a Hungria e a Polónia, 9% para a Eslováquia e 3% para a Alemanha, o que talvez sofra alterações com a política de Angela Merkel em aceitar centenas de milhar de refugiados do Médio Oriente, indispondo uma grande faixa da população que se rendeu aos encantos xenófobos do AfD. Somente a Áustria e, sobretudo a Suiça (18%) são objeto de previsão de aumentos populacionais para 2050.
2.4 - Europa Ocidental

Esta área engloba quase toda a faixa litoral do Atlântico, do Bidasoa ao Ártico, para além da Suécia e da Islândia. A sua âncora são os antigos impérios coloniais, mormente a França e o Reino Unido, ainda pouco compenetrados do seu perfil regional, quando disfarçam essa situação oferecendo-se como damas de honor dos EUA (Líbia, Iraque, Afeganistão, Síria). A França tenta manter-se no Sahel para esquecer as derrotas na Indochina e na Argélia e a Grã-Bretanha mantém a política definida por Harold Wilson, de se fixar a oeste do Suez, embora tenha o planeta bem povoado de offshores, certamente envolvidos nos negócios da City. 

Todos apresentam um elevado nível de vida e a Longa Depressão, que vem de 2008, tocou-lhes de modo muito mais ligeiro do que os países da orla mediterrânica. A sua reletiva homogeneidade e bem-estar – aliado a algumas políticas de apoio a refugiados e imigrantes – evidencia o regular e acentuado crescimento populacional em todo o período e ainda nas expectativas para 2050.

  • O crescimento demográfico é uma constante para todos os países no período 1950/2010, sendo enorme o dinamismo no caso da Islândia (125%) ou do Luxemburgo (72%) e mais baixo na Grã-Bretanha (25%) e na Bélgica (30%);
  • A situação é diferente se se considerar apenas os seis anos terminados em 2016. O Luxemburgo apresenta uma taxa de 2.2% de crescimento populacional anual, seguindo-se-lhe a Suécia (0.8%), a Grã-Bretanha e a Bélgica (0.65 e 0.64%), a que não serão estranhas as imigrações de gente proveniente da Europa do Sul, de África e da Ásia, muitos deles como refugiados. Estes afluxos vieram reforçar a audiência dos discursos xenófobos de Farage ou Boris Johnson que conduziram ao referendo inglês que desembocou no Brexit, produzindo derivas idênticas em outros países. As situações de menor dinamismo demográfico observam-se na Holanda (0.3%) e na Irlanda;
  • Quando se encara um cenário para 2050, as melhores perspetivas de crescimento demográfico face a 2016 recaem no Luxemburgo (38%), Noruega (29%) e Irlanda (23%) e as mais baixas na Holanda (3%) e Bélgica ou França (10%).
2.5 - Europa Oriental
 
Engloba-se aqui, para além da Finlândia, as mais ocidentais das antigas repúblicas soviéticas, a actual Federação Russa e a Roménia. Em termos demográficos essas antigas repúblicas soviéticas têm a sua população contida em todos os anos considerados nesta área geopolítica, isoladamente desde 2000 ou no total da URSS antes daquele ano. A partir de 2000 as antigas repúblicas soviéticas da Ásia Central e do Cáucaso, integradas na população total da URSS, deixam de o estar na Federação Russa, justificando assim a grande quebra da população desta área geopolítica, entre 1990 e 2000; mas, pouco afetando a enorme população do continente asiático. 

A partir de 2010 a sua evolução demográfica é semelhante à verificada e esperada para o Mediterrâneo Ocidental. Isso revela o acentuar do caráter periférico de toda a bacia mediterrânica europeia e do Leste, face à faixa ocidental do continente como apontámos com maior detalhe aqui, aqui e aqui

  • A Finlândia e a Roménia são os únicos casos em que é possível avaliar a evolução demográfica a partir de 1950; e demonstram um crescimento populacional de 34 e 26% respetivamente. Há, porém, uma diferença notória; a evolução verificada na Finlândia observa-se em todo o período e, pelo contrário, na Roménia a população começa a decrescer a partir de 2000 (700 mil pessoas face a dez anos antes), 1.7 M na década seguinte e 660 mil no hexénio terminado em 2016. A mudança do regime e a integração na UE não constituiram fatores de bem-estar para os romenos, bem representados nos destinos de emigração na Europa Ocidental, Central e também no Mediterrâneo Ocidental:
  • Para o período 2000/16 para o qual existem dados compatíveis para todos os países, todos revelam quebras de população excepto a Finlândia cujo efetivo cresceu 3%. Para os restantes, há quebras de população no período, que vão de 1% e 2% para a Estónia e a Federação Russa até 11% nos casos da Letónia e da Lituânia, aderentes da UE em 2004;
  • As projeções para 2050 são muito negativas face a 2016. De novo a Finlândia surge como o único país com uma previsão de crescimento demografico (7%). Por outro lado é bastante acentuada a previsão de perdas demográficas para a Letónia (23%) e em torno dos 17/19% para a Lituânia, a Moldávia, a Roménia e a Ucrânia;
  • Finalmente, a própria Federação Russa poderá reduzir em 8% a sua população o que é, sem dúvida uma fragilidade para uma potência que pretende assumir um protagonismo na Europa Oriental e na Ásia Central e Ocidental e que não quererá aumentar o grau de subalternidade face à China, no âmbito do continente euro-asiático. Recorde-se que nestes dados, não se consideram os 2 M de pessoas que passaram a integrar a Federação Russa e não a Ucrânia.
2.6 – Conclusão

O que atrás vem sendo referido, no capítulo das expectativas para 2050 pode ser visto, graficamente a seguir:
Evolução da população europeia em 2050 face a 2016


Do ponto de vista político revela-se um continente onde o pendor anti-democrático que vigora na UE, ao formar um centro e várias periferias, promove enormes desigualdades, acentua xenofobias e fica muito longe de um projeto internacionalista e solidário como uma união dos povos da Europa[2] que, obviamente, as classes políticas e as oligarquias do capital não subscrevem. O declínio geopolítico de uma Europa fragmentada, política, económica e socialmente, com enormes áreas de pobreza, tende a torná-la, no contexto global, numa península asiática de um espaço tricontinental, como um regresso da Gondwana, onde o papel da China, com o seu poder económico e demográfico se irá impor. Será, no futuro, Roterdão apenas a estação final da linha ferroviária de uma Rota da Seda, protagonizada pela China? 

