O perigo maior é que os estados decadentes, tendem a não
aceitar essa decadência e provocam desastres, não optando preferencialmente pelo
hara-kiri.
Índice
Apresentação dos palhaços
Um debicar errante, caótico
Golfo Pérsico - muitos
agressores para um alvo
Onde estão as
ameaças?
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Apresentação dos palhaços
Há mais de 2000
anos formou-se o primeiro triunvirato em Roma, com Júlio César, Pompeu (o
Grande) e um tal Crasso que tinha como fixação conquistar o império parto
acabando por morrer nessa guerra. Roma nunca conseguiu essa conquista, sendo o
culto imperador Adriano a estabelecer a paz, muito mais tarde, depois de ter
feito uma análise custo-benefício dessa contínua guerra.
No decadente
império americano de hoje também domina um triunvirato[1],
de pechisbeque, com um outro Pompeu (grande e gordo), um Bolton que cumpre bem
o papel de Crasso, pela insensatez que o fez estar na prateleira muitos anos e,
deixando o pior para o fim, Trump está a anos-luz de ser um Júlio César. O
perigo é que os estados decadentes, tendem a não aceitar essa decadência e provocam
desastres, não optando preferencialmente pelo hara-kiri.
Um debicar errante, caótico
Nos altos e baixos da já crónica crise política no Golfo
Pérsico, há vários campos em confronto, com menos ou mais moderação política, com
vários níveis de integração e de contributos para essa crise. O Médio Oriente
está agora na montra, depois das sanções à China e de uma tentativa de venda em
saldo de um tal Guaidó, numa ação em que a uma ameaça
qualquer se seguirá uma qualquer ameaça. Um percevejo, saltita sedento de sangue.
Os EUA constituem, apesar
da sua distância geográfica e cultural face aos povos do Médio Oriente, a única
presença[2]
massiva, a peça mais relevante no xadrez político e, sobretudo militar, global,
numa atuação frenética iniciada em 1990.
Isso resulta em
termos históricos da tara salvítica dos EUA quando se entenderam livres e acima
das barafundas europeias do seculo XVIII que, no entanto, não compreendia
qualquer respeito pelos nativos americanos, chacinados ou, pelos negros,
escravizados. Daí resulta parcialmente o facto de os EUA de hoje continuarem a
assumir um alegado direito de intervir nos problemas que existem ou vão
surgindo na região do Golfo, como no Mar da China, preparando-se mesmo para
colocar uma base militar num santuário da vida selvagem chamado Ilhas
Galápagos, para prevenir que as iguanas possam prejudicar os interesses dos EUA
e do “mundo livre”
Na sequência da II
Guerra Mundial beneficiaram, numa fase inicial, do fim dos impérios coloniais
europeus, do recuo estratégico das principais potências europeias, da
implantação do modelo neoliberal, do desmembramento do Bloco de Leste, das
tecnologias que desenvolveram a globalização dos mercados, mormente
financeiros, bem como da tradicional subalternidade do “quintal”
latino-americano, que hoje se vem reconstituindo. Como revezes, refira-se a derrota
no Vietnam, como no resto da Indochina, a humilhação iraniana em 1979, o
surgimento em força da China, como potência desafiante, a maior autonomia dos
países asiáticos, o caos provocado pelas intervenções militares no Médio
Oriente ou no Mediterrâneo, para além do retorno da Rússia, como potência também
desafiante, para mais numa estreita relação estratégica com a China; e que para
azar do messianismo dos EUA, veio coincidir com o descalabro do sistema
financeiro, em 2008, baseado em pirâmides de Ponzi.
