Um sistema eleitoral falsificado e enganador
1 - Mais de um milhão de
eleitores fantasmas
Aspecto particularmente
caricatural é a forma descarada, despudorada, como é apresentado, de modo
solene, institucional, um recenseamento eleitoral mas, que não passa de um
ridículo envólucro que simboliza a desastrosa gestão PS/PSD, das últimas três
décadas. O menosprezo pela democracia e para com os eleitores, tendo como
referência essa bagunça administrativa, contradiz os constantes apelos aos
cidadãos eleitores quanto aos seus deveres cívicos e ao exercício da
democracia. E, não deixa de ser hilariante, ver os apelos do triste Cavaco,
para se votar, em massa.
Esse menosprezo é reforçado,
porquanto a actualização de um recenseamento eleitoral não passa de um elemento
de ordem técnico-administrativa de fácil resolução, com a utilização de meios
de tratamento de informação disponíveis há muitos anos. Só recentemente, com a
questão do cartão de cidadão ficou resolvida a introdução automática dos novos
eleitores na base de dados do recenseamento, bem como a actualização da
afectação territorial do voto, sempre que seja substituido o anterior formato
de identificação - o conhecido BI - para cidadãos que mudem de residência,
estado civil, etc.
Continuam por não resolver, por
exemplo, a questão do abate automático no recenseamento, dos óbitos, assim como
fica excluida a actualização da afectação territorial da população mais idosa,
que é possuidora dos antigos bilhetes de identidade, com carácter vitalício.
Mais, nunca os governos admitiram
fórmulas expeditas de os cidadãos votarem em local diverso daqueles em que
estão recenseados, numa tentativa de promover a participação dos eleitores. Se
a eleição de mandarins está assegurada, independentemente do nível de participação
dos eleitores, para que haveriam eles de investir no recenseamento ou na
facilidade do exercício da cidadania, ou preocuparem-se com algo afastado das
suas rotundas barrigas?
Elaborámos um pequeno exercício
onde isso se evidencia, quantificadamente, para todo o território e, depois em
detalhe para os vários distritos, de acordo com a metodologia implícita no
quadro seguinte:
População
residente total (1)
|
10 627 250
|
(-) População com menos de 19 anos (1)
|
2 198 344
|
(+)
Jovens com 18/19 anos (2)
|
230 141
|
(
- ) Residentes estrangeiros (3)
|
440 277
|
(+)
Residentes estrangeiros com direito a voto(4)
|
27 194
|
(=)
Eleitores potenciais
|
8 245 964
|
(
- ) Inscritos no Recenseamento eleitoral
|
9 347 315
|
(=) Eleitores fantasmas
|
1 101 351
|
(1) Estimativa do INE para fim de 2008
(2) Cálculo nosso sobre as estimativas do INE
(3) Dados do SEF para 2008
(4) D Republica, 2ª série, nº 43, 3 de Março 2009
Estes eleitores fantasmas
garantem – antes de entrar um só voto na urna – uma abstenção de 11.8%,
relativamente aos inscritos no recenseamento, sendo de 13.4% o excesso face aos
eleitores potenciais. Assim, consoante se utilizem os dados do recenseamento ou
o volume plausível de população com capacidade eleitoral, a abstenção é muito
distinta:
Revelada
pela CNE e pela superficialidade mediática
|
3
688 830
|
39.5%
|
Abstenção
real, descontados os fantasmas
|
2
587 479
|
27.7%
|
Baseada
no eleitorado potencial, real
|
31.4%
|
Um exercício aritmético, paralelo
ao acima efectuado para a população total, pode efectuar-se por distritos,
apresentando-se, nesse contexto, elementos reveladores da variedade de
situações.
