Sumário
1 – Os
grandes exportadores
2 - Os
grandes importadores
3 –
Excedentes e deficits comerciais
4 – As
relações comerciais de alguns países (2017)
5 - E a
situação portuguesa?
0000000000 ===== 0000000000
A estrutura do poder mundial está em mudança acelerada. Um dos
sintomas que podem revelar essas alterações é a evolução da matriz global do
comércio externo nas últimas décadas. Para o efeito, selecionámos alguns dados com
base nestes critérios:
- Importação e exportação, globais.
- Anos de 2000, 2005, 2010, 1015, 2107, o último a que tivemos acesso.
- Para todos os países que, em cada ano, representem pelo menos 2.5% da importação ou da exportação global.
- E ainda alguns países, pela sua relevância geopolítica mesmo que não cumpram a regra anterior.
- Lateralmente, apurámos dados sobre Espanha e Portugal.
As taxas anuais de crescimento do comércio global de mercadorias
no período considerado apresentam a seguinte imagem, reveladora de que os
impactos da crise financeira estão para durar e, como se observará mais à
frente, constituíram um passo na redução do predomínio do que convencionalmente
se chama Ocidente.
2000/2005
|
13.20 %
|
2005/2010
|
8.93 %
|
2010/2015
|
1.07 %
|
2015/2017
|
1.91 %
|
1 – Os grandes
exportadores
O peso dos
países mais relevantes como origens da
exportação, para cada um daqueles
anos apresenta o seguinte perfil (em % do total)
anos apresenta o seguinte perfil (em % do total)
Total exportações > 2,5%
|
2000
|
2005
|
2010
|
2015
|
2017
|
Alemanha
|
8,5
|
9,2
|
8,0
|
7,9
|
8,2
|
Arábia Saudita
|
2,9
|
||||
Bélgica-Lux
|
2,5
|
||||
Brasil
|
0,9
|
1,2
|
1,4
|
1,2
|
1,3
|
Canadá
|
4,2
|
3,3
|
2,5
|
2,5
|
|
China
|
5,7
|
9,0
|
12,0
|
15,0
|
15,0
|
Coreia do Sul
|
2,7
|
2,9
|
3,2
|
3,4
|
3,7
|
Espanha
|
1,8
|
1,9
|
1,6
|
1,7
|
1,8
|
EUA
|
12,0
|
8,6
|
7,8
|
8,8
|
7,7
|
França
|
4,7
|
4,2
|
3,4
|
3,2
|
3,2
|
Grã-Bretanha
|
4,3
|
3,4
|
2,6
|
2,7
|
|
Holanda
|
3,2
|
3,0
|
2,8
|
2,7
|
2,8
|
Índia
|
0,7
|
1.0
|
1,4
|
1,8
|
1,8
|
Itália
|
3,7
|
3,5
|
2,9
|
2,8
|
3,0
|
Japão
|
7,8
|
6,1
|
5,2
|
4,3
|
4,3
|
México
|
2,6
|
2,5
|
2,6
|
||
Rússia
|
1,7
|
2,4
|
2,6
|
2,0
|
2,1
|
Outros
|
35,5
|
37,8
|
39,7
|
37,5
|
42,5
|
Nota:
Os espaços em branco representam situações < 2.5%
Denota-se da análise do
quadro acima que:
- O conjunto dos 17 países selecionados como os mais relevantes enquanto exportadores promove cerca de 60% do comércio global;
- Os três maiores exportadores em 2000 são os EUA, a Alemanha e o Japão, com 28.5% do total. Em 2017 essas posições são ocupadas por China, Alemanha e EUA, por esta ordem, com 30.5% do valor global;
- Há uma redução da relevância exportadora dos EUA (muito acentuada), do Canadá, da França, da Grã-Bretanha, da Holanda, da Alemanha, da Itália e do Japão; isto é, dos países com um desenvolvimento capitalista mais antigo ou maduro;
- A Espanha, o Brasil e a Rússia mantêm uma quota parte relativamente constante, no período.
- Acrescem a sua relevância relativa, a China (quase triplica a sua quota parte no período considerado), a Coreia do Sul e a Índia.