Como símbolos
adequados dessa decadência podem considerar-se G W Bush ou Trump - cujas
riquezas materiais contrastam com a impreparação intelectual, como se tem visto
recentemente, na sucessão de ameaças e sorrisos de Trump, face à Coreia do
Norte, à China, à UE, à Venezuela, ao México... às iguanas, como se disse
atrás… Essa procura de retoma de hegemonia, é frequentemente desastrada, cada
vez mais difícil e, crescentemente contestada, baseando-se em certos vetores:
·
O controlo político
da produção e distribuição de hidrocarbonetos no Médio Oriente e na Venezuela,
cujas transações, maioritariamente em dólares, constituem uma forma de
manutenção de uma elevada dívida externa por parte dos EUA e dar viabilidade à
exportação de petróleo de xisto made in
USA;
·
O Médio Oriente,
mormente as monarquias árabes são, com os países da NATO, os grandes
compradores da produção da indústria de armamento dos EUA; uma “boa” guerra ou
uma mera ameaça de guerra, incentiva os sultões a encomendar armas[3];
·
A tentativa de
afetar ou condicionar o abastecimento de hidrocarbonetos à China, à Índia e
todo o Extremo Oriente ou, boicotar a importação de petróleo venezuelano,
congelando capitais desse país ou boicotando o seu abastecimento de bens
essenciais à sua população;
·
A impotência face à
integração energética euroasiática, bem como face ao canal de integração
comercial com o mesmo âmbito geográfico (e incluindo a África), conhecido como
Rota da Seda. A queda dos regimes latino-americanos de “esquerda” surge como
uma forma dos EUA compensarem dificuldades em outras geografias e, restabelecerem
a sua ordem no “quintal”.
Golfo Pérsico - muitos
agressores para um alvo
Voltando ao Médio Oriente, os EUA ostentam as suas dificuldades de afirmação
estratégica, depois dos desaires do Afeganistão, do Iraque, da Síria, do
impasse iemenita e de assistirem à Turquia – o segundo mais populoso membro da
NATO – comprar armas à rival Rússia. Neste contexto e, açulados pela sua
fortaleza sionista, em estado de pânico, os EUA intentam atacar o país mais
populoso da região, o Irão – uma das três mais antigas e consolidadas entidades
políticas do planeta, em conjunto com o Egipto e a China.
No cenário do Médio
Oriente podem considerar-se vários conjuntos… mesmo quando têm um só elemento:
1. A entidade sionista surge, neste contexto, como a fortaleza
norte-americana, com uma iniciativa estratégica mediatizada e inserida na dos EUA,
dos quais depende a sua existência política, financeira e militar. Tem, porém, uma
influência suficiente (via Jared Kushner[4]) para
levar a administração Trump a actos insanos – Jerusalém como capital sionista e
anexação do território sírio dos Golan – com a aceitação tácita dos sultões
árabes.
Note-se que na Palestina ocupada pela entidade sionista vigora
um regime racista em que os eventuais judeus (?) mantêm a ferro e fogo uma raça
“inferior”, os palestinianos, numa prática semelhante ao apartheid sul-africano ou da Alemanha nazi.
Sublinhe-se ainda que a entidade sionista possui umas 200
bombas atómicas - inicialmente construídas com apoio francês - fora do Tratado
de Não-Proliferação de Armas Nucleares. Este último, foi assinado pelo
Irão há uns cinquenta anos, não tendo o país armas nucleares; e, mesmo a sua
utilização para produção de energia é submetida ao controlo da Agência Internacional
da Energia, após validação de potências nucleares como a Rússia, a Grã-Bretanha,
a China, a França ou a Alemanha, após a retirada dos EUA desse acordo, por
iniciativa de Trump, para justificar a sua actual deriva guerreira no Golfo.
2 – As monarquias árabes, lideradas pela Arábia Saudita do
mediático Mohammed bin Salman (MbS), tendo falhado no uso do ISIS para mudar o
regime na Síria e com pouca influência no Iraque, jogam em dois planos. Um, no Yémen para anular o poder das tribos do norte - os huti - zaiditas, próximos do
xiismo; e, sobretudo, controlarem a margem oriental do estreito de Bab
el-Mandeb[5],
estratégica passagem de 20 km de largura que liga o Índico ao Mar Vermelho, ao
norte do qual está o canal do Suez… com a Europa “à vista”. O outro objetivo de
MbS é procurar abater o Irão, seu grande rival na região, para o qual terá de
contar, forçosamente, com os EUA. Finalmente, refira-se que não há total
unidade entre o conjunto de reis, emires e sultões, pois o monarca do Qatar é
ostracizado pelos colegas, uma vez que tem uma velha ligação ao Irão e, para mais
tendo a Turquia como aliado, sente-se ao abrigo de intervenções musculadas do
MbS e seus confrades.