População total
|
Eleitores possíveis
|
Eleitores
recenseados
|
Eleitores fantasmas
|
% dos recenseados
|
% dos eleitores
possíveis
|
||
Portugal
|
10.627.250
|
8.245.964
|
9.347.315
|
1.101.351
|
11,8
|
13,4
|
|
Aveiro
|
735.090
|
585.272
|
643.937
|
58.665
|
9,1
|
10,0
|
|
Beja
|
151.599
|
122.339
|
138.251
|
15.912
|
11,5
|
13,0
|
|
Braga
|
864.182
|
677.937
|
762.944
|
85.007
|
11,1
|
12,5
|
|
Bragança
|
140.635
|
119.330
|
156.335
|
37.005
|
23,7
|
31,0
|
|
C
Branco
|
197.185
|
165.525
|
193.761
|
28.236
|
14,6
|
17,1
|
|
Coimbra
|
432.555
|
351.689
|
393.881
|
42.192
|
10,7
|
12,0
|
|
Évora
|
168.893
|
137.796
|
147.649
|
9.853
|
6,7
|
7,2
|
|
Faro
|
430.084
|
283.186
|
351.874
|
68.688
|
19,5
|
24,3
|
|
Guarda
|
170.532
|
144.035
|
175.522
|
31.487
|
17,9
|
21,9
|
|
Leiria
|
480.165
|
379.114
|
421.010
|
41.896
|
10,0
|
11,1
|
|
Lisboa
|
2.238.484
|
1.613.883
|
1.856.903
|
243.020
|
13,1
|
15,1
|
|
Portalegre
|
116.830
|
96.397
|
108.632
|
12.235
|
11,3
|
12,7
|
|
Porto
|
1.824.123
|
1.439.292
|
1.550.752
|
111.460
|
7,2
|
7,7
|
|
Santarém
|
458.806
|
360.265
|
404.095
|
43.830
|
10,8
|
12,2
|
|
Setúbal
|
860.134
|
653.236
|
699.006
|
45.770
|
6,5
|
7,0
|
|
V
Castelo
|
250.951
|
207.240
|
255.700
|
48.460
|
19,0
|
23,4
|
|
Vila
Real
|
215.521
|
179.611
|
236.322
|
56.711
|
24,0
|
31,6
|
|
Viseu
|
398.640
|
325.066
|
381.883
|
56.817
|
14,9
|
17,5
|
|
Açores
|
244.780
|
184.847
|
216.759
|
31.912
|
14,7
|
17,3
|
|
Madeira
|
247.161
|
187.104
|
252.099
|
64.995
|
25,8
|
34,7
|
Do quadro atrás sobressaem os
seguintes factos:
·
É enorme a parcela de eleitores fantasmas, em
regiões como a Madeira, Vila Real e Bragança;
·
Setúbal, seguido dos distritos de Évora e Porto
surgem como aqueles em que os eleitores inexistentes têm menos significado
relativo;
·
Em Bragança, Guarda, Viana do Castelo, Vila Real
e na Madeira, o surrealista recenseamento consegue contabilizar um número de
eleitores superior à população residente total, mesmo incluindo crianças e
imigrantes;
·
A redistribuição dos 226 deputados actuais
eleitos no território nacional, de acordo com o volume de eleitores possíveis,
provocaria algumas alterações ao número de eleitos por alguns distritos:
Lisboa
perderia três deputados e a Madeira um;
Castelo
Branco, Évora, Portalegre e Setúbal aumentariam a sua representação em um
deputado, cada.
A questão dos eleitores fantasmas
revela ainda um aspecto de ordem política assaz interessante, pelo que revela
sobre o calculismo cúpido e oportunista do mandarinato.
O empolamento do número de
eleitores tem vantagens económicas para o mandarinato, uma vez que desse número
depende o volume de cargos surgidos das eleições autárquicas. De acordo com
artigo publicado (JN de 3/7/2009), o número de eleitores foi acrescentado recentemente
com 738 000 cidadãos, estes existentes, contrariamente, a muitos dos que estão
registados, como atrás se disse. Assim, em 22 concelhos passam a existir mais
dois vereadores e, em outros sete, onde o número de eleitores ultrapassa os
40000, a vereação beneficia de um aumento de salário. De acordo com critérios similares
nasceram, após as eleições autárquicas de 11 de Outubro, mais 400 cargos de
vogais de juntas de freguesia.