Em resumo, os principais
países da Ásia, excepto o Japão, aumentam a sua intervenção como exportadores,
sucedendo o inverso às principais economias da Europa e ao binómio EUA-Canadá;
um testemunho das mudanças geopolíticas em marcha, com a ascensão da Ásia e a quebra da relevância exportadora dos
países capitalistas mais antigos, que bordejam o Atlântico Norte.
2 - Os grandes importadores
Quanto às
importações, para os mesmos anos, o elenco
dos principais destinos apresenta o seguinte perfil (em % do total)
Total importações > 2,5%
|
2000
|
2005
|
2010
|
2015
|
2017
|
Alemanha
|
7,2
|
7,2
|
6,6
|
6,3
|
6,6
|
Bélgica-Lux
|
2,8
|
3,0
|
2,6
|
2,5
|
|
Brasil
|
0,9
|
0,7
|
1,2
|
1,1
|
0,9
|
Canadá
|
3,6
|
2,9
|
2,5
|
2,6
|
|
China
|
3,0
|
5,2
|
7,4
|
8,1
|
9,5
|
Coreia do Sul
|
2,8
|
2,7
|
2,9
|
||
Espanha
|
2,5
|
2,8
|
2,1
|
1,9
|
2,0
|
EUA
|
19,0
|
15,0
|
12,0
|
14,0
|
13,0
|
França
|
4,9
|
4,6
|
4,0
|
3,6
|
3,7
|
Grã-Bretanha
|
5,3
|
4,7
|
3,8
|
3,9
|
3,8
|
Hong-Kong
|
3,0
|
2,8
|
2,9
|
3,7
|
3,7
|
Holanda
|
3,2
|
3,2
|
3,1
|
2,9
|
3,0
|
Índia
|
0,8
|
1,3
|
2,2
|
2,4
|
2,6
|
Itália
|
3,7
|
3,6
|
3,2
|
2,6
|
2,7
|
Japão
|
5,7
|
4,7
|
4,3
|
3,7
|
3,9
|
México
|
2,6
|
||||
Rússia
|
0,6
|
1,2
|
1,6
|
1,2
|
1,4
|
Outros
|
31,2
|
37,1
|
37,7
|
39,3
|
37,8
|
Nota: Os
espaços em branco representam situações < 2.5%
Do quadro
acima tomam-se as seguintes notas:
- O peso dos grandes importadores é um pouco superior ao registado nas exportações (62.2% contra 57.5%, em 2017);
- Os três maiores importadores em 2017 (EUA, China e Alemanha representam cerca de 29% do total), como em 2000. Porém em 2000, a China estava longe do pódio, a Alemanha estava em segundo lugar, tendo atrás de si o Japão;
- O relevo da Europa na importação, decresce – mormente depois de 2010 - na Alemanha, em França, na Grã-Bretanha e na Itália, mantendo-se relativamente estável nos restantes países considerados. A que não será estranha a crise que se seguiu a 2008;
- É marcante perda de peso relativo que se verifica nos EUA, no Canadá e no Japão, tal como se viu a propósito das exportações;
- O ano de 2010 revela claramente o momento da quebra do relevo das importações nos países de capitalismo maduro, da orla atlântica, como do Japão; e o aumento da representatividade é bem claro nos casos da China, da Índia e da Rússia, por razões que se prendem com dinâmicas próprias, as perdas das potências atlânticas, como também à sua relativa imunidade aos desastres financeiros.