Salvador Dali – El Jinete
de la Muerte
3 – O Irão é um “problema” que os
EUA tentam resolver desde a queda do xá, em 1979, quando o país deixou de ser
um vassalo americano. O apoio dos EUA ao repressivo regime monárquico conduziu
à ocupação da embaixada americana, por estudantes que fizeram reféns os seus
funcionários, num processo que só terminou em 1981. A desastrada tentativa
militar de resgate (poucos anos após a derrota no Vietnam) acentuou nos EUA um
sentimento de humilhação que promoveu a vitória de Reagan nas presidenciais daquele
mesmo ano. A chegada de Reagan constituiu um pilar essencial para o reforço do
neoliberalismo, já em aplicação na Grã-Bretanha pela baronesa Thatcher; Reagan
foi um género de anjo anunciador dos trastes que se lhe seguiram, George W Bush
e Trump.
Imagem pintada no muro da antiga embaixada dos
EUA em Teerão
Os
EUA, encomendaram a Saddam Hussein uma guerra contra o Irão em que aquele se
apoderaria do petrolífero Kuzistan como recompensa, caso conseguisse derrubar o
regime iraniano. Essa guerra provocou um milhão de mortos, consolidou o regime
mas fragilizou o Iraque, levando Saddam
a invadir o rico Kuwait para fazer face às dívidas contraídas com a guerra; e,
fez isso, sem curar de obter o aval da suserania americana, sem contar que os
EUA são o tutor das monarquias petrolíferas do Golfo, sucessor dos britânicos
que as inventaram, depois da descoberta de petróleo sob as areias do deserto.
Seguiram-se duas intervenções
ocidentais no Iraque, comandadas pelos EUA e de onde resultou a queda e
posterior execução de Saddam, novos sofrimentos para o povo iraquiano e a
transição de antigos militares para o Daesh/ISIS, cuja missão seria a criação
de um califado (!) juntando territórios curdos, sírios e iraquianos. Para os
EUA o importante nessa conjuntura era a venda de armas (pagas por qataris e
sauditas) para a queda de Assad, o que, a acontecer, fragilizaria, na sequência,
o Líbano, dando ao regime sionista uma fronteira tranquila a norte e causando alegria
às monarquias sunitas por verem alauitas sírios e xiitas libaneses em desgraça
e com o Irão em maior isolamento.
Como
se observa, há hoje um eixo xiita (e afins) que vai do Irão ao Mediterrâneo,
onde os EUA e os seus cadetes europeus perderam posições, incluindo nessas
perdas, as boas graças da Turquia, parceiro na NATO.
Ainda no que respeita ao Irão, este país tem o estatuto de
observador junto da OCX – Organização de Cooperação de Xangai e relações
próximas com os seus membros, mormente Rússia e China (nos hotéis de Teerão é
visível a forte presença de quadros chineses) mas também com a Índia e o Paquistão.
Ao que se sabe, o recuo de Trump (pressionado por Pompeo e Bolton) 15 minutos
antes de um ataque ao Irão - na sequência do abate do drone americano (20/6) -
não se ficou a dever a um impulso humanitário de Trump, perante a perspetiva do
mesmo resultarem 150 mortos; a causa estará numa comunicação russa de que
estariam ao lado do Irão face a qualquer agressão.
4 – A Turquia, país da NATO com uma posição estratégica
ímpar, com influência na Europa, nos mares Negro, Egeu e Mediterrâneo, no
Próximo Oriente e na Ásia Central tem-se distanciado dos EUA e mesmo ameaçado
as monarquias árabes em caso de intervenção no Qatar. Por outro lado, a
Turquia, a despeito da sua posição de sempre, contra as autonomias curdas, vem
atuando no norte da Síria com a mediação da Rússia que tem na Turquia – país da
NATO – um comprador de armamento; e tem uma relação amistosa com o Irão, ao
contrário dos países árabes que estiveram incluídos no Império Otomano durante
quatro séculos.
