sexta-feira, 2 de novembro de 2018

O Golem espreita sob o nome de Fascismo



1 - O Golem é o monstro de uma lenda de origem judaica – com várias versões – que tomou conta da casa – quando a incúria do caseiro lhe facilitou essa conquista. 

O Golem, hoje, pode ser interpretado como Fascismo. Os que lhe estendem a passadeira e se amancebem com ele, são as classes políticas que chamam democracia à “democracia representativa” a que preferimos designar por democracia de mercado. Esses, empobrecem e precarizam a vida da multidão usando o consumismo e injeções de sedativos mediáticos para que os povos se mantenham em letargia e imbecilizados.
 
2 - Não há nada de novo nisto; nem sequer a surpresa dos distraídos, esquecidos da experiência dos seus avós. A História está cheia de repetições de guerras, barbáries, repressão, ditaduras, massacres, regressões civilizacionais... Mussolini e Hitler aproveitaram sabiamente a inoperância dos partidos ditos democráticos, inventaram o Fascismo e exportaram-no.

Em Espanha, apoiaram decisivamente um general manhoso numa guerra experimental que se desenvolveu, de seguida, num quadro geográfico mais alargado. Em Portugal, a incapacidade do regime republicano sucumbiu à marcha de um general tonto que veio a entronizar durante décadas um catedrático de Coimbra, menos preocupado com o crescimento e mais com a salvação das almas através da penitência contida na pobreza e no alfabetismo; ou na discreta satisfação de umas quantas famílias beneficiárias de um colonialismo tardio ancorado num nacionalismo beato mas, hoje, recuperado por alguma da dita “esquerda”, diluída no caldo da “democracia representativa”, como regime político promitente construtor da bem-aventurança eterna dos povos.
 
3 – O que seria considerado um conflito local ou regional, décadas atrás, deixou de o ser, uma vez que vingou o modelo político e económico de Hayek, a vitória geopolítica da NATO e a criação do mercado global, dirigido pelo sistema financeiro e pelas multinacionais em harmoniosa mancebia com o crime e a corrupção; e que gerou as suas próprias instituições de gestão globalizada – FMI, OMC, OMS, OCDE, UE...

A “democracia representativa” vem-se demonstrando cada vez mais um arremedo de democracia e serve para permitir a legitimação eleitoral de bandos de idiotas como dirigentes políticos, com mandatos enformados pelos referidos interesses económicos; mandatados para afetarem as nossas vidas. Cabem nessa categoria de idiotas úteis e perigosos, desbocados ignorantes como Trump, com a cultura de caserna de um Bolsonaro e bêbedos como Juncker – à frente de um pelotão de venais mediocridades; ou burocratas incapazes como May, herdeira do presente deixado pelos repelentes Farage e Boris Johnson; ou ainda, emanações fascizantes como Salvini, Orban, Kaszinsky…

Na democracia dita representativa vai aumentando tarados evangélicos do tipo IURD, típicos do tempo em que Constantino deu o monopólio da crença religiosa ao cristianismo - um género de parceria público-privada - e ao qual se seguiram séculos de perseguições, crueldades e bestialidades. As bestiagas de hoje, um género de circumceliões do século XXI, devem-se sentir próximos de continuar a obra de S. Shenoufe, perseguidor e rapinante de não-cristãos, fiel à doutrina exarada por um "doutor" do cristianismo, S. Jerónimo, que emitiu esta brilhante regra de conduta - "Não há crueldade na proteção da honra de Deus". Vale tudo, até tirar olhos, na sapiência popular. Trump e Bolsonaro escutam e seguem esses ensinamentos, sonham com novas Inquisições, ou novas Hipácias para massacrar.

4 – A democracia só existe se construída a partir de baixo, com a decisão tomada diretamente, sem a intermediação dessas instituições tão desacreditadas como oligárquicas – os partidos políticos e as classes políticas. A democracia só surgirá da paciente construção de redes rizomáticas de estudo e esclarecimento sobre as conveniências da multidão de trabalhadores, jovens, desempregados, pensionistas, mulheres…; grupos e redes onde vingue a tomada coletiva de decisões, capaz de se sobreporem às oligarquias que dominam os tentaculares, obscuros e repressivos aparelhos estatais.
Em termos metodológicos de atuação, essas redes rizomáticas deverão ter como objetivo a montagem de um sistema político democrático, através de uma atuação gradualista e acumulativa, constituída por indignação, protesto, mobilização, organização, desobediência e revolta. 

Qualquer sistema democrático terá de ter como base algo como:

        Eleição de indivíduos - e não de listas - para os órgãos de representação popular;
        Limitação do número de mandatos para cada eleito, com a possibilidade da sua cessação por iniciativa popular;
        Escrutínio popular, através de referendos - locais, regionais, nacionais… - como instrumento essencial de decisão;
        Total ausência de mordomias e imunidades para os representantes;
        Administração pública e aparelho judicial sob escrutínio popular;
        Acesso gratuito e facilitado a todos os arquivos e decisões dos órgãos públicos;
        Moldura penal agravada e sem prescrição, para os casos de corrupção.


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