3 – Excedentes e
deficits comerciais
A
formação de excedentes comerciais (+) ou deficits (-), isto é dos saldos
positivos ou negativos entre as vendas e as compras no exterior fornece estes
elementos (M $);
Export-Import
|
2000
|
2005
|
2010
|
2015
|
2017
|
Alemanha
|
80600
|
206000
|
208600
|
251200
|
260800
|
Bélgica-Lux
|
-173600
|
-51500
|
-387400
|
-407500
|
|
Brasil
|
-620
|
48410
|
29800
|
15700
|
71720
|
Canadá
|
37200
|
41200
|
0
|
-15700
|
|
China
|
391400
|
685400
|
1083300
|
896500
|
|
Coreia do Sul
|
59600
|
109900
|
130400
|
||
Espanha
|
-43400
|
-92700
|
-74500
|
-31400
|
-32600
|
EUA
|
-434000
|
-659200
|
-625800
|
-816400
|
-863900
|
França
|
-12400
|
-41200
|
-89400
|
-62800
|
-81500
|
Grã-Bretanha
|
-62000
|
-133900
|
-178800
|
-188400
|
-619400
|
Holanda
|
0
|
-20600
|
-44700
|
-31400
|
-32600
|
Índia
|
-4960
|
-35020
|
-119200
|
-94200
|
-130400
|
Itália
|
0
|
-10300
|
-44700
|
31400
|
48900
|
Japão
|
130200
|
144200
|
134100
|
94200
|
65200
|
México
|
0
|
||||
Rússia
|
65720
|
123600
|
149000
|
125600
|
114100
|
Outros
|
268460
|
79310
|
298000
|
-282600
|
759580
|
- Entre os principais países no comércio mundial, há a considerar os habituais deficits nos principais países europeus – exceptuando a Alemanha e a Itália, esta, nos últimos anos;
- O maior deficit mundial, o dos EUA duplica no período 2000/17; porém, em termos de dinâmica o maior relevo cabe à Grã-Bretanha cujo deficit decuplica, no mesmo período;
- O deficit dos EUA tem, em 2017 um volume quase coincidente com o do excedente chinês, revelando o efeito das deslocalizações e transferências de tecnologias em favor da China iniciadas ainda na década de 70 e aceleradas com a entrada da China na OMC. Esperavam, os EUA que essas transferências viessem a conduzir a uma mudança política na China mas, o que aconteceu foi a China proceder ao entesouramento de enorme quantidade de dólares e dívida do Tesouro dos EUA, tornando-se assim o árbitro das cotações do dólar;
- A Alemanha, o Japão, países com uma tradição exportadora consolidada apresentam saldos positivos, crescentes no primeiro caso e decrescentes no segundo;
- Os principais deficits registam-se na maior parte dos países europeus e nos EUA, para além da Índia. Tomando em consideração esse facto, de forma muito globalizada pode dizer-se que esses deficits correspondem aos do resto do mundo; ou, de outro modo, que o bem-estar daqueles países deficitários corresponde a uma dívida constituída perante o resto do mundo.
4 – As relações
comerciais de alguns países (2017)
Para os
países selecionados destacamos abaixo os principais destinos de exportação e as
origens das importações, revelando ainda os principais saldos (positivos ou
negativos).
ALEMANHA
Clientes
|
Fornecedores
|
Principais Saldos (M $)
|
||||||
EUA
|
França
|
China
|
China
|
Holanda
|
França
|
EUA
|
Grã-Br
|
França
|
8.4 %
|
7.9 %
|
7.1 %
|
9.9 %
|
8.4 %
|
6.6 %
|
52080
|
51160
|
34580
|
BRASIL
Clientes
|
Fornecedores
|
Principais Saldos (M $)
|
||||||
China
|
EUA
|
Argentina
|
China
|
EUA
|
Alem/Argent
|
China
|
Japão
|
Alemanha
|
22.0 %
|
11.0 %
|
8.1 %
|
19.0 %
|
15.0 %
|
6.6 %
|
21390
|
5694
|
-3393
|
CHINA
Clientes
|
Fornecedores
|
Principais Saldos (M $)
|
||||||
EUA
|
Hong-Kong
|
Japão
|
Coreia Sul
|
Japão
|
EUA
|
EUA
|
Japão
|
Coreia Sul
|
19.0 %
|
11.0 %
|
6.5 %
|
9.8 %
|
8.9 %
|
8.7 %
|
324630
|
21610
|
-49580
|
ESPANHA
Clientes
|
Fornecedores
|
Principais Saldos (M $)
|
||||||
França
|
Alemanha
|
Portugal
|
Alemanha
|
França
|
China
|
Portugal
|
China
|
Alemanha
|
14.0 %
|
11.0 %