5 - Os EUA constituem o único caso,
entre os presentes na área do Golfo que desempenha um papel global e que, a
despeito das suas próprias e crescentes fraquezas, em termos comparativos com
outras potências, se arroga ao direito de ameaçar, intervir, emitir recados e
opiniões, inclusivamente nas questões internas de outros países, como se viu
recentemente na Grã-Bretanha onde Trump anunciou, sem qualquer detalhe, um
plano gigantesco de apoio ao país, uma vez concretizado o Brexit… como brinde
de desempenho.
Para um retrato simplificado da decadência dos EUA, vejam-se
as dinâmicas recentes:
2017
|
2000
|
2017
|
2000
|
|
Grandes Exportadores (% do total
mundial)
|
Grandes Importadores (% do total
mundial)
|
|||
Alemanha, Espanha, França,
Holanda e Itália
|
19,0
|
21.9
|
24.3
|
29.6
|
China
|
15,0
|
5.7
|
9.5
|
3.0
|
EUA
|
7.7
|
12,0
|
13.0
|
19.0
|
Deficit/Excedente externo
|
China
|
EUA
|
||
Milhões
$
|
896500
|
391400
|
- 863900
|
- 434000
|
A isso soma-se a regular emissão de sanções e ameaças contra
o Canadá, o México, a UE, a China, a Venezuela, a Coreia do Norte, o Irão, para
além do já crónico caso de Cuba e de outros de que… já ninguém se lembra; para
além da procura de semear bases militares um pouco por todo o lado, sendo o
último dos casos, o das ilhas Galápagos - um santuário de vida selvagem - e que
terá já obtido o acordo do mordomo-mor do quintal equatoriano, um tal Lenin
Moreno.
Salvador Dali – O Grande Masturbador
Onde estão as
ameaças?
Vamos proceder à
apresentação de alguns indicadores sobre os países que protagonizam a crise do
Golfo para que se possa aquilatar a diferença de forças em presença. Uns, serão
indicadores económicos e outros de conteúdo eminentemente militar; e inserimos dados
sobre Portugal para efeitos de comparação.
Indicadores
económicos
Irão
|
Emiratos
|
Oman
|
Kuwait
|
A. Saudita
|
Israel
|
Qatar
|
Bahrein
|
EUA
|
Portugal
|
||
População (milhões )
|
|||||||||||
83.0
|
9.7
|
3.5
|
2.9
|
33.1
|
8.4
|
2.4
|
1.4
|
329.3
|
10,4
|
||
PIB per capita ($ ) 2017 Banco Mundial
|
|||||||||||
5470
|
39441
|
20224
|
41423
|
20747
|
42056
|
69554
|
25309
|
59172
|
21087
|
||
Dívida externa (% PIB)
|
|||||||||||
1,8
|
62,1
|
65,4
|
39,3
|
29,9
|
25,1
|
100,5
|
147,2
|
91,9
|
204,7
|
||
Divida externa per capita ($)
|
|||||||||||
96
|
24495
|
13220
|
16290
|
6196
|
10555
|
69917
|
37250
|
54388
|
43173
|
||
Dívida externa/Reservas de ouro e divisas
|
|||||||||||
0,1
|
2,5
|
2,9
|
1,4
|
0,4
|
0,8
|
11,2
|
22,2
|
145,3
|
17,2
|
||
Gasto militar per capita ($)
|
|||||||||||
76
|
1482,0
|
1918,6
|
1793,1
|
2114,8
|
2333,3
|
804,2
|
521,4
|
2174,3
|
365,4
|
Em termos demográficos,
o Irão supera largamente a população dos seus antagonistas da outra margem do
Golfo, incluindo a da entidade sionista, onde se incluem vários milhões de
“árabes israelitas” ou falachas etíopes, cidadãos de segunda categoria,
segregados, porque os sionistas são eminentes racistas e temem os efeitos das
ligações daqueles com os seus concidadãos que vivem fora das fronteiras
guardadas pelos sionistas. Nas monarquias do Golfo encontram-se milhões de
imigrantes, vindos de África ou da Ásia (com relevo para as Filipinas)
remetidos aos seus espaços e com a negação de reagrupamento familiar. Nas
crispações que se revelam regularmente nesta região, os EUA são o grande
desequilibrador, tendo em conta o seu poder militar e económico. Não incluímos
no quadro acima dados sobre a Jordânia porque é apenas uma monarquia débil,
mais uma criação britânica do final da I Guerra, com forte população
palestiniana e dependente do financiamento exterior, vindo das petromonarquias
vizinhas.