Em relação aos sete concelhos, o
número oficial de eleitores ultrapassa, em todos, de facto, os 40000. Mas, tudo
indica que, em alguns casos isso só seja possível contabilizando eleitores
fantasmas.
População total (1)
|
População <18
anos (2)
|
Eleitores potenciais
(1)-(2)
|
Eleitores
recenseados
|
|
Guarda
|
44 121
|
7 550
|
36 571
|
40 482
|
Ponte
de Lima
|
44 527
|
8 602
|
35 925
|
43 586
|
Portimão
|
49 881
|
9 991
|
39 890
|
41 949
|
(1) Estimativa do INE para fim de 2008
(2) Cálculo nosso sobre as estimativas do
INE
Na Guarda e em
Ponte de Lima é bastante claro que a consideração de eleitores inexistentes
dota os seus autarcas de uma categoria – com vantagens remuneratórias - que, de
acordo com os preceitos legais, só beneficiam porque existe um recenseamento
mal feito. Para o caso de Portimão a diferença poderia justificar alguma
reserva mas, convém que se não olvide que a população imigrante é significativa
no concelho e, a sua dedução, alargará, claramente, o fosso existente entre os
eleitores recenseados e os reais.
Andam por aí muitos fantasmas à
solta e demasiados mandarins a beneficiar disso. Apetece versejar:
Fátimas, isaltinos,
valentins
Avelinos e porcarias
afins
2 - Como se montou a
bipolarização no PS/PSD
Apresentaram-se algumas questões
relacionadas com o recenseamento e que evidenciam bem, o programada descuido do
mandarinato, mormente aquartelado na mafia bicéfala que vem gerindo a máquina
de extorsão de todos quantos trabalham em Portugal. Passa-se, de imediato, para
as fórmulas anti-democráticas que vêm sendo usadas para perpetuar uma maioria
confortável para o PS/PSD, através de uma das suas alas, agora o PS de
Sócrates, antes o PSD com o seu acólito Portas.
Constitui elemento basilar da
democracia que os cidadãos sejam iguais no direito de votar (ou não votar) e,
se votam, as suas opções não podem ser objecto de aferições diversas.
As democracias de mercado são
verdadeiras adulterações da democracia, sob muitos pontos de vista. Algumas já
foram explanadas neste blog (1), circunscrevendo-se agora a análise, aos
resultados de exercícios aritméticos, que se inserem na linha do que atrás se
apresentou.
A estanquicidade dos círculos
eleitorais nas eleições para deputados (o distrito) e a aplicação do método de
Hondt distorcem os resultados expressos pela vontade dos cidadãos, prejudicando
todos os partidos, para o benefício evidente do PS/PSD que, esclareça-se, é o
arquitecto do sistema eleitoral.
Os votos dirigidos a partidos,
apurados no território português (excluindo, portanto, os emigrantes) elegem
226 deputados e, manda a mais elementar democracia que cada deputado seja
eleito pelo mesmo número de cidadãos que elegeram um concorrente de outro
partido. Porém, nada disso acontece, no sistema eleitoral luso, como se pode
observar no quadro seguinte:
2005
|
2009
|
|
Votos
dirigidos a partidos
|
5.543.089
|
5.485.231
|
Nº
médio de eleitores por deputado
|
||
Total
|
24.527
|
24.271
|
Esquerda
|
36.209
|
32.363
|
BE
|
45.543
|
34.818
|
PCP-PEV
|
30.876
|
29.745
|
Direita
|
21.934
|
21.348
|
PS
|
21.434
|
21.548
|
PSD
|
22.768
|
21.103
|
Direita
xenófoba (CDS)
|
34.596
|
28.188
|
·
São evidentes as diferenças entre o número de
votos médio para eleger os deputados do PS/PSD e os necessários às restantes
forças políticas. Esse desequilíbrio entre o PS/PSD e os outros partidos reduziu-se
claramente de 2005 para este ano, uma vez que, nos casos do BE e do CDS, o
número de deputados cresceu bastante, permitindo assim, um maior aproveitamento
dos votos;
·
As variações positivas ou negativas – que foram
notórias - no número de votos e deputados, para o caso do PS/PSD, mantêm estes
sempre em situação favorável e com ligeiras alterações, quanto a número de