|
8.1 %
|
13.0 %
|
11.0 %
|
8.6 %
|
11736
|
-21213
|
-10620
|
EUA
Clientes
|
Fornecedores
|
Principais Saldos (M $)
|
||||||
México
|
Canadá
|
China
|
China
|
México
|
Canadá
|
China
|
Canadá
|
México
|
14.0 %
|
12.0 %
|
11.0 %
|
22.0 %
|
14.0 %
|
13.0 %
|
-330000
|
-125700
|
-121800
|
FRANÇA
Clientes
|
Fornecedores
|
Principais Saldos (M $)
|
||||||
Alemanha
|
Itália
|
Bélg/Lux
|
Alemanha
|
China
|
Itália
|
Grã-Br
|
Alemanha
|
China
|
14.0 %
|
7.7 %
|
7.7 %
|
18.0 %
|
8.8 %
|
8.1 %
|
10641
|
-34900
|
-30217
|
GRÃ-BRETANHA
Clientes
|
Fornecedores
|
Principais Saldos (M $)
|
|||||||
EUA
|
Alemanha
|
Fran/Holan
|
Alemanha
|
China
|
Holanda
|
Alemanha
|
China
|
Holanda
|
|
11.0 %
|
9.8 %
|
6.3 %
|
15.0 %
|
9.5 %
|
7.6 %
|
-53892
|
-36534
|
-22020
|
|
ÍNDIA
Clientes
|
Fornecedores
|
Principais Saldos (M $)
|
||||||
EUA
|
Emirat A U
|
China
|
China
|
EUA
|
Emirat A U
|
EUA
|
Emirat A U
|
China
|
15.0 %
|
9.6 %
|
5.0 %
|
16.0 %
|
5.5 %
|
5.3 %
|
20865
|
5931
|
-52120
|
ITÁLIA
Clientes
|
Fornecedores
|
Principais Saldos (M $)
|
||||||
Alemanha
|
França
|
EUA
|
Alemanha
|
França
|
China
|
EUA
|
Grã-Br
|
China
|
12.0 %
|
10.0 %
|
9.3 %
|
16.0 %
|
9.0 %
|
7.2 %
|
28123
|
12298
|
-15402
|
PORTUGAL
Clientes
|
Fornecedores
|
Principais Saldos (M $)
|
||||||
Espanha
|
França
|
Alemanha
|
Espanha
|
Alemanha
|
França
|
Grã-Br
|
Espanha
|
Itália
|
21.0 %
|
12.0 %
|
11.0 %
|
31.0 %
|
14.0 %
|
7.3 %
|
1866
|
-11799
|
-2209
|
RÚSSIA
Clientes
|
Fornecedores
|
Principais Saldos (M $)
|
||||||
China
|
Holanda
|
Alemanha
|
China
|
Alemanha
|
Bielorús
|
Bielorús
|
Polónia
|
Alemanha
|
11.0 %
|
8.5 %
|
5.7 %
|
20.0 %
|
12.0 %
|
5.7 %
|
5817
|
5286
|
-7083
|
O grau de
concentração das exportações nos três maiores clientes é muito distinto:
- Em primeiro lugar, sublinhe-se que há uma tendência natural e geral para uma polarização do comércio de cada país com aqueles que lhe são geograficamente próximos, por óbvias questões de maior relacionamento histórico e cultural ou de redução nos tempos de viagem e inerentes custos de transporte. Como é evidente, para bens cujo acesso não é materialmente possível nas proximidades de um país produtor, o comércio será forçosamente de longa distância, como nos casos dos produtos farmacêuticos ou da cortiça, mercadorias que não têm uma produção disseminada pelo planeta;
- Se um país desenvolve grandes e diversificadas capacidades exportadoras é natural que o número dos seus clientes seja também elevado, como será o caso de países como a Alemanha, a China mas, também a França, a Itália, o Japão ou a Coreia do Sul. Por outro lado, há países com elevado rendimento mas cuja especialização no âmbito da exportação é menos diversificada, menorizada face a oportunidades de negócio em bens não tangíveis. Os EUA são um caso paradigmático cuja atividade no âmbito do comércio internacional se baseia na sua produção de cereais ou oleaginosas, armamento e serviços, sejam financeiros, no âmbito da informação ou na produção cultural/ideológica que, para simplificar designaremos por “Hollywood”; neste último campo, a Índia embora tenha uma indústria cinematográfica mais produtiva tem um papel muito menor no comércio global com os seus produtos “Bollywood”;
- A Alemanha, a China e os EUA são os quase únicos países presentes na maioria das relações relevantes atrás identificadas. A Alemanha está entre os três principais clientes de seis outros países, todos estes, no quadro europeu; e em sete situações de presença no pódio dos fornecedores, de países também europeus, para além do Brasil.