O PIB per capita do
Irão é sensivelmente mais baixo do que o dos restantes antagonistas que, em
regra, têm um indicador superior ao europeu Portugal, como também acontece com
os EUA. Os níveis de desigualdades são enormes dentro de cada país. No entanto,
quem conhecer o Irão saberá que Teerão tem 12 milhões de pessoas, que recebe
diariamente 4 milhões de trabalhadores que vivem fora, tem um trânsito intenso,
um elevado grau de autossuficiência e as pessoas apresentam-se com um aspeto
digno, não se observando os magotes de pedintes que se conhecem em outras
paragens do mundo islâmico. Porém, o regime, decidiu construir um espaço luxuoso,
faraónico, para conter o corpo do… fundador Khomeini.
Ao contrário do
Irão que é uma das três mais antigas entidades políticas do planeta – a par com
a China e o Egipto - entre as monarquias árabes, abundam entidades de criação
recente, antigas possessões e protetorados britânicos que a descoberta de
petróleo elevou, para muito além de chefes tribais, de comerciantes, de
criadores de cavalos e camelos e que os diversos impérios que se sucederam no
Médio Oriente nunca cobiçaram. A família Saud por exemplo, teve de esperar até
aos anos 30 para, com a ajuda ocidental, constituir um reino, abandonando então
a tradicional prática de assalto a caravanas. O Qatar foi um território persa durante
séculos, o Bahrein vivia da apanha de ostras e o Oman é o único caso com
presença na História porque constituiu uma potência marítima no Índico
ocidental, durante alguns séculos, criando, por exemplo, Zanzibar.
Tendo em conta que
Portugal está no pódio europeu da dívida, todos os indicadores de capitação de
capitação apresentam-se como desprezíveis, excepto no Bahrein que já não tem
reservas petrolíferas. É notória a irrelevância da dívida externa iraniana no
contexto do PIB, o que tem consequências na capitação, apresentando-se como
verdadeiros campeões nesse indicador, o Qatar e os EUA.
A comparação das
reservas em ouro e divisas com a dívida externa evidencia grandes desigualdades.
A dívida externa dos EUA corresponde a 145.3 vezes o valor das reservas
monetárias do país o que, associado ao seu gigantesco deficit comercial, só é
admissível por razões de ordem política, ancoradas na sua supremacia militar disseminada
pelo planeta evitando, com toda a artificialidade, que se considere o dólar
como algo sem qualquer préstimo. Entre os restantes países considerados, todos
com indicadores substancialmente mais baixos do que os EUA, sobressaem o
Bahrein e Portugal - pelas piores razões em termos de solvabilidade - e o Irão
bem como a Arábia Saudita, por razões diametralmente opostas.
Finalmente e antes
de se abordarem os indicadores de cariz militar, são visíveis os enormes gastos
dos países do Golfo, sendo comparativamente mais modestos nos casos do Bahrein
e do Qatar; os quais se mostram claramente superiores aos (já exagerados)
gastos militares portugueses. Os gastos militares por habitante são
particularmente elevados nos EUA e na Arábia Saudita, superados apenas pela
fortaleza sionista; e, em contrapartida, são comparativamente muito mais baixos
no Irão. Levanta-se a questão dos gastos
militares portugueses que, tendo em
conta o enquadramento geográfico, se mostram muito elevados, como aliás
referimos, anos atrás e somente justificados pela pertença à NATO, como escoadouro de armamento made in USA, como determinante do envio de tropas para locais onde
Portugal não tem qualquer interesse estratégico ou comercial e ainda, porque “é
preciso” manter um número demasiado elevado de “generais
sentados”. Neste contexto leviano de gastos militares, a
compreensão da realidade no Golfo será mais nítida se se souber que o orçamento
militar da Arábia Saudita é 23 vezes superior ao português.