votos por deputado;
·
A segmentação do território por distritos –
unidade territorial cuja utilidade se desconhece perante a nomenclatura usada
na UE e já transposta em diversas áreas da administração pública – visa isolar
os votos não dirigidos ao PS/PSD e torná-los inúteis, em termos de eleição de
deputados. Dito de outro modo, o sistema eleitoral, pretende neutralizar muitas
centenas de milhar de cidadãos que se não revejam no PS/PSD;
·
Essa situação, acompanhada pela polarização dos
media em noticias sobre aquelas duas seitas, conduz, em muitos casos a forte
distorção do significado do voto expresso. Um cidadão cuja preferência seja por
um partido diferente do PS/PSD poderá ser levado a votar num deles, numa lógica
de mal menor, tendo em conta a inutilidade prática de votar na formação
política que realmente aprecia;
·
Assim, existe um reforço implícito à
bipolarização empobrecedora, à lógica do voto útil, em detrimento de
verdadeiras alternativas, com toda a máquina de propaganda mediática mobilizada
para o denegrimento ou desvalorização de quaisquer outras formações políticas
que não o PS/PSD. Só a conjugação de uma sofrível cultura democrática com a
arrogância dos ocupantes PS/PSD do país, permite como comentadores de serviço,
indivíduos tão pouco isentos como Marcelo ou Vitorino;
·
Esta concentração de votos favorece ainda o
PS/PSD quanto à distribuição dos subsídios estatais, proporcional ao número de
votos que recolheram e indexados ao salário mínimo. O cinismo do sistema
revela-se, neste contexto, na grande preocupação dos mandarins pela elevação do
valor do salário mínimo – base para a elevação do valor dos subsídios aos
partidos presentes na AR – e menos com a sua aplicação, pelas empresas, aos
trabalhadores (2);
·
Para culminar todo este elenco de iniquidades e
de manobras anti-democráticas, o PS/PSD recusa os subsídios públicos aos
partidos concorrentes que não elejam deputados, como se essa situação fosse
merecedora de um anátema, de uma verdadeira expulsão do debate político e
democrático.
3 – Como seria com um sistema
eleitoral tecnicamente democrático?
Procede-se, de seguida, a um
exercício de redistribuição democrática dos votos, de acordo com princípios
conhecidos e não da nossa autoria. A sua discussão está feita mas, como a sua
aplicação depende do PS/PSD… Para esse exercício toma-se como base:
·
A nível global e como no quadro anterior se
expôs, cada deputado deveria representar, em 2009, 24271 desses eleitores
(24527 em 2005), aplanando-se, liminarmente, as diferenças apuradas para os
diversos partidos;
·
Mantém-se a divisão dos círculos eleitorais
coincidentes com os distritos (Continente), para além das duas regiões
autónomas;
·
Para cada distrito e para cada força política, o
número de votos é dividido pelo indicador acima referido (24271) e o maior
número inteiro, sem arredondamento, daí resultante forneceria o número de
deputados directamente eleitos pelo seu círculo. Nesse contexto, seriam eleitos
directamente apenas 172 deputados, destinando-se os restantes 54 a ser eleitos
numa segunda instância;
·
Essa segunda instância – o chamado círculo
nacional – seria constituido pelos votos sobrantes, em cada distrito e de cada
partido que excedessem o resultado de 24271*nº de deputados directamente
eleitos. Seriam, desta forma eleitos mais 47 deputados;
·
Como se depreende, cada partido concorrente
ficaria sempre com um saldo de votos, inferior a 24271 e restariam ainda 7
deputados por definir a que partido pertenceriam. Ora, nada mais simples do que
afectá-los aos partidos concorrentes, com maiores saldos, garantindo-se assim
que quase todos os cidadãos estariam representados na AR.