- A China apresenta-se no trio dos principais clientes em cinco dos países selecionados, entre os quais a Alemanha e a Rússia são os únicos europeus; e, em nove situações como fornecedor, a China só não figura no pódio, relativamente a Portugal.
- Os EUA posicionam-se entre os três principais clientes de seis estados e como principal cliente da Alemanha, da Grã-Bretanha, da China e da Índia. Inversamente, os EUA só se posicionam entre os principais fornecedores do Brasil, da China e da Índia; com a notória ausência de países europeus.
- Nos casos da China, da Índia ou dos EUA, não há países europeus entre os três principais clientes ou fornecedores. No que se refere ao Brasil regista-se somente uma terceira posição e partilhada da Alemanha, como fornecedora;
- A França surge com todas as suas referências cimeiras – na exportação e na importação - relacionadas com países europeus, das suas proximidades geográficas – Espanha, Portugal, Itália, Alemanha e Grã-Bretanha;
- A Rússia, por seu turno, tem na China o seu principal mercado, na exportação e na importação, num contexto de maior relevo de países europeus.
- Note-se que passadas algumas décadas apos a descolonização, as antigas colónias têm um relevo pouco significativo na exportação ou na importação das respetivas suseranias coloniais. Nenhuma antiga colónia francesa surge com uma relação relevante para a antiga metrópole; e o mesmo sucede com a Grã-Bretanha, excepto face ao Canadá que apresenta uma presença irregular nos anos considerados, no limiar dos 2.5% do total que tomámos como limite mínimo. No caso de Portugal, Angola é o único caso que surge regularmente como destino relevante de exportação; o que não acontece na importação.
Uma
avaliação dos saldos do comércio externo para os países acima referenciados revela
que:
- Os quatro grandes saldos que os EUA protagonizam em 2017 beneficiam a Alemanha, a Índia, a Itália e, particularmente pelo seu volume, a China;
- O maior saldo positivo observa-se na relação entre os EUA e a China, em favor deste último país e a sua continuidade marca a complementaridade entre os dois países tornando a China o maior detentor de títulos de dívida dos EUA;
- O tradicional deficit externo dos EUA é representado pelos três maiores volumes e que beneficiam a China, o Canadá e o México;
- A China surge em sete situações de grandes saldos do comércio externo, sendo todos favoráveis ao país asiático, excepto no que se refere ao Brasil;
- A Alemanha sobressai com cinco referências, todas com situações de superavit, mormente as referentes à Grã-Bretanha e a França, para além de Espanha, Brasil e Rússia, mostrando, portanto a sua vocação exportadora;
- A Grã-Bretanha mostra quatro situações de deficit, sublinhando-se a sua dimensão face à Alemanha, para além da França e da Itália; e de Portugal que apresenta o seu mais relevante saldo positivo face à Grã-Bretanha;
5 - E a situação
portuguesa?
Como é
evidente Portugal tem pouca expressão no comércio global; pela sua dimensão
demográfica, pela sua pobreza relativa e pela sua posição periférica, na Europa e na Península Ibérica.
As
exportações estão muito concentradas na Europa e os únicos casos de
regularidade, com alguma dimensão, fora daquele espaço são os EUA e Angola; a
China, por seu turno, deixou de ter uma posição relevante na exportação portuguesa,
desde o princípio do século, mas não descurando fortes posições investidoras na
sequência do afundamento do setor financeiro e da intervenção da troika.
No caso
da Europa, a exportação portuguesa mais relevante (44%) processa-se para
Espanha, França e para a Alemanha, que é o centro económico da Europa. Uma
segunda coroa, constituída pela Itália, Bélgica/Luxemburgo, Holanda e
Grã-Bretanha representa, em 2017 16.7% das exportações. Finalmente, os “Outros”
apresentam um peso inferior (27.5% em 2017), os quais no caso da Espanha representam
35.5% do total; um indicador que, para a Índia chega a 56.7% do total.