Essa fragmentação, como o Brexit demonstra, corresponde ao exacerbar da lógica mais radical que vive no seio da NATO, de vinculação à deriva imperial e fascizante dos EUA, por parte de países da orla atlântica, como a Noruega, a Holanda e Portugal, para além da já capturada Grã-Bretanha; ou ainda, na Europa de Leste, onde a fobia anti-russa é evidente, nos paises bálticos ou na Polónia, felizes por albergarem tropas da NATO nas suas fronteiras.

Uma Europa solidária corresponde à desaparição dos estados-nação, arraigados às suas fronteiras e a histórias de heróis, como se estas se não esvaissem no tempo. Em vez da destruição e construção de estados-nação que nos recorda um enorme caudal de guerras e inimizades, não seria mais interessante uma rede de entidades regionais auto-geridas e articuladas para a prossecução de projetos comuns de interesse mútuo? Precisa-se, com caráter de urgência uma movimentação social alargada que constitua uma rede de entidades regionais com estruturas autónomas e soberanas, sem submissão a instâncias oligárquicas superiores, com membros escolhidos pelos seus habitantes, sem prerrogativas de perenidade como as que as atuais classes políticas se arrogam, com rotação assegurada, sem privilégios, com funções a qualquer momento cessadas por vontade popular, num contexto de total transparência quando a processos de decisão e dos seus conteúdos. 

No caso específico da CEE/UE, observe-se, de modo agregado, a evolução da população (em milhões) dos países integrantes, em vários momentos a partir da época anterior à sua criação:

1950
1970
1980
1990
2000
2010
2016
2050
Fundadores
178,2
207,2
214,5
220,2
226,9
233,9
237,3
238,6
A


65,0
66,1
68,4
73,7
76,5
12,1
B



59,5
62,4
68,9
67,9
63,4
C




22,1
23,2
24,1
26,4
D





89,6
88,5
74,1
E





27,8
26,9
21,8
F






4,2
3,5
Total
178,2
207,2
279,5
345,8
379,8
517,2
521,1
436,3
            Fundadores – Alemanha, Bélgica, França, Holanda, Itália e Luxemburgo
               A - Dinamarca, Grã-Bretanha e Irlanda,  com a GB excluida em 2050
               B - Espanha, Grécia e Portugal                     
               C -Áustria, Finlândia, Suécia
               D - Chipre, Eslováquia, Eslovénia, Estónia, Hungria, Letónia, Lituânia, Malta, Polónia, Rep. Checa
               E - Bulgária, Roménia              
               F – Croácia

  • Observam-se aumentos populacionais generalizados aos vários grupos de países integrados até 2010. A crise da chamada Longa Depressão revela-se em 2016  mas, de modo assimétrico, atingindo os países periféricos, nas orlas mediterrânicas e no Leste, que perdem população (grupos B, D, E e F). Poupando, precisamente, os mais ricos, que souberam imputar aos restantes os custos da deriva financeira e das incapacidades do modelo capitalista global
  • Quanto a 2050 apenas se registam aumentos populacionais entre os fundadores, o núcleo duro e, nos países ricos do segundo alargamento (C). São de salientar previsíveis grandes reduções da população – 16 a 19% - nos países do Mediterrâneo Oriental e do Leste, protagonistas dos três últimos alargamentos. Quanto aos países do segundo alargamento – Espanha, Grécia e Portugal – considera-se uma eventual redução de 7%  da população no período 2016/2050. Finalmente, a saída da Grã-Bretanha, para além do seu significado político, tem um peso significativo no total, a redução demográfica admissível.
(continua)

Este e outros textos em:    

http://grazia-tanta.blogspot.com/                              

http://www.slideshare.net/durgarrai/documents



[1]  Europa Central -  Alemanha, Áustria, Eslováquia, Hungria, Polónia, Rep. Checa, Suiça e Checoslováquia  (nos dados até 1990)
Europa Ocidental – Bélgica, Dinamarca, França, Holanda, Ilhas Faroer,  Irlanda, Islândia, Luxemburgo, Noruega, Reino Unido, Suécia
Europa Oriental – Bielorrússia, Estónia, Federação Russa (a partir de 2000), Finlândia, Letónia, Lituânia, Moldávia, Roménia, Ucrânia e URSS (nos dados até 1990)
Mediterrâneo Ocidental – Andorra, (a partir de 2010), Espanha, Gibraltar, Itália, Malta, Portugal, S. Marino, Vaticano
Mediterrâneo Oriental – Albânia, Bósnia/Herzegovina (a partir de 2000), Bulgária, Chipre, Croácia (a partir de 2000) Eslovénia (a partir de 2000),Grécia, Jugoslávia (até 1990), Macedónia (a partir de 2000), (Montenegro (a partir de 2010), Sérvia (a partir de 2010), Sérvia e Montenegro (2000)

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