O quadro seguinte resume a
composição da AR actual e evidencia a sua maior representatividade
Composição
da AR após redistribuição democrática dos votos - 2009
|
||||||||
Eleição directa
|
Círculo nacional
|
Total
|
Actual
|
Comparação
|
||||
1ª
volta
|
2ª
volta
|
Ganhos
|
Perdas
|
|||||
Esquerda
|
24
|
18
|
1
|
43
|
31
|
12
|
||
BE
|
15
|
7
|
1
|
23
|
16
|
7
|
||
PCP-PEV
|
9
|
9
|
18
|
15
|
3
|
|||
PCTP/MRPP
|
2
|
2
|
2
|
|||||
Direita
|
133
|
20
|
4
|
157
|
174
|
4
|
-21
|
|
PS
|
77
|
8
|
85
|
96
|
-11
|
|||
PPD/PSD
|
56
|
11
|
1
|
68
|
78
|
-10
|
||
MEP
|
1
|
1
|
1
|
|||||
MMS
|
1
|
1
|
1
|
|||||
PPM
|
1
|
1
|
1
|
|||||
MPT/PH
|
1
|
1
|
1
|
|||||
Direita
xenófoba
|
15
|
9
|
2
|
26
|
21
|
5
|
||
CDS-PP
|
15
|
9
|
24
|
21
|
3
|
|||
PND
|
1
|
1
|
1
|
|||||
PNR
|
1
|
1
|
1
|
|||||
Total
|
172
|
47
|
7
|
226
|
226
|
21
|
-21
|
|
·
É óbvio que uma maior democraticidade na
distribuição dos votos, resultante da consideração de um “círculo nacional” que
congregue os votos que não elegeram deputados na eleição directa como
mandatários distritais, prejudica, exclusivamente o PS/PSD, apresentando como
principal benefiário, a esquerda institucional;
·
Inversamente, a situação actual, dá ao PS/PSD um
benefício de 21 deputados a que se devem juntar os da emigração, como já se
referiu;
·
Um círculo nacional aumentaria substancialmente
a diversidade política da AR acrescentando-se aos deputados dos actuais cinco
partidos, dois eleitos pelo PCTP/MRPP – o principal prejudicado com o modelo
eleitoral existente – e um para cada uma de várias outras áreas da direita
tradicional ou xenófoba;
·
Neste contexto, o surgimento de maiorias
absolutas de um partido seria extremamente difícil. Os cálculos efectuados para
2005 revelam que o gang socratóide apenas teria tido 105 deputados, muito aquém
da maioria absoluta com que empobreceu os trabalhadores e os pobres, com que
reduziu direitos na área da saúde, da educação e do trabalho, durante quatro
anos;
Há muito referida como uma
possibilidade de dotar o sistema eleitoral de maior democraticidade, a
consideração de um círculo nacional, nunca foi considerada seriamente pela
mafia bicéfala. Esperar que a democracia seja aprofundada e desenvolvida pelo
PS/PSD – os grandes beneficiários da falsificação eleitoral que se vem aqui
explanando – é estar defronte de uma abóbora podre à espera que dê nêsperas.
A integração dos emigrantes – não
considerada no exercício anterior - revela aspectos curiosos que,
invariavelmente, favorecem o PS/PSD.
·
Para além de o recenseamento não considerar com
direito a voto uma enorme parcela, maioritária, dos portugueses na emigração, a
baixa participação eleitoral fornece ao PS/PSD, 4 deputados de baixo custo.
Assim, o PSD recentemente, elegeu dois deputados pelo círculo “Fora da Europa”
com uma média de 2368 votos, quantitativos que, para a “Europa” se elevam a
7219 para o deputado do PS e 3970 para o do PSD;
·
Trata-se de quatro deputados que pouco ou nada
representam mas cuja existência pode ser decisiva, se se considerar que, numa
AR em que a maioria se consegue com 116 deputados, o seu número – garantido ao
PS/PSD – é um auxiliar precioso para a constituição de maiorias.