O peso
relativo dos “Outros”, dos destinos secundários, pode designar-se como um
indicador de dispersão, um género de complemento de um indicador de
concentração. A concentração num estreito leque de destinos das exportações é, a priori, uma fragilidade pois uma crise
em um deles terá impactos globais ou setoriais sensíveis no país exportador.
Inversamente, um leque mais alargado de destinos da exportação é uma
diversificação em princípio favorável para o amortecimento de elementos de
perturbação em alguns desses destinos.
Note-se,
como exemplo, no quadro abaixo que a Espanha é o principal destino das
exportações portuguesas com 21% do total em 2017 embora tenha atingido 24% em
2005. Por outro lado, a observação do ponto 4, revelará que aquele nível de
concentração num só país é muito superior ao dos outros países europeus ali
considerados – Espanha e Alemanha destinam ao seu principal cliente 14% da sua
exportação total, indicadores que descem para 12% no caso da Itália, 11% para a
Grã-Bretanha e 8.4% para a Alemanha. Trata-se de um grau de concentração muito
elevado, que, comparado com os outros países do ponto 4., só encontra paralelo
com a China (19%) e o Brasil (22%).
Total
exportações > 2,5%
|
2000
|
2005
|
2010
|
2015
|
2017
|
Alemanha
|
18.0
|
12.0
|
11,0
|
11,0
|
11.0
|
Angola
|
2.5
|
5.2
|
4.2
|
3.4
|
|
Bélgica-Lux
|
5.9
|
4.7
|
3.4
|
2.6
|
|
China
|
2.5
|
||||
Espanha
|
17.0
|
24.0
|
23.0
|
22.0
|
21.0
|
EUA
|
6.5
|
6.3
|
4.3
|
5.9
|
5.9
|
França
|
12.0
|
12.0
|
12.0
|
11.0
|
12.0
|
Grã-Bretanha
|
11.0
|
8.8
|
5.5
|
6,7
|
6,7
|
Holanda
|
3,7
|
3,4
|
3,8
|
3.9
|
4.0
|
Itália
|
4.1
|
4.3
|
3,9
|
3.0
|
3,4
|
Outros
|
21.8
|
22.0
|
27.9
|
32.3
|
27.5
|
Quanto às
importações portuguesas, a concentração nas origens europeias é também elevada
e, fora desse quadro e da esporádica relevância de aquisições à Argélia, à
Nigéria ao Japão ou aos EUA, a China/Hong-Kong é o único fornecedor relevante
fora do quadro europeu e de onde provém 6.7% da importação portuguesa em 2017.
Quanto ao
quadro europeu das origens da importação portuguesa, para além da estabilidade
das proveniências da Alemanha, estáveis em todo o período, em termos relativos
(13 a 14%), há a registar o aumento do papel da Espanha, proveniência de 26% do
total da importação em 2000 e 31% em 2017; e ainda a redução do peso das outras
origens europeias relevantes, de 31.9% para 23.6%, no mesmo período.
Total
Importações > 2,5%
|
2000
|
2005
|
2010
|
2015
|
2017
|
Alemanha
|
14.0
|
14.0
|
13.0
|
13.0
|
14.0
|
Argélia
|
2.9
|
||||
Bélgica-Lux
|
3.2
|
3.2
|
2,9
|
3.1
|
2,9
|
China
|
2.8
|
3,1
|
3.0
|
||
Espanha
|
26.0
|
28.0
|
30.0
|
32.0
|
31.0
|
EUA
|
3.0
|
||||
França
|
11.0
|
8.7
|
7.1
|
7.3
|
7.3
|
Grã-Bretanha
|
5,9
|
4,3
|
3,7
|
3,1
|
2.7
|
Hong-Kong
|
3,0
|
2,8
|
2,9
|
3,7
|
3,7
|
Holanda
|
4.6
|
4.2
|
5.0
|
5.0
|
5.3
|
Itália
|
7.2
|
5.4
|
5.4
|
5.4
|
5.4
|
Japão
|
2.5
|
||||
Nigéria
|
2.7
|
||||
Outros
|
22.6
|
29.3
|
27.4
|
28.0
|
28.4
|
Pode
concluir-se que as relações externas de Portugal se concentram na Europa
Ocidental e, dentro desta, em Espanha, tendendo, gradualmente a firmar-se Portugal
como uma economia ibérica.
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