Indicadores
militares
Irão
|
Emiratos
|
Oman
|
Kuwait
|
A. Saudita
|
Israel
|
Qatar
|
Bahrein
|
EUA
|
Portugal
|
||
Militares no ativo por 1000 habitantes
|
|||||||||||
6
|
6,6
|
12,1
|
5,3
|
6,9
|
20,2
|
5,0
|
5,9
|
3,9
|
2,9
|
||
Força aérea (nº)
|
|||||||||||
509
|
541
|
175
|
85
|
848
|
595
|
100
|
107
|
13398
|
87
|
||
Tanques de combate (nº)
|
|||||||||||
1634
|
510
|
117
|
567
|
1062
|
2760
|
95
|
180
|
6287
|
186
|
||
Veículos armados (nº)
|
|||||||||||
2345
|
5936
|
735
|
715
|
11100
|
6541
|
465
|
850
|
39223
|
700
|
||
Lançadores de rockets (nº)
|
|||||||||||
1900
|
72
|
12
|
27
|
122
|
150
|
17
|
17
|
1056
|
0
|
||
Navios de guerra (nº)
|
|||||||||||
398
|
75
|
16
|
38
|
55
|
65
|
80
|
39
|
415
|
41
|
Quanto aos efetivos
militares por cada mil habitantes, há um destaque evidente para a entidade
sionista, cerca de cinco vezes a dos EUA que se pretende com capacidade de
intervenção em todo o globo. Nos outros países da região, os indicadores têm
valores próximos, excluindo o caso do Oman.
Quanto a Portugal,
o indicador deveria ser mais baixo, ainda que seja compreensivelmente inferior
aos registados para a região do Golfo. Em Espanha, há uns anos, havia um
oficial general por cada 186 militares; em Portugal o número reduz-se a 131.
No capítulo da
força aérea, sem entrarmos em detalhes quanto à sua composição e modernidade e,
para além do caso especial dos EUA, sobressai a Arábia Saudita, surgindo num
segundo plano a entidade sionista, os Emiratos e o Irão. O Kuwait, a despeito
da exiguidade da sua população e do seu território apresenta uma força aérea
quantitativamente semelhante à portuguesa.
Como potência
global, os EUA apoiam-se sobretudo na força aérea e menos em tanques de
combate, necessários em casos de combates convencionais, em terra. Como as
guerras tendem, hoje, a ser muito assimétricas, a utilização de tanques contra
forças de guerrilheiros ou em cenários urbanos não é a mais adequada. Neste
tipo de arma, sobressai o seu número entre os sionistas, temerosos de ataques
convencionais ou, para eventuais penetrações profundas em terreno dos países
limítrofes. Quer o Irão ou a Arábia Saudita têm territórios vastos para poderem
circular com tanques. Mais estranho é o número destas máquinas de guerra em
territórios tão exíguos como os do Kuwait (quiçá ainda temeroso de uma nova
invasão iraquiana…) do Qatar ou do Bahrein. Este último é um pequeno estado
insular (780 km2 repartidos por 35 ilhas) e tem um número de
veículos semelhante ao de Portugal, muito maior e com uma longa fronteira
terrestre. Os sultões são muito criteriosos; saberão certamente utilizar uma
tal frota de tanques num tão pequeno território insular …
Quanto aos veículos
armados, mais ligeiros do que os tanques, é também curioso o seu número entre
os sauditas (pouco menos que 1/3 dos norte-americanos) mas com uma população
quase quarenta vezes inferior; outro indicador espantoso é o da fortaleza
sionista, com um veículo armado por cada dois quilómetros quadrados,,, e que
não poderão ser todos usados em simultâneo para não gerarem… engarrafamentos.
Uma vez mais, observam-se as assimetrias nas dotações destes veículos, com
números próximos para territórios tão desiguais, nos casos do Kuwait, ou do
insular Bahrein, quando a comparação é feita com Portugal.