4 – A democracia que faz falta
·
Seria infantil admitirmos que a democracia para
os trabalhadores portugueses, para os reformados, os desempregados, os
precários e os pobres se conseguiria tecnicamente, através de uma reforma do
sistema eleitoral ou com um recenseamento actualizado;
·
Demonstra-se aqui e apenas, que a democracia de
mercado tem como inerência a prática de manobras anti-democráticas que sirvam
de almofada de segurança contra reviravoltas eleitorais.
·
A democracia de mercado, com os seus partidos
tresandando marketing, frases ocas e imagens estudadas para apresentar no
telejornal e nos “debates” é uma violência e uma imbecilidade. As fórmulas de
eleição de mandarins, com mandatos longos, irreversíveis, vagos e irrestritos,
configuram de facto uma forma de ditadura do capital;
·
A própria existência de mandarins, profissionais
da mistificação, da trafulhice e do tráfego de influências é uma verdadeira
usurpação do poder da multidão sobre o seu próprio destino;
·
Pretende-se tratar a multidão como uma vasta
mole de gente infantilizada, ignorante, incapaz de pensar, de se auto-gerir no
estabelecimento das condições para o seu bem-estar; e que se veve sentir
eternamente grata para com a existência de mandarins, benevolentes e
sacrificados;
·
De modo simplista pretende-se demonstrar que os
cidadãos se podem manifestar, pelo voto, na expressão verbal e escrita e de se
associarem, ao invés do que acontece no fascismo clássico e nas ditaduras
banais. Esse arsenal fora de moda nas sociedades desenvolvidas e deram lugar às
as novas fórmulas de controlo biopolítico. Este, baseia-se nos seus modelos de
quotas, de avaliação, de dependência da arbitrariedade do chefe e do patrão, do
crédito bancário, com um vasto e complexo leque de leis e regulamentos. É a
opressão de sempre novas formas de opressão, como se observou na criação dos
SIADAP, no modelo de avaliação dos professores, a cargo da execranda varejeira
Milu, nas “competências” de gestão do fascistóide Correia de Campos e cujas
técnicas são, há muito tempo, aplicadas nas empresas;
·
A contínua subida do abstencionismo que se
verifica em toda a parte, testemunha o desprezo e o descrédito que os sistemas
partidários e eleitorais e que tem maior visibilidade entre os jovens. A
bipolarização entre dois partidos de direita – o modelo proposto nas
democracias de mercado – são emanações de um evidente pensamento único, qual
teologia que não dispensa actos litúrgicos de exposição do poder, como as
eleições;
·
E as esquerdas institucionais, sem grandes soluções,
funcionam como um harmónio que estica ao encolhe ao sabor da conjuntura, com
propostas tímidas, inseridas num quadro reformista que a direita muitas vezes é
capaz de subscrever, propondo um socialismo vago ou sem conteúdo, que não capta
duradouramente ninguém; e para os quais, as ideias de “poder para os
trabalhadores”, capitalismo e anti-capitalismo, anto-gestão, etc, são incómodos
tabus;
·
A democracia política passa, forçosamente por
novas formas de organização política nas quais se inscreve o poder dos
trabalhadores no que respeita à gestão e decisão no seio das empresas. Não há
democracia política onde o poder económico pode apropriar-se da riqueza criada,
onde pode despedir, reduzir direitos e salários, etc. Democracia é a expulsão
dos capitalistas para o refugo da História.
(1) Os últimos 30 anos de eleições legislativas;
perspectivas para Setembro
http://www.scribd.com/doc/17283662/Os-ultimos-30-anos-de-eleicoes-legislativas-perspectivas-para-Setembro ou neste blog
Eleições europeias 2009 – limitações e
oportunidades
A democracia de mercado e a actuação da esquerda
http://esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt/1459.html ou neste blog
DEMOCRACIA OU CLEPTOCRACIA
http://esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt/1252.html ou neste blog
Novos partidos. Mais do mesmo ?
http://esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt/18530.html ou neste blog
O sistema partidário
português
(2) O novo valor do salário mínimo é um logro
http://esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt/3567.html ou neste blog
Outubro 2009
Sem comentários:
Enviar um comentário