Quanto a lançadores de rockets – uma arma com grande mobilidade, usada
por exemplo, em Gaza contra alvos sionistas - o Irão está mais bem munido do
que os próprios EUA que, naturalmente, não esperam ser atacados numa guerra
convencional. E isso justifica que se diga que
"o sistema de defesa aéreo iraniano é extremamente poderoso" e que os
Estados Unidos iriam enfrentar "um inimigo que, apesar de ser militarmente
mais fraco (...), tem uma capacidade de retaliação e de causar dano
tremenda" (afirmações de Carlos Branco major-general na reserva). Para
além do encerramento do estreito de Ormuz[6], em caso de guerra, com implicações incalculáveis na economia global.
Note-se que os outros países da
área do Golfo têm, comparativamente, poucos lançadores de rockets pela simples
razão que não esperam ser atacados. Nessa lógica percebe-se a razão para Portugal
não ter lançadores de rockets.
Quanto à dimensão das marinhas de guerra – todos os países
considerados são ribeirinhos – a maior é a marinha iraniana ainda que a Arábia
Saudita e Oman detenham também litorais extensos. Em termos de unidades a
marinha iraniana tem uma dimensão próxima da dos EUA mas os respetivos perfis
são muito distintos; num caso trata-se de uma frota de vigilância de costa e no
outro uma armada poderosa, presente em todos os oceanos. Assim, por exemplo, os
EUA têm 24 porta-aviões e, entre os restantes países do Próximo e Médio Oriente
somente o Egipto tem esse tipo de navio e, apenas 2 unidades.
Que solução para o Médio Oriente?
Algumas ideias gerais:
- Todas as mediações em conflitos deverão passar pela ONU
- Afastamento de bases militares estrangeiras e de qualquer outro tipo de intervenção militar, na região
- Canalização das reservas monetárias e das riquezas detidas pelas oligarquias para vastos planos geradores de bem-estar das populações
- Redução substancial dos meios militares existentes, mormente com a renúncia à posse de armas nucleares
- Efetivação de um estado palestiniano, democrático e multiconfessional, no seguimento da extinção do regime de apartheid montado pelos sionistas
Este e outros textos
em:
[1] Como triúnviro suplente apostamos no secretário interino da Defesa, um tal
Mark Esper, um espírito brilhante que anunciou
deverem os países preparar-se contra ataques de mísseis russos. Esper
espera que todos escavem um abrigo no quintal.
[2] A Rússia, desde há poucos anos
mantém duas bases militares no norte da Síria (Tartus e Latakia), com uma
capacidade de intervenção militar muito limitada no âmbito da região conhecida
por Próximo e Médio Oriente.
[3] Muito recentemente os EUA venderam
$ 8000 M (mais do dobro do orçamento português de defesa) de armamento aos
sultões do Golfo, mesmo sem o aval do Congresso. O businessman Trump não se
prende a… burocracias… Por outro lado, a Turquia ao pretender comprar armamento
à Rússia incorre em represálias e ameaças por parte dos EUA; e o mesmo
Trump vem ameaçando a Índia com sanções, pela sua compra de $ 5000 M em mísseis
S-400 à Rússia, revelando assim a sua função de vendedor ao serviço do complexo
militar-industrial americano.
[4] Kushner, com o seu irmão ideológico
Netanyahou desenharam um plano de criação de um estado palestiniano que na
realidade é uma mudança de nome para o bantustão actual mas onde se prevê a
construção de pesadas infraestruturas para alegria de empresas de topo na área
do betão. O plano é tão irreal no seu facciosismo que dá vontade de rir…
[5] Do outro lado do Bab el Mandeb, no Djibouti, estão instaladas bases
militares dos EUA, da China, do Japão e da França onde se acolhem como hóspedes,
militares alemães e espanhóis: num terreno onde se verifica a maior densidade
de bases militares do mundo, confraterniza-se.
[6] Pelo estreito de Ormuz, passa 76% do petróleo destinado à China, ao Japão,
à Coreia do Sul e à Índia, bem como 25% do comércio global de gás liquefeito
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